segunda-feira, 18 de junho de 2007

Tanto faz não satisfaz o que preciso

Estou mal. Nada me apetece ou acalma o espírito e a consciência tão cansada de maus-tratos diários. Na verdade, estou farto de tudo, inclusive desta estúpida e malfadada vida amena, sem motivos e entediante. Nada me é tão horrível como acordar e deparar com o dia amanhecendo; ver toda a minha soturnidade se dissipando com a luz enfastiante do sol em minha janela e recaindo sobre meu rosto marcado de desilusões.
Não gosto dos sonhos, falsa ilusão de que as coisas estão bem quando não estão. Cansei de me esforçar para construir fabulosos castelos de areia, tão lindos e perfeitos que quase se pode afirmar que são verdadeiros. Cansei de ver as ondas destruírem tudo que me empenhei em fazer. Deveria, pois, esculpi-los longe do mar, distante das forças nervosas que me matam os sonhos, mas tolamente insisto nos mesmos erros de outrora. E agora, a maldita onda derrubou outro sonho.
Às vezes me pergunto sobre as coisas que faltam em minha vida sôfrega, mas nunca tenho uma resposta conclusiva. Parece-me que vivo alimentando decepções que poderia facilmente esquecer. Eu poderia caminhar sozinho sem me preocupar com o que me tenta a alma inquieta, mas sou tão inapto a seguir as trilhas seguindo minha louca vontade que me perco em divagações desnecessárias, ávido por compartilhar meus passos com outrem.
Afinal, por que essa vontade absurda de escrever, compartilhar, despir-me diante todos e vender por uma ninharia quem eu realmente sou? Por que continuo com essa idiotice de “literaturar”, de sentir, de amar, de me corroer, de me arrepender, de morrer lentamente quando cada palavra se perde no processo hediondo da composição, se gasta e enjoa?
Meu violão está mudo, talvez por andar desafinado, talvez pela minha incapacidade harmônica, talvez porque seja o certo a se fazer. Desde que voltei do Rio não escrevi uma linha. Um mórbido penar me agarrou as loucuras e tomou minhas pretensões. Nada fiz além do poema “Não foi feito para durar”, que brotou magistralmente numa fria manhã de sábado... e só porque eu estava ainda mais triste do que agora a composição veio à luz. Gostaria, mas, essa tristeza que me acompanha há tempos, não é possível de definir. É algo que nasce abruptamente em mim, rompe meu desejo e me toma completamente, inviabilizando a construção de qualquer ato trágico ou cômico na minha peça derradeira. Antes eu conseguia canalizar essa angústia e reverter-lhe em poesia; hoje, quando apetecido de tal desgraça, nada consigo... a não ser deixar penosas lágrimas escorrerem maculadas em minha face repleta de infelicidade atroz. Assim, o inimigo maior das minhas obrigações sou eu mesmo, eu e meu egocentrismo ridículo (salve o hedonismo latente!).
Cada vez que olho para o lado, o desespero que me consome aumenta demasiadamente. Sobre a mesa, uma pilha enorme de trabalho me espera e, como “ela”, eu a deixo de lado, juntamente com os prazeres saturados e a vida estancada num emaranhado amargo de desespero.
Agora ouço coisas melancólicas, e por vezes bregas. Havia pouco cantarolava “Teatro Mágico”, mas a laceração aumentou a tal ponto que me vi, em seguida, insuflando o peito e fazendo ecoar a melodia depressiva de Alcione. Já é mais do que conhecido que quando a “Marrom” canta aos meus ouvidos é porque estou a um passo de vazar as têmporas com um projétil plúmbeo. Pena eu não tê-lo, ao menos a chama se apagaria e a dor findaria de vez.
Uma mistura de frustração, raiva e desolação me empurra cada vez mais para um abismo imensurável, infinito. Sinto o corpo cair e a vontade se perder no ar. Queria poder gritar, urrar meu tormento e dizer tudo o que preciso, mas me controlo, apenas fechando a expressão para que eu mesmo saiba o quanto me arde e abrasa a mente, o coração e a loucura insana de querer o que não posso ter (maldito espelho!).
Escrever... nem isso me acalenta; nem isso me faz sorrir ou me sentir menos estúpido e culpado por desperdiçar, não só o meu tempo, como também o de outras pessoas. Espero, portanto, que essa angústia logo passe e eu possa voltar a ser quem sempre fui, pois há uma necessidade em mim de expor os sonhos destruídos antes que não sobre mais nada das falsas esperanças que crio inutilmente.
Não quero dizer que acabou, não ainda, mas os fonemas já se articulam em minha boca... por enquanto sem que emita sonoridade, mas com muita atenção se é possível ver os lábios desenhando a palavra final.
O cigarro queima, as cinzas caem...

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