terça-feira, 31 de julho de 2007

Façam suas apostas, a roleta começou a girar

Sono!
As pálpebras pesam um quilo ou mais cada uma. Encobrem as órbitas vermelhas de cansaço, fazem-me ver o mundo escuro sob a cortina negra da minha fraca força de vontade. Preciso dormir. É necessário fechar os olhos e viajar por terras oníricas onde os castelos de areia são habitados. O corpo pende sem sustentação, deseja cair sobre a cama macia e entrar em letargia. A mente beira um torpor absurdo... mal me mantenho. Mas não entrego os pontos, ainda não. Jurei a mim mesmo escrever algumas linhas diariamente... logo, se não fui sensato o bastante para me dedicar ao ofício quanto respondia plenamente por mim, sou obrigado agora a lutar contra minhas limitações para dar vida a um parágrafo ao menos. Tenho sono, mas insisto em permanecer no mínimo 1 hora diante da máquina. Se eu quiser terminar minha parte no romance, sou obrigado a sacrificar alguns minutos de repouso em razão de algo maior. Tenho de vencer minhas limitações, ignorar minhas debilidades psíquicas, extrair o pouco de idéias que me restam nesta fria noite de julho.
Mais um mês se esvai na ampulheta da vida. Menos tempo nos resta sobre a terra... e mais uma vez enfrento meus fantasmas. Parece piada, mas escrever o romance se torna cada dia mais difícil e trabalhoso. Não porque fujo ao texto ou invento desculpas para não terminar o que me propus a fazer; acontece que, estranhamente, mais e mais compromissos aparecem. Já havia dito anteriormente que me comprometi, além do Conto Conspiratório, com a criação de um conto erótico para Luisa, com a compilação de uma antologia poética e também com a revisão dos contos de “Pesadelos no Paraíso”, sem falar da revisão de “Obsessão: a verdade sobre meu pai”, que depois de lê-lo pela última vez, tive vontade de reescrever várias passagens; e ainda dar cabo a correção de “Paixões Perigosas”, que dado o tempo de distanciamento do texto, é chegada a hora de revê-lo com olhos críticos. Não me bastasse essa imensidade de trabalhos editoriais, aceitei o convite da Nova Fronteira para escrever um conto inspirado nas “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues. Parece que ao invés de diminuir o quantitativo de trabalho, aumento-o de forma sufocante. O grande nó que me sufoca consiste em ser obrigado a resumir ainda uma das obras de Nelson antes de escrever o meu próprio trabalho. Pensei em declinar do convite, mas três mil reais é muito tentador em épocas de “faltura” para inventar uma desculpa qualquer para não escrever a narrativa.
Outro problema é relativo ao prazo de entrega. Eu, que odeio prazos, sou obrigado a entregar o material à Nova Fronteira em menos de vinte dias, portanto será preciso me organizar muito bem, além, é claro, de priorizar alguns desses trabalhos inadiáveis. Resta saber qual tem menos importância no momento. Às vezes queremos abraçar o mundo com as mãos e nos dá uma tristeza arrebatadora quando descobrimos que o mundo é grande demais para conter nossos sonhos, ou pior, nossas mãos são deveras pequenas para segurar nossas ilusões.
Para piorar minha série de negativas, resolvi, depois de muita insistência por parte de Mariana, se não parar, diminuir os cigarros que me acompanham faz tanto tempo que não me imagino sem eles. Estipulamos o dia 1 de agosto para nossa troca: eu paro de fumar desde que ela se alimente melhor. Estou disposto a tentar, afinal há quinze anos levo à boca essa fumaça sem gosto, tenho este odor desagradável e perdi todo o fôlego para qualquer atividade física. Sei que a tarefa será das mais difíceis, mas preciso arriscar em prol de minha saúde. Quem sabe minha taxa de glicose se normalize agora e eu pare de me perfurar diariamente com aquelas insuportáveis seringas de insulina. O esforço será válido, basta saber se conseguirei escrever da mesma forma, já que é-me habitual baforar meus cigarros enquanto escrevo. Mas, parando para pensar, faz tanto tempo que não escrevo algo consistente e duradouro que é bem provável que a falta de nicotina não faça a mínima diferença. Vamos esperar para saber. O primeiro passo já foi dado ontem: diminuí a quantidade de “Luckys” e troquei meu peculiar filtro amarelo peles filtros brancos. A diferença é grande e a vontade de fumar mais do que o normal tem sido maior, mas a determinação não me deixa fraquejar, pelo menos não muito.
Vejamos o quão longe conseguirei ir. Bom é saber que ontem agüentei cinco longas horas sem nenhum trago. Hoje a meta é ir além, quem sabe seis ou sete horas cheirando bem, sem poluir o ar, sem incomodar ninguém.
Façam suas apostas, a roleta começou a girar.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Imprevistos acontecem

Imprevistos acontecem. Há dois dias havia dito que escreveria sem pausa e fecharia, no mínimo, três capítulos. A idéia era essa; e também acreditei que fosse conseguir, uma vez que estaria isolado em meu mundo particular; nesta sala de paredes marrons e móveis mogno, com meus poemas prediletos fixados nas paredes a minha volta como um mural poético; os pôsteres de Kathy Bates em Misery e uma reprodução belíssima do Overlook Hotel manchada de sangue; com fotos minhas e de Mariana sobre a mesa de trabalho; centenas de livro novos e velhos... ah, o cheiro dos livros, nada como o aroma das páginas envelhecidas. Se eu pudesse encheria o escritório com volumes antigos, pois tenho paixão pelas folhas recolhidas em sebos e saldos que esbarro pela vida em minhas caminhadas displicentes. Por falar nisso, acabei de manusear um exemplar de “A Capital”, de Eça de Queirós, publicado pelos Irmãos Lello, Lisboa, 1914. O valiosíssimo material me custou a bagatela de R$ 1,00. Comprei-o de um senhor que vendia discos de vinil e livros, segundo ele, velhos, em um carrinho de supermercado. Às vezes encontro em minhas andanças preciosidades como essa, por exemplo.
Sem fugir do assunto, previ a paz textual, mas não cumpri. Mariana viajou somente hoje, portanto os dias que me dedicaria ao lapidar das palavras foram substituídos por mais algumas horas dormente aos braços dela. Não estou reclamando, muito pelo contrário. Os instantes que me dedico a ela são impagáveis e insubstituíveis. Nada me é mais caro do que fazer a presença diária seja ao telefone, seja pessoalmente. Portanto, amigos, perdoem-me a sinceridade, mas entre paixões de vida, os braços acolhedores de Mariana ganham em disparada de qualquer que seja o concorrente, inclusive o texto.
Mas antes que pensem que joguei dois dias fora, adianto-me em dizer que consegui escrever um pouco, não muito com deveria, mas o suficiente para fechar um capítulo. Agora Judith espera acordar para descobrir o seu destino imutável (imutável?! Será mesmo?). Acredito que com o que escrevi o andamento de minha parte acelere o processo, basta para isso que me empenhe mais na empreitada... porém ainda me é penoso encarar o computador por mais tempo do que o gasto aqui contando minhas histórias, às vezes tediosa, outras interessantes.
Assistimos ontem a um filme interessante: O Amor Pode dar Certo, cujo tema era o relacionamento entre duas pessoas em estado terminal, vitimadas pelo Câncer. Filmes que abordam essa maldita doença mexem comigo sobremaneira. Não sei se porque passei por uma experiência com a morte, devido a alguns tumores em minha coluna vertebral há alguns anos, chorei como criança perdida numa selva cheia de lobos vorazes.
***
Não terminei o texto, pois meu tempo havia se esgotado. Antes que o terminasse, fui passar o fim de semana com os avós de Mariana no Rio. Assim, a postagem ficou um tanto quanto incompleta, mas amanhã, assim que voltar do trabalho (o recesso acabou para meu desgosto profundo), prometo escrever algo que preste e valha a pena ser lido.
Um forte abraço aos fiéis amigos e um olá carinhoso para os que vêm chegando.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Fim do Intervalo


Fim do intervalo. É hora de voltar ao trabalho “inconstante” da tessitura do Conto Conspiratório (esse nome tem que mudar), afinal, já lá se vai o recesso e o tempo pensado na construção do texto se foi assim como os dias ociosos: rapidíssimo.
Quando entreguei os últimos diários de classe, programei o meu tempo de forma a dar cabo de tudo aquilo que deixei de lado no primeiro semestre, mas, como já previra, sabia que tudo não daria muito certo. Sou péssimo em seguir horários e também quis aproveitar meu tempo livre com Mariana, amigos e família, já que o corre-corre diário sempre nos impede de ficar juntos. Os dias sem trabalho, passei com essas pessoas que me são caras. E fui feliz em cada momento acompanhado por essas almas boas que estivera afastado contra a minha vontade. Obviamente, Mariana levou-me a maior parte do tempo, e isso não teve preço, pois enfim pudemos nos dedicar com maior cuidado um ao outro, o que nos tempos de trabalho e estudo é inviável, apesar dos nossos esforços para mantermos o contato diário, seja pessoalmente por poucas horas, seja ao telefone. Ainda seguindo a linha dos encontros adiados, pude passar alguns dias com minha família, brincar com meu irmão, pedir colo a mamãe e até uma (ta bom, várias) cervejas com meu pai.
O homem precisa do contato com pessoas que ama, viver distante delas por qualquer motivo se constitui um sofrimento íntimo. Precisamos, pois, encontrar um meio entre a loucura da vida para dedicarmo-nos a esses momentos tenros e prazerosos, independente de qualquer revés que nos tome as ações e pensamentos. Eu o fiz.
Aproveitando as semanas de tranqüilidade, recarreguei as energias enfraquecidas, revitalizei os laços afrouxados; pude pôr a cabeça no travesseiro e dormir sossegado, ignorando o relógio; pude simplesmente ver e rever filmes sem a preocupação do horário; ler algumas páginas que ficaram de lado; organizar minhas bagunças assustadoras e ainda pensar no andamento da vida. Até aqui, o intervalo foi valoroso ao crescimento das minhas relações pessoais, por isso estou apto a dar continuidade ao labor impreciso da criação textual, uma vez que a mente teve a folga tanto desejada.
Há aqui um problema: os dias ociosos se aproximam do fim. Em menos de uma semana a rotina se inicia e os mesmos entraves de antes voltarão com a intensidade já conhecida de outrora. É preciso então organizar para esses dias que faltam um horário para me dedicar a composição dos capítulos programados. Acredito que não haverá grandes dificuldades em transpor para o papel as idéias que perambulam na cabeça exigindo que sejam escritas. Passarei três dias inteiros livre de qualquer impedimento, portanto o número de páginas aumentará consideravelmente, quiçá seja escrito o dobro de parágrafos até então feitos no meio da confusão dos meses anteriores.
Minha parte no romance está bem adiantada, as cenas que me dificultaram o andamento da narrativa já estão prontas, assim a continuidade das ações de Judith serão, pelo menos em teoria, fáceis de escrever. Faltava, odeio dizer isso, inspiração para formular a “sociedade secreta” que daria o tom para sua problemática, porém, felizmente, a consegui depois de assistir a alguns bons filmes e sofrer o pensamento para dar as cores certas para o que pensamos sem cair em clichês ou perder a originalidade. Embora “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick, tenha servido como parâmetro para a concepção do cenário e “O Último Portal”, estrelado por Johnny Depp, tenha auxiliado na criação das personagens secundárias, é mister fugir das semelhanças que certamente fariam se fossem seguidas à risca essas relações entre os filmes e o livro. Talvez seja esse o ponto mais arriscado, fazer algo já feito, sem esbarrar no plágio e ser o mais original possível. Aí é que o tempo se vai, pensando em demasia no que criar sem cair em armadilhas mais do que conhecidas.
Amanhã veremos as novidades. Hoje retomo a empreitada e espero poder contar-lhes os meus avanços. A meta é fechar um capítulo por dia e deixar bem adiantado o texto antes de Jean entrar no avião... Rezemos para que nosso amigo não viaje de TAM.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Saldos de um mês longe do texto

Angra dos Reis, 10 de julho de 2007

Certo, desde o dia 18 de junho não me aventuro a escrever nada para o blog, lá se vai quase um mês sem que pare o meu dia para detalhar em pormenores minha insanidade e tédio sem fim. Não que não houvesse nenhuma linha a lamentar, pelo contrário, variados fatos me ocorreram, mas não tive realmente tempo para sentar ao computador e escrevinhar minhas ações, frustrações, momentos tenros ou plenos de satisfações. Sim, é verdade, também me satisfaço em minha vida, mas tenho um desejo absurdo de discursar sobre o lado negativo, deixando somente a mim as boas novas de harmonia. Vá lá entender o que se passa na cabeça do homem!

Um dos motivos que me roubaram neste mês foi o trabalho. Fim de semestre é um horror pior do que qualquer história de King ou adaptação de um romance de terror decadente. Nunca antes, na verdade já sim, corrigi tantos trabalhos em um espaço curtíssimo de tempo. Pior é saber que em muito a culpa foi minha, por ter deixado a pilha crescer sem que ousasse diminuí-la de qualquer maneira. A cada semana mais e mais textos se amontoavam sobre minha mesa, armário e até mesmo o chão do escritório, de tal forma que se continuasse como estava, fatalmente eu estaria agora imerso em celulose e tinta de esferográficas. Imaginem a notícia do jornal: “Professor é encontrado morto em sua sala de trabalho, sufocado por inúmeros papéis”, ou ainda, “De exaustão, morre Alberto, depois de corrigir milhares de trabalhos escolares”.

Um pensamento absurdo me apetece agora. Seria incrível se as folhas avulsas ganhassem vida e corressem atrás de mim, exigindo que fossem lidas ou me matariam cruelmente por deixá-las esquecidas. A linha cronológica seria encantadora (às mentes insanas, claro) se pessoas que freqüentam minha casa, uma a uma, fossem desaparecendo sem vestígios, até que enfim chegasse a minha vez de prestar contas com o meu destino. Empunhando a caneta vermelha, enfrentaria a horda celulósica, atacando-as com vistos e notas baixas.

Meu Deus, a que ponto cheguei em minha loucura!!!

De volta à realidade, felizmente consegui pôr fim ao trabalho. Fui obrigado a me isolar por alguns dias e demover toda a minha atenção ao quantitativo acumulado. Fi-lo com desespero, lendo os diversos textos de meus alunos numa rapidez, em certo ponto displicente, que jamais gostaria de ter feito, pois sei que, e isso é o pior, que muitas coisas se perdem nesse processo.

Redações e provas corrigidas, iniciei um processo ainda mais entediante: fechar os diários de classe. Se eu fosse mais responsável, fazendo-os, como o próprio nome diz, diariamente, o trabalho seria mais ameno, mas não, o amigo aqui é preguiçoso e, além disso, não cede nem cinco minutos de suas aulas para atividades burocráticas. Dificilmente me sento à mesa no fim de uma aula para fazer chamadas, anotar conteúdos, lançar notas de trabalhos. Não, deixo tudo para a última hora, assim, aos 44 do segundo tempo, ou já nos acréscimos do árbitro, me lanço à empreitada, geralmente assinando as folhas finais pouco antes de meus diretores me cobrarem o registro das aulas.

Nestes períodos não consigo escrever, tampouco penso no que escrever, o que é irritante para mim. É impossível, uma vez que não posso nem mesmo raciocinar direito. E quem sofre com isso? Todas as pessoas que me rodeiam acabam sendo agredidas pelo meu estresse constante. Descarrego em todas as pessoas que me querem bem as minhas amarguras. Depois só me resta pedir, de cabeça baixa e olhos marejados, desculpas pela minha explosão de ignorância. Obviamente me sinto péssimo quando isso ocorre, mas não posso fazer muito, já que me controlar passa longe dos meus atos.

E assim foi meu mês de junho, ócio misturado ao estresse do trabalho, sem que tenha produzido algo novo. Mas nem tudo foi perdido nesse ínterim fatídico de minha vida, pelo menos, com o tempo em que fugi às minhas responsabilidades, relacionei alguns poemas, 47 para ser exato, para a composição de uma nova antologia. Confesso impressionado que de tudo o que antes fora escrito, esses chegaram a me enternecer e me dar um pouco de orgulho comedido. Acredito que tenha enfim escrito alguns versos de grande valia, se não ao mercado editorial, para mim somente. Não são grandiosos nem obras-prima da poética contemporânea, ao contrário, são bem simples, mas o que me prendem a eles é a carga emotiva pura, imaculada como uma criança que desconhece as vicissitudes da vida ou um amor sublime que não viveu nenhuma dor.

Saldos positivos de um mês desregrado. Tempestividades ocorreram, mas também se fez sol sobre minha cabeça e, por mais estranho que me pareça, eu gostei dos raios quentes e da luz iluminando meu caminho. Eu gostei do brilho intenso dos olhos dela e do seu sorriso a me ver. Eu gostei de sentir o vento em meu rosto quando acelerei meu carro pela estrada e ele não me deixou na mão. Eu gostei de passar noites inteiras acordado sentindo o calor de um mesmo abraço. Eu gostei de ter certeza de que um dia após outro as coisas mudam de figura e melhoram. Eu gostei de terminar algo que comecei e sentir que fiz algo decente. Eu gostei de voltar a escrever depois do período de abstinência e perceber que ainda tenho criatividade para compor as cenas que imagino em minha cabeça cheia de fantasmas; finalmente.

Alberto da Cruz