sexta-feira, 16 de maio de 2008

Maio, maduro maio; quase podre maio

Maio, maduro maio; quase podre maio. Que eu saiba, agosto é o mês do desgosto, mas algo me leva a crer que houve um adianto temporal na contagem dos meses. Ou pior, não sei, este ano tem sido difícil em tantos aspectos que estou pensando seriamente em elegê-lo como o pior ano da década. Mas ainda estamos a dois de terminá-la, portanto é preciso ter muito cuidado nesta eleição.
A vida é mesmo surpreendente e dá cada volta que nos deixa meio maluco. Ultimamente, a minha já entrou em tantos reveses que eu não sei mais o que posso esperar amanhã quando acordar. As coisas mudam tanto para mim, desfazem-se com a mesma, ou até mais, velocidade que são criadas. Eu não sei o que esperar de mim e dos outros principalmente.
Não estou nada bem. Não há como esconder, pois a minha amargura se reflete nos meus olhos sem vida, no meu rosto sem brilho, no meu sorriso choroso, na minha voz muda... Tudo anda às avessas, tudo ao contrário do que um dia foi lindo. Parece que minha primavera realmente chegou ao fim, mas não foi o verão que a sucedeu. Não, por incrível que pareça dormi e acordei no auge de um inverno glacial. Estou mal. Mergulhado num pessimismo absurdo e constante como a dor de cabeça de uma ressaca que nos derrubam por dias intermináveis de náuseas.
Não sei por onde começar a contar os males que me derrubam como um enfermo no leito de morte, implorando para que desliguem os aparelhos que me mantém respirando com dificuldade. Na verdade, nem mesmo quero escrever sobre o que me maltrata, mas uma necessidade superior ao meu querer me obriga a pôr para fora como vômito as minhas vicissitudes na esperança utópica de aliviar o estômago embrulhado de decepções. Assim escrevo hoje, não por prazer, mas por necessidade catártica a fim de me salvar a vida... embora melhor seria ir-me embora daqui, porque não gosto daqui, ir-me embora para não mais voltar, embora para nunca mais chorar, embora... ir embora.
Se não há como evitar, que seja o mais breve possível. Resumirei o assunto para não me causar mais dor do que a já sentida. Ando mal com o amor e, infelizmente, isso interfere diretamente em todas as minhas áreas de atuação, pois penso com o coração, não com a razão como deveria ser, mas não é. O fato é que eu e Mariana não estamos bem. Uma série de acontecimentos enfadonhos vem nos tirando a harmonia. Hoje somos talvez duas notas desafinadas, tocadas de qualquer maneira por quem antes tinha total zelo. A desgraça teve início no feriado do dia do trabalho, quando ao contrário de nos amarmos, brigamos mais do que, perdoem a expressão mais batida do que carro de testes de segurança, cão e gato. Não houve sequer um dia em que não trocamos farpas, apesar de não querermos. Estranhamente eu pressentia que algo de muito ruim aconteceria em breve. Isso ficou, não sei por que, martelando em minha cabeça, aumentando a força, incomodando, latejando, enlouquecendo, durante todos os malditos dias. Na semana seguinte, nós nos entendemos e aliviamos um pouco a sensação de desgraça próxima, apesar de não ter desaparecido como eu desejava. O medo, a insegurança se intensificou quando ela me disse que, pela primeira vez, só voltaria para cá no sábado, não na sexta como era de costume. Triste porque justamente na sexta meu irmão apagava pela nona vez as velas de seu bolo, senti um aperto no peito muito maior do que apenas a sua ausência poderia causar.
Algo estava errado não só porque Mariana não estava aqui, mas também por já ter passado da hora em que ela me liga sempre. Por que justamente no dia em que não vem para casa, ela também não fala comigo. Preocupado, mandei uma mensagem para o seu celular e a resposta tempos depois foi fora do comum, estava diferente, errando demais e com um vocabulário que nunca vi. A segunda mensagem de resposta foi uma repreensão que me fez pesar a consciência por não confiar nela. Mas como já estava na quinta mensagem sem resposta, liguei. E para minha desgraça, ela atendeu ao telefone.
Mariana estava em uma festa da faculdade, bêbada e sorridente, mesmo tendo mentido friamente para mim quando me escreveu que estava quase chegando a sua casa. Meu mundo foi ao chão, eu perdi o tino, a razão e disse milhares de impropérios impossíveis de transcrever aqui. A discussão via celular foi longa e exaustiva, culminando com o término do namoro. Dormir depois de tanta raiva foi tão difícil que só consegui realmente apagar depois do quarto comprimido de lexotam. Durante o tempo em que rolei na cama, só conseguia pensar em como ela pôde ser tão vil comigo, tão insensível com meu sentimento. Suas lágrimas me doíam, mas pior que a dor era a irritação que provocavam em mim. Naquele instante todo amor se transformou em ódio. Não um ódio qualquer, mas o derradeiro. Jurei que nunca mais queria olhar para ela, pois se foi capaz de mentir, dissimular, enganar, como eu poderia olhar em seus olhos e ainda desejá-la? A dor do desengano se instalou sobre mim e machucou mais do que qualquer ferimento, mais que um tiro seco, mais que um punhal desferido sem piedade pelo assassino frio no beco escuro da morte. Eu estava morto, apesar de ainda respirar.
Dia seguinte, vida vazia. Passei a manhã entre a insanidade e doença na alma. Um sentimento estranho de nulidade e vazio no coração. Mas era preciso continuar, uma vez que a quantidade de remédios correndo em minhas veias fora insuficiente para me manter na cama como um vegetal. Saí. Incomunicável, aproveitei o tempo são para caminhar pelas ruas tristes de um dia cinza e chuvoso. Pensava em nossos bons momentos e também nos maus. A dor era intensa. Quando resolvi que era hora de voltar para casa, percebi que ela havia me ligado inúmeras vezes. Não voltei as ligações. Queria que ela entendesse que eu não mais queria passar pela mágoa que me impôs sem que eu nada pudesse fazer para mudar, transformar, esquecer a dor que o golpe me causara.
Para meu espanto, no fim da tarde ela veio a minha casa para conversar. Seu rosto estava tão apagado como o meu. Arrependida, creio, por ter me traído a confiança. Conversamos, na verdade foi um monólogo dela, durante horas intermináveis, marcadas por lágrimas sofridas. Eu, que geralmente falo demais, não disse mais do que três frases monossilábicas. Queria me desprender dela, esquecer que um dia entreguei todo o sentimento bom que ainda existia em mim depois do fracasso do casamento.
O amor, mesmo arruinado, conseguiu gritar forte ao meu ouvido. Retrocedi, dei mais uma chance para que ela reparasse o erro grave, mas a decepção não se foi. Ainda vive em mim como uma praga mortal. Assim, embora tivéssemos um final de semana tentando apagar o fogo, a semana novamente marcada de ausência me machucou. Não consigo mais dizer que a amo, embora a ame com toda a força. Queria saber como esquecer, como perdoar, como aceitar o fato; mas não tenho esse dom superior. Sou um homem cheio de graves defeitos, e o maior é não esquecer.
Ainda estamos juntos, mas não sei até quando continuaremos. Não posso afirmar mais nada enquanto não abrandar a ira que me toma o pensamento arredio. Ouço-a arrependida ao telefone dizer que me ama; que não medirá esforços para reconquistar minha confiança, mas não vejo como pode fazer isso, pois não consigo, por mais que eu queira, acreditar no que sai de sua boca. Será verdade? Será mentira? Como posso acreditar em quem mente, magoa e depois volta arrependida como um cão sem dono, com os olhos cheios de lágrimas?
Temo que desta vez ela tenha extrapolado, passado dos limites. Não quero amar alguém em que não posso confiar. Toda noite imagino o que ela possa ter feito e o que faz. Toda noite eu choro, pensando nela e na dor que vive em mim pelos meus castelos construídos em nuvens frias.
Quem sabe tudo isso passe. Quem sabe eu a perdoe. Quem sabe eu possa dizer que a amo intensamente como amei um dia, desde que não haja mais mentiras.

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