Certo, desde o dia 18 de junho não me aventuro a escrever nada para o blog, lá se vai quase um mês sem que pare o meu dia para detalhar em pormenores minha insanidade e tédio sem fim. Não que não houvesse nenhuma linha a lamentar, pelo contrário, variados fatos me ocorreram, mas não tive realmente tempo para sentar ao computador e escrevinhar minhas ações, frustrações, momentos tenros ou plenos de satisfações. Sim, é verdade, também me satisfaço em minha vida, mas tenho um desejo absurdo de discursar sobre o lado negativo, deixando somente a mim as boas novas de harmonia. Vá lá entender o que se passa na cabeça do homem!
Um dos motivos que me roubaram neste mês foi o trabalho. Fim de semestre é um horror pior do que qualquer história de King ou adaptação de um romance de terror decadente. Nunca antes, na verdade já sim, corrigi tantos trabalhos em um espaço curtíssimo de tempo. Pior é saber que em muito a culpa foi minha, por ter deixado a pilha crescer sem que ousasse diminuí-la de qualquer maneira. A cada semana mais e mais textos se amontoavam sobre minha mesa, armário e até mesmo o chão do escritório, de tal forma que se continuasse como estava, fatalmente eu estaria agora imerso em celulose e tinta de esferográficas. Imaginem a notícia do jornal: “Professor é encontrado morto em sua sala de trabalho, sufocado por inúmeros papéis”, ou ainda, “De exaustão, morre Alberto, depois de corrigir milhares de trabalhos escolares”.
Um pensamento absurdo me apetece agora. Seria incrível se as folhas avulsas ganhassem vida e corressem atrás de mim, exigindo que fossem lidas ou me matariam cruelmente por deixá-las esquecidas. A linha cronológica seria encantadora (às mentes insanas, claro) se pessoas que freqüentam minha casa, uma a uma, fossem desaparecendo sem vestígios, até que enfim chegasse a minha vez de prestar contas com o meu destino. Empunhando a caneta vermelha, enfrentaria a horda celulósica, atacando-as com vistos e notas baixas.
Meu Deus, a que ponto cheguei em minha loucura!!!
De volta à realidade, felizmente consegui pôr fim ao trabalho. Fui obrigado a me isolar por alguns dias e demover toda a minha atenção ao quantitativo acumulado. Fi-lo com desespero, lendo os diversos textos de meus alunos numa rapidez, em certo ponto displicente, que jamais gostaria de ter feito, pois sei que, e isso é o pior, que muitas coisas se perdem nesse processo.
Redações e provas corrigidas, iniciei um processo ainda mais entediante: fechar os diários de classe. Se eu fosse mais responsável, fazendo-os, como o próprio nome diz, diariamente, o trabalho seria mais ameno, mas não, o amigo aqui é preguiçoso e, além disso, não cede nem cinco minutos de suas aulas para atividades burocráticas. Dificilmente me sento à mesa no fim de uma aula para fazer chamadas, anotar conteúdos, lançar notas de trabalhos. Não, deixo tudo para a última hora, assim, aos 44 do segundo tempo, ou já nos acréscimos do árbitro, me lanço à empreitada, geralmente assinando as folhas finais pouco antes de meus diretores me cobrarem o registro das aulas.
Nestes períodos não consigo escrever, tampouco penso no que escrever, o que é irritante para mim. É impossível, uma vez que não posso nem mesmo raciocinar direito. E quem sofre com isso? Todas as pessoas que me rodeiam acabam sendo agredidas pelo meu estresse constante. Descarrego em todas as pessoas que me querem bem as minhas amarguras. Depois só me resta pedir, de cabeça baixa e olhos marejados, desculpas pela minha explosão de ignorância. Obviamente me sinto péssimo quando isso ocorre, mas não posso fazer muito, já que me controlar passa longe dos meus atos.
E assim foi meu mês de junho, ócio misturado ao estresse do trabalho, sem que tenha produzido algo novo. Mas nem tudo foi perdido nesse ínterim fatídico de minha vida, pelo menos, com o tempo em que fugi às minhas responsabilidades, relacionei alguns poemas, 47 para ser exato, para a composição de uma nova antologia. Confesso impressionado que de tudo o que antes fora escrito, esses chegaram a me enternecer e me dar um pouco de orgulho comedido. Acredito que tenha enfim escrito alguns versos de grande valia, se não ao mercado editorial, para mim somente. Não são grandiosos nem obras-prima da poética contemporânea, ao contrário, são bem simples, mas o que me prendem a eles é a carga emotiva pura, imaculada como uma criança que desconhece as vicissitudes da vida ou um amor sublime que não viveu nenhuma dor.
Saldos positivos de um mês desregrado. Tempestividades ocorreram, mas também se fez sol sobre minha cabeça e, por mais estranho que me pareça, eu gostei dos raios quentes e da luz iluminando meu caminho. Eu gostei do brilho intenso dos olhos dela e do seu sorriso a me ver. Eu gostei de sentir o vento em meu rosto quando acelerei meu carro pela estrada e ele não me deixou na mão. Eu gostei de passar noites inteiras acordado sentindo o calor de um mesmo abraço. Eu gostei de ter certeza de que um dia após outro as coisas mudam de figura e melhoram. Eu gostei de terminar algo que comecei e sentir que fiz algo decente. Eu gostei de voltar a escrever depois do período de abstinência e perceber que ainda tenho criatividade para compor as cenas que imagino em minha cabeça cheia de fantasmas; finalmente.
Alberto da Cruz
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