
“Algumas pessoas só valorizam o que perdem”, disse uma personagem qualquer de um filme sem importância. Mas o fato que me trouxe a primeira reflexão foi a aproximação do pensamento gentil com o meu momento atual. Sem via de dúvidas é latente que alguém está prestes a me perder, infelizmente. E pior do que isso é ter a certeza de que somente depois de atravessar essa porta, terei o valor que mereço. Não que seja alto e cogitado, mas meu jeito de ser me rende alguns pontos. Pena que em nossos dias não creditem a um homem bom e sincero o seu verdadeiro preço.
Pago a conta dos meus atos, e pago muito caro. Custa-me a acreditar que não sobra espaço hoje para sentimentalidades e sensibilidade a um homem. A sociedade atual força a frigidez que não suporto. Como não sei ser diferente, padeço minhas ilusões quando me faltam os “carinhos que um dia sonhei para mim”. Acontece que não é a primeira vez que sinto isso latejar em minha cabeça. Não é a primeira vez que me vejo ser posto de lado. E ouvirei novamente as mesmas frases já ditas por outras bocas, passados alguns meses ou até mesmo anos: “Desculpe-me”, “Eu poderia ter feito diferente” , “Sinto sua falta” e, a derradeira certeza do arrependimento quando os lábios temerosos deixam escapar o que o coração grita: “Ainda há tempo para nós?”.
Infelizmente não há. Não que eu seja superior aos demais, mas tenho um defeito cruel, o orgulho. Fico, apesar de tudo, feliz em saber que deixei marcas e momentos bons em outrem, mas o sofrimento que me fizeram supera qualquer lembrança, seja breve ou duradoura, de felicidade. E assim, as que me perderam sabem agora o valor de um homem de coração puro, que não tem medo de amar e ama simplesmente.
Se a primeira frase do dia me marcou, não foi diferente a última. Uma aluna me perguntou se o amor surge do nada, se é preciso ter paixão para ter amor. Depois de um longo discurso, eu me pus a pensar, mas nada pude concluir. Afinal, caríssimos, pode haver?
Antes de terminar este “post”, um último comentário. Ouvi a frase que intitula a canção da banda britânica Queen “Who wants to live forever” dita por uma menina de 11 anos que, tal como eu, tem diabetes. Pergunto a quem interessar: quem quer viver para sempre? Eu mesmo já o desisti de tê-la brevemente. Que venha o que vier, pois eu cansei de errar pelo mundo, cansei de buscar o ar e ele me faltar, cansei das crises insuportáveis de hiperglicemia como também não agüento mais sofrer com baixa taxa de açúcar no sangue. Que merda é a vida.
Antes que eu me esqueça, hoje, durante uma aula frustrada de Produção Textual, enquanto meus “amados” alunos escreviam uma dissertação sobre a influência da televisão em nossas vidas, escrevi mais uma cena do Conto Conspiratório. Nela, Judith confessa o pavor que sentiu ao entrar num táxi, sendo surpreendida pelo motorista, dizendo conhecê-la e a levando para um destino completamente estranho a nossa protagonista problemática.
Finalmente cheguei ao ponto que eu queria, desvinculando-me do texto principal e abrindo o leque para mais ações independentes. Parece-me que agora deslancha o texto e o hiato criativo se tornará um belo ditongo textual.
Será, então, que conseguirei quebrar a máxima pessimista e melhorar alguma coisa nesta torpe vida medíocre e sem razão?
Um abraço e até a próxima.