sexta-feira, 26 de março de 2010

Cemitério perdido dos filmes B

Cemitério perdido dos filmes B, de César Almeida, é minha dica de livro para hoje. Uma força para os novos escritores do Brasil, rapaziada.

Gênios ou loucos? Aproveitadores ou revolucionários? Conheça a história de homens e mulheres que não desfilaram pelos tapetes vermelhos de Hollywood. Personagens que escreveram a história do cinema por linhas tortas, pavimentando o caminho para as grandes produções. Nomes como Roger Corman, Russ Meyer, Mario Bava, Terence Fisher e Jess Franco, que abriram passagens, quebraram tabus e tornaram-se mitos, influenciando até hoje cineastas da estirpe de Tim Burton e Quentin Tarantino. Cemitério perdido dos Filmes B traça um panorama do Cinema de baixo orçamento através das resenhas de 120 produções de diversos gêneros. Um retrato honesto e divertido dos heróis não celebrados da Sétima Arte.

http://www.editoramultifoco.com.br/catalogo2.asp?lv=248

quinta-feira, 25 de março de 2010

Voltemos a programação normal

Seria possível que depois de um nefasto plano, Jean Marcus, conhecido como o outro cara que abandonou o blog no começo, estaria voltando de alguma forma para falar de suas angustias como escritor? Talvez. Não saberia dizer mais quem escreve estas palavras. Alguma forma de Jean que não é inteiramente Jean? Difícil de concluir. Ou talvez melhor não. Não sabendo ao certo como os destinos se encontrarão daqui a diante; escreverei apenas, ao encalço de meu amigo Alberto. Ou Albert pra seguir a lógica de nomes na ilha de Lost. Falando em Lost, e suas milhares de referências (que talvez seja uma das partes mais interessantes da série), vamos falar mal de Tim Burton e como ele esculhambou uma das melhores histórias da humanidade : Alice no País das Maravilhas.


Tim Burton no País das Maravilhas
A tecnologia 3D está se tornando algo imensamente perigosa; o que não é um problema interamente dos cineastas. Nossa sede por novidades fez de Avatar o filme mais bem pago da história do cinema (com ressalvas de correção monetária), mas o filme em sí é apenas mais uma repaginação da mesma história do branco opressor que é aceito na tribo mas é quem mostra o real aspecto de ser o espírito do grupo. Apesar dos pesares, o filme não é de todo mal e o 3D é realmente impressionante; mas não que os cineastas modernos saibam o que fazer com essa total imersão.
Alice tenta fazer a mesma coisa em se aproveitar do 3D para criar imersão nesse mundo fabuloso das Maravilhas. O que talvez, num pensamento inicial, fosse uma grande idéia, e juntar Tim Burton à esse caldeirão, apesar de não gostar de sua direção, foi um tanto quanto aceitável, mas se esqueceram que cinema nào é só feito de técnologia e uma história que todos conhecem não pode ser distorcida ao bel prazer.


A grande sacada de Lewis Caroll é que os personagens no livros são na verdade arquétiopos e que Alice deve interagir com esses avatares para entender melhor as mecanânicas de sua própria mente. Talvez o que Alice tenha ganho ou não com isso é irrelevante diante da sacada dos arquétipos. No filme de Tim Burton, porém, cada personagem é apenas alguém com que Alice interrage; e algo fundamental em personagens é que eles se apresentam como um arquétipo, nunca o são.
Então todos os personagens ficam truncados, têm emoções e resolvem conflitos; tudo que Lewis Carol estava tentando se distanciar. E não é por ser um filme para o grande público que tiveram que aguar um pouco esses conceitos: o desenho anterior da Disney conseguiu impecavelmente manter a caracterização dos arquétipos, não dos personagens.
E eu vejo isso como um erro grave; filmes têm suas regras básicas ( de conflito, resolução e o diabo a quatro) sim, mas quando há uma tradução de um outro meio deve se manter certas referências. Senão seria melhor criar essa mesma história, mas com novos personagens: como Avatar fez.


Por essas e outras que eu acho que o Tim Burton se perdeu de vez.

Mas e o 3D?

Eu tive um idéia sobre o que o 3D significa esses dias. Porque a tecnologia por sí só não traz nada de inovador à uma arte: sua aplicação é muito mais importante as vezes. E o que o 3D faz além da imersão total, que no fundo todo filme bom deveria fazer, é que não há necessidade de se escolher um plano. Tudo pode ser mostrado em TODOS os planos. Uma tomada pode mostrar muito mais e deixar o borrado pra trás. Acho que a série Heroes tentou fazer isso sem usar o 3D e ficou com uma qualidade duvidosa.
Meu palpite é que as tomadas, que estão se tornando cada vez mais rápidos, vão diminuir em rítmo já que existirá muito mais em tela para ser visto do que num filme convêncional. E Alice, até mesmo Avatar, pecou nesse aspecto. Não houve profundidade em lugar algum: nem nos personagens, nem nas tomadas.
Oremos para que os cineastas entendam isso em breve e façam tudo ter mais profundidade mais uma vez. A emoção do 3D não vai ser exclusiva de cenas de ação, que chegam a encher de tantas coisas que jogam a sua cara (e pelo mesmo motivo espero que pornô nunca seja 3D).

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sorteio O Reino dos Céus

O blog Romances in Pink está sorteando o livro O REINO do CÉUS da Drica Bitarello.
A cotação do livro no Skoob é de 5 estrelas.
Surpreenda-se e apaixone-se também.
Para se inscrever vá ao link ao lado e siga as instruções:

http://www.romancesinpink.com.br/2010/03/sorteio-o-reino-dos-ceus.html

domingo, 21 de março de 2010

Borges e os Orangotangos Eternos de Veríssimo


Quando numa caminhada pela Praça XV, resolvi entrar na Livraria Camões, vi, entre as prateleiras abarrotadas de livros velhos, Borges e os Orangotangos Eternos, de Luís Fernando Veríssimo, ainda lacrado. Preço de saldo por um exemplar novo. Lancei as mãos no livro e comprei-o, juntamente com O Senhor Ventura, de Miguel Torga.
Borges e os Orangotangos era um livro que queria ter, mas nunca foi prioridade entre as minhas visitas às livrarias. Era apenas mais um livro de Veríssimo para a minha coleção, e que, como muitos, entraria na minha vasta lista de espera pela leitura. E realmente foi.
Há três anos o livro de capa azul e preta descansou entre os demais livros do cronista. Olhava-o sempre com um certo ar de desconfiança, porque prefiro o Veríssimo cronista ao romancista. Apesar de ter gostado de Clube dos Anjos, e de toda a coleção Plenos Pecados, não me sentia disposto a ler o seu livro sobre o mestre argentino.
Não sei se a longa espera foi boa ou negativa. Talvez se o tivesse lido há três anos não tivesse o encanto que tive hoje ao me entreter com tal preciosidade. Veríssimo criou uma história fantástica, transformando Jorge Luis Borges em personagem de sua trama de suspense com referências às obras de Edgar Allan Poe.
A leitura é prazerosa e apaixonante. O encontro entre o fã, Volgenstein, e o ídolo, Borges, é construído de forma inteligente e perturbadora. Os mistérios que rondam o assassinato do crítico literário especialista em Poe são muito bem construídos, embora não seja difícil prever quem seria o real assassino. Mas era essa a intenção do narrador-personagem desde o princípio. Ponto para o autor, a criação de um narrador não confiável, como acontece com a maioria dos contos do autor de O Escaravelho do Diabo.
Alguns fatos passam longe da verossimilhança de um crime e, principalmente, da ação da polícia diante de um assassinato. Mas o que importa isso diante de uma narrativa fluente que envolve o leitor desde as primeiras linhas do texto?
Outro ponto interessante do livro é o capítulo final ficcionalmente escrito por Borges, que abandona o posto de personagem-interlocutor para assumir a responsabilidade pelo desfecho da história. O Borges de Veríssimo faz bem o seu papel de detetive literário, desvendando o mistério que envolve a morte de Joachim Rotkopf, o grosseiro crítico alemão.
Agora penso, depois de voltar com o livro datado para a estante, que relutei para ler um livro encantador e cativante. Faço questão de voltar à obra de Jorge Luis Borges, que certamente não foi bem feita, graças à magia despertada por Luís Fernando.

http://www.albertodacruz.prosaeverso.net

sexta-feira, 12 de março de 2010

Voltando às atividades literárias


No fim de 2009, não imaginei que este ano fosse ser tão produtivo. As perspectivas são muito boas para minha carreira literária. Todos sabem que desde que finalizei O Jogador, dei um tempo na produção textual. Primeiro me dei férias merecidas, mas as férias se estenderam por muito mais tempo do que imaginei. Felizmente tenho material de sobra para passar um ano, no mínimo, sem escrever nada. Mas me cobro o suficiente para não ficar um mês longe do texto, um dia sem pensar nas letras. Embora quisesse apenas esperar pelo que já tinha planejado para 2010, resolvi de última hora mexer na gaveta de guardados e reler minhas palavras esquecidas. Encontrei Pesadelos e reli suas frases macabras com paciência. Lembrei-me de que havia publicado alguns contos que formam esse volume no Recanto e, claro, fui conferir o que as pessoas falavam desse trabalho, se é que falavam. Os comentários que meus textos receberam foram tão produtivos que achei por bem torná-los concretos com a publicação definitiva do livro.

O Clube de Autores foi uma ótima ferramenta para a publicação enquanto a Multifoco não faz acontecer o Memórias em Ruínas, que já vai para 9 meses na fila de espera. Mas não vim aqui falar do Memórias, o assunto hoje é Pesadelos. O livro ficou pronto em 1 mês, já que só precisava de revisão e alguns poucos ajustes. O resultado, apesar da rapidez, foi excelente, tudo como previ que ficasse. Sem puxar sardinha para o meu lado, a edição ficou lindíssima e os contos fazem jus a ela.

A divulgação começa agora. Iniciamos o mês aparecendo na mídia. Na 8ª edição do Rumo Costa Verde, Pesadelos e eu estamos presentes em uma entrevista bem legal sobre o livro feita pelo jornalista Hugo Oliveira. Ontem fomos à televisão, no programa Angra Interativa, para falar sobre literatura e divulgar o meu trabalho. Assisti ao programa no horário alternativo, já que foi ao vivo, e gostei do que vi.
Agora temos que fazer as vendas subirem.
Abraços.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Divulgação funcionando

Amigos, estou feliz com o início do trabalho de divulgação do meu novo livro, Pesadelos, contos de horror e medo, Clube de Autores.

No número 8 do jornal Rumo Costa Verde, saiu uma entrevista bacana sobre o meu livro, realizada pelo jornalista Hugo Oliveira, com direito a foto colorida de meia página e tudo.

Amanhã, vou à Master Tv participar de um programa de entrevista ao vivo para falar de Pesadelos e outros textos.

Lançar um livro novo é sempre legal!

Abraços
http://clubedeautores.com.br/book/10804--Pesadelos

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A calmaria chegou, é hora de seguir viagem


As férias acabaram, o carnaval também. Totalizando, foram quase dois meses de pernas para o ar, sem pensar em trabalho, sem madrugar, sem escrever.
Neste ano as coisas foram um pouco diferentes dos últimos, pois aproveitei bem mais o descanso, e realmente dei férias para as responsabilidades cotidianas. Viajei em família, viajei com a namorada, fiquei em casa, deitado na cama assistindo a filmes, joguei sinuca, baralho, tomei cerveja, bebi uísque, chorei pela tragédia que nos assolou como um monstro voraz, agradeci pelos que sobreviveram e sofri pelos que morreram. A única coisa que não fiz foi escrever.
Na virada do ano, quando a chuva devastou Angra dos Reis, a tristeza cresceu a cada minuto, primeiro pelas dores pessoais, a preocupação com os bens, a tensão pelo pior; depois veio a dor, a dúvida, a certeza. Quando morre alguém que faz, ou fez, parte da nossa vida, em geral, há uma perda de controle, uma laceração íntima sem tamanho. Decidi não escrever sobre Angra dos Reis e suas vítimas. Não quis, ou não pude, sentar e relatar a angústia, o pavor e o medo que nos fez chorar. Pela primeira vez quis sair de Angra nas férias de verão. E foi bom.
Mas para não ficar metido no ócio, resolvi mexer em velhas páginas. Encontrei o meu original de Pesadelos esquecido na gaveta e resolvi olhar com mais cuidado para o livrinho de contos de terror. Como a sensação era essa, terror, pareceu-me ser o momento exato de retomar a ideia de, se não me engano, 2006. Tirei as férias para reler Pesadelos e, para minha surpresa, surgiu a oportunidade de publicá-lo. Larguei mão do ofício colérico da pena e entrei no mundo obscuro da editoração. No final, o produto do meu trabalho me agradou muito. Fiquei contente com a edição do livro. Da capa ao marcador de página, nada me desanimou no projeto. Pela primeira vez, um livro ficou do jeito que eu queria.
As coisas aconteceram rápido. Antes mesmo da finalização do boneco, recebi um convite do jornal Rumo e da rádio Costazul para entrevistas sobre o livro. A divulgação parece estar encaminhada, felizmente.
Estou, agora, acertando os últimos detalhes para o lançamento do livro. Minha equipe de imprensa e agentes estudam a melhor data para o evento, que ainda não sei qual formato terá. Gostaria de um café literário, como fizemos na época de Intermitência, ou alguma coisa maior, como fizemos na Casa de Cultura. Ainda não me decidi pela forma como levarei o bastardo ao mundo.
O ano começou mal, mas ganhou contornos de esperança. Pode ser que toda negatividade tenha escoado com a água que nos devastou no primeiro dia do ano, e agora as positividades venham nos trazer um pouco de alegria. Parece que a calmaria chegou, preparamo-nos para seguir viagem. O livro está lindo, as perspectivas boas. O que me falta agora é conseguir escrever, já que os Pesadelos acabaram.

sábado, 9 de janeiro de 2010

livro?

É isso aí, o nosso querido e abandonado vida de escritor vai virar livro.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Zico marca mais um golaço


Romário avança pelo meio e toca rápido para Zico marcar o gol. Um momento. Zico, o Galinho de Quintino, marcar o gol? Poderia ser mais um dos golaços de Zico nos meus sonhos, mas não foi. O lance ocorreu no Jogo das Estrelas de 2009, em pleno Maracanã, palco de memoráveis jogos dos deuses do futebol carioca, nacional e internacional.
Hoje é um dia de felicidade. Hoje pude rever o maior ídolo da torcida rubro-negra em campo, defendendo as cores do Flamengo, ao lado de outros imortais que já vestiram o manto sagrado.
Arthur Antunes Coimbra acertou de novo ao convidar os homens que fizeram a alegria de milhões na década de 80 e alguns dos que nos fizeram sorrir, e continuamos a sorrir, neste ano.
Sempre falei para o meu irmão que Zico era divino, que o maestro Júnior jogava por música, que Adílio era fera, que Djalminha não fazia feio, que Gilmar fechava o gol, que Romário era o terror. E meu irmão, que só tem dez anos, dizia que o Adriano é o Imperador e que o Petkovic é craque. Não discuto com ele, não adianta. Mas hoje pude mostrar ao pequeno rubro-negro que o pouco que vi em minha infância era a mais pura verdade. Não adiantava assistir aos jogos em DVD, ele dizia que o futebol era diferente. Mas hoje não. Hoje ele viu o Zico jogar num Maracanã lotado, viu Zico fazer três gols lindíssimos, viu o Imperador perder não sei quantos gols feitos, viu Ibson e Juan mostrarem que craque o Flamengo faz em casa, viu Wilson Gottardo parar Edmundo, Charles Guerreiro roubar a bola de Vagner Love, Cláudio Adão cadenciando o meio de campo, Jorginho cruzando com precisão, Júnior driblando pelo meio, pelas pontas, Alcindo já sem nenhum cabelo, Andrade fora da área técnica, Tita desarmando o adversários, Zinho armando pela esquerda, Nunes entrando pela ponta, Renato Gaúcho sendo vaiado por mais de 75 mil pessoas e Romário dando belíssimos passes de letra com a camisa do Mais Querido. E também reviu Fábio Luciano, o capitão do Pentatri, Ibson e sua garra, Juan e seus desarmes precisos... Que lindo!
Obrigado, Zico, por mais este golaço em sua brilhante história vitoriosa. Obrigado por mostrar que todos podem fazer de um jogo beneficente mais do que uma forma de arrecadar fundos, sobretudo, obrigado por mostrar aos nossos meninos o quão bom é ser Flamengo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Boas Novas

Ontem fiz a primeira leitura de O Jogador e imprimi o material para levar à revisão. Devo deixá-lo na segunda-feira com Eugênia Mª D. Peixoto para que ela faça a leitura e depois encaminhe o material para Mª Cristina de Souza.
Ainda em relação a O Jogador, recebi um e-mail da Editora Bibliotexa 24X7, via Mesa do Editor, para a publicação do livro. De qualquer forma, fico feliz pelo interesse da citada editora, mas, como já ocorreu com Memórias em Ruína, não devo aceitar. A ideia de pagar qualquer quantia para publicar não me agrada. Além disso, fazendo uma rápida pesquisa no site da Biblioteca 24x7 (que nome é esse?), li que eles alugam o livro em formato eletrônico. Achei uma ideia estranha e, para mim, nada atraente. Outro fator que me fez negar o pedido foi a taxa de R$ 300,00 a ser paga para a montagem do livro eletrônico.
Há outras possibilidades para se autopublicar hoje em dia, e o melhor, sem pagar nada por isso. Quem conhece o Clube de Autores sabe do que estou falando. LIvro físico e livro eletrônico sem gastos e sem surpresas desagradáveis.
Dessa forma, digo: Não, muito obrigado, caríssimo editor.

"Tá bom", depois de muita insistência por parte dos amigos e de alguns leitores, voltei a trabalhar o texto de A Vila do Medo. Assim que corrigir a pilha imensa de provas que tomou minha mesa e terminar a leitura de O Voo da Rainha (Tomaz Eloy Martinez), darei à história de suspense a atenção merecida. O problema é que já faz mais de um ano que escrevi os primeiros capítulos, portanto conseguir manter a linha de escrita e o sentimento da narrativa não será nada fácil. Terei que fazer as pesquisas de novo, buscar o clima certo, assistir a filmes, reler livros para não fugir à proposta inicial.
É pena que eu queira muito escrever uma outra história, A Marcenaria (título provisório).

Vamos ver o que o fim de semana me traz.

Um grande abraço aos amigos leitores.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O fim de uma jornada, ou o capítulo final


Quando Jean e eu iniciamos o Vida de Escritor, estávamos enfrentando as primeiras panes do nosso Conto Conspiratório, o malfadado livro à quatro mãos. A idéia original era escrever sobre as dificuldades em se escrever quando a mente e os problemas cotidianos influem na tecitura do texto. Bem, já faz, mais ou menos, dois anos que o blog foi ao ar, três romances — dois publicados e outro indo para a revisão — escritos por mim, alguns poemas e várias entradas no diário eletrônico, sem que o nosso texto avançasse mais do que três capítulos.

O blog foi jogado às traças, depois que eu o assumi, escrevendo meus dias de angústia e batalhas sangrentas com as palavras. Jean abandonou o projeto, eu o segui, contando meus pensamentos e alguns dos acontecimentos bizarros, engraçados, tristes, lastimosos e felizes da minha vida, não só de escritor, como também pessoal, profissional e afetiva.

Agora, com poucas e nada frequentes entradas, volto a escrever minha parte da estranha Vida de Escritor. Venci, pois, o hiato que me separou por um bom tempo da atividade literária. Depois da publicação de Intermitência, a separação dói — Corifeu, 2008 — escrevi alguns capítulos da infame Vila do Medo e, antes do clímax, voltei minhas fichas para Memórias em Ruína. Terminada a redação inicial, deixei-o arquivado em alguma pasta no computador e esqueci o quão prazeroso é escrever. Não sei se por não obter o retorno desejado com Intermitência ou por estafa mental, não me sentei para escrever durante meses; aposentadoria por invalidez no INSS literário. Em julho, ou junho, deste ano, comecei a escrever as primeiras páginas de O Jogador. Queria escrever algo diferente, sem muita reflexão íntima, com muita ação, mas discorrendo sobre algo do meu interesse. Decidi abordar os jogos de sinuca, uma velha paixão. Depois de longa pesquisa, encontrei a hora certa para começar. Foram mais ou menos três meses pensando e trabalhando o texto. Durante três meses O Jogador fez parte de minha vida. Ontem escrevi a última frase do livro. Hoje sinto um vazio. Não ter mais o que escrever, não ter mais o que criar gerou-me a sensação de nulidade. Penso em voltar ao texto, reescrevê-lo, modificá-lo apenas para não aceitar que chegamos ao fim. Não mais nos pertencemos. Devo entregar o original à revisão ainda esta semana, por isso a despedida é dura. Nunca trato meus textos como filhos ou entes queridos, mas com este a impressão é que não termino um trabalho, mas lhe dou vida, ou o lanço para a vida como uma criança diante das mazelas de um mundo doente.

Foi divertido sonhar com as tacadas de Heitor, com as curvas do corpo de Victória, com a maldade de Munro, com a ganância de Hernan Lopera, com a vingança de Paulo Caçapa, com a corrupção do Capitão Dantas, com a ingenuidade de Thiago, com a tristeza de Fabiana, com a elegância de Raul Vergara e o enigma de Aldone. Sentirei falta dos meus personagens como sentiria de um parente que se vai. Dou-lhes, então, o meu adeus. Desejo-lhes sucesso na jornada. Que seus caminhos sejam melhores do que o meu.

Agora que o trabalho, e a jogatina, acabou, preciso de um tempo para aliviar a cabeça. Pensar no próximo trabalho. Já tenho um roteiro pronto, as madeiras no galpão para construir A Marcenaria. Não sei ao certo, mas acredito que este meu novo projeto se torne o mais novo xodó. Pelo menos no esboço a ideia me encantou de tal modo que as personagens ainda em gestação já ganharam o meu afeto. Não vejo a hora de começar a escrever o texto que contará a saga do velho marceneiro e seus conflitos num mundo moderno. Volto ao trabalho psicológico-memoralista, semelhante ao desenvolvido em Memórias em Ruína. E por falar nisso, é incrível como Memórias, Leite Derramado e Os Órfãos do Eldorado se parecem até mesmo nas diferenças. Mas isso fica para uma próxima vez.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O ontem, hoje

Engraçado como as coisas se pintam na vida. Às vezes se tem tanto a dizer, mas o interlocutor é surdo aos nossos delírios, ou somos mudos quando realmente temos algo de importante a dizer. Passamos por crises diversas na vida, umas importantes demais, outras insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o grande peso que nos põe loucos, ou à beira de um ataque de nervos.

Perdoem-me os amigos, mas estou hoje um tanto sentimental, saudosista, nostálgico. Falta-me o fogo, esfriou o quarto tão de repente, que não tive tempo de buscar o cobertor. Será que o presente está rumando para o passado? Não me entendo quando se trata da emoção. Talvez seja a estrela que morreu, extinguindo seu brilho. Não, realmente não entendo.

Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Está tão frio aqui. Não me sinto à vontade, não sei mais dizer palavras confortantes, amorosas, românticas. Algo em mim está morto, ou apenas ausente. Tantas dúvidas, tantas indecisões, nenhuma certeza do que havia pouco era o Certo. Mas há certeza em algo, quando a vida é cheia de surpresas e reviravoltas indiferentes à nossa simples vontade?

Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. A vida tão surpreendente quando nos guia o caminho por onde nunca imaginávamos passar.
Quem imaginaria, num dia comum, esbarrar com dois passados, ao mesmo tempo, juntos? Dois passados sorridentes, numa caminhada despreocupada pelas ruas do presente. O tempo. Os anos correm, as pessoas envelhecem, perdendo a beleza da juventude. As bocas, os calafrios, os sentimentos, tudo muda; nada permanece igual ao que era antes. Corpos, bocas, nucas. O cheiro, este não muda. As paixões do antes não voltam ao coração. Só mesmo na etimologia, trazemos de volta as imagens perdidas nas falhas da memória. Duas bocas. Duas línguas. Dois corpos. Todos somados a um, formavam um triângulo saudoso de cheiros, cabelos, pelos unidos sobre o mesmo lençol.

Quantos anos se foram no calendário das vagas lembranças? No mínimo dez, onze talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto!

As três bocas estalaram em toques no rosto, acompanhadas de palavras aos surdos, ditas como mudos, em passos que se separaram depois. As bocas, os corpos se foram. E eu fiquei imóvel em meu instante. Mas agora sinto o gosto que o tempo malogrou. As bocas que foram minhas, e hoje nada são. Os corpos que tive, e hoje não passam de cogitação.

Façamos, então, um brinde ao ontem, como singela lembrança da juventude expirada; como uma sutil recordação do que já não volta, nem vale a pena voltar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

PARECE MENTIRA, MAS NÃO É

Quase não acredito que estou fazendo, aos poucos ainda, as pazes com as letras. Depois de um longo período em silêncio voltei a bailar com palavras. Um ano depois da publicação de Intermitência, seis meses do término de Memórias em Ruína, eis que me dedico à concepção de uma nova história.
Há duas semanas comecei a escrever a aventura O Jogador, um romance focando o submundo dos jogos de sinuca. Confesso que é algo diferente dos meus escritos habituais, uma nova experiência no campo das letras, deixando de lado os enigmas da mente humana e escrevendo uma trama simples, fácil, popular, mas que tem me deixado muito feliz.

É bom quando escrevemos sobre algo que nos alegra, parece que flui mais fácil. Neste novo romance tive a facilidade nas pesquisas sobre o tema, porque amo jogar sinuca. Talvez tenha sido essa paixão que me fez escolher o assunto do livro e criar a personagem central da trama. Mergulhei, pois, em diversos livros sobre o jogo, alguns que já havia lido por prazer outros que caíram em minhas mãos em visitas em diversos sebos; esbarrei em sites sobre sinuca recheados de boas informações e, principalmente, ao prazer que o Youtube nos proporciona com seus vídeos. Os amigos sabem o quanto me dedico às minhas pesquisas, o quanto me apaixono por um assunto e devoro o máximo de informações possíveis sobre ele. Agora, juntei o útil ao agradável. Já fazia um tempo que queria escrever sobre sinuca, mas a ideia ficou engavetada, e outros trabalhos foram ganhando mais importância.

Entre o final de 2007 e o início de 2008, não lembro precisamente a data, Daniel Braga, Jean Marcus e eu jogávamos uma partida de bola oito, num boteco, acho que no Marinas, um bairro aqui de Angra, tivemos a idéia de montar um curta sobre um jogador de sinuca que, durante um jogo, repassava sua vida de acordo com as bolas que encaçapava. Era uma ideia boa, com baixo custo. Cheguei a escrever algumas cenas, mas o projeto não foi adiante, porque Jean Marcus foi morar na Califórnia e nossos projetos, como já disse antes, ficaram esquecidos, assim como o Conto Conspiratório, o malfadado romance a quatro mãos que até hoje me assombra como um fantasma. O projeto ficou de lado, mas não esquecido, espero ainda poder retomá-lo.
Foi justamente pensando em reescrever o roteiro do curta que tive a ideia de escrever sobre as maravilhas do pano verde. Apelei mesmo para uma das poucas coisas que ainda me prendem o interesse para escrever, porque as demais coisas me fugiam. Antes, porém, comecei o longo caminho das pesquisas para o romance. A primeira fase foram os filmes que abordavam o tema. Assisti sozinho ao belíssimo The Hustler (Desafio à Corrupção), de 1961, com uma atuação incrível de Paul Newman, interpretando Fast Eddie Felson, e Jackie Gleason, como Minnesota Fats. Em seguida, foi a vez de assistir à continuação The Color of Money ( A Cor do Dinheiro), de 1986, com Newman revivendo Fast Eddie, dessa vez ainda mais memorável, e Tom Cruise interpretando o jovem Vincent Lauria. O filme ainda traz Mary Elizabeth Mastrantonio, como Carmen, e John Turturro, como Julian. Depois das adaptações bem-sucedidas dos romances de Walter Tevis, foi a vez de Poolhall Junkies (O Chacal não perdoa), de 2002; com Mars Callahan como Johnny Doyle e Christopher Walken como o Tio Mike, girar no meu aparelho de DVD. Podia me dar por satisfeito, mas encontrei o recente Shooting Gallery (Galeria de tiro), de 2005; estrelado por Freddie Prinze Jr. como Jericho Hudson com poucas inovações, mas ideias interessantes. Semana passada assisti ao Turn the River, de 2007, estrelado por Famke Janssen, interpretando a personagem Kailey Sullivan; um filme com boas ideias, bom fim, mas muito aquém dos dois primeiros filmes já citados.

Saindo dos filmes, a segunda fase teve início com os livros. Comecei com o nacional Snooker: tudo sobre sinuca, de Paulo Dirceu Dias e Sérgio Faraco, 2005; um livro didático com referência às técnicas de jogo e detalhamento das técnicas do snooker. Na mesma época, caminhando pelo Largo do Machado, encontrei um vendedor de livros usados. Mais do que conhecida minha fixação por livros, acabei encontrando A Cor do Dinheiro, de Walter Travis, 1988, por R$ 2,00. Comprei-o na hora, é claro, pois um achado como esse não podia ser ignorado, porém relutei em ler por um tempo por acreditar que a história era a mesma da adaptação de Martin Scorsese. Feliz engano, pois quando decidi ler o livro, não encontrei nada de semelhante entre a obra literária e o filme de 1986. Cheguei a cogitar um texto comparativo entre as obras, mas não levei à frente o desejo. O Bilhar sem Mistérios, de Nelson Velasques, outra obra didática sobre os jogos de bilhar me renderam boas informações sobre o esporte e suas técnicas. A última obra, também encontrada num sebo, dessa vez na Cinelândia, foi o belíssimo The Official 1990 Matchroom Snooker Special, de Ian Morrison, 1989, com introdução do lendário hexa campeão mundial de snooker Steve Davis. No campo da ficção literária, encerrei a pesquisa com Saloon, conto de Sergio Faraco, presente no livro Snooker: tudo sobre sinuca.

Ainda não satisfeito, visitei com mais frequência os sites Ponto da Sinuca, Tacolândia, Sinuca MS, Federação de Sinuca e Bilhar do Estado do Rio de Janeiro e Confederação Brasileira de Bilhar e Sinuca, de onde consultei as regras oficiais dos jogos de bilhar e demais informações sobre torneios e artigos sobre o esporte infelizmente tão malvisto no Brasil.
Engraçado como em países como a Inglaterra e Estados Unidos o bilhar é tido como um esporte elitista, diferente do que ocorre por aqui. Enquanto a maioria dos jogadores brasileiros se contenta com as surradas mesas de bar, ou botecos, com tacos de ponteira plástica e bolas de péssima qualidade, em países que dão valor ao esporte, a maioria dos itens é de primeira linha, como as famosas bolas belgas da Aramith, as mesas da americana Brunswuik, por exemplo, os tacos ingleses, como os caríssimos MasterCraft e Rilley, feitos com madeiras nobres, diferentes dos nossos que muitas vezes são impossíveis de se jogar de tão empenados que se encontram, sem contar as solas de couro como as das americanas Master, Le Professionel e Brunswick ou a tailandesa Talisman contrapondo-se às plásticas nacionais

Felizmente para nós da terra do futebol, graças alguns incentivadores do esporte, algumas lojas especializadas e salões de sinuca oferecem material de qualidade para a prática esportiva, mas em número infinitamente pequeno em relação aos adeptos da sinuca de modo geral. Pior do que isso é o preconceito existente não só por pessoas que repugnam a sinuca, julgando-a como jogo de malandros, mas também pelos próprios adeptos habituais que preferem se acomodar com as sobras e objetos sem qualidade. Certa vez apareci num bar comum para jogar uma partida de sinuca e, por levar meu taco, fui alvo de comentários grosseiros. Quando perguntado pelo preço do acessório indispensável, chamaram-me de louco por gastar uma alta quantia por um pedaço de madeira. Para mim, mesmo sendo um jogador amador, acredito ser primordial ter qualidade em minhas tacadas, não quero defender a tese da elitização do esporte, apenas desejo que os donos de bares permitam que seus frequentadores tenham acesso ao mínimo de qualidade. Imaginem como seria bom entrar num bar, tomar uma cerveja bem gelada e jogar uma partida de sinuca com bons tacos, boas solas e um giz decente. Não é um investimento tão alto, mas o descaso é mais rentável, certo? É capaz de qualquer dia encontrarmos cabos de vassoura torneados nos fundos do bar como tacos de sinuca.

Depois da longa pesquisa, passei a ver as coisas que envolvem o esporte com outros olhos, por isso quis realmente escrever sobre o assunto, sobre o submundo das apostas, dos conflitos que vão além das mesas de jogo e passam para a vida dos homens, sobre a fascinação pelas bolas coloridas, sobre a esperteza do ser humano, sobre como se ganha, ou se perde, a vida em disputas no pano verde, sobre como a vitória faz o homem sorrir mesmo só tendo motivos para chorar, sobre como se pode fugir da realidade quando a tacadeira rola pela mesa em busca da conquista da alegria por um instante.
Escrever sobre o que se gosta deixa de ser trabalho para se transformar em prazer e, ao fim, a satisfação plena como um orgasmo intenso ao vê-lo ganhar vida nas mãos do público.
Espero terminar O Jogador antes de agosto. Se continuar com o ritmo que o escrevo, acredito que conseguirei, mas não quero correr para não estragar o desenvolvimento do enredo. O prazo foi estipulado até o fim do ano, mas quero terminá-lo o quanto antes, pois ainda tenho um romance pela metade, aguardando o seu fim. Mas não vamos misturar as histórias. Uma coisa de cada vez, um livro por vez, lembrando que na fila para a publicação, Memórias em Ruína está na frente, aguardando a resposta da nova editora para definirmos os moldes e as datas para a publicação, portanto tenho tempo para levar o meu jogador de sinuca a mais algumas mesas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Mais uma tentativa para não enlouquecer


Voltar a escrever depois de uma longa ausência não é algo fácil. O reencontro com as teclas é tortuoso nos toques decadentes da mão nervosa. Preocupo-me com superficialidades e me perco no compasso das horas em que permaneço sentado à máquina sem ter o que dizer, mas com uma imensa vontade de dizer. Devastar pensamentos, criar, atividades comuns, rotineiras de um cotidiano vazio são agora uma batalha terrível contra o vírus mortal da preguiça, ao mesmo tempo misturada com uma absurda vontade de fazer qualquer coisa para evitar o tempo entregue as artimanhas e teias frágeis da composição textual.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

DEPOIS DO FESTIVAL DE TORMENTAS, A CALMARIA VEM

Finalmente as coisas começam a acontecer positivamente em minha vida. Parece que depois do festival de tormentas, a calmaria vem, ainda que lenta, se aproximando. Toda angústia antiga se esvai como água ralo abaixo.
A noite hoje é silenciosa. Nem mesmo os automóveis passam pela minha janela. Isso mesmo, a minha janela, o que me resta depois de perder o apartamento — que é meu — no quarto que ganhei na casa de meus pais. Mariana dorme ao meu lado, alheia a tudo, descansa o corpo cansado depois da festa de ontem e uma noite muito mal dormida em conseqüência da fartura das horas acordada. Perco-me ao vê-la dormir. Tão indefesa e frágil como uma criança. Os olhinhos fechados, a respiração serena... é incrivelmente linda. E toda a sua beleza me rouba a atenção, leva-me o tino. Passaria a vida inteira fitando-a dormir como um homem encantado pela sereia mais perfeita levando os marinheiros à ruína. Mas em meu caso, a ruína é o paraíso, não machuca, cura a alma enferma de saudades infindas. Poderia, e deveria, estar deitado ao seu lado, agarrado ao seu corpo, esquentando-me com seu calor, mas estou aqui escrevendo sem grande necessidade com o intuito de acordar mais tarde, junto com ela, como não nos acontece há tempos graças a minha insônia ridícula.
Mariana é meu bálsamo, verdadeiro refúgio em tempos caóticos. Brigamos às vezes, como qualquer casal, discordamos de vários assuntos, enxergamos o mundo por ópticas diferentes, divergimos de opinião em várias situações, mas isso só nos prova que não somos iguais, felizmente. Se tantos são os pontos conflitantes, maiores são os de sincronia. Basta olhar para o seu sorriso e me desfaço de qualquer mesquinharia, raiva ou indiferença. Mariana me tem em suas delicadas mãos, e isso é um perigo, mas me trata com o mesmo cuidado que dedico a ela. Nosso sentimento é uníssono, igual, dividido por nós na mesma carga emotiva. Embora tudo conspirasse para que nossa relação fosse um fiasco e, além de não durar muito, nos trouxesse, principalmente a mim, sanções dolorosas tanto na vida pessoal quanto na profissional, mostramos, não que quiséssemos provar nada, ao mundo e às más línguas que acertamos nos nossos desejos, que aquilo que nos tirava o ar não era o fogo ardente de uma paixão vazia. Não, não era. O que nós tínhamos e temos é amor, um sentimento de doação, companheirismo, amizade, alegria e ternura. Olhamos para a mesma direção de mãos dadas e juntos. Parafraseando Drummond, também vamos não com o sentimento do mundo, mas com o sentimento do nosso mundo. Quando feridos, curamo-nos dos males que nos causam dor. Recuperados do desgosto, reerguemos as sólidas bases do nosso amor e continuamos os passos rumo ao desconhecido incerto... Incerto? A vida é incerta, mas ao lado dela até mesmo as incertezas são certas.
A noite é lenta e vagarosa. O silêncio um nostálgico convite ao pensar. Mariana dorme ao meu lado alheia aos meus delírios. Um sorriso bobo se desenha em meu rosto e meus olhos brilham sinceros de plenitude e satisfação.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Maio, maduro maio; quase podre maio

Maio, maduro maio; quase podre maio. Que eu saiba, agosto é o mês do desgosto, mas algo me leva a crer que houve um adianto temporal na contagem dos meses. Ou pior, não sei, este ano tem sido difícil em tantos aspectos que estou pensando seriamente em elegê-lo como o pior ano da década. Mas ainda estamos a dois de terminá-la, portanto é preciso ter muito cuidado nesta eleição.
A vida é mesmo surpreendente e dá cada volta que nos deixa meio maluco. Ultimamente, a minha já entrou em tantos reveses que eu não sei mais o que posso esperar amanhã quando acordar. As coisas mudam tanto para mim, desfazem-se com a mesma, ou até mais, velocidade que são criadas. Eu não sei o que esperar de mim e dos outros principalmente.
Não estou nada bem. Não há como esconder, pois a minha amargura se reflete nos meus olhos sem vida, no meu rosto sem brilho, no meu sorriso choroso, na minha voz muda... Tudo anda às avessas, tudo ao contrário do que um dia foi lindo. Parece que minha primavera realmente chegou ao fim, mas não foi o verão que a sucedeu. Não, por incrível que pareça dormi e acordei no auge de um inverno glacial. Estou mal. Mergulhado num pessimismo absurdo e constante como a dor de cabeça de uma ressaca que nos derrubam por dias intermináveis de náuseas.
Não sei por onde começar a contar os males que me derrubam como um enfermo no leito de morte, implorando para que desliguem os aparelhos que me mantém respirando com dificuldade. Na verdade, nem mesmo quero escrever sobre o que me maltrata, mas uma necessidade superior ao meu querer me obriga a pôr para fora como vômito as minhas vicissitudes na esperança utópica de aliviar o estômago embrulhado de decepções. Assim escrevo hoje, não por prazer, mas por necessidade catártica a fim de me salvar a vida... embora melhor seria ir-me embora daqui, porque não gosto daqui, ir-me embora para não mais voltar, embora para nunca mais chorar, embora... ir embora.
Se não há como evitar, que seja o mais breve possível. Resumirei o assunto para não me causar mais dor do que a já sentida. Ando mal com o amor e, infelizmente, isso interfere diretamente em todas as minhas áreas de atuação, pois penso com o coração, não com a razão como deveria ser, mas não é. O fato é que eu e Mariana não estamos bem. Uma série de acontecimentos enfadonhos vem nos tirando a harmonia. Hoje somos talvez duas notas desafinadas, tocadas de qualquer maneira por quem antes tinha total zelo. A desgraça teve início no feriado do dia do trabalho, quando ao contrário de nos amarmos, brigamos mais do que, perdoem a expressão mais batida do que carro de testes de segurança, cão e gato. Não houve sequer um dia em que não trocamos farpas, apesar de não querermos. Estranhamente eu pressentia que algo de muito ruim aconteceria em breve. Isso ficou, não sei por que, martelando em minha cabeça, aumentando a força, incomodando, latejando, enlouquecendo, durante todos os malditos dias. Na semana seguinte, nós nos entendemos e aliviamos um pouco a sensação de desgraça próxima, apesar de não ter desaparecido como eu desejava. O medo, a insegurança se intensificou quando ela me disse que, pela primeira vez, só voltaria para cá no sábado, não na sexta como era de costume. Triste porque justamente na sexta meu irmão apagava pela nona vez as velas de seu bolo, senti um aperto no peito muito maior do que apenas a sua ausência poderia causar.
Algo estava errado não só porque Mariana não estava aqui, mas também por já ter passado da hora em que ela me liga sempre. Por que justamente no dia em que não vem para casa, ela também não fala comigo. Preocupado, mandei uma mensagem para o seu celular e a resposta tempos depois foi fora do comum, estava diferente, errando demais e com um vocabulário que nunca vi. A segunda mensagem de resposta foi uma repreensão que me fez pesar a consciência por não confiar nela. Mas como já estava na quinta mensagem sem resposta, liguei. E para minha desgraça, ela atendeu ao telefone.
Mariana estava em uma festa da faculdade, bêbada e sorridente, mesmo tendo mentido friamente para mim quando me escreveu que estava quase chegando a sua casa. Meu mundo foi ao chão, eu perdi o tino, a razão e disse milhares de impropérios impossíveis de transcrever aqui. A discussão via celular foi longa e exaustiva, culminando com o término do namoro. Dormir depois de tanta raiva foi tão difícil que só consegui realmente apagar depois do quarto comprimido de lexotam. Durante o tempo em que rolei na cama, só conseguia pensar em como ela pôde ser tão vil comigo, tão insensível com meu sentimento. Suas lágrimas me doíam, mas pior que a dor era a irritação que provocavam em mim. Naquele instante todo amor se transformou em ódio. Não um ódio qualquer, mas o derradeiro. Jurei que nunca mais queria olhar para ela, pois se foi capaz de mentir, dissimular, enganar, como eu poderia olhar em seus olhos e ainda desejá-la? A dor do desengano se instalou sobre mim e machucou mais do que qualquer ferimento, mais que um tiro seco, mais que um punhal desferido sem piedade pelo assassino frio no beco escuro da morte. Eu estava morto, apesar de ainda respirar.
Dia seguinte, vida vazia. Passei a manhã entre a insanidade e doença na alma. Um sentimento estranho de nulidade e vazio no coração. Mas era preciso continuar, uma vez que a quantidade de remédios correndo em minhas veias fora insuficiente para me manter na cama como um vegetal. Saí. Incomunicável, aproveitei o tempo são para caminhar pelas ruas tristes de um dia cinza e chuvoso. Pensava em nossos bons momentos e também nos maus. A dor era intensa. Quando resolvi que era hora de voltar para casa, percebi que ela havia me ligado inúmeras vezes. Não voltei as ligações. Queria que ela entendesse que eu não mais queria passar pela mágoa que me impôs sem que eu nada pudesse fazer para mudar, transformar, esquecer a dor que o golpe me causara.
Para meu espanto, no fim da tarde ela veio a minha casa para conversar. Seu rosto estava tão apagado como o meu. Arrependida, creio, por ter me traído a confiança. Conversamos, na verdade foi um monólogo dela, durante horas intermináveis, marcadas por lágrimas sofridas. Eu, que geralmente falo demais, não disse mais do que três frases monossilábicas. Queria me desprender dela, esquecer que um dia entreguei todo o sentimento bom que ainda existia em mim depois do fracasso do casamento.
O amor, mesmo arruinado, conseguiu gritar forte ao meu ouvido. Retrocedi, dei mais uma chance para que ela reparasse o erro grave, mas a decepção não se foi. Ainda vive em mim como uma praga mortal. Assim, embora tivéssemos um final de semana tentando apagar o fogo, a semana novamente marcada de ausência me machucou. Não consigo mais dizer que a amo, embora a ame com toda a força. Queria saber como esquecer, como perdoar, como aceitar o fato; mas não tenho esse dom superior. Sou um homem cheio de graves defeitos, e o maior é não esquecer.
Ainda estamos juntos, mas não sei até quando continuaremos. Não posso afirmar mais nada enquanto não abrandar a ira que me toma o pensamento arredio. Ouço-a arrependida ao telefone dizer que me ama; que não medirá esforços para reconquistar minha confiança, mas não vejo como pode fazer isso, pois não consigo, por mais que eu queira, acreditar no que sai de sua boca. Será verdade? Será mentira? Como posso acreditar em quem mente, magoa e depois volta arrependida como um cão sem dono, com os olhos cheios de lágrimas?
Temo que desta vez ela tenha extrapolado, passado dos limites. Não quero amar alguém em que não posso confiar. Toda noite imagino o que ela possa ter feito e o que faz. Toda noite eu choro, pensando nela e na dor que vive em mim pelos meus castelos construídos em nuvens frias.
Quem sabe tudo isso passe. Quem sabe eu a perdoe. Quem sabe eu possa dizer que a amo intensamente como amei um dia, desde que não haja mais mentiras.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Perdido no meu tempo

Hoje eu chutei o balde sem querer saber onde cairia e em quem bateria. Já disse antes que deixei meus prazos me sufocarem novamente, por isso tenho que correr na composição dos textos para os concursos que encerram suas inscrições no dia 30 de abril. Até anteontem, toda a minha atenção estava voltada para os detalhes de Intermitência, embora tenha fechado uma ou duas crônicas no intervalo entre revisões e ajustes do romance. Ontem, porém, tirei o dia para ficar única e exclusivamente com Mariana e minha família. Apesar de discutirmos alguns assuntos sobre o livro, no lugar errado, às duas da manhã, passamos o dia como se nada mais importasse para nossas vidas a não ser ficarmos juntos como um casal apaixonado.
Desde que voltei a morar com meus pais, Mariana e eu não ficamos por aqui, pois semanalmente sou eu que me desloco até sua casa nas sextas-feiras depois da aula no pré-vestibular e permaneço até o fim da noite de domingo. Como estamos numa semana de dois feriados, ela, para minha alegria, está em Angra desde sexta, mas volta ao Rio para escrever um relatório de Botânica, porque não conseguimos encontrar todos os livros da bibliografia, na quinta ou sexta-feira. Assim, ontem resolvemos aportar aqui na casa de meus pais para um jantar em que fiz o meu famoso bolo de carne, assistirmos ao excelente suspense Identidade, cuja interpretação de John Kusack é inesquecível, jogar um pouco de The Sims II e nos curtirmos muito, apesar de ser pouco o tempo. Trabalho, quando ela está aqui, fica para segundo plano. Em minha vida Mariana é o centro do meu universo, meu sonho, minha realidade, meu ar, meu... bem, não estou aqui para falar de como a amo, pois seria inútil tentar dizê-lo, pois me faltariam palavras.
Seja como for, perdi-me no feriado. Não sei qual foi o surto inconsciente que tive, mas queimei alguns dias do meu mês. Acho que a cabeça anda tão preocupada com as milhares de coisas que tenho a fazer que pensei, juro, que amanhã fosse dia 28, não 24 de abril. Assim, um desespero absurdo tomou conta de mim, pois teria que postar os textos no mais tardar dia 29 ou perderia os prazos de quatro concursos. Quanto aos poemas, tudo bem, seria fácil enviá-los, uma vez que meu acervo é vasto, apesar de nem todos me agradarem hoje como agradaram no passado, coisa de autocrítica exagerada, mas certamente teria oito trabalhos prontos para entregar sem que precisasse arrancar os cabelos. O grande problema eram as crônicas, pois minha composição nesse subgênero não é muito grande. Havia escrito duas recentemente, uma no início do mês e outra na segunda-feira de manhã, seguindo meu projeto. Mas com essa confusão que eu mesmo criei, duas delas faltariam para a postagem. Para piorar meu estado insano, perdi a manhã inteira na sala de espera do dentista de Mariana.
Quando me sentei ao computador hoje para tentar escrever pelo menos algumas idéias, não imaginei que fosse conseguir terminar os dois textos que me faltavam. Mas como funciono melhor sob pressão, o texto fluiu facilmente. Em duas horas, duas crônicas terminadas e prontas para serem envelopadas amanhã cedo. Ainda não acredito que as terminei em tão pouco tempo, fora do meu costumeiro local de trabalho e, principalmente, que tenham me agradado.
Amanhã volta a rotina ingrata que rege minha vida. Aula regular pela manhã, pré-vestibular à tarde, mas com um bônus nesta semana atípica, poderei me despedir de Mariana, ficando mais algumas horas na tranqüilidade dos seus braços, à noite; porque nos próximos dias terei uma infinidade de trabalhos exaustivos, incluindo o fim de semana, que graças às minhas dívidas, trabalharei nas provas da prefeitura.
O saldo do feriadão foi positivo. Fazia tempo que não me abstraía das pressões que as responsabilidades trazem. Gostaria que sempre fosse assim, mas a vida não nos permite esse luxo todos os dias. E se temos que viver um dia de cada vez, esses foram os melhores dias da minha vida recente.


2008, 23 de abril


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terça-feira, 22 de abril de 2008

Vida de escritor, a um passo da loucura

Estou ficando louco com a quantidade de coisas que pululam em meu pensamento. Estou a um passo de alcançar a insanidade total, portanto preciso diminuir a carga de preocupações antes que o pior me aconteça: não consiga distinguir a realidade das ilusões.
Meu drama começa com o trabalho regular. Não sei por que estúpido motivo deixei que as correções das atividades escolares se acumulassem sobre as mesas, isso mesmo, as mesas. Como ainda não estou muito bem estabelecido na casa de meus pais, minhas coisas estão espalhadas por todos os cantos, poluindo a aparência e estragando a decoração do ambiente. Para meu pesar, o feriado está a poucos dias de acabar e, logo na quinta-feira, terei mais provas para dar cabo até o fechamento do bimestre. Não consigo me sentar e corrigir nada, nem mesmo um turma. Começo a ficar preocupado com o rumo das folhas e da trabalheira que os diários me darão daqui a alguns dias. Mas sei que se me sentar por algumas horas e conseguir me livrar de tudo o que está me atormentando, consigo, se não terminar, pelo menos diminuir a imensa pilha que me tenta e dá calafrios.
Se a loucura findasse apenas na atividade letiva, não estaria tão nervoso. Meu problema com prazos, novamente me incomoda. Estipulei até o dia 20 de abril para enviar meus textos para uma série de concursos literários, mas já estamos no dia 22 e até agora só escrevi a crônica “Procura-se um leitor”. Felizmente ainda tenho oito dias, pois o prazo acaba no último dia do mês, portanto preciso escrever pelo menos quatro crônicas e oito poemas. O problema é que com o tempo curto demais é difícil saber se a qualidade dos textos será satisfatória. Agora que tenho que correr, não posso ficar me questionando, preciso por a mão no teclado e me abstrair de maus pensamentos na hora da composição relâmpago.
Para minha alegria, a redação de Intermitência, é isso mesmo o nome mudou, perdeu a desinência de número, terminou. Fiz a primeira revisão e encontrei uma série de erros, além de modificar um pouco o final da história, mas tudo dentro do previsto. Como a leitura já está viciada, Eugênia, minha grande amiga e também mãe de Mariana, se propôs fazer uma nova revisão no texto. Para meu desespero, ela já encontrou mais erros logo nas primeiras páginas. Mas isso faz parte do processo, por mais empenho que tenhamos cuidado, de tanto ler as mesmas linhas, algumas falhas passam despercebido. Para meu contentar, tenho excelentes amigos para me ajudar neste processo delicado.
Intermitência me tira o sono e rouba todo o meu tempo. Ontem Mariana e eu elaboramos um esboço da capa. Não foi nada fácil chegar a uma decisão sobre essa parte da obra. Foram dois longos dias discutindo como poderia ser. Entre uma idéia e outra, optamos pela inicial. Será mesmo um sofá branco. Com a prova que fizemos, finalmente encontrei o que queria. Mas antes de chegar à satisfação, foram horas estudando capas de outros autores, de diversos gêneros e editoras diferentes. Concluímos que muitos autores têm um péssimo gosto no que se refere à apresentação do seu trabalho. O ditado diz para que não se julgue um livro pela capa, mas, convenhamos, uma capa mal produzida espanta qualquer leitor. O ruim é que quando fizemos a nossa prova, utilizamos uma imagem retirada da internet, portanto não posso usá-la em meu romance. Como eu disse, era só uma experimentação, agora temos que correr atrás de um sofá branco que se enquadre no que queremos e tirar uma boa foto em alta resolução para a montagem definitiva e dentro da lei dos direitos autorais.
A boa notícia em meio a tanta loucura foi o e-mail que recebi da editora Virtual Libri, elogiando meus textos publicados nos blogs que mantenho. Não sei bem qual o real interesse dessa empresa, mas a respondi para maiores esclarecimentos. Espero que não seja mais um convite para publicar em sistemas de cooperativa de escritores, pois o retorno geralmente não é muito satisfatório. Assim aconteceu com a Andross, menos no Mosaico, mais no Caleidoscópio, as duas antologias poéticas que participei pela referida editora.
Como não consigo parar de escrever, retornei as atenções para uma antiga história de suspense intitulada “A Vila”, que comecei a rascunhar no final de 2007. Ainda estou no primeiro capítulo, mas acredito que se me dedicar um pouco a ele, rapidamente chegarei ao fim. Temo me perder no meio de tantos projetos inacabados, pois ainda há o “Paixões Perigosas”, escrito em meados de 2006 para editar.
Muito trabalho, pouco tempo e quase nenhum dinheiro, assim é a vida de escritor.

Alberto da Cruz
2008, 22 de abril
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segunda-feira, 14 de abril de 2008

A vida é dura

Domingo chega ao fim daqui a trinta minutos. Logo será segunda-feira. Em breve volto às minhas aulas regulares. Pouco tempo para cair na cama e dormir. Daqui a algumas horas Mariana volta ao Rio, à universidade e à saudade que nos desnorteia a alma. O término do fim de semana é um prelúdio para um tempo de angústias que, felizmente, não duram mais do que cinco dias.
Agora pouco, enquanto estava no banho, pensava no Vida de Escritor e em suas atualizações diárias, que na verdade são um semanais, mas que por um bom tempo se tornaram mensais. O corre-corre de uma vida atribulada fez com que as publicações se tornassem cada vez mais escassas, mais raras. Felizmente, parece que esse tempo chega ao fim. Mesmo com tantas coisas na cabeça cansada, consigo alguns minutos para escrever as velhas ladainhas deste espírito marcado de amarguras. Apesar de ultimamente discorrer sobre vários assuntos, mas quase nenhum relativo à prática literária, aos trancos e barrancos, faço o possível para sempre estar por aqui. E assim vamos nós, juntando os cacos de um texto partido.
Nas últimas semanas mergulhei de cabeça no meu pequeno romance. Todos os dias passei pelo texto nem que fosse por apenas uma frase. Batia meu cartão como um funcionário dedicado e depois de um longo período sem concluir algo relativamente trabalhoso, posso comemorar o seu fim. Texto terminado, começa agora o longo processo de finalização. Semana passada fiz a primeira revisão. Amanhã começo a segunda. Enquanto releio o trabalho, minha preocupação cai sobre os detalhes. Preciso escrever o texto da quarta capa, um pequeno texto que desperte a atenção do leitor, algo instigante que o faça desembolsar a bagatela de R$25,00 para ter volume para si; isso mesmo, Intermitências custará uma nota de vinte e outra de cinco reais apenas. Gostaria que o preço fosse ainda menor, mas, para meu desprazer, não depende de mim estipular os valores de venda. Voltamos a esse assunto depois, porque as minhas neuroses de agora são: escrever a sinopse para a orelha do livro, encontrar alguém que me escreva um prefácio ou simples nota de apresentação, decidir pela foto que aparecerá na orelha da quarta capa, encontrar um bom subtítulo e não me desesperar na montagem da capa.
São muitos detalhes para uma pessoa só, ainda mais para uma pessoa só que passa a maior parte do tempo mergulhado em diários de classe e livros didáticos. Mas não vou reclamar muito, porque é isso que escolhi fazer em minha vida e, mais do que tudo, o que amo fazer. Assim, não posso me entregar como realmente desejo ao livro, mas encontrarei uma maneira de conciliar as coisas. O problema que se forma agora é a minha mente que, finalmente, abandonou o imenso hiato criativo. Assistindo hoje ao excelente filme “O cheiro do ralo”, tive a idéia de uma nova narrativa. Tão logo formule a idéia central bem clara, farei dela o novo tematizador dos meus relatos por cá. Antes, porém, iniciei mais um projeto. Queria que se tornasse um romance também, mas acredito que não me estenderei nesta nova narrativa. É bem provável que ela se torne mais um conto do Pesadelos no Paraíso – para quem não conhece, meu livro de contos de horror e suspense interminável. Não me decidi ainda, portanto vou deixar que a trama conduza a história e determine o gênero da obra em questão. Sei que deveria dar um tempo com as composições e me dedicar, no momento, somente ao Intermitências, mas minha cabeça está a mil, além disso, também tem sido um bom método para me ocupar, a fim de não sentir o peso das mudanças que me ocorreram nas últimas semanas, como a volta para a casa dos meus pais e a saudade lacerante que sinto de Mariana, enquanto ela está na faculdade. A vida é dura.
Amanhã começo as conversas com a editora para a edição do livro, acertar os detalhes, ver o contrato e me planejar para a publicação. Embora só tenha o livro físico depois de maio, preciso correr para encontrar quem me escreva a nota de apresentação. Acílio, pai de Mariana, talvez apresente meu original a Antônio Torres, autor de Meu Querido Canibal; todos nós envolvidos no processo torcemos para que ele aceite a tarefa, afinal ter um grande escritor assinando em minhas páginas seria de imenso valor para o tão sonhado reconhecimento. Também espero pelos comentários de Hugo Oliveira, jornalista do Maré Alta, e Ricardo Oliveira, professor de língua portuguesa, para fechar definitivamente o trabalho no livro. Assim que estiver com os textos que faltam em minhas mãos, o processo de impressão se inicia.
Quem pensa que depois de tudo isso, o trabalho chega ao fim está enganado. As etapas já realizadas foram as mais fáceis, a loucura começa mesmo, depois que o livro estiver pronto, com a divulgação. Um escritor famoso tem o apoio da mídia, dos grandes investimentos editoriais, assim seu trabalho está exposto nacionalmente e figura nas estantes das grandes livrarias do país, em contrapartida um novo escritor não tem tantas formas de se destacar no mercado editorial. É preciso então começar de baixo e subir os degraus com calma e perseverança. Tracei, portanto, um plano simples para começar, a primeira fase das vendas abrange somente a distribuição regional, para depois expandir o campo territorial, sem contar com a ajuda da internet e suas diversas formas de exposição. Minha estimativa é que consiga despertar interesse nos leitores de Angra dos Reis e Paraty, para isso conto com a distribuição junto aos livros que a Distribuidora Cuba disponibiliza nas bancas e pousadas destas cidades. Acredito que consiga vender algumas boas cópias nesta empreitada, mas o objetivo não é em si apenas vender livros, sim ser visto por eventuais leitores de outros estados que por ventura estejam de passagem por aqui, afinal em cidades turísticas, o fluxo de pessoas de diferentes partes do país é intenso. Enquanto isso, tenho que investir em um lançamento, mesmo que humilde, para fazer um pouco de barulho; dar a cara a tapa e divulgar aos meus alunos que o livro está à venda; procurar levar ao conhecimento do maior número possível de pessoas a existência do Intermitências, nem que seja batendo de porta em porta para mostrar meu trabalho. A estrada é árdua, mas preciso segui-la. Quem sabe não consiga um espaço, mesmo que mínimo, na FLIP deste ano. Para que isso que aconteça, tenho que correr; correr como um louco para alcançar a satisfação pretendida.

2008, 13 de abril

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A realização bate à porta

Como terminei de escrever o romance, sinto agora um vazio pairando no ar. Não tenho mais o que escrever. Depois de passar o fim de fevereiro e todo o mês de março vivendo cada frase do Intermitências, agora me sinto como um pai que vê, sem que nada possa fazer, o filho querido arrumar as malas para partir. Assim é a vida de escritor, depois de passar dias intermináveis dedicando-se exclusivamente a uma história, quando ela termina, um estado misto de tristeza e alegria nos toma de jeito. Pelo menos até a publicação ele ainda será meu protegido. Cabe a mim dar-lhe meios para caminhar sozinho por este mundo literário, cheio de passagens perigosas, rodeado de monstros terríveis, ávidos por sangue. Dele não espero sucesso absoluto, mas almejo despertar a atenção positiva dos críticos e dos leitores, principalmente. Desejo subir alguns degraus na minha escalada no ramo literário, mas se forem poucos, não ficarei de todo triste, pois o tempo dedicado a sua composição foi, talvez, o melhor entre os já gastos no trabalho de qualquer idéia.
Escrever Intermitências foi uma experiência prazerosa. A cada página, a cada cena, senti-me como um vencedor. E melhor do que qualquer coisa, foi minha redenção artística e alívio as minhas insanidades constantes. Embora esteja muito contente com o término do projeto, sinto um pouco de tristeza saudosista por não tê-lo mais como companheiro para as noites insones. Mas isso é o de menos. Agora a correria dos meus dias me leva para outra fase: a publicação. Fiz diversas sondagens entre editoras e, ainda não me decidi plenamente, há uma possibilidade muito grande de editá-lo pela Corifeu, no sistema sob demanda, ou seja, independente. Só não me decidi ainda por causa da escassez financeira. Outra possibilidade, mas muito remota, é arriscar o meu original às editoras tradicionais, mas dificilmente agüentarei os malditos prazos de análise do livro.
Espero que eu chegue logo a uma conclusão para o meu dilema, mas acredito que a primeira opção, atualmente, seja mais viável do que qualquer outra.
É claro que o sistema escolhido não é perfeito e requer ainda mais esforço para alcançar os primeiros objetivos. Como não há um sistema de distribuição organizado pela editora, além das vendas pelo site da mesma, toda a parte de divulgação cabe a mim. Vantagens existem, e isso é fundamental, mas os empecilhos são um caso sério a se pensar. Inicialmente, eu mesmo farei a divulgação do trabalho, por isso, antes mesmo de ter o livro físico às mãos, já me planejo para levar ao lume o romance, mas tudo dependerá das vendagens da primeira remessa. Por temer o desconhecido e conhecer muito bem o fracasso, começarei com uma tiragem realmente muito baixa, dependendo das vendas, encomendarei mais livros. Acredito piamente que venderei rapidamente o quantitativo inicial apenas entre meus conhecidos, incluindo os colegas de trabalho. Certamente, mas não gosto de contar com variáveis duvidosas, meus alunos levarão uma boa fatia do gráfico de vendas. Ainda terei a ajuda da distribuidora Cuba, cujo dono é o pai de Mariana, com a colocação dos livros nos seus pontos de venda, que englobam Angra dos Reis e Paraty. De resto, fica ao meu encargo me fazer notar na região Sul do estado, para depois aumentar o território de divulgação. Terei que recorrer à mídia para chamar a atenção ao meu trabalho. Graças à ajuda do Hugo, jornalista e amigo de sempre, posso conseguir, mais uma vez, um espaço no jornal em que ele trabalha. Se conseguir, já será de grande valia. Sem esgotar as opções, restará ainda a mídia radiofônica e a televisiva, mas para isso, a primeira fase deverá ser bem executada, caso contrário, dificilmente terei espaço num veículo informativo de massa. Quem sabe um dia eu não apareça no Programa do Jô para um papo descontraído em que eu não fale nada que preste e responda às questões que fujam do tema, como a maioria dos seus entrevistados? Já dizia o samba: “sonhar não custa nada”! Independente das alternativas mencionadas, o certo é que a divulgação boca a boca será feita, e já começa antes mesmo do livro ficar pronto. Portanto já me apresso em dizer que em breve, e quando mais breve melhor, estará à venda o romance Intermitências. Tão logo as primeiras cópias cheguem às minhas calejadas mãos de tanto sofrer as teclas do microcomputador, avisarei a todos pelos meios aos quais me exponho freqüentemente por este imenso mar de informação digital.
Resta-nos agora esperar mais um pouco, para que tudo saía perfeito. Ainda farei mais uma revisão antes de enviar o original. Depois, os trâmites legais na catalogação da obra, o registro na Biblioteca Nacional, o número de ISBN, a confecção da capa, assim que me decidir pelo estilo, aguardarei ansiosamente pela chegada da primeira remessa, para pôr em prática as idéias aqui expostas.
Torçamos para que tudo dê certo daqui para frente, pois estou ávido para apresentar Almira e Roberto para o mundo.

2008, 08 de abril