segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Zico marca mais um golaço


Romário avança pelo meio e toca rápido para Zico marcar o gol. Um momento. Zico, o Galinho de Quintino, marcar o gol? Poderia ser mais um dos golaços de Zico nos meus sonhos, mas não foi. O lance ocorreu no Jogo das Estrelas de 2009, em pleno Maracanã, palco de memoráveis jogos dos deuses do futebol carioca, nacional e internacional.
Hoje é um dia de felicidade. Hoje pude rever o maior ídolo da torcida rubro-negra em campo, defendendo as cores do Flamengo, ao lado de outros imortais que já vestiram o manto sagrado.
Arthur Antunes Coimbra acertou de novo ao convidar os homens que fizeram a alegria de milhões na década de 80 e alguns dos que nos fizeram sorrir, e continuamos a sorrir, neste ano.
Sempre falei para o meu irmão que Zico era divino, que o maestro Júnior jogava por música, que Adílio era fera, que Djalminha não fazia feio, que Gilmar fechava o gol, que Romário era o terror. E meu irmão, que só tem dez anos, dizia que o Adriano é o Imperador e que o Petkovic é craque. Não discuto com ele, não adianta. Mas hoje pude mostrar ao pequeno rubro-negro que o pouco que vi em minha infância era a mais pura verdade. Não adiantava assistir aos jogos em DVD, ele dizia que o futebol era diferente. Mas hoje não. Hoje ele viu o Zico jogar num Maracanã lotado, viu Zico fazer três gols lindíssimos, viu o Imperador perder não sei quantos gols feitos, viu Ibson e Juan mostrarem que craque o Flamengo faz em casa, viu Wilson Gottardo parar Edmundo, Charles Guerreiro roubar a bola de Vagner Love, Cláudio Adão cadenciando o meio de campo, Jorginho cruzando com precisão, Júnior driblando pelo meio, pelas pontas, Alcindo já sem nenhum cabelo, Andrade fora da área técnica, Tita desarmando o adversários, Zinho armando pela esquerda, Nunes entrando pela ponta, Renato Gaúcho sendo vaiado por mais de 75 mil pessoas e Romário dando belíssimos passes de letra com a camisa do Mais Querido. E também reviu Fábio Luciano, o capitão do Pentatri, Ibson e sua garra, Juan e seus desarmes precisos... Que lindo!
Obrigado, Zico, por mais este golaço em sua brilhante história vitoriosa. Obrigado por mostrar que todos podem fazer de um jogo beneficente mais do que uma forma de arrecadar fundos, sobretudo, obrigado por mostrar aos nossos meninos o quão bom é ser Flamengo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Boas Novas

Ontem fiz a primeira leitura de O Jogador e imprimi o material para levar à revisão. Devo deixá-lo na segunda-feira com Eugênia Mª D. Peixoto para que ela faça a leitura e depois encaminhe o material para Mª Cristina de Souza.
Ainda em relação a O Jogador, recebi um e-mail da Editora Bibliotexa 24X7, via Mesa do Editor, para a publicação do livro. De qualquer forma, fico feliz pelo interesse da citada editora, mas, como já ocorreu com Memórias em Ruína, não devo aceitar. A ideia de pagar qualquer quantia para publicar não me agrada. Além disso, fazendo uma rápida pesquisa no site da Biblioteca 24x7 (que nome é esse?), li que eles alugam o livro em formato eletrônico. Achei uma ideia estranha e, para mim, nada atraente. Outro fator que me fez negar o pedido foi a taxa de R$ 300,00 a ser paga para a montagem do livro eletrônico.
Há outras possibilidades para se autopublicar hoje em dia, e o melhor, sem pagar nada por isso. Quem conhece o Clube de Autores sabe do que estou falando. LIvro físico e livro eletrônico sem gastos e sem surpresas desagradáveis.
Dessa forma, digo: Não, muito obrigado, caríssimo editor.

"Tá bom", depois de muita insistência por parte dos amigos e de alguns leitores, voltei a trabalhar o texto de A Vila do Medo. Assim que corrigir a pilha imensa de provas que tomou minha mesa e terminar a leitura de O Voo da Rainha (Tomaz Eloy Martinez), darei à história de suspense a atenção merecida. O problema é que já faz mais de um ano que escrevi os primeiros capítulos, portanto conseguir manter a linha de escrita e o sentimento da narrativa não será nada fácil. Terei que fazer as pesquisas de novo, buscar o clima certo, assistir a filmes, reler livros para não fugir à proposta inicial.
É pena que eu queira muito escrever uma outra história, A Marcenaria (título provisório).

Vamos ver o que o fim de semana me traz.

Um grande abraço aos amigos leitores.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O fim de uma jornada, ou o capítulo final


Quando Jean e eu iniciamos o Vida de Escritor, estávamos enfrentando as primeiras panes do nosso Conto Conspiratório, o malfadado livro à quatro mãos. A idéia original era escrever sobre as dificuldades em se escrever quando a mente e os problemas cotidianos influem na tecitura do texto. Bem, já faz, mais ou menos, dois anos que o blog foi ao ar, três romances — dois publicados e outro indo para a revisão — escritos por mim, alguns poemas e várias entradas no diário eletrônico, sem que o nosso texto avançasse mais do que três capítulos.

O blog foi jogado às traças, depois que eu o assumi, escrevendo meus dias de angústia e batalhas sangrentas com as palavras. Jean abandonou o projeto, eu o segui, contando meus pensamentos e alguns dos acontecimentos bizarros, engraçados, tristes, lastimosos e felizes da minha vida, não só de escritor, como também pessoal, profissional e afetiva.

Agora, com poucas e nada frequentes entradas, volto a escrever minha parte da estranha Vida de Escritor. Venci, pois, o hiato que me separou por um bom tempo da atividade literária. Depois da publicação de Intermitência, a separação dói — Corifeu, 2008 — escrevi alguns capítulos da infame Vila do Medo e, antes do clímax, voltei minhas fichas para Memórias em Ruína. Terminada a redação inicial, deixei-o arquivado em alguma pasta no computador e esqueci o quão prazeroso é escrever. Não sei se por não obter o retorno desejado com Intermitência ou por estafa mental, não me sentei para escrever durante meses; aposentadoria por invalidez no INSS literário. Em julho, ou junho, deste ano, comecei a escrever as primeiras páginas de O Jogador. Queria escrever algo diferente, sem muita reflexão íntima, com muita ação, mas discorrendo sobre algo do meu interesse. Decidi abordar os jogos de sinuca, uma velha paixão. Depois de longa pesquisa, encontrei a hora certa para começar. Foram mais ou menos três meses pensando e trabalhando o texto. Durante três meses O Jogador fez parte de minha vida. Ontem escrevi a última frase do livro. Hoje sinto um vazio. Não ter mais o que escrever, não ter mais o que criar gerou-me a sensação de nulidade. Penso em voltar ao texto, reescrevê-lo, modificá-lo apenas para não aceitar que chegamos ao fim. Não mais nos pertencemos. Devo entregar o original à revisão ainda esta semana, por isso a despedida é dura. Nunca trato meus textos como filhos ou entes queridos, mas com este a impressão é que não termino um trabalho, mas lhe dou vida, ou o lanço para a vida como uma criança diante das mazelas de um mundo doente.

Foi divertido sonhar com as tacadas de Heitor, com as curvas do corpo de Victória, com a maldade de Munro, com a ganância de Hernan Lopera, com a vingança de Paulo Caçapa, com a corrupção do Capitão Dantas, com a ingenuidade de Thiago, com a tristeza de Fabiana, com a elegância de Raul Vergara e o enigma de Aldone. Sentirei falta dos meus personagens como sentiria de um parente que se vai. Dou-lhes, então, o meu adeus. Desejo-lhes sucesso na jornada. Que seus caminhos sejam melhores do que o meu.

Agora que o trabalho, e a jogatina, acabou, preciso de um tempo para aliviar a cabeça. Pensar no próximo trabalho. Já tenho um roteiro pronto, as madeiras no galpão para construir A Marcenaria. Não sei ao certo, mas acredito que este meu novo projeto se torne o mais novo xodó. Pelo menos no esboço a ideia me encantou de tal modo que as personagens ainda em gestação já ganharam o meu afeto. Não vejo a hora de começar a escrever o texto que contará a saga do velho marceneiro e seus conflitos num mundo moderno. Volto ao trabalho psicológico-memoralista, semelhante ao desenvolvido em Memórias em Ruína. E por falar nisso, é incrível como Memórias, Leite Derramado e Os Órfãos do Eldorado se parecem até mesmo nas diferenças. Mas isso fica para uma próxima vez.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O ontem, hoje

Engraçado como as coisas se pintam na vida. Às vezes se tem tanto a dizer, mas o interlocutor é surdo aos nossos delírios, ou somos mudos quando realmente temos algo de importante a dizer. Passamos por crises diversas na vida, umas importantes demais, outras insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o grande peso que nos põe loucos, ou à beira de um ataque de nervos.

Perdoem-me os amigos, mas estou hoje um tanto sentimental, saudosista, nostálgico. Falta-me o fogo, esfriou o quarto tão de repente, que não tive tempo de buscar o cobertor. Será que o presente está rumando para o passado? Não me entendo quando se trata da emoção. Talvez seja a estrela que morreu, extinguindo seu brilho. Não, realmente não entendo.

Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Está tão frio aqui. Não me sinto à vontade, não sei mais dizer palavras confortantes, amorosas, românticas. Algo em mim está morto, ou apenas ausente. Tantas dúvidas, tantas indecisões, nenhuma certeza do que havia pouco era o Certo. Mas há certeza em algo, quando a vida é cheia de surpresas e reviravoltas indiferentes à nossa simples vontade?

Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. A vida tão surpreendente quando nos guia o caminho por onde nunca imaginávamos passar.
Quem imaginaria, num dia comum, esbarrar com dois passados, ao mesmo tempo, juntos? Dois passados sorridentes, numa caminhada despreocupada pelas ruas do presente. O tempo. Os anos correm, as pessoas envelhecem, perdendo a beleza da juventude. As bocas, os calafrios, os sentimentos, tudo muda; nada permanece igual ao que era antes. Corpos, bocas, nucas. O cheiro, este não muda. As paixões do antes não voltam ao coração. Só mesmo na etimologia, trazemos de volta as imagens perdidas nas falhas da memória. Duas bocas. Duas línguas. Dois corpos. Todos somados a um, formavam um triângulo saudoso de cheiros, cabelos, pelos unidos sobre o mesmo lençol.

Quantos anos se foram no calendário das vagas lembranças? No mínimo dez, onze talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto!

As três bocas estalaram em toques no rosto, acompanhadas de palavras aos surdos, ditas como mudos, em passos que se separaram depois. As bocas, os corpos se foram. E eu fiquei imóvel em meu instante. Mas agora sinto o gosto que o tempo malogrou. As bocas que foram minhas, e hoje nada são. Os corpos que tive, e hoje não passam de cogitação.

Façamos, então, um brinde ao ontem, como singela lembrança da juventude expirada; como uma sutil recordação do que já não volta, nem vale a pena voltar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

PARECE MENTIRA, MAS NÃO É

Quase não acredito que estou fazendo, aos poucos ainda, as pazes com as letras. Depois de um longo período em silêncio voltei a bailar com palavras. Um ano depois da publicação de Intermitência, seis meses do término de Memórias em Ruína, eis que me dedico à concepção de uma nova história.
Há duas semanas comecei a escrever a aventura O Jogador, um romance focando o submundo dos jogos de sinuca. Confesso que é algo diferente dos meus escritos habituais, uma nova experiência no campo das letras, deixando de lado os enigmas da mente humana e escrevendo uma trama simples, fácil, popular, mas que tem me deixado muito feliz.

É bom quando escrevemos sobre algo que nos alegra, parece que flui mais fácil. Neste novo romance tive a facilidade nas pesquisas sobre o tema, porque amo jogar sinuca. Talvez tenha sido essa paixão que me fez escolher o assunto do livro e criar a personagem central da trama. Mergulhei, pois, em diversos livros sobre o jogo, alguns que já havia lido por prazer outros que caíram em minhas mãos em visitas em diversos sebos; esbarrei em sites sobre sinuca recheados de boas informações e, principalmente, ao prazer que o Youtube nos proporciona com seus vídeos. Os amigos sabem o quanto me dedico às minhas pesquisas, o quanto me apaixono por um assunto e devoro o máximo de informações possíveis sobre ele. Agora, juntei o útil ao agradável. Já fazia um tempo que queria escrever sobre sinuca, mas a ideia ficou engavetada, e outros trabalhos foram ganhando mais importância.

Entre o final de 2007 e o início de 2008, não lembro precisamente a data, Daniel Braga, Jean Marcus e eu jogávamos uma partida de bola oito, num boteco, acho que no Marinas, um bairro aqui de Angra, tivemos a idéia de montar um curta sobre um jogador de sinuca que, durante um jogo, repassava sua vida de acordo com as bolas que encaçapava. Era uma ideia boa, com baixo custo. Cheguei a escrever algumas cenas, mas o projeto não foi adiante, porque Jean Marcus foi morar na Califórnia e nossos projetos, como já disse antes, ficaram esquecidos, assim como o Conto Conspiratório, o malfadado romance a quatro mãos que até hoje me assombra como um fantasma. O projeto ficou de lado, mas não esquecido, espero ainda poder retomá-lo.
Foi justamente pensando em reescrever o roteiro do curta que tive a ideia de escrever sobre as maravilhas do pano verde. Apelei mesmo para uma das poucas coisas que ainda me prendem o interesse para escrever, porque as demais coisas me fugiam. Antes, porém, comecei o longo caminho das pesquisas para o romance. A primeira fase foram os filmes que abordavam o tema. Assisti sozinho ao belíssimo The Hustler (Desafio à Corrupção), de 1961, com uma atuação incrível de Paul Newman, interpretando Fast Eddie Felson, e Jackie Gleason, como Minnesota Fats. Em seguida, foi a vez de assistir à continuação The Color of Money ( A Cor do Dinheiro), de 1986, com Newman revivendo Fast Eddie, dessa vez ainda mais memorável, e Tom Cruise interpretando o jovem Vincent Lauria. O filme ainda traz Mary Elizabeth Mastrantonio, como Carmen, e John Turturro, como Julian. Depois das adaptações bem-sucedidas dos romances de Walter Tevis, foi a vez de Poolhall Junkies (O Chacal não perdoa), de 2002; com Mars Callahan como Johnny Doyle e Christopher Walken como o Tio Mike, girar no meu aparelho de DVD. Podia me dar por satisfeito, mas encontrei o recente Shooting Gallery (Galeria de tiro), de 2005; estrelado por Freddie Prinze Jr. como Jericho Hudson com poucas inovações, mas ideias interessantes. Semana passada assisti ao Turn the River, de 2007, estrelado por Famke Janssen, interpretando a personagem Kailey Sullivan; um filme com boas ideias, bom fim, mas muito aquém dos dois primeiros filmes já citados.

Saindo dos filmes, a segunda fase teve início com os livros. Comecei com o nacional Snooker: tudo sobre sinuca, de Paulo Dirceu Dias e Sérgio Faraco, 2005; um livro didático com referência às técnicas de jogo e detalhamento das técnicas do snooker. Na mesma época, caminhando pelo Largo do Machado, encontrei um vendedor de livros usados. Mais do que conhecida minha fixação por livros, acabei encontrando A Cor do Dinheiro, de Walter Travis, 1988, por R$ 2,00. Comprei-o na hora, é claro, pois um achado como esse não podia ser ignorado, porém relutei em ler por um tempo por acreditar que a história era a mesma da adaptação de Martin Scorsese. Feliz engano, pois quando decidi ler o livro, não encontrei nada de semelhante entre a obra literária e o filme de 1986. Cheguei a cogitar um texto comparativo entre as obras, mas não levei à frente o desejo. O Bilhar sem Mistérios, de Nelson Velasques, outra obra didática sobre os jogos de bilhar me renderam boas informações sobre o esporte e suas técnicas. A última obra, também encontrada num sebo, dessa vez na Cinelândia, foi o belíssimo The Official 1990 Matchroom Snooker Special, de Ian Morrison, 1989, com introdução do lendário hexa campeão mundial de snooker Steve Davis. No campo da ficção literária, encerrei a pesquisa com Saloon, conto de Sergio Faraco, presente no livro Snooker: tudo sobre sinuca.

Ainda não satisfeito, visitei com mais frequência os sites Ponto da Sinuca, Tacolândia, Sinuca MS, Federação de Sinuca e Bilhar do Estado do Rio de Janeiro e Confederação Brasileira de Bilhar e Sinuca, de onde consultei as regras oficiais dos jogos de bilhar e demais informações sobre torneios e artigos sobre o esporte infelizmente tão malvisto no Brasil.
Engraçado como em países como a Inglaterra e Estados Unidos o bilhar é tido como um esporte elitista, diferente do que ocorre por aqui. Enquanto a maioria dos jogadores brasileiros se contenta com as surradas mesas de bar, ou botecos, com tacos de ponteira plástica e bolas de péssima qualidade, em países que dão valor ao esporte, a maioria dos itens é de primeira linha, como as famosas bolas belgas da Aramith, as mesas da americana Brunswuik, por exemplo, os tacos ingleses, como os caríssimos MasterCraft e Rilley, feitos com madeiras nobres, diferentes dos nossos que muitas vezes são impossíveis de se jogar de tão empenados que se encontram, sem contar as solas de couro como as das americanas Master, Le Professionel e Brunswick ou a tailandesa Talisman contrapondo-se às plásticas nacionais

Felizmente para nós da terra do futebol, graças alguns incentivadores do esporte, algumas lojas especializadas e salões de sinuca oferecem material de qualidade para a prática esportiva, mas em número infinitamente pequeno em relação aos adeptos da sinuca de modo geral. Pior do que isso é o preconceito existente não só por pessoas que repugnam a sinuca, julgando-a como jogo de malandros, mas também pelos próprios adeptos habituais que preferem se acomodar com as sobras e objetos sem qualidade. Certa vez apareci num bar comum para jogar uma partida de sinuca e, por levar meu taco, fui alvo de comentários grosseiros. Quando perguntado pelo preço do acessório indispensável, chamaram-me de louco por gastar uma alta quantia por um pedaço de madeira. Para mim, mesmo sendo um jogador amador, acredito ser primordial ter qualidade em minhas tacadas, não quero defender a tese da elitização do esporte, apenas desejo que os donos de bares permitam que seus frequentadores tenham acesso ao mínimo de qualidade. Imaginem como seria bom entrar num bar, tomar uma cerveja bem gelada e jogar uma partida de sinuca com bons tacos, boas solas e um giz decente. Não é um investimento tão alto, mas o descaso é mais rentável, certo? É capaz de qualquer dia encontrarmos cabos de vassoura torneados nos fundos do bar como tacos de sinuca.

Depois da longa pesquisa, passei a ver as coisas que envolvem o esporte com outros olhos, por isso quis realmente escrever sobre o assunto, sobre o submundo das apostas, dos conflitos que vão além das mesas de jogo e passam para a vida dos homens, sobre a fascinação pelas bolas coloridas, sobre a esperteza do ser humano, sobre como se ganha, ou se perde, a vida em disputas no pano verde, sobre como a vitória faz o homem sorrir mesmo só tendo motivos para chorar, sobre como se pode fugir da realidade quando a tacadeira rola pela mesa em busca da conquista da alegria por um instante.
Escrever sobre o que se gosta deixa de ser trabalho para se transformar em prazer e, ao fim, a satisfação plena como um orgasmo intenso ao vê-lo ganhar vida nas mãos do público.
Espero terminar O Jogador antes de agosto. Se continuar com o ritmo que o escrevo, acredito que conseguirei, mas não quero correr para não estragar o desenvolvimento do enredo. O prazo foi estipulado até o fim do ano, mas quero terminá-lo o quanto antes, pois ainda tenho um romance pela metade, aguardando o seu fim. Mas não vamos misturar as histórias. Uma coisa de cada vez, um livro por vez, lembrando que na fila para a publicação, Memórias em Ruína está na frente, aguardando a resposta da nova editora para definirmos os moldes e as datas para a publicação, portanto tenho tempo para levar o meu jogador de sinuca a mais algumas mesas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Mais uma tentativa para não enlouquecer


Voltar a escrever depois de uma longa ausência não é algo fácil. O reencontro com as teclas é tortuoso nos toques decadentes da mão nervosa. Preocupo-me com superficialidades e me perco no compasso das horas em que permaneço sentado à máquina sem ter o que dizer, mas com uma imensa vontade de dizer. Devastar pensamentos, criar, atividades comuns, rotineiras de um cotidiano vazio são agora uma batalha terrível contra o vírus mortal da preguiça, ao mesmo tempo misturada com uma absurda vontade de fazer qualquer coisa para evitar o tempo entregue as artimanhas e teias frágeis da composição textual.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.