domingo, 21 de março de 2010

Borges e os Orangotangos Eternos de Veríssimo


Quando numa caminhada pela Praça XV, resolvi entrar na Livraria Camões, vi, entre as prateleiras abarrotadas de livros velhos, Borges e os Orangotangos Eternos, de Luís Fernando Veríssimo, ainda lacrado. Preço de saldo por um exemplar novo. Lancei as mãos no livro e comprei-o, juntamente com O Senhor Ventura, de Miguel Torga.
Borges e os Orangotangos era um livro que queria ter, mas nunca foi prioridade entre as minhas visitas às livrarias. Era apenas mais um livro de Veríssimo para a minha coleção, e que, como muitos, entraria na minha vasta lista de espera pela leitura. E realmente foi.
Há três anos o livro de capa azul e preta descansou entre os demais livros do cronista. Olhava-o sempre com um certo ar de desconfiança, porque prefiro o Veríssimo cronista ao romancista. Apesar de ter gostado de Clube dos Anjos, e de toda a coleção Plenos Pecados, não me sentia disposto a ler o seu livro sobre o mestre argentino.
Não sei se a longa espera foi boa ou negativa. Talvez se o tivesse lido há três anos não tivesse o encanto que tive hoje ao me entreter com tal preciosidade. Veríssimo criou uma história fantástica, transformando Jorge Luis Borges em personagem de sua trama de suspense com referências às obras de Edgar Allan Poe.
A leitura é prazerosa e apaixonante. O encontro entre o fã, Volgenstein, e o ídolo, Borges, é construído de forma inteligente e perturbadora. Os mistérios que rondam o assassinato do crítico literário especialista em Poe são muito bem construídos, embora não seja difícil prever quem seria o real assassino. Mas era essa a intenção do narrador-personagem desde o princípio. Ponto para o autor, a criação de um narrador não confiável, como acontece com a maioria dos contos do autor de O Escaravelho do Diabo.
Alguns fatos passam longe da verossimilhança de um crime e, principalmente, da ação da polícia diante de um assassinato. Mas o que importa isso diante de uma narrativa fluente que envolve o leitor desde as primeiras linhas do texto?
Outro ponto interessante do livro é o capítulo final ficcionalmente escrito por Borges, que abandona o posto de personagem-interlocutor para assumir a responsabilidade pelo desfecho da história. O Borges de Veríssimo faz bem o seu papel de detetive literário, desvendando o mistério que envolve a morte de Joachim Rotkopf, o grosseiro crítico alemão.
Agora penso, depois de voltar com o livro datado para a estante, que relutei para ler um livro encantador e cativante. Faço questão de voltar à obra de Jorge Luis Borges, que certamente não foi bem feita, graças à magia despertada por Luís Fernando.

http://www.albertodacruz.prosaeverso.net

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