terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O revés do desgosto

Sempre que discutimos sobre alguma coisa que ocorreu conosco, Mariana me diz que eu só lembro os fatos ruins, como se não existissem bons momentos em nossa relação. Obviamente, no calor insuportável de nossas brigas, eu só menciono as palavras mal interpretadas ou as ações impulsivas que provocaram algum tipo de sofrimento, na maioria das vezes em mim. Acredito que faça parte dessa hora em que a tensão misturada com a raiva ganha a razão em um jogo desigual. É difícil ponderar quando o sangue está fervilhando. Os erros vêm novamente à tona, não por maldade, mas acabam saindo sem que eu perceba os danos que causo com minhas palavras rudes em meus estúpidos momentos de raiva — e ultimamente eu tenho andado como um cão raivoso, perdendo a paciência facilmente e agredindo qualquer um que me olhe atravessado. O estresse do fim de ano acaba comigo, embora eu tente lutar tenazmente para manter a calma. São provas intermináveis para corrigir, dezenas de diários para fechar, reuniões extraordinárias, conselhos de classe, contas a pagar, textos para entregar, fila de banco, fila de correio, presentes de natal, escolhas, decisões e eu cada vez mais nervoso com o pouco tempo que me sobra em meio dessa loucura toda.
Como as intempestividades ocorrem sem que possamos mudá-las, faz-se necessário domar a fúria negativa que me assola como um leão faminto numa jaula, pois, caso contrário, suas garras podem dilacerar facilmente aquele que provém seu alimento. Não é diferente conosco. Quando brigamos, acabo dizendo o que era melhor calar, a fim de não ferir. O grande problema é que não me calo e, agindo como um violador de túmulos, desenterro mágoas que deveriam há muito ter sido esquecidas. Não lembrar as dores passadas é essencial para a construção do futuro quando não trazem nenhuma lição importante. Não é que não a tenha, mas não se faz preciso dizer do que já foi. Devemos, pois, olhar adiante e buscar novos caminhos para deixar as coisas melhores, sem a sombra do pesar. Não sei ao certo, mas me parece que lentamente estou aprendendo sobre minhas dores na alma, deixando descansar em paz os mortos de minha mente, lutando contra meus fantasmas. Mas não me tem sido fácil enfrentar essa horda nociva sem sair ferido do combate.
Se no momento de mágoa deixo escapar os tormentos, não quer dizer que a nossa vida a dois seja um eterno desgosto, pelo contrário. Passamos juntos os melhores momentos que já vivi. Nada se compara a ternura de um dia com ela. Quando solitário em minhas ilusões ouço o telefone tocar, com o coração a bater desenfreadamente, espero que seja ela do outro lado da linha. É difícil explicar a alegria que me toma quando ouço sua voz gostosa me dizer palavras simples como apenas um “oi”. Quando vejo seu sorriso depois de um dia cansativo de trabalho, meu mundo inteiro parece parar para admirá-la e o cansaço se esvai rapidamente, surgindo em mim uma força que nem sequer imaginava existir. Ao encontrá-la, num abraço saudoso, sentir o calor de sua pele é o contentamento contra as minhas frustrações diárias. Em sua boca morre minha inquietude quando me aprazo com seus beijos carinhosos de ternura. E quando detenho seu corpo delicado sob o meu, bruto, sou uma fênix renascendo das chamas do meu caos para uma vida muito mais cheia de amores.
Nessas horas de deleite, não há mácula que perdure. Todos os sentimentos de desgosto se vão ao primeiro toque, às vezes nem mesmo isso, pois somente um olhar choroso seu me faz retroceder em minhas decisões impensadas e correr para os braços como uma criança carente aos braços da mãe. E a amo mais, muito mais do que antes, pois só a possibilidade de perdê-la me faz entrar em pânico. Quando a vejo, ainda sinto tremerem minhas pernas e meu coração bater muito mais forte. Se isso é paixão, o fogo voraz que queima rapidamente e logo se apaga, esta dura mais e mais e mais, chegando ao ponto de se fechar um ciclo anual e ainda assim o calor no corpo é o mesmo em proporção crescente do que no início de nosso sério compromisso. Certamente o que temos não é paixão, é mesmo Amor. E não é só desejo, nem um laço físico. O que temos transcende os limites corpóreos e sobe aos céus sublimado.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Perdoar e esquecer não é para qualquer um



Dos meus defeitos, e não são poucos, talvez o pior seja não esquecer o que me magoou, independente de quando ocorreu o fato feito em meu desagrado. Sei que isso é prejudicial não só a mim, mas também às pessoas a quem eu me relaciono, mas não consigo deixar de pensar no que aconteceu, foi dito, ou não. Parece-me que é recente, apesar de ter sido há muito tempo. A dor é a mesma, a raiva é igual e o desapontamento é tão grande quanto no dia exato em que me senti agredido, ferido e humilhado.
Mesmo que me peçam desculpas por me magoarem, não consigo perdoar totalmente. As desculpas não fazem a ferida no peito parar de doer. Amenizam o estrago causado, porém não apagam o mal que me foi feito. Se são necessárias então? Obviamente sim. É o mínimo que o errante pode fazer para diminuir um sentimento de desgosto provocado por um descuido impensado. Não sei perdoar os erros dos outros, apesar de querê-lo. Minhas cicatrizes são expostas e sensíveis, voltam a doer a qualquer instante, com a mínima lembrança. Fecho o cenho no mesmo instante, franzo a testa com a mesma intensidade e, não raro, trato com desdém como se fosse hoje o mal feito ano passado, retrasado, dez anos atrás. Guardo mágoas como utensílios não usados cotidianamente em baús da memória, prontos para serem revelados caso precise. E não é por querer ferir quem me feriu em uma vingança infantil que faço questão de recordar a quem me causou a tristeza à proporção do meu ressentimento, embora tenha um pouco disso, não é o principal. Faço para que não se esqueça da falta; para que não se repita da mesma forma; para que se lembre de que pequenos gestos maltratam o coração. Mas lá no fundo, sinto-me satisfeito por fazer com que esse mesmo erro doa, como um tapa violento, no rosto de quem mo deu. Não sou de tudo uma pessoa vingativa, mas sou humano, não um mísero inseto sem a dádiva do sentimento.
Cazuza — novamente ele — conseguiu expressar um lado positivo nisso num verso genial de Muito obrigado (por ter se mandado), quando diz “pelos dias de cão, muito obrigado (...) me trair, me dar inspiração preu ganhar dinheiro”. Óbvio que a dor que se sente é lacerante, mas tenho que usar de artifícios para transformá-la em algo, no meu caso, arte. E quando ganho o meu suado dinheiro com ela, preciso agradecer pela iluminação artística. Mas queria antes de tudo não tê-la. Tenho-a e por isso hoje escrevo. O que me levou a pensar estas pobres palavras hoje foi um fato passado que já deveria ter sido enterrado e devorado pelos vermes, contudo, como já expliquei, é difícil demais para eu deixar as cortinas caírem para encerrar o drama da minha vida.
Quando Mariana me comunicou que passaria a virada do ano com os amigos na praia do sono, apesar de nosso romance ser ainda um broto que precisa de cuidados para não morrer, senti-me desfolhado, seco e prestes a morrer. Acredito que em um namoro — que não me condenem os que de mim pensão diferente — o casal queira compartilhar todos os momentos alegres e nunca, jamais passar uma data significativa afastados por vontade própria. Sua decisão me fez , na época, pensar em terminar imediatamente com a relação que começava a engatinhar. Se no início, quando é normal que se queira ser inseparável, ela me deixou a ver navios, o que seria do futuro? Eu veria do porto as embarcações afundarem sem que eu nada pudesse fazer? Foi um golpe duro que me faz lastimar até hoje. Embora eu quisesse passar por cima disso, perdoar e esquecer, é impossível. Penso em até quando vou suportar a dúvida e aceitar suas ações que contrariam minhas convicções. Como eu disse, desculpas não desfazem as faltas nem fazem parar a dor. Eu a desculpei depois de uma longa discussão, mas não posso perdoá-la ainda, nem sei se poderei um dia. Que isso é nocivo para nós e corrói qualquer estima é verdade, mas como proceder se esse fantasma ainda me assombra?
Sou, por ela, apaixonado, mas as decepções que infelizmente tive me fazem ainda pisar com cuidado por ter medo de me machucar mais do que já me machuquei. Não só apenas esse triste episódio do início me melindrou, outros tantos ocorreram sucessivamente nos primeiros meses que, penso eu, deveria ter usado a razão e dar como encerrada a tentativa de relacionamento com alguém tão diferente de mim, não só em maturidade, mas também em pensamento. Tivemos, ou temos, bons momentos que me valeram muito, claro que não me esqueço deles, mas os dias negros também são de verdade, e a escuridão me assusta por temer que se repita, apesar de não querermos. Sei que hoje ela é diferente e valoriza nossa união, mas o antes existiu, não se pode ignorar. Gostaria de saber como estaríamos agora se minha reação fosse outra, se não tivesse lhe dado as chances que dei, se não tivesse relevado suas inúmeras falhas comigo, coisas, a meu ver, tão graves que, em outros tempos, jamais aceitaria.
As pessoas, embora não reconheçam, vivem hipocrisias. Lembro-me de Gregório de Matos em seu “pequei Senhor, mas não porque hei pecado”, como se pecar fosse motivo para Deus ser feliz na glória da absolvição. Não sou Deus, nem passo perto de sua bondade, portanto não me venham com essa história de me contentar com um pedido de desculpas quando se sabe que seus atos egoístas provocam sentimentos ruins naqueles que os querem bem, a fim de abrandar a ira de sofrer o desengano.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Quatro dias de lástimas

Quatro dias, alguns poemas e fragmentos diversos, esse foi o saldo do feriado de 15 de novembro, para meu desgosto. Faz um bom tempo que não escrevo para a coluna. O tempo foi gradativamente diminuindo, juntamente com minha paciência. Outubro foi uma lástima para mim e minhas composições, em todos os sentidos. Já enfrentei dificuldades em outras vezes, mas há muito não me aconteciam momentos de total pane mental como esta última. Parece-me que o hiato criativo voltou a fazer parte de minha vida, deixando assim uma lacuna incrivelmente ampla, separando-me da redenção ao terminar um texto, qualquer que seja ele.
Gostaria que minha vida estivesse no eixo, mas anda descentralizada, por isso é tão penoso dar continuidade às atividades que começo. Ando muito blasé com minhas peculiaridades. E também uma onde depressiva virou meu barco. A solidão voltou a me acompanhar e uma tristeza inexplicável veio somar no meu trágico caminho os passos atrás de mim.
Antes de começar a choramingar minhas amarguras, boas notícias: estourando o prazo para entrega, enviei para o Concurso Literário Lúcio Lins o livro de poemas “Lírica Imperfeita”, em que, depois de um longo processo de escolha, compilei, com Mariana, as 60 páginas que o compõem. Escolhemos cerca de 50 poemas escritos entre o começo do ano e os primeiros dias de novembro. O difícil foi deixar de lado alguns bons textos, já que o espaço era limitado. Agora só me resta esperar pacientemente para que saia o resultado final. Conhecendo-me suficientemente bem, não deposito muitas esperanças na vitória, já que em âmbito nacional sair-me vitorioso dentre excelentes novos escritores é muita pretensão de minha parte. Pensei até mesmo em desistir de mandar-lhes meu volume poético, mas minha fiel incentivadora vetou meu pessimismo latente, obrigando-me a enfrentar a imensa fila dos correios e despachar o envelope com os meus delírios.
O pior de tudo é que não participo do concurso somente com o desejo de vencer e ser reconhecido, mas o que mais motivara a minha investida foi a premiação em dinheiro, além da publicação de 500 exemplares da obra. Vejamos o que dará, mas não estou confiante de que conseguirei ir muito longe. Afinal, aos olhos da crítica, meus versos de amor, paixão e erotismo não são muito originais, mas também não decaem na poesia social tão aclamada e, ao meu ver particular, um tanto quando chata. Prefiro cantar o amor de um dia a versejar sobre acontecimentos do dia a dia, política, miséria ou outro desses acontecimentos universais. Em minha concepção pobre, o sentimento humano deve ainda ser cantado, pois o homem é todo sentimento, seja ele bom ou mal.
Já que comecei, não irei parar, pelo menos por enquanto, de expor-me a galhofa em concursos de literatura, grandes ou pequenos, profissionais ou amadores. Portanto, hoje enviei quatro poemas a dois concursos; o desconhecido “Concurso Literário da Ordem dos Dragões” e o “Concurso de Literatura Gótica”, promovido pela Boca da Serpente. Ainda resta-me escolher os 3 poemas e 3 contos para o Concurso Literário da FESP. Esse anda me tirando o sono, já que não consegui ainda escolher os trabalhos que serão enviados à comissão julgadora. O prazo caminha para o fim e eu não consegui pensar em nada. Isso me assusta muito, pois mais uma vez estou de olho no lucro.
Infelizmente tenho de pensar também no fator financeiro. Canso de ouvir e dizer que literatura, no Brasil, não dá dinheiro, não põe a mesa de ninguém; que deve ser vista como um hobby qualquer. Não é mais possível pensar dessa maneira, pois o tempo, as privações, as escolhas as quais nos submetemos para criar algo apresentável, no mínimo, há, de alguma forma, de ser recompensada. Só não gosto de título de Mercenário das Palavras, mas já as chamei de prostitutas baratas mesmo.
Talvez seja por esse trato rude que tem sido um tanto difícil lidar com o texto. Não sei se é apenas uma fase ruim dentre tantas outras ou a mais límpida verdade: não levo jeito para a prosa. Tenho, nos últimos anos, escrito uma série de histórias que se desenham em minha cabeça, mas no exato momento em que as materializo, parece-me que perco no processo a essência do texto. Eu, que adoro contar histórias, talvez não saiba contá-las. Aproveitei o feriado para reler algumas narrativas e achei-as, no alto do meu senso-crítico, ruins. Como se eu não conseguisse captar o sentimento exato que me propus a dizer. Talvez, o que parece mais infeliz, é que eu não tenha nada a dizer. Óbvio que nem tudo é uma premissa triste, há uma historieta ou outra que me faz brilhar os olhos, mas é pouco diante tantas outras. Ainda no meu lado torto, percebi que tenho sim o ímpeto criativo, as idéias florescem e as inicio de forma primorosa, mas é só isso. Geralmente não passo da introdução do que é bom, dos ruins, chego ao fim.
Antes, sofria para rever cada página. Só me adiantava no trajeto, depois de corrigir, lapidar as frases, dar coerência aos parágrafos, mas a trama acabava por não sair devido à demanda de tempo gasto na minha mania de perfeição. Assim que decidi escrever como um louco, sem voltar uma página para rever as falhas, consegui chegar ao fim do caminho, mas os passos foram tão vacilantes que a maior parte do que lá está, considero um lixo desnecessário à formação das vidas expostas em minhas vazias palavras. Eis que me surge um dilema: escrever um bom quantitativo que deverei excluir ou padecer em busca do ponto exato? Realmente não sei como devo proceder.
Felizmente, embora o período não seja dos melhores, a poesia se fez clara novamente. Consigo escrever alguns versos e, pela primeira vez, realmente gosto do que tenho feito. É sabido de todos que tenho aversão aos meus poemas, mas tenho me enternecido com algumas composições. Até mesmo as composições que versam sobre o amor me têm feito sorrir, devo, é claro, agradecer a Mariana por isso, pois sem ela a tarefa seria sem sentido. Uma efusão de novas sentimentalidades me fez soltar o que antes era contido e, sem cair naquela melancolia extremada romântica, as palavras voltaram a bailar ao som da minha valsa enamorada. Minha intenção poética não é ser piegas, embora às vezes chegue a ser, mas exaltar as formas boas de um sentimento puro. Já compus a ela material suficiente para um livro inteiro, sem mediações, todos em sua homenagem, sejam eles de realização, felizmente a maioria, sejam eles de momentos de frustração, muito mais do que deveria ter. Dessa forma, um acalento a minha alma mais ou menos de poeta, faz com que eu tenha esperanças de novo, apesar da melancolia que vaza pelos poros.
Na sexta-feira última, fiquei incomodado com um episódio que sempre me foi comum. Lia alguns poemas recentes para minha mãe, atividade mais do que normal, pois gosto de ouvir seu veredicto sobre tudo o que faço em minha vida. Até mesmo quando não concordamos sobre o assunto, sua opinião é fundamental. Claro que prefiro quando ela demonstra satisfação no que lhe apresento aos vetos que me faz pelo que rejeita, mas, em ambos os casos, é quase vital sua sincera avaliação. Em meio a essas leituras, cada vez mais me irritava com seu sarcasmo e assimilações com meu passado enterrado. Aquilo me gerou um mal-estar muito grande, pois em momento algum as estrofes referidas aludiam ao que foi, na época, traumático em minha vida. Fiz menção de parar a leitura, mas diante de sua insistência, continuei. Não devia tê-lo feito. Minha mãe explodiu num choro compulsivo que me deixou pasmo. Perguntei-lhe o que havia dito que a deixara naquele estado e a resposta foi surpreendente. Ela me disse que meus poemas parecem ser feitos, não para mim, mas para ela. Como se os sentimentos ali expostos, despidos de qualquer julgamento, trouxessem à tona o que ela sufocara durante seus anos de amargura.
Fiquei muito abalado e interrompi a leitura quando ela me perguntou sobre o que me motivara a escrever aqueles poemas. Disse a verdade, que não fora nenhum episódio meu, apesar de algumas coisas refletirem sensações que me assolam, mas projeções da vida, idealizações de acontecimentos, personagens que me faziam escrever sobre seus tormentos.
Pode parecer sadismo, mas aquilo me deixou satisfeito. Finalmente percebi que meu objetivo foi atingido: provocar em meu leitor sensações, levá-lo a identificar-se com o meu texto, tirando-o de mim. Relacionei o episódio com Fernando Pessoa em seu “Autopsicografia”, “o poeta é fingidor” e “os que lêem o que escreve na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só as que eles não têm” como também em “Isto”, que de perfeita forma, sintetiza tudo o que lhe disse naquela noite: “Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”, para fechar com o verso mais significativo que conheço: “Sentir? Sinta quem lê!”
Depois disso, parece-me que o motivo para a literatura voltou a mim. Tanto tempo imerso na escuridão fez-me esquecer que basta apertar o interruptor para que se faça a luz. Posso não ser um escritor brilhante, mas também não sou o inútil que imaginava ser.

Alberto da Cruz
2007, 17 de novembro
Publicado em:
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terça-feira, 13 de novembro de 2007

Malditos Erros


"Errar é humano,
Depende de quem erra."

Às vezes cometemos erros em nossas vidas sem nos darmos conta dos males que podemos fazer com nossa falta de consciência. Um minuto é suficiente para fazer ruir qualquer alicerce, pode facilmente pôr abaixo qualquer edifício, independente de seu tamanho, seja pequeno ou absurdamente imenso. Falhas, o homem é cheio de falhas. Umas menores, completamente aceitáveis na sociedade; outras, de tão escabrosas, são motivo de condenação por um pequeno grupo, por uma pessoa apenas, não importa, pois a pena ao erro é sempre medida na proporção da dor que causa.
Não cometi um erro apenas. Ontem eu cometi o erro da minha vida. Estupidamente pus toda a felicidade que um dia tive à lona. Deixei triste aquela que me faz sorrir. Transformei um sonho lindo em um pesadelo mortal. Quando eu disse ao telefone “acabou”, pode ter doído nela, mas foi meu peito que sangrou. Quando eu disse “acabou”, as lágrimas escorreram em seus olhos, mas foram os meus que queimaram em brasas. Quando eu disse “acabou”, seu peito bateu descompassado, mas o meu parou. Cometi o erro derradeiro de uma vida errada. sem pensar no que fazia findei o que me motivava. Quis tirar de mim a bondade e fiquei com a agonia. O que fazer agora? Que trágico destino terei eu a partir de hoje. Como terei uma vida inteira sem ela se apenas um minuto é insuportável? Como irei respirar se ela é o meu ar?
As conseqüências de atos malfadados derrubam até mesmo os colossos, e eles, seres gigantescos, têm a queda maior e mais sentida do que as pequenas formigas quando desabam de vários metros de altura. Minha queda é descomunal, sem pára-quedas ou cama amortecedora. Vôo em direção ao chão como um pássaro morto, em alta velocidade; ou ainda, como um imbecil que assiste à lutas na tevê e pensa que pode derrotar um Acelino Popó em um combate, o preço da audácia é a lona. Cá estou eu a ouvir o juiz fazer a contagem regressiva. Em minha cabeça sua voz pausada anuncia os números como se estivesse dentro do olho do furacão, tudo é dissonante.
Fugindo da verdade, gostaria de que existisse a máquina do tempo. Seria ótimo também se o preço para usá-la fosse acessível aos, como eu, simples mortais. Voltaria hoje a algumas horas atrás e refaria minhas últimas encenações. Evitaria o quarto gole no conhaque, não tomaria sozinho a quinta cerveja e me manteria dono da minha consciência. Mudaria muito se estivesse sóbrio, mas não estava, portanto a volta ao começo do drama seria a solução. Mas se voltar ao no tempo fosse possível, por que voltar ao fim e não ao início, onde todos os múltiplos problemas realmente começaram? Fácil, porque apesar de aborrecimentos esporádicos, outros nem tanto, houve momentos inesquecíveis que não poderiam jamais ser apagados. Houve sorrisos que nunca mais serão dados. Houve beijos apaixonados como se vê nas novelas noturnas. Houve carinhos impagáveis e abraços tenros. Não só decepções aconteceram, e elas foram terríveis, mas também tivemos nossos momentos diáfanos. Voltar e mudar, portanto, seria trucidar essas boas passagens da vida.
Seria bom fugir da realidade, mudar o que não gostamos, mas a vida nos ensina com as nossas falhas. Que lição aprenderíamos se não tivéssemos a sombra da decepção. Como edificar um bom homem sem conhecer os males da vida. Dizer que se retira dos livros as experiências que não vivemos é, no mínimo, hipocrisia. Errei, minha consciência dói, a cabeça pesa no travesseiro, choro por minhas falhas e espero, um dia, ver-me livre da mácula que causei. Livre, se ela me perdoar, livre, se eu puder me perdoar.

Alberto da Cruz,
2007, 04 de novembro

domingo, 28 de outubro de 2007

Meu momento de desengano



Antes que termine o mês, minhas esfarrapadas desculpas. Minha cabeça atordoada é incapaz de formular uma idéia constante faz um bom tempo. Escrever se torna gradativamente uma atividade cada vez mais complexa. Não sei ao certo se a culpa, se é que há, é minha ou de algum fator externo e inerente a mim. O fato é que não consigo me concentrar para escrever. Começo textos que não termino, gosto e desgosto na mesma velocidade, apago minhas palavras como um homem frio que se desfaz de pedaços de si mesmo com a frivolidade cruel de um assassino vil. Perdi as contas do quantitativo inconcluso, só neste mês foram pelo menos quatro contos, uma meia dúzia de crônicas e uns tantos poemas inacabados como seres errantes, fetos abortados no sexto mês de gestação.
Escrever, às vezes, como dizia Pessoa, é maçada. Uma atividade evasiva frustrante, uma forma de enfrentar o estúpido mundo e se sentir vitorioso pelo menos uma vez na vida. O problema se dá no que escrever. Dizer das desgraças alheias, insanidades humanas, crimes ou corrupção, basta que se ligue a televisão ou se abra o jornal. Desgraças acontecem o tempo todo, não é preciso inventá-las. E se formos criar uma outra realidade paralela, ignorando a problemática constante da vida, caímos no risco de moldar um lugar de pessoas alienadas e distantes da crise mundial.
Outro fator que muito me incomoda é o que se propor a escrever quando já se foi dito quase tudo no campo literário. Como ser original em meio a tantas histórias já contadas. Dizer do cotidiano não é assim tão interessante a ponto de tomar a vida de um escritor de meia pataca que sofre mais o texto do que chega ao orgasmo com as palavras. Já disse que as minhas são prostitutas baratas que se vendem por muito pouco, agora, penso eu, elas se dão, se entregam, se jogam, uma vez que poucos por elas se interessam.
Gosto de criar personagens, dar a vida como se fosse um genitor, mas na atual conjuntura, minhas crianças são seres disformes, verdadeiras criaturas feias. Não ando muito feliz com minhas peças, não tenho chegado ao mínimo de verossimilhança em suas formações. Ao vê-los percebo um imenso buraco em personalidades fracas e vidas frágeis que são impulsionadas por motivos banais. Incabíveis formas de encarar os dias duros na vida e suas superficiais relações com os acontecimentos que os regem.
Estou a um ponto de me aposentar por invalidez. Encarar a triste verdade de que não sou um escritor, nem mesmo um daqueles ruins que encalham por aí. Minhas gavetas estão cheias de papéis gastos inutilmente. Várias vidas engavetadas, vários dias — e o dobro de noites —, perdidos no alimentar de um sonho que se finda. Dói aceitar que os alicerces ruíram, que os castelos eram feitos de areia e que o mar não se comove com a fragilidade das ilusões. “As ondas nervosas do mar” me devoraram tudo o que pensei ser com indiferença, sem se importar com minhas lágrimas, sem se incomodar com o sal do meu suor.
Se na prosa sou infeliz, busquei a felicidade nos versos, mas até mesmo eles me traíram. Foram mesmo eles ou minha incapacidade criativa o algoz da desgraça? Cansei de cantar o amor, não porque deixei de amar, mas por perceber que por mais que se componha sentimentalidades, elas não garantem a mesa do jantar. Mercenário? Não, não é a gana por dinheiro que me impele os versos, se dependesse disso já estaria morto de fome. Fama? Raros são os poetas que dela se fartaram em vida. “Poetei” para desabafar, para tirar de mim a angústia que me consome os dias, para desafogar a mágoa minha, para abstrair a realidades das minhas dores, para declarar o amor que a boca minha cala e o coração chora, para manifestar minhas vontades que escondo atrás das cortinas do espetáculo pobre que é minha existência. Escrevo para não morrer.
Pode parecer exagero, e sou exagerado, mas dadas as minhas debilidades físicas, talvez não consiga deixar uma parte minha sobre a Terra. É bem provável que não consiga gerar um filho, e isso me dói mais do que qualquer crise de minha doença. Sonho em poder carregar no colo um rebento saudável, em poder me orgulhar de uma criança esperta, em me emocionar ouvindo alguém me chamar de pai... mas o tempo passa célere e os meus dias estão cada vez menores. Minha incapacidade de ser progenitor me deixa verdadeiramente triste só de pensar na impossibilidade de não ter uma prole. Transfiro então esse desejo normal ao homem comum para meus textos, que eles se firmem como partes minhas que ficam após a morte e me façam ser lembrados de alguma forma positiva. Dizem que a imortalidade consiste em deixar ao mundo alguém que continue o seu trabalho, eu perco as esperanças de deixar alguém, assim meu legado foi dedicado aos versos, à prosa, mas elas me tem sido tão penosas que o meu pesar é o fracasso iminente. Eu choro.

Alberto da Cruz
2007, 28 de outubro

Publicado em:
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sábado, 6 de outubro de 2007

A volta do prazer esquecido



“Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê!"
Fernando Pessoa

Como eu havia previsto, esta semana foi muito corrida. Quase não fiz nada do que deveria ter feito, restringindo-me apenas a planejar ações futuras que, muito provavelmente, jamais ocorrerão. Estou em débito comigo mesmo, e isso me aborrece. Deixei de lado o Conto Conspiratório, assumo agora em público, não por achar que a história seja ruim, mas não tenho paciência no momento para pesquisar sociedades secretas, tampouco criar um clima de suspense. Não quero, nem vou, engavetá-lo como fiz com vários projetos meus. Apenas uma pausa nas atividades, para que eu possa limpar minha mente de assuntos conflitantes. Tenho urgência em resolver algumas pendências de minha vida pessoal, por isso, talvez seja a melhor explicação, não tenha conseguido dar cabo ao projeto firmado há exatamente um ano. Sei que quando livrar-me dos meus tormentos, a história fluirá como no começo e a trama se mostrará límpida como água de fonte — péssima comparação.
Mas nem tudo são espinhos, há também as rosas. Por falar nisso, minha primeira seleção de poemas foi intitulada “Espinhos e Rosas”, em 1996, com quinze anos de sofreguidão sobre a terra; selecionei cerca de cem poemas, todos ultra-românticos, e distribuí algumas cópias para os bons amigos. Mas voltando as benditas rosas, resolvi voltar a participar de concursos literários, depois de bons anos longe dessa loucura. Nem me lembro da última vez que enviei um texto para um concurso, tamanha a minha birra com bancas avaliadoras. De 2000 para cá, meu último contato com prêmios de literatura foi como jurado e membro de, isso mesmo, bancas avaliadoras, para meu próprio espanto.
Não sei se o que me levou a me expor dessa forma foi a vontade de competir com outros colegas em igual situação, se foi por não agüentar mais ouvir o editor dizer que publicar poesia hoje é complicado, ou ainda se a falta de dinheiro pesou em minha decisão, o fato é que, juntamente com Mariana, estou a selecionar o material que já possuo para montar um volume de aproximadamente 80 páginas para o concurso José Lins, de João Pessoa. Tenho material até de sobra, mas de qualidade discutível. Lembrei-me agora de uma história muito engraçada ocorrida com um poeta contemporâneo que enviou à editora algumas poesias e, na página final, pôs o seguinte recado: Não se preocupem, há mais lenha no forno. Passados alguns dias, recebeu a resposta do editor: Que bom para você. Quando tiver poemas, mande para nós.
Estamos ainda na metade do trabalho, nesta semana conseguimos escolher vinte poemas dentre cem. Falta muito ainda para lermos, avaliarmos e revisarmos. Certamente terei que fazer ainda algumas correções, pois tenho a péssima mania de escrevê-los e abandoná-los como um cafajeste que, depois de saciar suas necessidades, deixa a mulher entregue a sua própria sorte. Assim, terei que conquistar meus versos novamente para poder dar-me ao luxo de alterar algumas de suas imperfeitas construções.
Não satisfeito, também decidi participar do concurso literário promovido pela Fundação Escola de Serviço Público do Rio de Janeiro, FESP. Desse, terei o prazo para entrega um pouco maior, mas em contrapartida, a tarefa também. Concorrerei com três poemas inéditos e, três contos também inéditos. Quanto aos poemas não perco o sono, pois, como já mencionado, não me falta material, mas os contos, nenhum dos que tenho estão dentro das regras publicadas no edital. Ser limitado a um número de páginas é o mesmo que tolher a criatividade de uma criança. Portanto tenho que escrever novas histórias que correspondam ao exigido. Comecei dois deles recentemente, mas o que brinquei hoje já me agradou deveras. Só não sei se uma história erótica agradará a maldita banca. Pagar para ver é o que me resta.
Já que esse texto versa sobre voltas e reviravoltas, novamente me pus a poetar com prazer. Escrevo pelo menos um poema por dia e tenho me sentido satisfeito com o retorno textual. Claro que a inspiração vem de Mariana e nossa deleitosa relação. Depois de muito tempo penando os versos, finalmente as palavras fizeram as pazes e se relacionam tão bem que me causam espanto. Tem sido fácil escrever assim; e quando percebo, a estrofe está no cabo e o poema se revela como mágica. Aproveitando a fase criativa, projetei uma série de poemas intitulada “Ela”, em que separo do todo as partes que mais admiro na mulher — amada, obviamente. Discorro sobre elas, para depois, no fim, juntá-las e dar uniformidade aos fragmentos. Até o momento já tenho prontos: Teus seios; Teus pés e Teus cabelos. Resta-me agora compor os olhos, o nariz, os lábios, o ventre...
Apesar de voltar às boas com os textos, tenho pensado nos temas sobre os quais abordo. Sou poeta do amor, gosto de cantar às mulheres e carrego de sentimentalismo minhas composições, quando não, falo sobre o ato de escrever, metalinguagem e minhas limitações criativas, mas gostaria de mudar um pouco meu estilo, abordando questões existenciais e sociais. Eis minha pedra no caminho, no sapato, pois todas as vezes em que enveredei por essas estradas acabei por fazer péssimas construções. Devo tentar novamente, devo arriscar nos exercícios poéticos até que surja o que tanto almejo? Não me custa tentar, pois se não for feliz, apenas terei perdido alguns minutos em minha tediosa existência absurda. E para meu desprazer, isso eu faço constantemente.

Alberto da Cruz
2007, 05 de outubro.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Simples Gostos na Vida


“Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto de bons modos
Não gosto”

Senhas, Adriana Calcanhoto

Eu gosto de acordar cedo e ver o mar pela janela do quarto. Eu gosto de beber café forte e muito quente, enquanto fumo um cigarro, logo que me levanto da cama, antes de fazer qualquer coisa.
Eu gosto de fazer sexo pela manhã, embora, à tarde, seja bom e, à noite, também. Gosto de experimentar, variar, inovar. Quase dispenso todos os tabus, menos homossexualismo, que não curto nem um pouco. Não tenho lugar, pode ser na cama, no sofá, no chão, sobre a mesa, debaixo da mesa, no banho, na cozinha, do lado de fora, dentro do carro... o que importa é a hora do prazer. Mas devo confessar que às vezes prefiro o depois ao durante, aquele momento gostoso em que os corpos extasiados se abraçam e, sentindo o calor do outro, adormecemos felizes num gesto enamorado. Sexo, para mim, é entrega total. Não curto um lance casual, tem de haver envolvimento afetivo sério, fazer com amor mesmo, pois sem, nada tem graça.
Gosto de música e das emoções que ela me propicia. Não tenho um estilo definido, ouço de tudo. Para mim, o que importa é o momento, por isso podem me pegar cantando de um samba-canção de Cartola a um grito visceral de Rock. Tudo depende do instante, mas tenho meus preferidos. Chico Buarque me faz pensar, amar e produzir, meu ídolo e exemplo tanto no cenário musical quanto no campo literário. A poesia de Humberto Gessinger me fascina como os poetas contemporâneos que admiro. Alcione me faz chorar, principalmente quando estou em crises amorosas. Ouvir Cazuza me dá um tremendo tesão, daqueles de deixar maluco mesmo; mas também me faz pensar na transitoriedade da vida e como o tempo é voraz. Se minha vida tivesse uma trilha sonora, ela seria de vários estilos, passeando dos clássicos compositores à musicalidade contemporânea.
Gosto de livros, minha paixão antiga. Cada volume adquirido é um orgasmo múltiplo. Vivo entre eles e de tanto estimá-los, tornei-me um bom leitor, mas poderia ser melhor. Nada me encanta mais do que uma boa leitura, seja de um romance, biografia ou poesia. A arte literária me toma os sentidos e me leva ao êxtase do supremo num gesto sublimado. Por vezes troquei diversos programas para me deleitar com um livro e, juro, jamais me arrependi de prostrar-me no sofá e viajar pela madrugada. Se ler é um orgasmo, escrever é a minha doce sina. Escrevo para me livrar tédio, para espantar a solidão, para sair da rotina, para desabafar minhas mágoas, ilusões e desespero. Ganho, bem menos do que gostaria, falando de minhas tristezas e de minhas insanidades, embora já faça um bom tempo que não vejo lucros sobre minhas divagações. Não paro com a escrita, mesmo descompromissada, é ela que me acalenta um pouco o espírito revolto.
Gosto de filmes, e passo horas diante da televisão, entretido com alguma trama fictícia. Não sou um cinéfilo assumido, mas tenho minhas películas prediletas. Meu gosto é variado. Adoro comédias do tipo besteirol. Amo filmes de terror, principalmente sobre vampiros, lobisomens e assombrações. Choro assistindo a um bom drama. Quero amar da forma como vi em algum romance. Sou louco por filmes de máfia e do período da Recessão Americana. Hoje em dia tenho prazer com as produções nacionais, diferentes das pornochanchadas antigas. Assisto a, mais ou menos, cinco filmes por semana, fora aqueles que eventualmente passam nos quatorze canais específicos que assino.
Gosto de carros. Sem restrições, qualquer tipo me atrai. Tenho predileção pelos antigos nacionais que a maioria dos antigomobilistas adoram, como: Maverick, Opala, Puma, GTB, Miúra e Galaxie Landau. Sou louco por esportivos importados, tive inclusive um Honda Civic que era o meu xodó, mas fui obrigado a vendê-lo. Gosto de me sentar ao volante e ouvir o barulho do motor ao virar a chave e levantar os giros. Dirigir é mais do que uma simples necessidade, é uma válvula de escape. Quando estou na estrada, faço questão de abaixar os vidros e deixar o vento bater em meu rosto. Gosto de ver a estrada pelo pára-brisa e saber que estou no controle. Amo velocidade, e às vezes exagero no acelerador, mas também curto uma volta bem devagar, observando o mundo passar a minha volta.
Gosto de plantas, de cultivá-las, de orná-las em pequenos vasos cheios de pedrinhas e musgos diversos. Quando estou com as mãos sujas de terra, delicadamente ajeitando as raízes, parece-me que esqueço as minhas próprias mazelas numa atividade catárticas. Tenho meus bonsai, a única forma de se ter árvores em uma casa sem espaço, e outras de diversos tipos. Perco horas debruçado sobre as pequenas plantas, podo, reparo, aramo, crio estilos, admiro, chego ao êxtase. Ainda encherei a casa de verde, mas tudo tem seu tempo certo.
Gosto de cozinhar, embora não possa comer quase nada do que levo ao fogo. Tenho prazer, pelo menos, em ver os amigos fartando-se com o que faço, e chego a experimentar alguns pratos apenas por vaidade, embora meu médico me repreenda por furar a dieta controlada de ingestão de açúcar, mal dos diabéticos. Aprendi a gostar de saladas e alimentos coloridos naturalmente, mas ainda enlouqueço com uma apetitosa massa.
Gosto de trabalhar, ainda que não receba o valor a que a classe educadora mereça. Realizo-me em sala de aula, quando me sinto responsável por, além de passar o conteúdo exigido pelas grades de ensino, ajudar a moldar um cidadão consciente. Meus alunos são meus amigos e os prezo da mesma forma a que os íntimos. Reclamo bastante, mas por nada largo meu ofício. Acredito na educação, mas não no sistema educacional atual. Espero uma reviravolta nos moldes em vigor, antes que as coisas saiam do controle.
Gosto da companhia dos amigos, por isso abro as portas de minha casa para todos eles, deixando-os tão à vontade como se estivessem em suas próprias. Compartilho do meu pão, da minha água, do meu uísque, do nacional é claro, o importado apenas a um seleto grupo dentro do círculo fraterno. Bons papos, conversas amenas, um programa íntimo em conjunto, tudo isso me satisfaz. Não preciso de agitação todas as noites para me satisfazer, na maioria das vezes sentar no sofá e assistir a um bom documentário, ou mesmo filme, bebendo e beliscando um aperitivo qualquer é muito mais prazeroso do que uma noite entre desconhecidos conhecidos.
Gosto ainda mais de ficar sozinho, embora precise de alguém muitas vezes. Faz parte de minha estranha figura trancafiar-me no escritório e refletir a vida. Já experimentei o convívio em sociedade de diferentes formas, mas preferi a solidão como amiga íntima. Sigo meus próprios horários e não mudo minha rotina por ninguém. Lavo a louça quando quero, arrumo a casa quando melhor me convém. Dito minhas próprias regras e não dou satisfação a ninguém por minhas escolhas. Sou independente, pago minhas contas, batalho pelo meu sustento, não preciso, pois me sujeitar aos caprichos de ninguém.
Gosto de adormecer nos braços da mulher amada, e ainda mais de acordar ao seu lado, mesmo que seja raríssimo, salvo em poucas oportunidades. Gosto de amá-la nesse ineditismo que esta relação representa a mim. Descobri que a felicidade existe graças ao brilho dos seus olhos, mesmo que eu bata no peito para defender meu direito de ser triste, uma vez que a tristeza é parte de mim. Momentos diáfanos ocorrem quando juntos o mundo pára, embora o tempo corra célere, sem respeitar as vontades do nosso pobre coração.
Gosto de pequenas coisas na vida. Eu valorizo detalhes que para a maioria são insignificantes. Tenho minhas loucuras e às vezes sou meio radical com minhas atitudes. Não sou perfeito como nenhum homem é, não sou especial, nem anormal; sou apenas diferente neste mundo de pessoas comuns.
Mas o que eu gosto mesmo é de fazer sexo pela manhã.

Alberto da Cruz
2007, 27 de setembro

Texto publicado em:
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quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Mudança de comportamento entre o passado presente e o hoje

“Se tanto amor dentro de mim eu tenho
E, no entanto, eu continuo inquieto
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais”

Clarice Lispector
O que seria de minha vida hoje se as ações do passado recente tivessem sido outras? Essa é uma dúvida que me permeia o pensamento, mas não porque eu gostaria que fosse diferente, apenas uma estranha curiosidade sem muita importância. Muita coisa mudou na última rotação da Terra em torno do sol. Eu mudei bastante em relação ao que havia me tornado nos anos difíceis, mas se parar para pensar, afirmo que não mudei, e sim voltei a ser quem fui um dia e por variados fatores externos deixei de ser.
Os últimos dias foram bem interessantes, embora nada tenham me apresentado sobre a tecitura do romance, isso já virou rotina. Minha vida pessoal tem me tomado toda a atenção, mas não reclamo, nem a culpo por tal. Na verdade estava mesmo precisando refletir meus momentos e tormentos e esquecer um pouco o rumo profissional, já que passei bons anos investindo em minha profissão e meus anseios literários, deixando, por conseqüência, minha estima e acontecimentos íntimos de lado.
Imerso nesse clima “retrô-saudosista”, lembrei-me há pouco de certas passagens tolas minhas, tão tolas que me chegam a causar vermelhidão na face. Houve um tempo em que eu escrevia tão compulsivamente que nem mesmo os guardanapos de bar escapavam da minha caneta. Não havia um dia em que eu não escrevinhasse num papel qualquer que pairasse em minhas, hoje trêmulas, mãos. Foram tantos escritos que a maioria foi perdida entre um copo e outro de cerveja. Eram momentos pueris guiados por um forte ideal criativo que aos poucos diminui, tudo graças aos contratempos de uma vida desregrada e à beira de um fim triste, mas anunciado. Onde estão meus textos de bar? Onde estão meus delírios embriagados? Onde estão meus momentos de inconsciência alegre? Desaparecidos numa amnésia provocada em uma memória falha, eis a verdade.
Eu, sinceramente, não sei o porquê do afastamento de algo que me é tão prazeroso. Faz tempo que não me dedico aos meus prazeres maduros; faz tempo que não me tranco no escritório e escrevo ou reviso sem me importar com as horas em que, isolado do mundo, tenho apenas o microcomputador como companhia. E por falar nisso, nem mesmo uma boa leitura tem me feito permanecer sentado no sofá como antigamente era comum. Minha mente não pára. Uma avalanche de pensamentos me põe em risco e a única coisa que posso fazer é não fazer nada. Assim, atividades que me fascinam ficam de lado. Romances, poesias, filmes, nada me acalma o espírito revolto. Isso me entristece deveras.
Digamos que a vida breve mudou da água para o vinho na maior parte das circunstâncias que me rodeiam, mas em alguns pontos, o vinho tornou-se aguado sem que eu o diluísse. Coisa estranha, não? Dentre as mudanças, descobri que a felicidade existe. Eu, um tristão assumido desde os primórdios de minha curta existência, experimentei o gosto da alegria, e vi desenhar-se em meu rosto uma série de sorrisos plenos que jamais pude imaginar que fosse capaz. Depois de sair do inferno astral que me meti inconscientemente, parece-me que cheguei ao limiar entre amor e dor; ilusões sôfregas e realidades ternas... e tenho tensão de seguir para o lado positivo, pasmem.
Já não há mais como esconder, também não há necessidade para tal, finalmente me apaixonei como nunca antes, uma mistura de sobriedade e segurança, dando-me bases e esperanças de construir algo, enquanto ar ainda tenho para me encher os pulmões tão maltratados. Não digo que a reviravolta tenha sido impulsionada por sentimentalidades, até porque não seria uma reforma íntima que leva ao crescimento. Obviamente a contribuição tenha sua importância, mas as derrubadas que a vida me deu foram determinantes para uma revisão do comportamento geral. Processo evolutivo em que aprendemos com erros, ganhamos vivência e chagamos à conclusão de que a maturidade chegou. Só não quero que o amor de hoje se transmute em dor e mágoa um dia, realmente não quero, mas se acontecer, de cabeça erguida, será preciso continuar os passos em busca do desconhecido, com as lembranças dos meus melhores dias gravados na alma enamorada... mas não quero nem pensar que acabe, deixemos o futuro para o futuro, mesmo que não haja o futuro, deixemo-lo para depois.
Atualmente venho recuperando os dias de juventude que deixei passar, andando tão preocupado em solidificar um futuro que não foi o esperado. Se os pontos eu tivesse entregado quando as nebulosidades encobriram minhas vistas, já teria desistido, como sempre, e, talvez, tivesse adiantado o relógio à minha hora derradeira. Não estaria aqui escrevendo minhas histórias, bem provável que a última narrativa estivesse pronta antes do tempo, definitivamente.
Um ato realizado de forma impensada desencadeia uma multidão de aborrecimentos inevitáveis, mas um acerto, que mais se parece com um erro no princípio, na verdade é a correção das utopias e quimeras. Digo que hoje não me cabem as ilusões de antes; hoje o tempo me empregou marcas cruéis, portanto sou obrigado por mim mesmo a viver uma espécie de carpe diem pensado. Não afirmo que deixei de ser triste, mas a felicidade em mim existe e cresce, brota, floresce lentamente. Quem sabe ela perdure nos meus dias finais... E que eles demorem um bom tempo ainda para chegar.


Alberto da Cruz
2007, 20 de setembro

Texto publicado em:
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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tenho medo de morrer amanhã

"Se eu morresse amanhã viria ao menos
fechar meus olhos minha triste irmã”
Álvares de Azevedo, Lembrança de Morrer


Odeio começar um texto que não terminarei no mesmo instante em que me comprometi a escrevê-lo. Odeio ser dominado por um maldito relógio. Odeio ser escravo do tempo e ter minhas vontades reprimidas pelo senso de responsabilidade profissional. Por que não podemos fazer o que quisermos de nossas vidas e estipularmos nossos horários independentemente das obrigações? Obrigações não deveriam ser obrigatórias, pois tolhem a criatividade, assassinam a inspiração e deixam tudo com um gosto meio amargo.
Por que então escrevo, já que sei que não chegarei ao fim do último parágrafo? Talvez por sentir uma necessidade monstruosa de expor meus pensamentos e compartilhar com muitos, com poucos ou somente comigo meus lampejos e idéias; talvez por apenas querer extravasar as loucuras que fervilham em minha mente mais insana do que normal... talvez apenas para fazer com que me sinta menos inútil nesta valsa doentia que é a vida. Vamos todos dançar.
Andei alguns dias longe da atividade redentora do meu espírito cansado e corpo doente. A vida passa rápido e o “tempo não pára” para que possamos esperar a tão desejada “hora da estrela”, principalmente no meu caso. Cada dia passado é um a menos no meu contador. Alguém me espera e eu sei quem é. Já vi a sua “cara” e não a achei assim tão linda.
Tenho medo de morrer amanhã. Tenho medo de escrever meu último texto; tenho medo de vê-la pela última vez... e partir desta esfera sem me despedir como desejo; tenho medo de não ver o sol nascer, de dormir e não acordar. Eu não quero morrer amanhã, embora não seja possível escolher. “Morrer não dói”, mas viver é um sofrimento inevitável que temos de enfrentar enquanto respiramos. Acho que é por isso que luto contra o sono e as horas silenciosas da madrugada. Preciso registrar meus pensamentos enquanto ainda tenho lucidez... mesmo que parca. Embora eu queira mudar o mundo, se não para muitos, pelo menos para aquelas pessoas que me cercam, contento-me somente com fazer a diferença na vida de alguém, ter uma razão, nesta passagem calamitosa, na vida. Poder fazer com que as pessoas se lembrem de mim por algo de bom que eu tenha feito. À noite, deitado em minha cama, temo ser esquecido... ou lembrado pelos meus erros, não pelos meus sucessos. Isso faz da vida um desespero, essa vontade de construir algo que perdure e transcenda a minha tediosa realidade. Eu preciso construir algo bom antes que minha luz se apague. Por isso tenho medo de morrer amanhã.
E se morrer tão logo nasça o dia, não terei dito adeus, nenhuma palavra de despedida àqueles que tanto estimo, nem mesmo um suspiro de consolação ao meu amargo fim. Dá-me agora vontade de pegar o telefone e ligar para meus pais; dizer que os amo acima de tudo; pedir desculpas pelas minhas desobediências na infância, pelos meus erros na adolescência e pelos meus ais de agora. Queria deixar bem claro que a culpa de eu ser assim não é deles, não é minha, e sim do acaso, do destino ou da má sorte que me ruiu os dias. Queria dizer ao meu jovem irmão que lamento não ser o seu exemplo, não estar presente nos momentos importantes de sua vida, que sua existência me fez lutar contra a praga mortal que me dilacera inteiramente. Gostaria de carregá-lo no colo como fazíamos quando eu tinha forças para lançá-lo às alturas e agarrar seu corpinho, sorrindo como ele, como uma criança feliz. Queria poder ligar a Ela e dizer-lhe o que encontrei a felicidade em seus braços, como sua voz infantil me acalentou nos momentos de mais intensa crise, como seu sorriso me forçava a resistir às plagas da dor. Infelizmente o adianto das horas inviabiliza a necessidade pungente de discar os meus dois números telefônicos tão queridos, por isso a dor da alma transcende a dor do corpo.
Pode ser que eu não morra amanhã, mas não ouso dizer-lhes o que grita em mim. Não quero assustá-los com minha incerteza, não quero que vejam em mim a “luz negra” apagar-me os sonhos. Causar tristeza nos que me amam enquanto ainda respiro seria um golpe ainda mais desumano ao meu pouco futuro. Prefiro vê-los sorrindo, prefiro fazê-los acreditar que estou bem e ando a arquitetar uma vida plena de objetivos. Pena que, para mim, sejam apenas continuar um pouco mais entre eles.
Dói-me olhar para trás, enquanto passa o meu curta-metragem, e lembrar que por vezes tentei contra minha existência; que pensei em desistir de tudo, vazar a cabeça com um tiro, lançar-me de um edifício, tomar dezenas de antidepressivos e agora, que mal me sustento, rezo em silêncio por um pouco mais. Mas me entregar à dura realidade do meu prazo também não seria uma forma de suicídio? Ou seria um modo louco de desistir da luta inútil, já que todos têm o mesmo fim? A consciência humana é mesmo problemática. Vivo em dicotomia, numa antítese crucial: viver para morrer “versus” não morrer para viver. Mas como um exclui o outro, embora rumem ao mesmo fim, sou prisioneiro desse paradoxo complexo da existência.
Estou fraco. Choro como um último bálsamo ao inevitável. Minha forma de encontrar alívio aos meus pecados é isolar-me em mim, trancafiar-me no pouco que me resta de paz. E mesmo assim até o que me tranqüiliza assusta. Estou em pedaços que jamais serão juntados, estou a um passo do desconhecido, a um passo de chegar aonde a luz brilha intensamente e não há mais volta.
Penso em como serei lembrado, se é que o serei. Minhas composições muito provavelmente serão enterradas comigo, algumas esquecidas em gavetas ou perdidas entre tantas folhas. E todo o esforço e dedicação aos quais me empenhei tão arduamente não terão valido nada. Todas as noites, debruçado sobre uma mesa calejando os dedos com a caneta, terão sido inúteis como fora a minha vida. Logo eu que tive o sonho de um dia ser alguém, de ser reconhecido por uma utopia. Se eu tivesse tempo para amadurecer minha literatura medíocre, talvez eu fosse lembrado, sem honras, mas lembrado e, quem sabe, homenageado de alguma forma num evento menor. Mas não!
O amanhã está próximo, e eu não quero morrer sem dizer perdão e adeus. Realmente não quero... mas não depende de mim, infelizmente não.

Alberto da Cruz
2007, 11 de setembro

Já lustrei meus sapatos

A tarde é fria. Eu já não sei que graça tem a vida. Meu coração, de luto, palpita. Certas coisas trazem à luz um sentimento obscuro de partida; a minha partida. Esvaindo-se lentamente, a essência vital da juventude me abandona a cada dia. Não tenho mais prazeres, não me restaram dos sonhos a esperança. Tudo morre um dia, nada é eterno, tampouco tem pretensões de ser. È inevitável lutar contra o único fato derradeiro, quando não se há mais soldados nem guerreiros.
Eu deixo a vida, não hoje, mas ao poucos. Lutar? Por que haveria de cansar-me com uma batalha que antes mesmo de iniciar-se já está perdida? A morte me rodeia, me enlaça, abraça, me beija. Acaricia-me a testa, desce à minha nuca, segura-me nos ombros. Consolo último nos dias de sofrimento elevado. Não tenho medo, mas a ponta da melancolia me faz chorar. E essas lágrimas em silêncio e segredo que me escorrem pelo rosto amargurado aliviam a dor do desengano.
Se eu tivesse um revólver não pensaria duas vezes, poria em prática o gesto malfadado, exteriorizando meu sangue doente em troca de um pedaço de chumbo. Mas não posso adiantar o futuro. Falta-me coragem. Apesar disso, é inevitável dizer que a sorte me abandonou. A morte é uma donzela à espera da valsa. Já lustrei meus sapatos. Aguardo a orquestra.


2007, 07 de setembro

domingo, 2 de setembro de 2007

Salve a estupidez humana

Estou cada vez mais relapso com as postagens e ainda mais displicente com os textos. Culpa da vida atribulada que não me deixa espaço para nada mais do que as inúmeras atividades profissionais? Não, definitivamente não! O culpado sou eu mesmo e minha incondicional preguiça melancólica. Passei esta semana, digamos, na flauta; trabalhei pouco devido a uma série de fatores inerentes a mim, mas não reclamo, apesar de que na semana passada o labor foi muito mais brando, já que fui acometido por uma estranha virose que me derrubou por quatro enfastiados dias. Embora o tempo que tanto almejei tenha surgido, não consegui concentração para realizar nada do que me objetivei a fazer. Vi alguns filmes, li poucas páginas de Risíveis Amores e só. Fui incapaz de pôr em prática o meu segundo ofício e agora peno as plagas da insatisfação própria. Nova semana começando e, para piorar, é chegado o momento de planejar testes e provas para o fechamento do bimestre. E lá se vai meu tempo.
Novamente o Conto Conspiratório ficou de lado e já acumula teias de aranha. Parece brincadeira, não é falta de compromisso ou seriedade com a história; realmente esse projeto me enche os olhos, mas estou atravessando uma fase tão difícil que me é penoso abraçar essa empreitada e dar cabo da história. Uma novela mexicana, é assim que eu me refiro a ele. Para piorar, já faz algumas semanas que não converso com Jean e a distância que nos encontramos só tende a piorar as coisas. Preciso agora me empenhar ou perderei uma nova oportunidade. Fui convidado a participar de um bom concurso literário, cuja premiação é tão boa quanto o outro, e ainda não rabisquei nenhuma linha. Até poucas horas não sabia sequer sobre o que poderia escrever, mas graças a uma incômoda dor de dente, tive a idéia para tecer uma historinha de suspense para enviar à editora. Resta-me agora amadurecer a idéia, criar as personagens principais, definir tipo de narrador, tempo e espaço para enfim começar a labuta. Para a mesma editora, enviarei também dois poemas com o mesmo intuito, concurso. A dúvida é se devo quebrar a cabeça escolhendo-os dentre os que já foram compostos ou se escrevo dois inéditos e exclusivos para a participação neste concurso. Ruim por um lado, tenho ojeriza a concursos desde que me aborreci com as falcatruas dos últimos que participeis; bom por outro, pois só assim posso ter a medida certa do meu amadurecimento depois de ter renovado o contrato editorial e simplesmente ter me limitado a dois pequenos volumes de poesias, alguns contos e esparsas crônicas sem muito valor. Quero ver como me saio depois de tanto tempo sem me expor ao crivo da crítica especializada.
Não posso só dizer as coisas ruins destas últimas semanas. Mais idéias surgem e não dou cabo delas. Acredito que eu deva trabalhar com idéias, pois as tenho uma atrás da outra numa propulsão maior do que minhas pseudo-habilidades. Deveria anunciá-las em classificados de jornais e vendê-las a preço de custo: Vendem-se idéias de todos os tipos. Preço de ocasião, pois elas me surgem, se desenham e se vão sem dizer adeus, porque eu não sei aproveitá-las. Isso me irrita. A última me apareceu lacerante depois de um dia dificílimo em que pensei tenazmente em pôr fim à sofreguidão dos meus dias. Mal como de costume, rotina esdrúxula, ouvia Cazuza e tive vontade de assistir a O Tempo não pára, com Daniel de Oliveira dando um espetáculo de interpretação. Terminado o filme, voltei a ouvir o poeta miserável levado muito cedo para a eternidade. Acho que pela primeira vez fui além do óbvio na poesia de Cazuza. Descobri nele um lirismo marginal, embriagado e decadente. Resolvi que escreveria um ensaio sobre sua obra, depois, já com a preguiça, um artigo. Como estou sem paciência, decidi por apenas um “textinho” sem muito aprofundamento sobre este ícone da música dos anos 80, que assim que estiver esboçado vai encher a caixa de e-mail dos amigos. Começo com uma nota apenas e algumas letras, depois, dependendo da aceitação, envio um texto decente a altura da grandeza do poeta. Torçamos para que eu não desista no meio do caminho e pare com o proposto... como já me é de praxe.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Uma semana daquelas



Felizmente a semana acabou. Entramos agora nos últimos dias de agosto, o mês do desgosto. Chega a ser hilário, pois eu nunca acreditei muito em certas crendices como essa, mas as tempestades do oitavo mês do ano me comprovaram o quanto as previsões estavam corretas. Logo nos primeiros dias já imaginei que seria um período difícil, pelo lado financeiro principalmente, porque passei dos limites bancários no recesso com uma imensidade de gastos não previstos e ainda um verdadeiro prejuízo com o civic, o que de fato me levou a vendê-lo, apesar de, no fundo, não querer me desfazer do sonho automobilístico da juventude. Fi-lo por não querer mais ter as dores de cabeça constante, nem ser motivo de alegrias para o mecânico. O que gastei com o bendito em um ano poderia facilmente quitar as prestações que faltavam no banco. Mas não adianta ficar lastimando o desfecho da novela. Ele se foi e espero que ainda sobreviva por mais alguns anos, pois guardo ótimas recordações dele, apesar dos contratempos e certas decepções que o potente carrinho me fez ter... mas algumas lembranças ficaram impressas na memória e jamais se apagarão, disso tenho certeza. Além disso, os débitos constantes e a dívida com os cartões chegando a níveis exorbitantes fizeram com que eu segurasse um pouco os gastos e ter mais controle sobre meus impulsos capitalistas. Agosto tem sido um mês complicado, mas, próximo do fim, espero respirar aliviado nos próximos dias.
Com todos esses entraves, tornou-se praticamente impossível dedicar-me a qualquer outra atividade. A cabeça pesa diariamente uma tonelada e me faz prostrar sem conseguir ler, estudar, escrever e trabalhar bem. Minha saúde também afetou, além do corpo fatigado, meu pensamento. Acabei por me enfraquecer e cai de cama nesta infeliz semana. Quase não trabalhei, e quando o fiz, fiz mal, muito mal.
No lado afetivo, as coisas também não acorreram bem ao meu favor. Embora alguns momentos tenham sido pinturas perfeitas, ou excelentes poesias, brigas por pequenos e insignificantes detalhes acabaram por minar o que poderia ter sido, e não foi, um perfeito fim de semana. Não é novidade dizer que eu e ela brigamos novamente, basta que saíamos um dia para que nossa noite termine em uma discussão cansativa às quatro da manhã. Dessa vez, ao meu contentar, não estava com o carro, novo e muito zelado ainda, portanto exagerei nos copos que levei a boca na sexta-feira e terminei, depois de muitas palavras duras, com a cara enfiada no vaso do banheiro de Mariana, pondo para fora tudo o que ingeri no dia. Passando muito mal, não pude voltar para casa e terminei por dormir fora. Fazia tempo que não tinha uma boa noite de sono, lado positivo, pois acordei revigorado... Precisava disso, afinal a sexta foi uma sucessão de momentos cansativos: dentista pela manhã, lavar dois carros à tarde, voltar a trabalhar no último dia produtivo da semana, no turno da noite ao meu pesar... e para finalizar uma tentativa frustrada de diversão no Caiçara, ao som de violão e cerveja. Não havia como terminar bem.
Problemas resolvidos, tudo transcorria bem até toparmos com outro mal-estar: Paraty, Festa da Pinga, Zeca Baleiro, eu sem dinheiro, Mariana irritada. A soma de todos esses fatores nos levou a outra briga, mais uma para nossa coleção.
Há quem se espante com tantos desentendimentos, mas mais do que eles, há as reconciliações e os momentos plenos de harmonia entre nós, e esses são impagáveis, indizíveis, indescritíveis, incríveis. Portanto mesmo que ainda estivéssemos chateados um com o outro, acabamos por vir aqui para casa e, no marasmo que essa casa é, principalmente num sábado à noite, resolvemos assistir a Psicose II(faltam ainda as duas últimas continuações agora) e melhoramos um pouco o astral, embora houvesse ficado um clima tenso entre nós, causado por vontades e limitações diferentes. Hoje nos vimos somente há pouco, mas, aos meus olhos, tudo caminha para uma reconciliação plena, afinal passamos poucos, mas bons momentos juntos.
Outra nota ruim é que, como não consegui nenhum texto de “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues, não pude escrever a crônica pedida pela Nova Fronteira, em conseqüência não fiz o curso, tampouco participei do concurso literário, cuja premiação fizera meus olhos brilharem. Felizmente, uma nova oportunidade me surgiu e, dessa vez, vou esforçar-me ao máximo para cumprir o prazo estipulado para a entrega do material: dois contos e dois poemas. Acredito que chegarei à conclusão desse projeto em tempo hábil, mas tenho a impressão de que não conseguirei alcançar meus objetivos, embora, obviamente seja a minha vontade e salvação financeira.
Vejamos aonde o barco me levará. Espero que seja para um porto muito seguro, ou temerei o naufrágio de minha nau neste mar inescrupuloso editorial.

Alberto da Cruz
2007, 26 de agosto

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Algumas canções: meu crepúsculo

Não sei se é por que estou um tanto quanto triste, deveras chateado com o andar inapropriado da carruagem onírica das minhas ilusões que revisitei algumas canções que me arrebatam o peito descontente e me forçam lágrimas em muitas vezes compulsivas. A Tristeza é inerente às vontades, revolve o corpo e impregnam um mal estar constante. Hoje até mesmo o tempo colabora ao tom dos meus ais. Faz frio como há muito, as nuvens cinzentas estão baixas no céu e a chuva é iminente. O vento é fraco, mas gélido; arrepia os pêlos dando uma sensação térmica muito abaixo do que realmente é. Apesar de ser cedo, tenho a impressão de que o meu crepúsculo logo se aproxima e cobrirá tudo com um pálio sombrio e assustador. Tenho medo.
As músicas relacionam-se intimamente com nossos sentimentos, sejam eles bons ou ruins, provocando uma intensificação dos nossos momentos. Particularmente, ligo-me as de tom harmônicos e letras de profunda tristeza e desilusão da vida, do amor, dos relacionamentos, principalmente do fim dos relacionamentos e das amarguras impregnadas no cerne do homem sentimentalóide, eu mesmo. Algumas músicas entram em uma sintonia tão fina com nossas dores que temos a sensação de que foram feitas para nós, de que falam de nossos problemas, de que conhecem os motivos implícitos, por vezes evidentes, de nossas mágoas.
Incrivelmente certas músicas são atemporais, outras superam os limites do cantor, e ainda há aquelas que o conteúdo textual é, em primazia, uma perfeita composição literária digna de excelente poesia. Por tal motivo escrevo este pequeno texto, além, é claro, da sombra tênue que rouba meu sorriso. Fiz uma pequena seleção musical para alimentar, como dizia Cesário Verde, “o meu desejo absurdo de sofrer” e dentre as minhas escolhas, encontrei inspiração, na verdade uma mola motriz, para enfim quebrar a abstinência textual que me persegue cada vez mais forte. “Feelings”, de Morris Albert, iniciou a tormenta, em seguida ”O mundo é um moinho”, de Cartola, cantada pelo meu poeta contemporâneo predileto, Cazuza, além de outras que anexo neste lamento, praticamente me obrigaram a estancar os olhos orvalhados e produzir sobre minha amargura lacerante. Um saldo positivo dentre tantas negatividades.
Ao final desta overdose de músicas tristes e ora apaixonadas, se faz mister saber se erguerei a cabeça e me preparo para enfrentar as vicissitudes ou me conformo e vazo a cabeça definitivamente com um projétil plúmbeo.

Alberto da Cruz
2007, 22 de agosto

O Mundo é Um Moinho - Cartola
Não Vá - Sandra De SáSonhos - Peninha
Vida Minha - Peninha
Preciso Aprender a Ser Só - Marcos Valle/Paulo Sergio Valle
Fênix - Flávio Venturini / Jorge Vercilo
Carta - Toranja
Dá-me Ar - Toranja
Adeus Você - Marcelo Camelo
Além Do Que Se Vê - Marcelo Camelo
Quem me leva os meus fantasmas - Pedro Abrunhosa
Piano Bar - Humberto Gessoger
Gota D’Água - Chico Buarque
Falando Sério - Roberto Carlos
Os Outros - Leoni
Espumas ao Vento - Fagner
Estranha Loucura - Alcione
Lanterna dos Afogados - Herbert Vianna
Quase um segundo - Herbert Vianna
A cançao tocou na hora errada - Ana Carolina
Vestido Estampado - Ana Carolina
Mentiras - Adriana Calcanhoto
Esquadros - Adriana Calcanhoto
Como nossos pais - Belchior
Diga a ela - Thedy Correia
O Pastor - Pedro Ayres Magalhães / Rodrigo Leão / Gabriel Gomes / Francisco Ribeiro

domingo, 19 de agosto de 2007

Transitoriedade, tudo é adaptação

Acostumamo-nos a tudo na vida. Nada é eterno, apenas dura o tempo necessário para que aprendamos algo, seja com aspectos positivos, seja com aspectos negativos. Tudo é transitório, não podemos, pois, nos habituarmos tanto com as situações, relacionamentos ou bens materiais que possuímos, pois, sem eles, ainda temos vida, e devemos levá-la sempre da melhor maneira possível.
Abro aqui um parêntese. Os amigos, que me conhecem de longa data, devem pensar que alguma coisa me aconteceu ou, talvez, que eu esteja enfrentando um momento de alucinação ou pane-mental; afinal, eu, Alberto da Cruz, refletindo positivamente sobre transitoriedade da vida não é muito comum. O que posso dizer, e confirma minha tese, é que tudo é adaptação. Obviamente não deixei de lado minha peculiar soturnidade, nem tampouco abdiquei do meu jeito sorumbático (lindo adjetivo) de ser, mas diversos fatos me fizeram encarar a vida com uma óptica menos pessimista, dando chances a um otimismo bobo. Não se assustem, porque ainda sou o mesmo, apesar de diferente (?!).
Pensei agora há pouco nisso. São quatro da manhã, eu acabei de guardar o PUG na garagem (em breve falarei dele) e vinha “subindo a serra, cego pela serração”. Em curtos flashes, minha vida amena passou pela minha cabeça como fotos num álbum virtual. Fases da vida e as suas mudanças. Em pouco tempo o rumo mudou tão completamente que chega a assustar. Sem enumerar os fatos por ordem de importância, passemos por algumas reviravoltas.
Apegado a família, em 2000 deixei a segurança da casa de meus pais para me aventurar na fria Valença. Quando voltei, não esquentei lugar e em menos de um ano não era mais solteiro, tampouco meu antigo quarto me acolheu. Casei-me cedo e fui seguir meus passos, pensando em não sei o quê. O casamento não deu certo e me separei rapidamente, depois de diversas frustrações que não cabem aqui. Separado, não demorei muito para me apaixonar perdidamente de novo. Num curto espaço de tempo, Mariana entrou em minha vida (e espero que continue por tempo indeterminado) e fez tudo mudar novamente. Pela primeira vez experimentei as sensações boas de uma relação, apesar do nosso complicado início, e este mês fazemos um ano desde que experimentei seu hálito em minha boca. Desnecessário dizer que até me acostumar com seu jeito tão diferente do meu e de outros fatores cruciais que muito pesaram em nosso romance sofri as duras plagas da adaptação. Mas essa batalha foi vencida, e muito bem vencida. Se hoje não somos perfeitos, nem um casal modelo, pelo menos temos, do nosso jeito, uma nota harmônica bem bonita. Do costume da vida a dois para a vida solitária, talvez tenha sido o mais difícil ato deste teatro, mas, mais uma vez, com dificuldades, estou me habituando ao silêncio, ao tamanho da cama, ao almoço sozinho e, o principal, à paz que tanto ansiei nos momentos de crise.
Materialmente, automotivamente, o mesmo se deu, do corsa que tanto padeceu em mãos impróprias, mas que me cativava um sorriso, ao honda civic, o marmita, que elevou meu status e inflou meu ego, ao peugeot 306 que me encantou. Dirigir um carro novo é sempre complicado nos primeiros dias, assim foi com os dois últimos e não é diferente agora. Preciso me adaptar ao novo. Questão de tempo e prática.
Dizer que não fiquei triste quando passei para as mãos do vendedor a chave do japonês brilhoso seria uma mentira deslavada. Quando o dirigi pela última vez hoje, tive a sensação de que deixava um grande amor para trás. Mas a vida é assim, não é mesmo? Ao menos pude pisar fundo uma última vez e sentir o vento me balançar o cabelo.
Um prazer indescritível!!!

sábado, 18 de agosto de 2007

Uma nota triste

Já faz algum tempo, Jean e eu, em uma de nossas quintas-feiras de uísque e culinária, tivemos a idéia de criar uma personagem, ou atribuir a alguma já imaginada, um hábito que me é peculiar: trabalhar com bonsais, aquelas arvorezinhas orientais criadas na China e difundidas pelo Japão. A personagem seria um bonsaísta, utilizando a arte secular da miniaturização para harmonizar-se com seus planos mais do que suspeitos. Era uma forma de aproveitar minha paixão pelas árvores, utilizando-a no romance, a fim de dar à personagem em questão ares mais humanos, uma vez que ele seria um dos antagonistas da narrativa. Assim, ele devotaria suas virtudes benéficas no cultivo das plantas, criando perfeitas florestas artificiais de tamanho reduzido. Fiquei feliz com a idéia e esbocei algumas cenas em que Ele (a personagem ainda não tem nome e em todas as suas referências utilizamos o pronome como se fosse próprio, uma espécie de deus) arquitetava suas investidas, envolto em uma imensidão de galhos e folhas, as mãos sujas de terra e apetrechos de jardinagem também utilizados para ceifar a vida daqueles que atravessavam seu caminho.
Todo o pensamento para a concepção da referida personagem se deu por minha coleção de bonsais, minha alegria. Algo surpreendente que faz com que meu estresse diário se dissipe ao aramar um galho, decorar um vaso com pedrinhas, podar os excessos, fertilizar as folhas, plantar novas árvores. Amo-os como filhos e, por isso, a nota triste de hoje. O belíssimo fícus ganthel morreu... e a culpa foi minha. Nas férias, passei alguns dias fora e ele não suportou as horas sem cuidado. Por azar, os dias estavam muito quentes e a exposição ao sol foi muito intensa. Fiz o possível para salvar os brotos, mas eles não resistiram. Ainda me esforcei para manter o caule, mas em vão.
Resta agora torcer muito para que as raízes ainda tenham uma sobrevida. Pelo menos estão com um pouco de seiva e daqui a alguns anos é possível que venha a crescer de novo, desde que eu reze muito para que exista uma volta da morte para as pequenas plantas.
Pelo menos com essa triste experiência, poderei ser mais verossímil com minha personagem insana. Menos mal!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ON The Edge



On, vai ficar extremanete complicado escrever no blog agora por causa do meu maldito teclado. Agora ele nao tem mais as cedilhas os acentos apropriados , por isso tentarei manter um caminho que fique longe desses destinos tipograficos.



Mas vamos ao que interessa que 'e extamente viver e escrever.

Como voc^es ja sabem, estou na ensolarada California comecando algo muito louco na minha vida. E tudo aqui esta acontecendo da maneira mais intesa possivel. Cada detalhe por aqui e importante e tem ate me faltado energia para fazer as coisas, diante de tantos trabalhos a ja serem feitos. Mas tem sido a experiencia masi incrivel da minha vida.As pessoas incriveis que estao sendo incorporadas em minha vida, as experiencias, mesmo nos primeiro dias, ja marcantes, a intensidade voraz dos trabalhos dado pelos professores(que na verdade por enquanto e sometne m e ele se chama P hat...na verdade e Phat Vu, ele e vietinamita). A saudade tem sido enorme, mas tenho tentando nao pensar muito nisso para nao sobrepujar os acontecimentos daqui. Eu preciso de todo meu foco pra continuar trabalhando firmemente.

Nao vou falar muito mais porque eu realmente tenho que dormir, mas saibam que as coisas estao pretty much intense aqui em cima.

domingo, 5 de agosto de 2007

Decepções acontecem...

Decepções acontecem quando menos esperamos e por motivos inacreditáveis. Hoje, embora quisesse, não vou falar sobre o texto, este difícil projeto ou qualquer outra obrigação no campo das letras, até porque não fui capaz de me sentar em nenhum momento nesta semana para escrever o que quer que fosse. Briguei com as palavras como se elas fossem uma mulher cheia de melindres e gestos vaidosos; como se fossem uma mulher... e todas as suas manias irritantes. Nesta semana eu apenas vivi a vida e julguei-me extremamente feliz, pelo menos até ontem.
Comprovei a máxima de que só se escreve, somente nos dedicamos à composição de um texto, quando somos acometidos de um mal, algo que nos deixe descontente com o mundo a nossa volta e nos force o pensamento para manifestar nossas angústias diante as dificuldades da vida. Quando se está bem é impossível escrever, afinal há tanta coisa melhor a fazer do que gastar o tempo precioso de uma rotina quando se é feliz. Mas hoje estou a escrever...
A semana foi confusa demais e quebrou minhas expectativas logo no primeiro dia. Programado para voltar ao trabalho no dia 31 de julho, já havia me planejado para suportar a carga horária exaustiva que enfrento para ter uma vida mais digna. Assim, segunda-feira, ainda sob os efeitos do fim de semana, fui ao trabalho. Acordei às seis da manhã e sete horas já estava em sala de aula, empunhando meus livros, diários e vontade de lecionar, mas não havia sequer um aluno para assistir às minhas aulas. A história se repetiu durante toda a semana, pelo menos na escola estadual. Em contrapartida, no Jean Piaget tudo estava normal e pude cumprir meu papel, com um ademais: retornei somente com as disciplinas que me competem, deixando a cadeira de Produção de Texto para uma nova professora. Menos dinheiro ao fim do mês, mas mais tempo para mim e minhas necessidades psicológicas e físicas. Eu realmente estava ficando cansado de abraçar tudo ao mesmo tempo, o que é engraçado, pois há dois anos eu lecionava Língua Portuguesa, Literatura e Produção de Texto para mais que o dobro de turmas e não me fazia tanta diferença. Mas é necessário dizer que na época eu não tinha vida social. Fazia o caminho casa-trabalho-casa diariamente sem ter mais para onde ir. E não me venham dizer sobre os braços frios a quem eu retornava ao final do dia.
No campo das sentimentalidades houve um bom progresso até mesmo inesperado, uma vez que depois das constantes discussões sem grandes fundamentos, finalmente chegamos a um ponto harmônico e prazeroso. Parece que finalmente deixei de lado algumas das minhas debilidades emocionais e me abri mais facilmente às novas experiências, esquecendo alguns (eis o problema) dos meus segredados medos e traumas oriundos de sucessivos fracassos que me deixaram marcas profundas (odeio frases feitas, mas essa é a que melhor cabe) e me fizeram construir uma barreira de proteção onde não deveria haver nada. Talvez fosse reflexo de um início conturbado em que os conselhos que recebia por parte das pessoas que me rodeiam com mais familiaridade levaram-me a posicionar, não só um, mas ambos os pés atrás, a fim de me proteger de uma eventual queda prevista pela maioria. Com calma, no passar dos mês vindouros a esse fato, segui as palavras amigas e inconscientemente alicercei essa muralha entre mim e Mariana. Aos poucos fomos nos conhecendo melhor, apesar de ainda nutrir receio, deixei que o sentimento crescesse mesmo moderado. Entretanto todo o comedimento não foi suficiente para que o grau de afinidade chegasse à proporções extremadas, beirando o limite entre sanidade e loucura. Tanto mudou, tanto mudei depois de que ela me mostrou o quão a existência pode ser agradável, que inevitavelmente abracei com demasiada intensidade essa nova vida; e sem perceber avancei os pés, esquecendo os alertas. Mas a barreira continua, ainda existe, embora esteja num processo contínuo de desconstrução. Isso é bom, mas poderia ser melhor se os meus fantasmas deixassem de me assombrar quando situações semelhantes (mas não iguais) acontecem e me amedrontam como um filme clássico de horror (e poucos foram os que realmente me assustaram).
As melhoras referidas me arrebataram um sentimento positivo, porém ontem meus medos afloraram e o que ia bem, de certa forma, regrediu, causando um mal estar constrangedor. Não sei o que me acontece, mas minhas variações de humor me irritam. Por uma palavra mal empregada e uma idéia errada, pus na lona um dia perfeito, permanecendo mais de quatro horas sem dizer uma palavra. Às vezes eu me irrito com essas minhas palhaçadas oriundas de um estúpido orgulho vaidoso.
Ninguém é perfeito, e longe de mim ter a perfeição como meta, mas ser um pouco melhor não seria mal nenhum.
Nova semana começando. Ainda restam alguns filmes para ver e meios de formular uma desculpa para mim mesmo. Vejamos o que acontecerá nesses vindouros dias; principalmente por causa da legião de textos que preciso escrever e a imensidade de leituras que tenho urgência em fazer. Espero que seja algo positivo diante tantas tempestades.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Façam suas apostas, a roleta começou a girar

Sono!
As pálpebras pesam um quilo ou mais cada uma. Encobrem as órbitas vermelhas de cansaço, fazem-me ver o mundo escuro sob a cortina negra da minha fraca força de vontade. Preciso dormir. É necessário fechar os olhos e viajar por terras oníricas onde os castelos de areia são habitados. O corpo pende sem sustentação, deseja cair sobre a cama macia e entrar em letargia. A mente beira um torpor absurdo... mal me mantenho. Mas não entrego os pontos, ainda não. Jurei a mim mesmo escrever algumas linhas diariamente... logo, se não fui sensato o bastante para me dedicar ao ofício quanto respondia plenamente por mim, sou obrigado agora a lutar contra minhas limitações para dar vida a um parágrafo ao menos. Tenho sono, mas insisto em permanecer no mínimo 1 hora diante da máquina. Se eu quiser terminar minha parte no romance, sou obrigado a sacrificar alguns minutos de repouso em razão de algo maior. Tenho de vencer minhas limitações, ignorar minhas debilidades psíquicas, extrair o pouco de idéias que me restam nesta fria noite de julho.
Mais um mês se esvai na ampulheta da vida. Menos tempo nos resta sobre a terra... e mais uma vez enfrento meus fantasmas. Parece piada, mas escrever o romance se torna cada dia mais difícil e trabalhoso. Não porque fujo ao texto ou invento desculpas para não terminar o que me propus a fazer; acontece que, estranhamente, mais e mais compromissos aparecem. Já havia dito anteriormente que me comprometi, além do Conto Conspiratório, com a criação de um conto erótico para Luisa, com a compilação de uma antologia poética e também com a revisão dos contos de “Pesadelos no Paraíso”, sem falar da revisão de “Obsessão: a verdade sobre meu pai”, que depois de lê-lo pela última vez, tive vontade de reescrever várias passagens; e ainda dar cabo a correção de “Paixões Perigosas”, que dado o tempo de distanciamento do texto, é chegada a hora de revê-lo com olhos críticos. Não me bastasse essa imensidade de trabalhos editoriais, aceitei o convite da Nova Fronteira para escrever um conto inspirado nas “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues. Parece que ao invés de diminuir o quantitativo de trabalho, aumento-o de forma sufocante. O grande nó que me sufoca consiste em ser obrigado a resumir ainda uma das obras de Nelson antes de escrever o meu próprio trabalho. Pensei em declinar do convite, mas três mil reais é muito tentador em épocas de “faltura” para inventar uma desculpa qualquer para não escrever a narrativa.
Outro problema é relativo ao prazo de entrega. Eu, que odeio prazos, sou obrigado a entregar o material à Nova Fronteira em menos de vinte dias, portanto será preciso me organizar muito bem, além, é claro, de priorizar alguns desses trabalhos inadiáveis. Resta saber qual tem menos importância no momento. Às vezes queremos abraçar o mundo com as mãos e nos dá uma tristeza arrebatadora quando descobrimos que o mundo é grande demais para conter nossos sonhos, ou pior, nossas mãos são deveras pequenas para segurar nossas ilusões.
Para piorar minha série de negativas, resolvi, depois de muita insistência por parte de Mariana, se não parar, diminuir os cigarros que me acompanham faz tanto tempo que não me imagino sem eles. Estipulamos o dia 1 de agosto para nossa troca: eu paro de fumar desde que ela se alimente melhor. Estou disposto a tentar, afinal há quinze anos levo à boca essa fumaça sem gosto, tenho este odor desagradável e perdi todo o fôlego para qualquer atividade física. Sei que a tarefa será das mais difíceis, mas preciso arriscar em prol de minha saúde. Quem sabe minha taxa de glicose se normalize agora e eu pare de me perfurar diariamente com aquelas insuportáveis seringas de insulina. O esforço será válido, basta saber se conseguirei escrever da mesma forma, já que é-me habitual baforar meus cigarros enquanto escrevo. Mas, parando para pensar, faz tanto tempo que não escrevo algo consistente e duradouro que é bem provável que a falta de nicotina não faça a mínima diferença. Vamos esperar para saber. O primeiro passo já foi dado ontem: diminuí a quantidade de “Luckys” e troquei meu peculiar filtro amarelo peles filtros brancos. A diferença é grande e a vontade de fumar mais do que o normal tem sido maior, mas a determinação não me deixa fraquejar, pelo menos não muito.
Vejamos o quão longe conseguirei ir. Bom é saber que ontem agüentei cinco longas horas sem nenhum trago. Hoje a meta é ir além, quem sabe seis ou sete horas cheirando bem, sem poluir o ar, sem incomodar ninguém.
Façam suas apostas, a roleta começou a girar.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Imprevistos acontecem

Imprevistos acontecem. Há dois dias havia dito que escreveria sem pausa e fecharia, no mínimo, três capítulos. A idéia era essa; e também acreditei que fosse conseguir, uma vez que estaria isolado em meu mundo particular; nesta sala de paredes marrons e móveis mogno, com meus poemas prediletos fixados nas paredes a minha volta como um mural poético; os pôsteres de Kathy Bates em Misery e uma reprodução belíssima do Overlook Hotel manchada de sangue; com fotos minhas e de Mariana sobre a mesa de trabalho; centenas de livro novos e velhos... ah, o cheiro dos livros, nada como o aroma das páginas envelhecidas. Se eu pudesse encheria o escritório com volumes antigos, pois tenho paixão pelas folhas recolhidas em sebos e saldos que esbarro pela vida em minhas caminhadas displicentes. Por falar nisso, acabei de manusear um exemplar de “A Capital”, de Eça de Queirós, publicado pelos Irmãos Lello, Lisboa, 1914. O valiosíssimo material me custou a bagatela de R$ 1,00. Comprei-o de um senhor que vendia discos de vinil e livros, segundo ele, velhos, em um carrinho de supermercado. Às vezes encontro em minhas andanças preciosidades como essa, por exemplo.
Sem fugir do assunto, previ a paz textual, mas não cumpri. Mariana viajou somente hoje, portanto os dias que me dedicaria ao lapidar das palavras foram substituídos por mais algumas horas dormente aos braços dela. Não estou reclamando, muito pelo contrário. Os instantes que me dedico a ela são impagáveis e insubstituíveis. Nada me é mais caro do que fazer a presença diária seja ao telefone, seja pessoalmente. Portanto, amigos, perdoem-me a sinceridade, mas entre paixões de vida, os braços acolhedores de Mariana ganham em disparada de qualquer que seja o concorrente, inclusive o texto.
Mas antes que pensem que joguei dois dias fora, adianto-me em dizer que consegui escrever um pouco, não muito com deveria, mas o suficiente para fechar um capítulo. Agora Judith espera acordar para descobrir o seu destino imutável (imutável?! Será mesmo?). Acredito que com o que escrevi o andamento de minha parte acelere o processo, basta para isso que me empenhe mais na empreitada... porém ainda me é penoso encarar o computador por mais tempo do que o gasto aqui contando minhas histórias, às vezes tediosa, outras interessantes.
Assistimos ontem a um filme interessante: O Amor Pode dar Certo, cujo tema era o relacionamento entre duas pessoas em estado terminal, vitimadas pelo Câncer. Filmes que abordam essa maldita doença mexem comigo sobremaneira. Não sei se porque passei por uma experiência com a morte, devido a alguns tumores em minha coluna vertebral há alguns anos, chorei como criança perdida numa selva cheia de lobos vorazes.
***
Não terminei o texto, pois meu tempo havia se esgotado. Antes que o terminasse, fui passar o fim de semana com os avós de Mariana no Rio. Assim, a postagem ficou um tanto quanto incompleta, mas amanhã, assim que voltar do trabalho (o recesso acabou para meu desgosto profundo), prometo escrever algo que preste e valha a pena ser lido.
Um forte abraço aos fiéis amigos e um olá carinhoso para os que vêm chegando.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Fim do Intervalo


Fim do intervalo. É hora de voltar ao trabalho “inconstante” da tessitura do Conto Conspiratório (esse nome tem que mudar), afinal, já lá se vai o recesso e o tempo pensado na construção do texto se foi assim como os dias ociosos: rapidíssimo.
Quando entreguei os últimos diários de classe, programei o meu tempo de forma a dar cabo de tudo aquilo que deixei de lado no primeiro semestre, mas, como já previra, sabia que tudo não daria muito certo. Sou péssimo em seguir horários e também quis aproveitar meu tempo livre com Mariana, amigos e família, já que o corre-corre diário sempre nos impede de ficar juntos. Os dias sem trabalho, passei com essas pessoas que me são caras. E fui feliz em cada momento acompanhado por essas almas boas que estivera afastado contra a minha vontade. Obviamente, Mariana levou-me a maior parte do tempo, e isso não teve preço, pois enfim pudemos nos dedicar com maior cuidado um ao outro, o que nos tempos de trabalho e estudo é inviável, apesar dos nossos esforços para mantermos o contato diário, seja pessoalmente por poucas horas, seja ao telefone. Ainda seguindo a linha dos encontros adiados, pude passar alguns dias com minha família, brincar com meu irmão, pedir colo a mamãe e até uma (ta bom, várias) cervejas com meu pai.
O homem precisa do contato com pessoas que ama, viver distante delas por qualquer motivo se constitui um sofrimento íntimo. Precisamos, pois, encontrar um meio entre a loucura da vida para dedicarmo-nos a esses momentos tenros e prazerosos, independente de qualquer revés que nos tome as ações e pensamentos. Eu o fiz.
Aproveitando as semanas de tranqüilidade, recarreguei as energias enfraquecidas, revitalizei os laços afrouxados; pude pôr a cabeça no travesseiro e dormir sossegado, ignorando o relógio; pude simplesmente ver e rever filmes sem a preocupação do horário; ler algumas páginas que ficaram de lado; organizar minhas bagunças assustadoras e ainda pensar no andamento da vida. Até aqui, o intervalo foi valoroso ao crescimento das minhas relações pessoais, por isso estou apto a dar continuidade ao labor impreciso da criação textual, uma vez que a mente teve a folga tanto desejada.
Há aqui um problema: os dias ociosos se aproximam do fim. Em menos de uma semana a rotina se inicia e os mesmos entraves de antes voltarão com a intensidade já conhecida de outrora. É preciso então organizar para esses dias que faltam um horário para me dedicar a composição dos capítulos programados. Acredito que não haverá grandes dificuldades em transpor para o papel as idéias que perambulam na cabeça exigindo que sejam escritas. Passarei três dias inteiros livre de qualquer impedimento, portanto o número de páginas aumentará consideravelmente, quiçá seja escrito o dobro de parágrafos até então feitos no meio da confusão dos meses anteriores.
Minha parte no romance está bem adiantada, as cenas que me dificultaram o andamento da narrativa já estão prontas, assim a continuidade das ações de Judith serão, pelo menos em teoria, fáceis de escrever. Faltava, odeio dizer isso, inspiração para formular a “sociedade secreta” que daria o tom para sua problemática, porém, felizmente, a consegui depois de assistir a alguns bons filmes e sofrer o pensamento para dar as cores certas para o que pensamos sem cair em clichês ou perder a originalidade. Embora “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick, tenha servido como parâmetro para a concepção do cenário e “O Último Portal”, estrelado por Johnny Depp, tenha auxiliado na criação das personagens secundárias, é mister fugir das semelhanças que certamente fariam se fossem seguidas à risca essas relações entre os filmes e o livro. Talvez seja esse o ponto mais arriscado, fazer algo já feito, sem esbarrar no plágio e ser o mais original possível. Aí é que o tempo se vai, pensando em demasia no que criar sem cair em armadilhas mais do que conhecidas.
Amanhã veremos as novidades. Hoje retomo a empreitada e espero poder contar-lhes os meus avanços. A meta é fechar um capítulo por dia e deixar bem adiantado o texto antes de Jean entrar no avião... Rezemos para que nosso amigo não viaje de TAM.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Saldos de um mês longe do texto

Angra dos Reis, 10 de julho de 2007

Certo, desde o dia 18 de junho não me aventuro a escrever nada para o blog, lá se vai quase um mês sem que pare o meu dia para detalhar em pormenores minha insanidade e tédio sem fim. Não que não houvesse nenhuma linha a lamentar, pelo contrário, variados fatos me ocorreram, mas não tive realmente tempo para sentar ao computador e escrevinhar minhas ações, frustrações, momentos tenros ou plenos de satisfações. Sim, é verdade, também me satisfaço em minha vida, mas tenho um desejo absurdo de discursar sobre o lado negativo, deixando somente a mim as boas novas de harmonia. Vá lá entender o que se passa na cabeça do homem!

Um dos motivos que me roubaram neste mês foi o trabalho. Fim de semestre é um horror pior do que qualquer história de King ou adaptação de um romance de terror decadente. Nunca antes, na verdade já sim, corrigi tantos trabalhos em um espaço curtíssimo de tempo. Pior é saber que em muito a culpa foi minha, por ter deixado a pilha crescer sem que ousasse diminuí-la de qualquer maneira. A cada semana mais e mais textos se amontoavam sobre minha mesa, armário e até mesmo o chão do escritório, de tal forma que se continuasse como estava, fatalmente eu estaria agora imerso em celulose e tinta de esferográficas. Imaginem a notícia do jornal: “Professor é encontrado morto em sua sala de trabalho, sufocado por inúmeros papéis”, ou ainda, “De exaustão, morre Alberto, depois de corrigir milhares de trabalhos escolares”.

Um pensamento absurdo me apetece agora. Seria incrível se as folhas avulsas ganhassem vida e corressem atrás de mim, exigindo que fossem lidas ou me matariam cruelmente por deixá-las esquecidas. A linha cronológica seria encantadora (às mentes insanas, claro) se pessoas que freqüentam minha casa, uma a uma, fossem desaparecendo sem vestígios, até que enfim chegasse a minha vez de prestar contas com o meu destino. Empunhando a caneta vermelha, enfrentaria a horda celulósica, atacando-as com vistos e notas baixas.

Meu Deus, a que ponto cheguei em minha loucura!!!

De volta à realidade, felizmente consegui pôr fim ao trabalho. Fui obrigado a me isolar por alguns dias e demover toda a minha atenção ao quantitativo acumulado. Fi-lo com desespero, lendo os diversos textos de meus alunos numa rapidez, em certo ponto displicente, que jamais gostaria de ter feito, pois sei que, e isso é o pior, que muitas coisas se perdem nesse processo.

Redações e provas corrigidas, iniciei um processo ainda mais entediante: fechar os diários de classe. Se eu fosse mais responsável, fazendo-os, como o próprio nome diz, diariamente, o trabalho seria mais ameno, mas não, o amigo aqui é preguiçoso e, além disso, não cede nem cinco minutos de suas aulas para atividades burocráticas. Dificilmente me sento à mesa no fim de uma aula para fazer chamadas, anotar conteúdos, lançar notas de trabalhos. Não, deixo tudo para a última hora, assim, aos 44 do segundo tempo, ou já nos acréscimos do árbitro, me lanço à empreitada, geralmente assinando as folhas finais pouco antes de meus diretores me cobrarem o registro das aulas.

Nestes períodos não consigo escrever, tampouco penso no que escrever, o que é irritante para mim. É impossível, uma vez que não posso nem mesmo raciocinar direito. E quem sofre com isso? Todas as pessoas que me rodeiam acabam sendo agredidas pelo meu estresse constante. Descarrego em todas as pessoas que me querem bem as minhas amarguras. Depois só me resta pedir, de cabeça baixa e olhos marejados, desculpas pela minha explosão de ignorância. Obviamente me sinto péssimo quando isso ocorre, mas não posso fazer muito, já que me controlar passa longe dos meus atos.

E assim foi meu mês de junho, ócio misturado ao estresse do trabalho, sem que tenha produzido algo novo. Mas nem tudo foi perdido nesse ínterim fatídico de minha vida, pelo menos, com o tempo em que fugi às minhas responsabilidades, relacionei alguns poemas, 47 para ser exato, para a composição de uma nova antologia. Confesso impressionado que de tudo o que antes fora escrito, esses chegaram a me enternecer e me dar um pouco de orgulho comedido. Acredito que tenha enfim escrito alguns versos de grande valia, se não ao mercado editorial, para mim somente. Não são grandiosos nem obras-prima da poética contemporânea, ao contrário, são bem simples, mas o que me prendem a eles é a carga emotiva pura, imaculada como uma criança que desconhece as vicissitudes da vida ou um amor sublime que não viveu nenhuma dor.

Saldos positivos de um mês desregrado. Tempestividades ocorreram, mas também se fez sol sobre minha cabeça e, por mais estranho que me pareça, eu gostei dos raios quentes e da luz iluminando meu caminho. Eu gostei do brilho intenso dos olhos dela e do seu sorriso a me ver. Eu gostei de sentir o vento em meu rosto quando acelerei meu carro pela estrada e ele não me deixou na mão. Eu gostei de passar noites inteiras acordado sentindo o calor de um mesmo abraço. Eu gostei de ter certeza de que um dia após outro as coisas mudam de figura e melhoram. Eu gostei de terminar algo que comecei e sentir que fiz algo decente. Eu gostei de voltar a escrever depois do período de abstinência e perceber que ainda tenho criatividade para compor as cenas que imagino em minha cabeça cheia de fantasmas; finalmente.

Alberto da Cruz