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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Não gosto de apagar as minhas velas



Meu aniversário está próximo, menos de dois dias para apagar as velas de um bolo imaginário. Como no ano passado, neste também não terá bolo. Acho que desde que me descobri diabético não teve mais bolo em meu aniversário. Também não faz falta, porque eu odeio bolos de festa, aquelas coisas cheias de glacê, confeitos e açúcar suficiente para matar um formigueiro de hiperglicemia. Foi-se o tempo das festas, portanto este ano também não terei uma festa. Há algum tempo fazíamos churrascos para comemorar o meu dia, mas de uns tempos para cá os churrascos regados à cerveja e misturas alcoólicas foram perdendo a graça até não mais existirem. Meu aniversário perdeu a graça faz anos. Afinal, o que há para comemorar? É só mais um dia num ano de dias intermináveis, a única diferença é que eu nasci numa manhã quente de verão de 1981, justamente neste dia.
É fácil perceber que não gosto do meu aniversário. Não sei se é a desilusão com o mundo ou comigo mesmo, mas não gosto desta data. Não tenho o que comemorar; só mesmo lamentar as coisas que não fiz e as marcas expostas que o tempo deixa, minhas feridas purulentas que não cicatrizam nunca. Eu gostaria de saber explicar o motivo de tanta tristeza quando deveria ficar feliz, mas não o sei. Simplesmente sou acometido de um estar depressivo nos dias que antecedem a minha data natalícia e que perdura até a semana posterior. Sempre foi assim e deve continuar por muito tempo ainda.
Quando vejo as pessoas felizes e eufóricas em seus aniversários, não entendo o porquê de tanta alegria. Não consigo compartilhar desse sentimento, realmente não os entendo. Que diferença faz para ser tão diferente a véspera para o grande dia? Não são todos iguais? Ambos não possuem 24 horas? Não começam na hora zero e terminam a meia-noite? Então por que tanto estardalhaço? Devo ser mesmo um homem amargo. Não gosto de Natal, por isso tanto me atormentam aquelas mensagens idiotas que dizem da boca para fora. Não gosto ainda mais do meu aniversário, não por esquecerem de mim, mas por pessoas que realmente me são caras não lembrarem de minha existência sequer uma vez no ano e, neste maldito dia, vêm me dar parabéns por estar mais um ano me arrastando qual morto na tumba neste mundo miserável.
Não, eu não gosto do meu aniversário e dos dias que o antecedem também. Tenho medo de tudo, das coisas que imaginei e sei que não se concretizarão, dos meus sonhos que morrem cedo demais, de tudo aquilo que quis viver e que jamais viverei. Estou desiludido demais para festejar o que quer que seja. Nada me anima, só desencanta. Viver passou a ser um martírio cada vez maior, um imenso fardo que já não consigo carregar. O mundo está pesando demais sobre meus ombros. Mal posso me sustentar. Minhas pernas estão bambas. Sinto que vou cair a qualquer momento e não posso fazer nada para evitar que isso aconteça. Estou fadado a um fim trágico, sem alegria e sem sorrisos. Temo o que me espera no fim do corredor, na última porta a ser aberta. Que monstro cruel me espera lá dentro para assombrar meus sonhos, meus pesadelos cruéis?
Reminiscências cruéis me assolam como fantasmas raivosos. Cometi muitos erros em minha vida e, talvez por isso, queira fugir deste universo recheado de hipocrisia o quanto antes. Sempre penso na morte em meu dia especial. Sempre penso em como será e quem sentirá a minha perda, se é que farei tanta falta para alguém ao ponto de minha ausência ser sentida. Se eu gostaria de ser diferente? Igual aos outros? Obviamente. Mas não o sou. Tenho a pena da melancolia manchando minhas páginas amargas, tenho uma tristeza depressiva inerente às minhas vontades, um não sei quê de soturnidade vazando pelos meus poros. Mas um dia tudo vai mudar, eu sei que vai. Só resta saber se ainda terei tempo de ver isso acontecer com o mínimo de sanidade possível.
Amanhã é meu aniversário e já estou farto de fazer pedidos que nunca se realizam e soprar velas imaginárias ao meu desgosto.

Alberto da Cruz
15-16/02/2008

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Tanto faz não satisfaz o que preciso

Estou mal. Nada me apetece ou acalma o espírito e a consciência tão cansada de maus-tratos diários. Na verdade, estou farto de tudo, inclusive desta estúpida e malfadada vida amena, sem motivos e entediante. Nada me é tão horrível como acordar e deparar com o dia amanhecendo; ver toda a minha soturnidade se dissipando com a luz enfastiante do sol em minha janela e recaindo sobre meu rosto marcado de desilusões.
Não gosto dos sonhos, falsa ilusão de que as coisas estão bem quando não estão. Cansei de me esforçar para construir fabulosos castelos de areia, tão lindos e perfeitos que quase se pode afirmar que são verdadeiros. Cansei de ver as ondas destruírem tudo que me empenhei em fazer. Deveria, pois, esculpi-los longe do mar, distante das forças nervosas que me matam os sonhos, mas tolamente insisto nos mesmos erros de outrora. E agora, a maldita onda derrubou outro sonho.
Às vezes me pergunto sobre as coisas que faltam em minha vida sôfrega, mas nunca tenho uma resposta conclusiva. Parece-me que vivo alimentando decepções que poderia facilmente esquecer. Eu poderia caminhar sozinho sem me preocupar com o que me tenta a alma inquieta, mas sou tão inapto a seguir as trilhas seguindo minha louca vontade que me perco em divagações desnecessárias, ávido por compartilhar meus passos com outrem.
Afinal, por que essa vontade absurda de escrever, compartilhar, despir-me diante todos e vender por uma ninharia quem eu realmente sou? Por que continuo com essa idiotice de “literaturar”, de sentir, de amar, de me corroer, de me arrepender, de morrer lentamente quando cada palavra se perde no processo hediondo da composição, se gasta e enjoa?
Meu violão está mudo, talvez por andar desafinado, talvez pela minha incapacidade harmônica, talvez porque seja o certo a se fazer. Desde que voltei do Rio não escrevi uma linha. Um mórbido penar me agarrou as loucuras e tomou minhas pretensões. Nada fiz além do poema “Não foi feito para durar”, que brotou magistralmente numa fria manhã de sábado... e só porque eu estava ainda mais triste do que agora a composição veio à luz. Gostaria, mas, essa tristeza que me acompanha há tempos, não é possível de definir. É algo que nasce abruptamente em mim, rompe meu desejo e me toma completamente, inviabilizando a construção de qualquer ato trágico ou cômico na minha peça derradeira. Antes eu conseguia canalizar essa angústia e reverter-lhe em poesia; hoje, quando apetecido de tal desgraça, nada consigo... a não ser deixar penosas lágrimas escorrerem maculadas em minha face repleta de infelicidade atroz. Assim, o inimigo maior das minhas obrigações sou eu mesmo, eu e meu egocentrismo ridículo (salve o hedonismo latente!).
Cada vez que olho para o lado, o desespero que me consome aumenta demasiadamente. Sobre a mesa, uma pilha enorme de trabalho me espera e, como “ela”, eu a deixo de lado, juntamente com os prazeres saturados e a vida estancada num emaranhado amargo de desespero.
Agora ouço coisas melancólicas, e por vezes bregas. Havia pouco cantarolava “Teatro Mágico”, mas a laceração aumentou a tal ponto que me vi, em seguida, insuflando o peito e fazendo ecoar a melodia depressiva de Alcione. Já é mais do que conhecido que quando a “Marrom” canta aos meus ouvidos é porque estou a um passo de vazar as têmporas com um projétil plúmbeo. Pena eu não tê-lo, ao menos a chama se apagaria e a dor findaria de vez.
Uma mistura de frustração, raiva e desolação me empurra cada vez mais para um abismo imensurável, infinito. Sinto o corpo cair e a vontade se perder no ar. Queria poder gritar, urrar meu tormento e dizer tudo o que preciso, mas me controlo, apenas fechando a expressão para que eu mesmo saiba o quanto me arde e abrasa a mente, o coração e a loucura insana de querer o que não posso ter (maldito espelho!).
Escrever... nem isso me acalenta; nem isso me faz sorrir ou me sentir menos estúpido e culpado por desperdiçar, não só o meu tempo, como também o de outras pessoas. Espero, portanto, que essa angústia logo passe e eu possa voltar a ser quem sempre fui, pois há uma necessidade em mim de expor os sonhos destruídos antes que não sobre mais nada das falsas esperanças que crio inutilmente.
Não quero dizer que acabou, não ainda, mas os fonemas já se articulam em minha boca... por enquanto sem que emita sonoridade, mas com muita atenção se é possível ver os lábios desenhando a palavra final.
O cigarro queima, as cinzas caem...