Voltar a escrever depois de uma longa ausência não é algo fácil. O reencontro com as teclas é tortuoso nos toques decadentes da mão nervosa. Preocupo-me com superficialidades e me perco no compasso das horas em que permaneço sentado à máquina sem ter o que dizer, mas com uma imensa vontade de dizer. Devastar pensamentos, criar, atividades comuns, rotineiras de um cotidiano vazio são agora uma batalha terrível contra o vírus mortal da preguiça, ao mesmo tempo misturada com uma absurda vontade de fazer qualquer coisa para evitar o tempo entregue as artimanhas e teias frágeis da composição textual.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.
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