segunda-feira, 14 de abril de 2008

A vida é dura

Domingo chega ao fim daqui a trinta minutos. Logo será segunda-feira. Em breve volto às minhas aulas regulares. Pouco tempo para cair na cama e dormir. Daqui a algumas horas Mariana volta ao Rio, à universidade e à saudade que nos desnorteia a alma. O término do fim de semana é um prelúdio para um tempo de angústias que, felizmente, não duram mais do que cinco dias.
Agora pouco, enquanto estava no banho, pensava no Vida de Escritor e em suas atualizações diárias, que na verdade são um semanais, mas que por um bom tempo se tornaram mensais. O corre-corre de uma vida atribulada fez com que as publicações se tornassem cada vez mais escassas, mais raras. Felizmente, parece que esse tempo chega ao fim. Mesmo com tantas coisas na cabeça cansada, consigo alguns minutos para escrever as velhas ladainhas deste espírito marcado de amarguras. Apesar de ultimamente discorrer sobre vários assuntos, mas quase nenhum relativo à prática literária, aos trancos e barrancos, faço o possível para sempre estar por aqui. E assim vamos nós, juntando os cacos de um texto partido.
Nas últimas semanas mergulhei de cabeça no meu pequeno romance. Todos os dias passei pelo texto nem que fosse por apenas uma frase. Batia meu cartão como um funcionário dedicado e depois de um longo período sem concluir algo relativamente trabalhoso, posso comemorar o seu fim. Texto terminado, começa agora o longo processo de finalização. Semana passada fiz a primeira revisão. Amanhã começo a segunda. Enquanto releio o trabalho, minha preocupação cai sobre os detalhes. Preciso escrever o texto da quarta capa, um pequeno texto que desperte a atenção do leitor, algo instigante que o faça desembolsar a bagatela de R$25,00 para ter volume para si; isso mesmo, Intermitências custará uma nota de vinte e outra de cinco reais apenas. Gostaria que o preço fosse ainda menor, mas, para meu desprazer, não depende de mim estipular os valores de venda. Voltamos a esse assunto depois, porque as minhas neuroses de agora são: escrever a sinopse para a orelha do livro, encontrar alguém que me escreva um prefácio ou simples nota de apresentação, decidir pela foto que aparecerá na orelha da quarta capa, encontrar um bom subtítulo e não me desesperar na montagem da capa.
São muitos detalhes para uma pessoa só, ainda mais para uma pessoa só que passa a maior parte do tempo mergulhado em diários de classe e livros didáticos. Mas não vou reclamar muito, porque é isso que escolhi fazer em minha vida e, mais do que tudo, o que amo fazer. Assim, não posso me entregar como realmente desejo ao livro, mas encontrarei uma maneira de conciliar as coisas. O problema que se forma agora é a minha mente que, finalmente, abandonou o imenso hiato criativo. Assistindo hoje ao excelente filme “O cheiro do ralo”, tive a idéia de uma nova narrativa. Tão logo formule a idéia central bem clara, farei dela o novo tematizador dos meus relatos por cá. Antes, porém, iniciei mais um projeto. Queria que se tornasse um romance também, mas acredito que não me estenderei nesta nova narrativa. É bem provável que ela se torne mais um conto do Pesadelos no Paraíso – para quem não conhece, meu livro de contos de horror e suspense interminável. Não me decidi ainda, portanto vou deixar que a trama conduza a história e determine o gênero da obra em questão. Sei que deveria dar um tempo com as composições e me dedicar, no momento, somente ao Intermitências, mas minha cabeça está a mil, além disso, também tem sido um bom método para me ocupar, a fim de não sentir o peso das mudanças que me ocorreram nas últimas semanas, como a volta para a casa dos meus pais e a saudade lacerante que sinto de Mariana, enquanto ela está na faculdade. A vida é dura.
Amanhã começo as conversas com a editora para a edição do livro, acertar os detalhes, ver o contrato e me planejar para a publicação. Embora só tenha o livro físico depois de maio, preciso correr para encontrar quem me escreva a nota de apresentação. Acílio, pai de Mariana, talvez apresente meu original a Antônio Torres, autor de Meu Querido Canibal; todos nós envolvidos no processo torcemos para que ele aceite a tarefa, afinal ter um grande escritor assinando em minhas páginas seria de imenso valor para o tão sonhado reconhecimento. Também espero pelos comentários de Hugo Oliveira, jornalista do Maré Alta, e Ricardo Oliveira, professor de língua portuguesa, para fechar definitivamente o trabalho no livro. Assim que estiver com os textos que faltam em minhas mãos, o processo de impressão se inicia.
Quem pensa que depois de tudo isso, o trabalho chega ao fim está enganado. As etapas já realizadas foram as mais fáceis, a loucura começa mesmo, depois que o livro estiver pronto, com a divulgação. Um escritor famoso tem o apoio da mídia, dos grandes investimentos editoriais, assim seu trabalho está exposto nacionalmente e figura nas estantes das grandes livrarias do país, em contrapartida um novo escritor não tem tantas formas de se destacar no mercado editorial. É preciso então começar de baixo e subir os degraus com calma e perseverança. Tracei, portanto, um plano simples para começar, a primeira fase das vendas abrange somente a distribuição regional, para depois expandir o campo territorial, sem contar com a ajuda da internet e suas diversas formas de exposição. Minha estimativa é que consiga despertar interesse nos leitores de Angra dos Reis e Paraty, para isso conto com a distribuição junto aos livros que a Distribuidora Cuba disponibiliza nas bancas e pousadas destas cidades. Acredito que consiga vender algumas boas cópias nesta empreitada, mas o objetivo não é em si apenas vender livros, sim ser visto por eventuais leitores de outros estados que por ventura estejam de passagem por aqui, afinal em cidades turísticas, o fluxo de pessoas de diferentes partes do país é intenso. Enquanto isso, tenho que investir em um lançamento, mesmo que humilde, para fazer um pouco de barulho; dar a cara a tapa e divulgar aos meus alunos que o livro está à venda; procurar levar ao conhecimento do maior número possível de pessoas a existência do Intermitências, nem que seja batendo de porta em porta para mostrar meu trabalho. A estrada é árdua, mas preciso segui-la. Quem sabe não consiga um espaço, mesmo que mínimo, na FLIP deste ano. Para que isso que aconteça, tenho que correr; correr como um louco para alcançar a satisfação pretendida.

2008, 13 de abril

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