Sono!
As pálpebras pesam um quilo ou mais cada uma. Encobrem as órbitas vermelhas de cansaço, fazem-me ver o mundo escuro sob a cortina negra da minha fraca força de vontade. Preciso dormir. É necessário fechar os olhos e viajar por terras oníricas onde os castelos de areia são habitados. O corpo pende sem sustentação, deseja cair sobre a cama macia e entrar em letargia. A mente beira um torpor absurdo... mal me mantenho. Mas não entrego os pontos, ainda não. Jurei a mim mesmo escrever algumas linhas diariamente... logo, se não fui sensato o bastante para me dedicar ao ofício quanto respondia plenamente por mim, sou obrigado agora a lutar contra minhas limitações para dar vida a um parágrafo ao menos. Tenho sono, mas insisto em permanecer no mínimo 1 hora diante da máquina. Se eu quiser terminar minha parte no romance, sou obrigado a sacrificar alguns minutos de repouso em razão de algo maior. Tenho de vencer minhas limitações, ignorar minhas debilidades psíquicas, extrair o pouco de idéias que me restam nesta fria noite de julho.
Mais um mês se esvai na ampulheta da vida. Menos tempo nos resta sobre a terra... e mais uma vez enfrento meus fantasmas. Parece piada, mas escrever o romance se torna cada dia mais difícil e trabalhoso. Não porque fujo ao texto ou invento desculpas para não terminar o que me propus a fazer; acontece que, estranhamente, mais e mais compromissos aparecem. Já havia dito anteriormente que me comprometi, além do Conto Conspiratório, com a criação de um conto erótico para Luisa, com a compilação de uma antologia poética e também com a revisão dos contos de “Pesadelos no Paraíso”, sem falar da revisão de “Obsessão: a verdade sobre meu pai”, que depois de lê-lo pela última vez, tive vontade de reescrever várias passagens; e ainda dar cabo a correção de “Paixões Perigosas”, que dado o tempo de distanciamento do texto, é chegada a hora de revê-lo com olhos críticos. Não me bastasse essa imensidade de trabalhos editoriais, aceitei o convite da Nova Fronteira para escrever um conto inspirado nas “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues. Parece que ao invés de diminuir o quantitativo de trabalho, aumento-o de forma sufocante. O grande nó que me sufoca consiste em ser obrigado a resumir ainda uma das obras de Nelson antes de escrever o meu próprio trabalho. Pensei em declinar do convite, mas três mil reais é muito tentador em épocas de “faltura” para inventar uma desculpa qualquer para não escrever a narrativa.
Outro problema é relativo ao prazo de entrega. Eu, que odeio prazos, sou obrigado a entregar o material à Nova Fronteira em menos de vinte dias, portanto será preciso me organizar muito bem, além, é claro, de priorizar alguns desses trabalhos inadiáveis. Resta saber qual tem menos importância no momento. Às vezes queremos abraçar o mundo com as mãos e nos dá uma tristeza arrebatadora quando descobrimos que o mundo é grande demais para conter nossos sonhos, ou pior, nossas mãos são deveras pequenas para segurar nossas ilusões.
Para piorar minha série de negativas, resolvi, depois de muita insistência por parte de Mariana, se não parar, diminuir os cigarros que me acompanham faz tanto tempo que não me imagino sem eles. Estipulamos o dia 1 de agosto para nossa troca: eu paro de fumar desde que ela se alimente melhor. Estou disposto a tentar, afinal há quinze anos levo à boca essa fumaça sem gosto, tenho este odor desagradável e perdi todo o fôlego para qualquer atividade física. Sei que a tarefa será das mais difíceis, mas preciso arriscar em prol de minha saúde. Quem sabe minha taxa de glicose se normalize agora e eu pare de me perfurar diariamente com aquelas insuportáveis seringas de insulina. O esforço será válido, basta saber se conseguirei escrever da mesma forma, já que é-me habitual baforar meus cigarros enquanto escrevo. Mas, parando para pensar, faz tanto tempo que não escrevo algo consistente e duradouro que é bem provável que a falta de nicotina não faça a mínima diferença. Vamos esperar para saber. O primeiro passo já foi dado ontem: diminuí a quantidade de “Luckys” e troquei meu peculiar filtro amarelo peles filtros brancos. A diferença é grande e a vontade de fumar mais do que o normal tem sido maior, mas a determinação não me deixa fraquejar, pelo menos não muito.
Vejamos o quão longe conseguirei ir. Bom é saber que ontem agüentei cinco longas horas sem nenhum trago. Hoje a meta é ir além, quem sabe seis ou sete horas cheirando bem, sem poluir o ar, sem incomodar ninguém.
Façam suas apostas, a roleta começou a girar.
As pálpebras pesam um quilo ou mais cada uma. Encobrem as órbitas vermelhas de cansaço, fazem-me ver o mundo escuro sob a cortina negra da minha fraca força de vontade. Preciso dormir. É necessário fechar os olhos e viajar por terras oníricas onde os castelos de areia são habitados. O corpo pende sem sustentação, deseja cair sobre a cama macia e entrar em letargia. A mente beira um torpor absurdo... mal me mantenho. Mas não entrego os pontos, ainda não. Jurei a mim mesmo escrever algumas linhas diariamente... logo, se não fui sensato o bastante para me dedicar ao ofício quanto respondia plenamente por mim, sou obrigado agora a lutar contra minhas limitações para dar vida a um parágrafo ao menos. Tenho sono, mas insisto em permanecer no mínimo 1 hora diante da máquina. Se eu quiser terminar minha parte no romance, sou obrigado a sacrificar alguns minutos de repouso em razão de algo maior. Tenho de vencer minhas limitações, ignorar minhas debilidades psíquicas, extrair o pouco de idéias que me restam nesta fria noite de julho.
Mais um mês se esvai na ampulheta da vida. Menos tempo nos resta sobre a terra... e mais uma vez enfrento meus fantasmas. Parece piada, mas escrever o romance se torna cada dia mais difícil e trabalhoso. Não porque fujo ao texto ou invento desculpas para não terminar o que me propus a fazer; acontece que, estranhamente, mais e mais compromissos aparecem. Já havia dito anteriormente que me comprometi, além do Conto Conspiratório, com a criação de um conto erótico para Luisa, com a compilação de uma antologia poética e também com a revisão dos contos de “Pesadelos no Paraíso”, sem falar da revisão de “Obsessão: a verdade sobre meu pai”, que depois de lê-lo pela última vez, tive vontade de reescrever várias passagens; e ainda dar cabo a correção de “Paixões Perigosas”, que dado o tempo de distanciamento do texto, é chegada a hora de revê-lo com olhos críticos. Não me bastasse essa imensidade de trabalhos editoriais, aceitei o convite da Nova Fronteira para escrever um conto inspirado nas “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues. Parece que ao invés de diminuir o quantitativo de trabalho, aumento-o de forma sufocante. O grande nó que me sufoca consiste em ser obrigado a resumir ainda uma das obras de Nelson antes de escrever o meu próprio trabalho. Pensei em declinar do convite, mas três mil reais é muito tentador em épocas de “faltura” para inventar uma desculpa qualquer para não escrever a narrativa.
Outro problema é relativo ao prazo de entrega. Eu, que odeio prazos, sou obrigado a entregar o material à Nova Fronteira em menos de vinte dias, portanto será preciso me organizar muito bem, além, é claro, de priorizar alguns desses trabalhos inadiáveis. Resta saber qual tem menos importância no momento. Às vezes queremos abraçar o mundo com as mãos e nos dá uma tristeza arrebatadora quando descobrimos que o mundo é grande demais para conter nossos sonhos, ou pior, nossas mãos são deveras pequenas para segurar nossas ilusões.
Para piorar minha série de negativas, resolvi, depois de muita insistência por parte de Mariana, se não parar, diminuir os cigarros que me acompanham faz tanto tempo que não me imagino sem eles. Estipulamos o dia 1 de agosto para nossa troca: eu paro de fumar desde que ela se alimente melhor. Estou disposto a tentar, afinal há quinze anos levo à boca essa fumaça sem gosto, tenho este odor desagradável e perdi todo o fôlego para qualquer atividade física. Sei que a tarefa será das mais difíceis, mas preciso arriscar em prol de minha saúde. Quem sabe minha taxa de glicose se normalize agora e eu pare de me perfurar diariamente com aquelas insuportáveis seringas de insulina. O esforço será válido, basta saber se conseguirei escrever da mesma forma, já que é-me habitual baforar meus cigarros enquanto escrevo. Mas, parando para pensar, faz tanto tempo que não escrevo algo consistente e duradouro que é bem provável que a falta de nicotina não faça a mínima diferença. Vamos esperar para saber. O primeiro passo já foi dado ontem: diminuí a quantidade de “Luckys” e troquei meu peculiar filtro amarelo peles filtros brancos. A diferença é grande e a vontade de fumar mais do que o normal tem sido maior, mas a determinação não me deixa fraquejar, pelo menos não muito.
Vejamos o quão longe conseguirei ir. Bom é saber que ontem agüentei cinco longas horas sem nenhum trago. Hoje a meta é ir além, quem sabe seis ou sete horas cheirando bem, sem poluir o ar, sem incomodar ninguém.
Façam suas apostas, a roleta começou a girar.
2 comentários:
Rapaz!
Que tarefa árdua que se propôs. Que tantos deveres literários lhe sejam por prazer e não apenas por dever.
Quanto ao cigarro torço por vc. Ser-lhe-á melhor, certamente.
Mas a gente sobrevive, mesmo sem algo que nos seja caro. Só não sobreviveremos se não houverem amigos.
Abçs,
Insônia... será que ela existe? Falando assim, "insônia", parece um termo tão neuropata... involuntário... Um mal que q nos apetece de surpresa sem ter como fugir, anulando nossa culpa com relação a sua existêcia... Mas às vezes é melhor vê-lo desse modo mesmo... rsrsrs
depois de uma vida de sono desregrado, to vivendo uma semana de sono normal... parece sonho... nunca vi nada tão produtivo... eu ignorava as bênçãos do sono restaurador... Agora quero ver até onde isso vai durar...
Dentro do Seicho-no-ie, dizem q a hora q um homem acorda e o tempo de sono, pricipalmente no que se refere a "como aproveitar as manhãs" pode determinar se um homem é fraco ou forte, sábio ou ignorante, nobre ou medíocre...
rafaelsouzavalle@gmail.com
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