terça-feira, 21 de julho de 2009

PARECE MENTIRA, MAS NÃO É

Quase não acredito que estou fazendo, aos poucos ainda, as pazes com as letras. Depois de um longo período em silêncio voltei a bailar com palavras. Um ano depois da publicação de Intermitência, seis meses do término de Memórias em Ruína, eis que me dedico à concepção de uma nova história.
Há duas semanas comecei a escrever a aventura O Jogador, um romance focando o submundo dos jogos de sinuca. Confesso que é algo diferente dos meus escritos habituais, uma nova experiência no campo das letras, deixando de lado os enigmas da mente humana e escrevendo uma trama simples, fácil, popular, mas que tem me deixado muito feliz.

É bom quando escrevemos sobre algo que nos alegra, parece que flui mais fácil. Neste novo romance tive a facilidade nas pesquisas sobre o tema, porque amo jogar sinuca. Talvez tenha sido essa paixão que me fez escolher o assunto do livro e criar a personagem central da trama. Mergulhei, pois, em diversos livros sobre o jogo, alguns que já havia lido por prazer outros que caíram em minhas mãos em visitas em diversos sebos; esbarrei em sites sobre sinuca recheados de boas informações e, principalmente, ao prazer que o Youtube nos proporciona com seus vídeos. Os amigos sabem o quanto me dedico às minhas pesquisas, o quanto me apaixono por um assunto e devoro o máximo de informações possíveis sobre ele. Agora, juntei o útil ao agradável. Já fazia um tempo que queria escrever sobre sinuca, mas a ideia ficou engavetada, e outros trabalhos foram ganhando mais importância.

Entre o final de 2007 e o início de 2008, não lembro precisamente a data, Daniel Braga, Jean Marcus e eu jogávamos uma partida de bola oito, num boteco, acho que no Marinas, um bairro aqui de Angra, tivemos a idéia de montar um curta sobre um jogador de sinuca que, durante um jogo, repassava sua vida de acordo com as bolas que encaçapava. Era uma ideia boa, com baixo custo. Cheguei a escrever algumas cenas, mas o projeto não foi adiante, porque Jean Marcus foi morar na Califórnia e nossos projetos, como já disse antes, ficaram esquecidos, assim como o Conto Conspiratório, o malfadado romance a quatro mãos que até hoje me assombra como um fantasma. O projeto ficou de lado, mas não esquecido, espero ainda poder retomá-lo.
Foi justamente pensando em reescrever o roteiro do curta que tive a ideia de escrever sobre as maravilhas do pano verde. Apelei mesmo para uma das poucas coisas que ainda me prendem o interesse para escrever, porque as demais coisas me fugiam. Antes, porém, comecei o longo caminho das pesquisas para o romance. A primeira fase foram os filmes que abordavam o tema. Assisti sozinho ao belíssimo The Hustler (Desafio à Corrupção), de 1961, com uma atuação incrível de Paul Newman, interpretando Fast Eddie Felson, e Jackie Gleason, como Minnesota Fats. Em seguida, foi a vez de assistir à continuação The Color of Money ( A Cor do Dinheiro), de 1986, com Newman revivendo Fast Eddie, dessa vez ainda mais memorável, e Tom Cruise interpretando o jovem Vincent Lauria. O filme ainda traz Mary Elizabeth Mastrantonio, como Carmen, e John Turturro, como Julian. Depois das adaptações bem-sucedidas dos romances de Walter Tevis, foi a vez de Poolhall Junkies (O Chacal não perdoa), de 2002; com Mars Callahan como Johnny Doyle e Christopher Walken como o Tio Mike, girar no meu aparelho de DVD. Podia me dar por satisfeito, mas encontrei o recente Shooting Gallery (Galeria de tiro), de 2005; estrelado por Freddie Prinze Jr. como Jericho Hudson com poucas inovações, mas ideias interessantes. Semana passada assisti ao Turn the River, de 2007, estrelado por Famke Janssen, interpretando a personagem Kailey Sullivan; um filme com boas ideias, bom fim, mas muito aquém dos dois primeiros filmes já citados.

Saindo dos filmes, a segunda fase teve início com os livros. Comecei com o nacional Snooker: tudo sobre sinuca, de Paulo Dirceu Dias e Sérgio Faraco, 2005; um livro didático com referência às técnicas de jogo e detalhamento das técnicas do snooker. Na mesma época, caminhando pelo Largo do Machado, encontrei um vendedor de livros usados. Mais do que conhecida minha fixação por livros, acabei encontrando A Cor do Dinheiro, de Walter Travis, 1988, por R$ 2,00. Comprei-o na hora, é claro, pois um achado como esse não podia ser ignorado, porém relutei em ler por um tempo por acreditar que a história era a mesma da adaptação de Martin Scorsese. Feliz engano, pois quando decidi ler o livro, não encontrei nada de semelhante entre a obra literária e o filme de 1986. Cheguei a cogitar um texto comparativo entre as obras, mas não levei à frente o desejo. O Bilhar sem Mistérios, de Nelson Velasques, outra obra didática sobre os jogos de bilhar me renderam boas informações sobre o esporte e suas técnicas. A última obra, também encontrada num sebo, dessa vez na Cinelândia, foi o belíssimo The Official 1990 Matchroom Snooker Special, de Ian Morrison, 1989, com introdução do lendário hexa campeão mundial de snooker Steve Davis. No campo da ficção literária, encerrei a pesquisa com Saloon, conto de Sergio Faraco, presente no livro Snooker: tudo sobre sinuca.

Ainda não satisfeito, visitei com mais frequência os sites Ponto da Sinuca, Tacolândia, Sinuca MS, Federação de Sinuca e Bilhar do Estado do Rio de Janeiro e Confederação Brasileira de Bilhar e Sinuca, de onde consultei as regras oficiais dos jogos de bilhar e demais informações sobre torneios e artigos sobre o esporte infelizmente tão malvisto no Brasil.
Engraçado como em países como a Inglaterra e Estados Unidos o bilhar é tido como um esporte elitista, diferente do que ocorre por aqui. Enquanto a maioria dos jogadores brasileiros se contenta com as surradas mesas de bar, ou botecos, com tacos de ponteira plástica e bolas de péssima qualidade, em países que dão valor ao esporte, a maioria dos itens é de primeira linha, como as famosas bolas belgas da Aramith, as mesas da americana Brunswuik, por exemplo, os tacos ingleses, como os caríssimos MasterCraft e Rilley, feitos com madeiras nobres, diferentes dos nossos que muitas vezes são impossíveis de se jogar de tão empenados que se encontram, sem contar as solas de couro como as das americanas Master, Le Professionel e Brunswick ou a tailandesa Talisman contrapondo-se às plásticas nacionais

Felizmente para nós da terra do futebol, graças alguns incentivadores do esporte, algumas lojas especializadas e salões de sinuca oferecem material de qualidade para a prática esportiva, mas em número infinitamente pequeno em relação aos adeptos da sinuca de modo geral. Pior do que isso é o preconceito existente não só por pessoas que repugnam a sinuca, julgando-a como jogo de malandros, mas também pelos próprios adeptos habituais que preferem se acomodar com as sobras e objetos sem qualidade. Certa vez apareci num bar comum para jogar uma partida de sinuca e, por levar meu taco, fui alvo de comentários grosseiros. Quando perguntado pelo preço do acessório indispensável, chamaram-me de louco por gastar uma alta quantia por um pedaço de madeira. Para mim, mesmo sendo um jogador amador, acredito ser primordial ter qualidade em minhas tacadas, não quero defender a tese da elitização do esporte, apenas desejo que os donos de bares permitam que seus frequentadores tenham acesso ao mínimo de qualidade. Imaginem como seria bom entrar num bar, tomar uma cerveja bem gelada e jogar uma partida de sinuca com bons tacos, boas solas e um giz decente. Não é um investimento tão alto, mas o descaso é mais rentável, certo? É capaz de qualquer dia encontrarmos cabos de vassoura torneados nos fundos do bar como tacos de sinuca.

Depois da longa pesquisa, passei a ver as coisas que envolvem o esporte com outros olhos, por isso quis realmente escrever sobre o assunto, sobre o submundo das apostas, dos conflitos que vão além das mesas de jogo e passam para a vida dos homens, sobre a fascinação pelas bolas coloridas, sobre a esperteza do ser humano, sobre como se ganha, ou se perde, a vida em disputas no pano verde, sobre como a vitória faz o homem sorrir mesmo só tendo motivos para chorar, sobre como se pode fugir da realidade quando a tacadeira rola pela mesa em busca da conquista da alegria por um instante.
Escrever sobre o que se gosta deixa de ser trabalho para se transformar em prazer e, ao fim, a satisfação plena como um orgasmo intenso ao vê-lo ganhar vida nas mãos do público.
Espero terminar O Jogador antes de agosto. Se continuar com o ritmo que o escrevo, acredito que conseguirei, mas não quero correr para não estragar o desenvolvimento do enredo. O prazo foi estipulado até o fim do ano, mas quero terminá-lo o quanto antes, pois ainda tenho um romance pela metade, aguardando o seu fim. Mas não vamos misturar as histórias. Uma coisa de cada vez, um livro por vez, lembrando que na fila para a publicação, Memórias em Ruína está na frente, aguardando a resposta da nova editora para definirmos os moldes e as datas para a publicação, portanto tenho tempo para levar o meu jogador de sinuca a mais algumas mesas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Mais uma tentativa para não enlouquecer


Voltar a escrever depois de uma longa ausência não é algo fácil. O reencontro com as teclas é tortuoso nos toques decadentes da mão nervosa. Preocupo-me com superficialidades e me perco no compasso das horas em que permaneço sentado à máquina sem ter o que dizer, mas com uma imensa vontade de dizer. Devastar pensamentos, criar, atividades comuns, rotineiras de um cotidiano vazio são agora uma batalha terrível contra o vírus mortal da preguiça, ao mesmo tempo misturada com uma absurda vontade de fazer qualquer coisa para evitar o tempo entregue as artimanhas e teias frágeis da composição textual.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.