quinta-feira, 25 de março de 2010

Voltemos a programação normal

Seria possível que depois de um nefasto plano, Jean Marcus, conhecido como o outro cara que abandonou o blog no começo, estaria voltando de alguma forma para falar de suas angustias como escritor? Talvez. Não saberia dizer mais quem escreve estas palavras. Alguma forma de Jean que não é inteiramente Jean? Difícil de concluir. Ou talvez melhor não. Não sabendo ao certo como os destinos se encontrarão daqui a diante; escreverei apenas, ao encalço de meu amigo Alberto. Ou Albert pra seguir a lógica de nomes na ilha de Lost. Falando em Lost, e suas milhares de referências (que talvez seja uma das partes mais interessantes da série), vamos falar mal de Tim Burton e como ele esculhambou uma das melhores histórias da humanidade : Alice no País das Maravilhas.


Tim Burton no País das Maravilhas
A tecnologia 3D está se tornando algo imensamente perigosa; o que não é um problema interamente dos cineastas. Nossa sede por novidades fez de Avatar o filme mais bem pago da história do cinema (com ressalvas de correção monetária), mas o filme em sí é apenas mais uma repaginação da mesma história do branco opressor que é aceito na tribo mas é quem mostra o real aspecto de ser o espírito do grupo. Apesar dos pesares, o filme não é de todo mal e o 3D é realmente impressionante; mas não que os cineastas modernos saibam o que fazer com essa total imersão.
Alice tenta fazer a mesma coisa em se aproveitar do 3D para criar imersão nesse mundo fabuloso das Maravilhas. O que talvez, num pensamento inicial, fosse uma grande idéia, e juntar Tim Burton à esse caldeirão, apesar de não gostar de sua direção, foi um tanto quanto aceitável, mas se esqueceram que cinema nào é só feito de técnologia e uma história que todos conhecem não pode ser distorcida ao bel prazer.


A grande sacada de Lewis Caroll é que os personagens no livros são na verdade arquétiopos e que Alice deve interagir com esses avatares para entender melhor as mecanânicas de sua própria mente. Talvez o que Alice tenha ganho ou não com isso é irrelevante diante da sacada dos arquétipos. No filme de Tim Burton, porém, cada personagem é apenas alguém com que Alice interrage; e algo fundamental em personagens é que eles se apresentam como um arquétipo, nunca o são.
Então todos os personagens ficam truncados, têm emoções e resolvem conflitos; tudo que Lewis Carol estava tentando se distanciar. E não é por ser um filme para o grande público que tiveram que aguar um pouco esses conceitos: o desenho anterior da Disney conseguiu impecavelmente manter a caracterização dos arquétipos, não dos personagens.
E eu vejo isso como um erro grave; filmes têm suas regras básicas ( de conflito, resolução e o diabo a quatro) sim, mas quando há uma tradução de um outro meio deve se manter certas referências. Senão seria melhor criar essa mesma história, mas com novos personagens: como Avatar fez.


Por essas e outras que eu acho que o Tim Burton se perdeu de vez.

Mas e o 3D?

Eu tive um idéia sobre o que o 3D significa esses dias. Porque a tecnologia por sí só não traz nada de inovador à uma arte: sua aplicação é muito mais importante as vezes. E o que o 3D faz além da imersão total, que no fundo todo filme bom deveria fazer, é que não há necessidade de se escolher um plano. Tudo pode ser mostrado em TODOS os planos. Uma tomada pode mostrar muito mais e deixar o borrado pra trás. Acho que a série Heroes tentou fazer isso sem usar o 3D e ficou com uma qualidade duvidosa.
Meu palpite é que as tomadas, que estão se tornando cada vez mais rápidos, vão diminuir em rítmo já que existirá muito mais em tela para ser visto do que num filme convêncional. E Alice, até mesmo Avatar, pecou nesse aspecto. Não houve profundidade em lugar algum: nem nos personagens, nem nas tomadas.
Oremos para que os cineastas entendam isso em breve e façam tudo ter mais profundidade mais uma vez. A emoção do 3D não vai ser exclusiva de cenas de ação, que chegam a encher de tantas coisas que jogam a sua cara (e pelo mesmo motivo espero que pornô nunca seja 3D).

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