segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Zico marca mais um golaço


Romário avança pelo meio e toca rápido para Zico marcar o gol. Um momento. Zico, o Galinho de Quintino, marcar o gol? Poderia ser mais um dos golaços de Zico nos meus sonhos, mas não foi. O lance ocorreu no Jogo das Estrelas de 2009, em pleno Maracanã, palco de memoráveis jogos dos deuses do futebol carioca, nacional e internacional.
Hoje é um dia de felicidade. Hoje pude rever o maior ídolo da torcida rubro-negra em campo, defendendo as cores do Flamengo, ao lado de outros imortais que já vestiram o manto sagrado.
Arthur Antunes Coimbra acertou de novo ao convidar os homens que fizeram a alegria de milhões na década de 80 e alguns dos que nos fizeram sorrir, e continuamos a sorrir, neste ano.
Sempre falei para o meu irmão que Zico era divino, que o maestro Júnior jogava por música, que Adílio era fera, que Djalminha não fazia feio, que Gilmar fechava o gol, que Romário era o terror. E meu irmão, que só tem dez anos, dizia que o Adriano é o Imperador e que o Petkovic é craque. Não discuto com ele, não adianta. Mas hoje pude mostrar ao pequeno rubro-negro que o pouco que vi em minha infância era a mais pura verdade. Não adiantava assistir aos jogos em DVD, ele dizia que o futebol era diferente. Mas hoje não. Hoje ele viu o Zico jogar num Maracanã lotado, viu Zico fazer três gols lindíssimos, viu o Imperador perder não sei quantos gols feitos, viu Ibson e Juan mostrarem que craque o Flamengo faz em casa, viu Wilson Gottardo parar Edmundo, Charles Guerreiro roubar a bola de Vagner Love, Cláudio Adão cadenciando o meio de campo, Jorginho cruzando com precisão, Júnior driblando pelo meio, pelas pontas, Alcindo já sem nenhum cabelo, Andrade fora da área técnica, Tita desarmando o adversários, Zinho armando pela esquerda, Nunes entrando pela ponta, Renato Gaúcho sendo vaiado por mais de 75 mil pessoas e Romário dando belíssimos passes de letra com a camisa do Mais Querido. E também reviu Fábio Luciano, o capitão do Pentatri, Ibson e sua garra, Juan e seus desarmes precisos... Que lindo!
Obrigado, Zico, por mais este golaço em sua brilhante história vitoriosa. Obrigado por mostrar que todos podem fazer de um jogo beneficente mais do que uma forma de arrecadar fundos, sobretudo, obrigado por mostrar aos nossos meninos o quão bom é ser Flamengo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Boas Novas

Ontem fiz a primeira leitura de O Jogador e imprimi o material para levar à revisão. Devo deixá-lo na segunda-feira com Eugênia Mª D. Peixoto para que ela faça a leitura e depois encaminhe o material para Mª Cristina de Souza.
Ainda em relação a O Jogador, recebi um e-mail da Editora Bibliotexa 24X7, via Mesa do Editor, para a publicação do livro. De qualquer forma, fico feliz pelo interesse da citada editora, mas, como já ocorreu com Memórias em Ruína, não devo aceitar. A ideia de pagar qualquer quantia para publicar não me agrada. Além disso, fazendo uma rápida pesquisa no site da Biblioteca 24x7 (que nome é esse?), li que eles alugam o livro em formato eletrônico. Achei uma ideia estranha e, para mim, nada atraente. Outro fator que me fez negar o pedido foi a taxa de R$ 300,00 a ser paga para a montagem do livro eletrônico.
Há outras possibilidades para se autopublicar hoje em dia, e o melhor, sem pagar nada por isso. Quem conhece o Clube de Autores sabe do que estou falando. LIvro físico e livro eletrônico sem gastos e sem surpresas desagradáveis.
Dessa forma, digo: Não, muito obrigado, caríssimo editor.

"Tá bom", depois de muita insistência por parte dos amigos e de alguns leitores, voltei a trabalhar o texto de A Vila do Medo. Assim que corrigir a pilha imensa de provas que tomou minha mesa e terminar a leitura de O Voo da Rainha (Tomaz Eloy Martinez), darei à história de suspense a atenção merecida. O problema é que já faz mais de um ano que escrevi os primeiros capítulos, portanto conseguir manter a linha de escrita e o sentimento da narrativa não será nada fácil. Terei que fazer as pesquisas de novo, buscar o clima certo, assistir a filmes, reler livros para não fugir à proposta inicial.
É pena que eu queira muito escrever uma outra história, A Marcenaria (título provisório).

Vamos ver o que o fim de semana me traz.

Um grande abraço aos amigos leitores.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O fim de uma jornada, ou o capítulo final


Quando Jean e eu iniciamos o Vida de Escritor, estávamos enfrentando as primeiras panes do nosso Conto Conspiratório, o malfadado livro à quatro mãos. A idéia original era escrever sobre as dificuldades em se escrever quando a mente e os problemas cotidianos influem na tecitura do texto. Bem, já faz, mais ou menos, dois anos que o blog foi ao ar, três romances — dois publicados e outro indo para a revisão — escritos por mim, alguns poemas e várias entradas no diário eletrônico, sem que o nosso texto avançasse mais do que três capítulos.

O blog foi jogado às traças, depois que eu o assumi, escrevendo meus dias de angústia e batalhas sangrentas com as palavras. Jean abandonou o projeto, eu o segui, contando meus pensamentos e alguns dos acontecimentos bizarros, engraçados, tristes, lastimosos e felizes da minha vida, não só de escritor, como também pessoal, profissional e afetiva.

Agora, com poucas e nada frequentes entradas, volto a escrever minha parte da estranha Vida de Escritor. Venci, pois, o hiato que me separou por um bom tempo da atividade literária. Depois da publicação de Intermitência, a separação dói — Corifeu, 2008 — escrevi alguns capítulos da infame Vila do Medo e, antes do clímax, voltei minhas fichas para Memórias em Ruína. Terminada a redação inicial, deixei-o arquivado em alguma pasta no computador e esqueci o quão prazeroso é escrever. Não sei se por não obter o retorno desejado com Intermitência ou por estafa mental, não me sentei para escrever durante meses; aposentadoria por invalidez no INSS literário. Em julho, ou junho, deste ano, comecei a escrever as primeiras páginas de O Jogador. Queria escrever algo diferente, sem muita reflexão íntima, com muita ação, mas discorrendo sobre algo do meu interesse. Decidi abordar os jogos de sinuca, uma velha paixão. Depois de longa pesquisa, encontrei a hora certa para começar. Foram mais ou menos três meses pensando e trabalhando o texto. Durante três meses O Jogador fez parte de minha vida. Ontem escrevi a última frase do livro. Hoje sinto um vazio. Não ter mais o que escrever, não ter mais o que criar gerou-me a sensação de nulidade. Penso em voltar ao texto, reescrevê-lo, modificá-lo apenas para não aceitar que chegamos ao fim. Não mais nos pertencemos. Devo entregar o original à revisão ainda esta semana, por isso a despedida é dura. Nunca trato meus textos como filhos ou entes queridos, mas com este a impressão é que não termino um trabalho, mas lhe dou vida, ou o lanço para a vida como uma criança diante das mazelas de um mundo doente.

Foi divertido sonhar com as tacadas de Heitor, com as curvas do corpo de Victória, com a maldade de Munro, com a ganância de Hernan Lopera, com a vingança de Paulo Caçapa, com a corrupção do Capitão Dantas, com a ingenuidade de Thiago, com a tristeza de Fabiana, com a elegância de Raul Vergara e o enigma de Aldone. Sentirei falta dos meus personagens como sentiria de um parente que se vai. Dou-lhes, então, o meu adeus. Desejo-lhes sucesso na jornada. Que seus caminhos sejam melhores do que o meu.

Agora que o trabalho, e a jogatina, acabou, preciso de um tempo para aliviar a cabeça. Pensar no próximo trabalho. Já tenho um roteiro pronto, as madeiras no galpão para construir A Marcenaria. Não sei ao certo, mas acredito que este meu novo projeto se torne o mais novo xodó. Pelo menos no esboço a ideia me encantou de tal modo que as personagens ainda em gestação já ganharam o meu afeto. Não vejo a hora de começar a escrever o texto que contará a saga do velho marceneiro e seus conflitos num mundo moderno. Volto ao trabalho psicológico-memoralista, semelhante ao desenvolvido em Memórias em Ruína. E por falar nisso, é incrível como Memórias, Leite Derramado e Os Órfãos do Eldorado se parecem até mesmo nas diferenças. Mas isso fica para uma próxima vez.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O ontem, hoje

Engraçado como as coisas se pintam na vida. Às vezes se tem tanto a dizer, mas o interlocutor é surdo aos nossos delírios, ou somos mudos quando realmente temos algo de importante a dizer. Passamos por crises diversas na vida, umas importantes demais, outras insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o grande peso que nos põe loucos, ou à beira de um ataque de nervos.

Perdoem-me os amigos, mas estou hoje um tanto sentimental, saudosista, nostálgico. Falta-me o fogo, esfriou o quarto tão de repente, que não tive tempo de buscar o cobertor. Será que o presente está rumando para o passado? Não me entendo quando se trata da emoção. Talvez seja a estrela que morreu, extinguindo seu brilho. Não, realmente não entendo.

Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Está tão frio aqui. Não me sinto à vontade, não sei mais dizer palavras confortantes, amorosas, românticas. Algo em mim está morto, ou apenas ausente. Tantas dúvidas, tantas indecisões, nenhuma certeza do que havia pouco era o Certo. Mas há certeza em algo, quando a vida é cheia de surpresas e reviravoltas indiferentes à nossa simples vontade?

Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. A vida tão surpreendente quando nos guia o caminho por onde nunca imaginávamos passar.
Quem imaginaria, num dia comum, esbarrar com dois passados, ao mesmo tempo, juntos? Dois passados sorridentes, numa caminhada despreocupada pelas ruas do presente. O tempo. Os anos correm, as pessoas envelhecem, perdendo a beleza da juventude. As bocas, os calafrios, os sentimentos, tudo muda; nada permanece igual ao que era antes. Corpos, bocas, nucas. O cheiro, este não muda. As paixões do antes não voltam ao coração. Só mesmo na etimologia, trazemos de volta as imagens perdidas nas falhas da memória. Duas bocas. Duas línguas. Dois corpos. Todos somados a um, formavam um triângulo saudoso de cheiros, cabelos, pelos unidos sobre o mesmo lençol.

Quantos anos se foram no calendário das vagas lembranças? No mínimo dez, onze talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto!

As três bocas estalaram em toques no rosto, acompanhadas de palavras aos surdos, ditas como mudos, em passos que se separaram depois. As bocas, os corpos se foram. E eu fiquei imóvel em meu instante. Mas agora sinto o gosto que o tempo malogrou. As bocas que foram minhas, e hoje nada são. Os corpos que tive, e hoje não passam de cogitação.

Façamos, então, um brinde ao ontem, como singela lembrança da juventude expirada; como uma sutil recordação do que já não volta, nem vale a pena voltar.

terça-feira, 21 de julho de 2009

PARECE MENTIRA, MAS NÃO É

Quase não acredito que estou fazendo, aos poucos ainda, as pazes com as letras. Depois de um longo período em silêncio voltei a bailar com palavras. Um ano depois da publicação de Intermitência, seis meses do término de Memórias em Ruína, eis que me dedico à concepção de uma nova história.
Há duas semanas comecei a escrever a aventura O Jogador, um romance focando o submundo dos jogos de sinuca. Confesso que é algo diferente dos meus escritos habituais, uma nova experiência no campo das letras, deixando de lado os enigmas da mente humana e escrevendo uma trama simples, fácil, popular, mas que tem me deixado muito feliz.

É bom quando escrevemos sobre algo que nos alegra, parece que flui mais fácil. Neste novo romance tive a facilidade nas pesquisas sobre o tema, porque amo jogar sinuca. Talvez tenha sido essa paixão que me fez escolher o assunto do livro e criar a personagem central da trama. Mergulhei, pois, em diversos livros sobre o jogo, alguns que já havia lido por prazer outros que caíram em minhas mãos em visitas em diversos sebos; esbarrei em sites sobre sinuca recheados de boas informações e, principalmente, ao prazer que o Youtube nos proporciona com seus vídeos. Os amigos sabem o quanto me dedico às minhas pesquisas, o quanto me apaixono por um assunto e devoro o máximo de informações possíveis sobre ele. Agora, juntei o útil ao agradável. Já fazia um tempo que queria escrever sobre sinuca, mas a ideia ficou engavetada, e outros trabalhos foram ganhando mais importância.

Entre o final de 2007 e o início de 2008, não lembro precisamente a data, Daniel Braga, Jean Marcus e eu jogávamos uma partida de bola oito, num boteco, acho que no Marinas, um bairro aqui de Angra, tivemos a idéia de montar um curta sobre um jogador de sinuca que, durante um jogo, repassava sua vida de acordo com as bolas que encaçapava. Era uma ideia boa, com baixo custo. Cheguei a escrever algumas cenas, mas o projeto não foi adiante, porque Jean Marcus foi morar na Califórnia e nossos projetos, como já disse antes, ficaram esquecidos, assim como o Conto Conspiratório, o malfadado romance a quatro mãos que até hoje me assombra como um fantasma. O projeto ficou de lado, mas não esquecido, espero ainda poder retomá-lo.
Foi justamente pensando em reescrever o roteiro do curta que tive a ideia de escrever sobre as maravilhas do pano verde. Apelei mesmo para uma das poucas coisas que ainda me prendem o interesse para escrever, porque as demais coisas me fugiam. Antes, porém, comecei o longo caminho das pesquisas para o romance. A primeira fase foram os filmes que abordavam o tema. Assisti sozinho ao belíssimo The Hustler (Desafio à Corrupção), de 1961, com uma atuação incrível de Paul Newman, interpretando Fast Eddie Felson, e Jackie Gleason, como Minnesota Fats. Em seguida, foi a vez de assistir à continuação The Color of Money ( A Cor do Dinheiro), de 1986, com Newman revivendo Fast Eddie, dessa vez ainda mais memorável, e Tom Cruise interpretando o jovem Vincent Lauria. O filme ainda traz Mary Elizabeth Mastrantonio, como Carmen, e John Turturro, como Julian. Depois das adaptações bem-sucedidas dos romances de Walter Tevis, foi a vez de Poolhall Junkies (O Chacal não perdoa), de 2002; com Mars Callahan como Johnny Doyle e Christopher Walken como o Tio Mike, girar no meu aparelho de DVD. Podia me dar por satisfeito, mas encontrei o recente Shooting Gallery (Galeria de tiro), de 2005; estrelado por Freddie Prinze Jr. como Jericho Hudson com poucas inovações, mas ideias interessantes. Semana passada assisti ao Turn the River, de 2007, estrelado por Famke Janssen, interpretando a personagem Kailey Sullivan; um filme com boas ideias, bom fim, mas muito aquém dos dois primeiros filmes já citados.

Saindo dos filmes, a segunda fase teve início com os livros. Comecei com o nacional Snooker: tudo sobre sinuca, de Paulo Dirceu Dias e Sérgio Faraco, 2005; um livro didático com referência às técnicas de jogo e detalhamento das técnicas do snooker. Na mesma época, caminhando pelo Largo do Machado, encontrei um vendedor de livros usados. Mais do que conhecida minha fixação por livros, acabei encontrando A Cor do Dinheiro, de Walter Travis, 1988, por R$ 2,00. Comprei-o na hora, é claro, pois um achado como esse não podia ser ignorado, porém relutei em ler por um tempo por acreditar que a história era a mesma da adaptação de Martin Scorsese. Feliz engano, pois quando decidi ler o livro, não encontrei nada de semelhante entre a obra literária e o filme de 1986. Cheguei a cogitar um texto comparativo entre as obras, mas não levei à frente o desejo. O Bilhar sem Mistérios, de Nelson Velasques, outra obra didática sobre os jogos de bilhar me renderam boas informações sobre o esporte e suas técnicas. A última obra, também encontrada num sebo, dessa vez na Cinelândia, foi o belíssimo The Official 1990 Matchroom Snooker Special, de Ian Morrison, 1989, com introdução do lendário hexa campeão mundial de snooker Steve Davis. No campo da ficção literária, encerrei a pesquisa com Saloon, conto de Sergio Faraco, presente no livro Snooker: tudo sobre sinuca.

Ainda não satisfeito, visitei com mais frequência os sites Ponto da Sinuca, Tacolândia, Sinuca MS, Federação de Sinuca e Bilhar do Estado do Rio de Janeiro e Confederação Brasileira de Bilhar e Sinuca, de onde consultei as regras oficiais dos jogos de bilhar e demais informações sobre torneios e artigos sobre o esporte infelizmente tão malvisto no Brasil.
Engraçado como em países como a Inglaterra e Estados Unidos o bilhar é tido como um esporte elitista, diferente do que ocorre por aqui. Enquanto a maioria dos jogadores brasileiros se contenta com as surradas mesas de bar, ou botecos, com tacos de ponteira plástica e bolas de péssima qualidade, em países que dão valor ao esporte, a maioria dos itens é de primeira linha, como as famosas bolas belgas da Aramith, as mesas da americana Brunswuik, por exemplo, os tacos ingleses, como os caríssimos MasterCraft e Rilley, feitos com madeiras nobres, diferentes dos nossos que muitas vezes são impossíveis de se jogar de tão empenados que se encontram, sem contar as solas de couro como as das americanas Master, Le Professionel e Brunswick ou a tailandesa Talisman contrapondo-se às plásticas nacionais

Felizmente para nós da terra do futebol, graças alguns incentivadores do esporte, algumas lojas especializadas e salões de sinuca oferecem material de qualidade para a prática esportiva, mas em número infinitamente pequeno em relação aos adeptos da sinuca de modo geral. Pior do que isso é o preconceito existente não só por pessoas que repugnam a sinuca, julgando-a como jogo de malandros, mas também pelos próprios adeptos habituais que preferem se acomodar com as sobras e objetos sem qualidade. Certa vez apareci num bar comum para jogar uma partida de sinuca e, por levar meu taco, fui alvo de comentários grosseiros. Quando perguntado pelo preço do acessório indispensável, chamaram-me de louco por gastar uma alta quantia por um pedaço de madeira. Para mim, mesmo sendo um jogador amador, acredito ser primordial ter qualidade em minhas tacadas, não quero defender a tese da elitização do esporte, apenas desejo que os donos de bares permitam que seus frequentadores tenham acesso ao mínimo de qualidade. Imaginem como seria bom entrar num bar, tomar uma cerveja bem gelada e jogar uma partida de sinuca com bons tacos, boas solas e um giz decente. Não é um investimento tão alto, mas o descaso é mais rentável, certo? É capaz de qualquer dia encontrarmos cabos de vassoura torneados nos fundos do bar como tacos de sinuca.

Depois da longa pesquisa, passei a ver as coisas que envolvem o esporte com outros olhos, por isso quis realmente escrever sobre o assunto, sobre o submundo das apostas, dos conflitos que vão além das mesas de jogo e passam para a vida dos homens, sobre a fascinação pelas bolas coloridas, sobre a esperteza do ser humano, sobre como se ganha, ou se perde, a vida em disputas no pano verde, sobre como a vitória faz o homem sorrir mesmo só tendo motivos para chorar, sobre como se pode fugir da realidade quando a tacadeira rola pela mesa em busca da conquista da alegria por um instante.
Escrever sobre o que se gosta deixa de ser trabalho para se transformar em prazer e, ao fim, a satisfação plena como um orgasmo intenso ao vê-lo ganhar vida nas mãos do público.
Espero terminar O Jogador antes de agosto. Se continuar com o ritmo que o escrevo, acredito que conseguirei, mas não quero correr para não estragar o desenvolvimento do enredo. O prazo foi estipulado até o fim do ano, mas quero terminá-lo o quanto antes, pois ainda tenho um romance pela metade, aguardando o seu fim. Mas não vamos misturar as histórias. Uma coisa de cada vez, um livro por vez, lembrando que na fila para a publicação, Memórias em Ruína está na frente, aguardando a resposta da nova editora para definirmos os moldes e as datas para a publicação, portanto tenho tempo para levar o meu jogador de sinuca a mais algumas mesas.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Mais uma tentativa para não enlouquecer


Voltar a escrever depois de uma longa ausência não é algo fácil. O reencontro com as teclas é tortuoso nos toques decadentes da mão nervosa. Preocupo-me com superficialidades e me perco no compasso das horas em que permaneço sentado à máquina sem ter o que dizer, mas com uma imensa vontade de dizer. Devastar pensamentos, criar, atividades comuns, rotineiras de um cotidiano vazio são agora uma batalha terrível contra o vírus mortal da preguiça, ao mesmo tempo misturada com uma absurda vontade de fazer qualquer coisa para evitar o tempo entregue as artimanhas e teias frágeis da composição textual.
Disse faz algum tempo:
— O recesso acabou, é hora de voltar a trabalhar.
— Já era sem tempo — respondeu-me a confidente, e amante.
— Hoje começo — afirmei convicto.
E corri para o computador desesperado pela facilidade com que as ideias brotavam em minha cabeça. Pensei que escreveria tenazmente, atravessando a noite com os estalos do teclado, mas, contrariando as minhas expectativas, o cursor, na hora derradeira, piscava ininterruptamente sem que nenhuma linha fosse traçada. As frases se perdiam em algum ponto da tradução das ideias para o concreto.
Seria abstrato então. Nem mesmo assim fui longe. Uma sucessão de fragmentos e escritos ruins que eram apagados tão-logo foram escritos. Nada. Um mergulho na escuridão da alma incompetente.
No dia seguinte a pergunta voraz:
— Posso ler o que você escreveu ontem?
Eu sorrio aflito, enrubescendo a face e forçando um sorriso. Vou à impressora e pego uma folha em branco. Dou-lhe a folha. Digo:
— É isso, mais nada. Não consigo mais escrever. Acabou-se. O recesso virou aposentadoria por invalidez. Fim da história.
Palavras de incentivo são ditas. Lembranças do passado artístico. Tudo em vão. Não há mais em sombra do criador original ou plagiador.
Agora volto. E lá se vão os meses.
Recomeçar. Saber que preciso desenferrujar as engrenagens, exercitar em textos ruins como este para poder desinibir as palavras envergonhadas. Vamos lá.
A propósito, estou sofrendo um novo romance. Basta saber se chegará ao último capítulo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

DEPOIS DO FESTIVAL DE TORMENTAS, A CALMARIA VEM

Finalmente as coisas começam a acontecer positivamente em minha vida. Parece que depois do festival de tormentas, a calmaria vem, ainda que lenta, se aproximando. Toda angústia antiga se esvai como água ralo abaixo.
A noite hoje é silenciosa. Nem mesmo os automóveis passam pela minha janela. Isso mesmo, a minha janela, o que me resta depois de perder o apartamento — que é meu — no quarto que ganhei na casa de meus pais. Mariana dorme ao meu lado, alheia a tudo, descansa o corpo cansado depois da festa de ontem e uma noite muito mal dormida em conseqüência da fartura das horas acordada. Perco-me ao vê-la dormir. Tão indefesa e frágil como uma criança. Os olhinhos fechados, a respiração serena... é incrivelmente linda. E toda a sua beleza me rouba a atenção, leva-me o tino. Passaria a vida inteira fitando-a dormir como um homem encantado pela sereia mais perfeita levando os marinheiros à ruína. Mas em meu caso, a ruína é o paraíso, não machuca, cura a alma enferma de saudades infindas. Poderia, e deveria, estar deitado ao seu lado, agarrado ao seu corpo, esquentando-me com seu calor, mas estou aqui escrevendo sem grande necessidade com o intuito de acordar mais tarde, junto com ela, como não nos acontece há tempos graças a minha insônia ridícula.
Mariana é meu bálsamo, verdadeiro refúgio em tempos caóticos. Brigamos às vezes, como qualquer casal, discordamos de vários assuntos, enxergamos o mundo por ópticas diferentes, divergimos de opinião em várias situações, mas isso só nos prova que não somos iguais, felizmente. Se tantos são os pontos conflitantes, maiores são os de sincronia. Basta olhar para o seu sorriso e me desfaço de qualquer mesquinharia, raiva ou indiferença. Mariana me tem em suas delicadas mãos, e isso é um perigo, mas me trata com o mesmo cuidado que dedico a ela. Nosso sentimento é uníssono, igual, dividido por nós na mesma carga emotiva. Embora tudo conspirasse para que nossa relação fosse um fiasco e, além de não durar muito, nos trouxesse, principalmente a mim, sanções dolorosas tanto na vida pessoal quanto na profissional, mostramos, não que quiséssemos provar nada, ao mundo e às más línguas que acertamos nos nossos desejos, que aquilo que nos tirava o ar não era o fogo ardente de uma paixão vazia. Não, não era. O que nós tínhamos e temos é amor, um sentimento de doação, companheirismo, amizade, alegria e ternura. Olhamos para a mesma direção de mãos dadas e juntos. Parafraseando Drummond, também vamos não com o sentimento do mundo, mas com o sentimento do nosso mundo. Quando feridos, curamo-nos dos males que nos causam dor. Recuperados do desgosto, reerguemos as sólidas bases do nosso amor e continuamos os passos rumo ao desconhecido incerto... Incerto? A vida é incerta, mas ao lado dela até mesmo as incertezas são certas.
A noite é lenta e vagarosa. O silêncio um nostálgico convite ao pensar. Mariana dorme ao meu lado alheia aos meus delírios. Um sorriso bobo se desenha em meu rosto e meus olhos brilham sinceros de plenitude e satisfação.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Maio, maduro maio; quase podre maio

Maio, maduro maio; quase podre maio. Que eu saiba, agosto é o mês do desgosto, mas algo me leva a crer que houve um adianto temporal na contagem dos meses. Ou pior, não sei, este ano tem sido difícil em tantos aspectos que estou pensando seriamente em elegê-lo como o pior ano da década. Mas ainda estamos a dois de terminá-la, portanto é preciso ter muito cuidado nesta eleição.
A vida é mesmo surpreendente e dá cada volta que nos deixa meio maluco. Ultimamente, a minha já entrou em tantos reveses que eu não sei mais o que posso esperar amanhã quando acordar. As coisas mudam tanto para mim, desfazem-se com a mesma, ou até mais, velocidade que são criadas. Eu não sei o que esperar de mim e dos outros principalmente.
Não estou nada bem. Não há como esconder, pois a minha amargura se reflete nos meus olhos sem vida, no meu rosto sem brilho, no meu sorriso choroso, na minha voz muda... Tudo anda às avessas, tudo ao contrário do que um dia foi lindo. Parece que minha primavera realmente chegou ao fim, mas não foi o verão que a sucedeu. Não, por incrível que pareça dormi e acordei no auge de um inverno glacial. Estou mal. Mergulhado num pessimismo absurdo e constante como a dor de cabeça de uma ressaca que nos derrubam por dias intermináveis de náuseas.
Não sei por onde começar a contar os males que me derrubam como um enfermo no leito de morte, implorando para que desliguem os aparelhos que me mantém respirando com dificuldade. Na verdade, nem mesmo quero escrever sobre o que me maltrata, mas uma necessidade superior ao meu querer me obriga a pôr para fora como vômito as minhas vicissitudes na esperança utópica de aliviar o estômago embrulhado de decepções. Assim escrevo hoje, não por prazer, mas por necessidade catártica a fim de me salvar a vida... embora melhor seria ir-me embora daqui, porque não gosto daqui, ir-me embora para não mais voltar, embora para nunca mais chorar, embora... ir embora.
Se não há como evitar, que seja o mais breve possível. Resumirei o assunto para não me causar mais dor do que a já sentida. Ando mal com o amor e, infelizmente, isso interfere diretamente em todas as minhas áreas de atuação, pois penso com o coração, não com a razão como deveria ser, mas não é. O fato é que eu e Mariana não estamos bem. Uma série de acontecimentos enfadonhos vem nos tirando a harmonia. Hoje somos talvez duas notas desafinadas, tocadas de qualquer maneira por quem antes tinha total zelo. A desgraça teve início no feriado do dia do trabalho, quando ao contrário de nos amarmos, brigamos mais do que, perdoem a expressão mais batida do que carro de testes de segurança, cão e gato. Não houve sequer um dia em que não trocamos farpas, apesar de não querermos. Estranhamente eu pressentia que algo de muito ruim aconteceria em breve. Isso ficou, não sei por que, martelando em minha cabeça, aumentando a força, incomodando, latejando, enlouquecendo, durante todos os malditos dias. Na semana seguinte, nós nos entendemos e aliviamos um pouco a sensação de desgraça próxima, apesar de não ter desaparecido como eu desejava. O medo, a insegurança se intensificou quando ela me disse que, pela primeira vez, só voltaria para cá no sábado, não na sexta como era de costume. Triste porque justamente na sexta meu irmão apagava pela nona vez as velas de seu bolo, senti um aperto no peito muito maior do que apenas a sua ausência poderia causar.
Algo estava errado não só porque Mariana não estava aqui, mas também por já ter passado da hora em que ela me liga sempre. Por que justamente no dia em que não vem para casa, ela também não fala comigo. Preocupado, mandei uma mensagem para o seu celular e a resposta tempos depois foi fora do comum, estava diferente, errando demais e com um vocabulário que nunca vi. A segunda mensagem de resposta foi uma repreensão que me fez pesar a consciência por não confiar nela. Mas como já estava na quinta mensagem sem resposta, liguei. E para minha desgraça, ela atendeu ao telefone.
Mariana estava em uma festa da faculdade, bêbada e sorridente, mesmo tendo mentido friamente para mim quando me escreveu que estava quase chegando a sua casa. Meu mundo foi ao chão, eu perdi o tino, a razão e disse milhares de impropérios impossíveis de transcrever aqui. A discussão via celular foi longa e exaustiva, culminando com o término do namoro. Dormir depois de tanta raiva foi tão difícil que só consegui realmente apagar depois do quarto comprimido de lexotam. Durante o tempo em que rolei na cama, só conseguia pensar em como ela pôde ser tão vil comigo, tão insensível com meu sentimento. Suas lágrimas me doíam, mas pior que a dor era a irritação que provocavam em mim. Naquele instante todo amor se transformou em ódio. Não um ódio qualquer, mas o derradeiro. Jurei que nunca mais queria olhar para ela, pois se foi capaz de mentir, dissimular, enganar, como eu poderia olhar em seus olhos e ainda desejá-la? A dor do desengano se instalou sobre mim e machucou mais do que qualquer ferimento, mais que um tiro seco, mais que um punhal desferido sem piedade pelo assassino frio no beco escuro da morte. Eu estava morto, apesar de ainda respirar.
Dia seguinte, vida vazia. Passei a manhã entre a insanidade e doença na alma. Um sentimento estranho de nulidade e vazio no coração. Mas era preciso continuar, uma vez que a quantidade de remédios correndo em minhas veias fora insuficiente para me manter na cama como um vegetal. Saí. Incomunicável, aproveitei o tempo são para caminhar pelas ruas tristes de um dia cinza e chuvoso. Pensava em nossos bons momentos e também nos maus. A dor era intensa. Quando resolvi que era hora de voltar para casa, percebi que ela havia me ligado inúmeras vezes. Não voltei as ligações. Queria que ela entendesse que eu não mais queria passar pela mágoa que me impôs sem que eu nada pudesse fazer para mudar, transformar, esquecer a dor que o golpe me causara.
Para meu espanto, no fim da tarde ela veio a minha casa para conversar. Seu rosto estava tão apagado como o meu. Arrependida, creio, por ter me traído a confiança. Conversamos, na verdade foi um monólogo dela, durante horas intermináveis, marcadas por lágrimas sofridas. Eu, que geralmente falo demais, não disse mais do que três frases monossilábicas. Queria me desprender dela, esquecer que um dia entreguei todo o sentimento bom que ainda existia em mim depois do fracasso do casamento.
O amor, mesmo arruinado, conseguiu gritar forte ao meu ouvido. Retrocedi, dei mais uma chance para que ela reparasse o erro grave, mas a decepção não se foi. Ainda vive em mim como uma praga mortal. Assim, embora tivéssemos um final de semana tentando apagar o fogo, a semana novamente marcada de ausência me machucou. Não consigo mais dizer que a amo, embora a ame com toda a força. Queria saber como esquecer, como perdoar, como aceitar o fato; mas não tenho esse dom superior. Sou um homem cheio de graves defeitos, e o maior é não esquecer.
Ainda estamos juntos, mas não sei até quando continuaremos. Não posso afirmar mais nada enquanto não abrandar a ira que me toma o pensamento arredio. Ouço-a arrependida ao telefone dizer que me ama; que não medirá esforços para reconquistar minha confiança, mas não vejo como pode fazer isso, pois não consigo, por mais que eu queira, acreditar no que sai de sua boca. Será verdade? Será mentira? Como posso acreditar em quem mente, magoa e depois volta arrependida como um cão sem dono, com os olhos cheios de lágrimas?
Temo que desta vez ela tenha extrapolado, passado dos limites. Não quero amar alguém em que não posso confiar. Toda noite imagino o que ela possa ter feito e o que faz. Toda noite eu choro, pensando nela e na dor que vive em mim pelos meus castelos construídos em nuvens frias.
Quem sabe tudo isso passe. Quem sabe eu a perdoe. Quem sabe eu possa dizer que a amo intensamente como amei um dia, desde que não haja mais mentiras.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Perdido no meu tempo

Hoje eu chutei o balde sem querer saber onde cairia e em quem bateria. Já disse antes que deixei meus prazos me sufocarem novamente, por isso tenho que correr na composição dos textos para os concursos que encerram suas inscrições no dia 30 de abril. Até anteontem, toda a minha atenção estava voltada para os detalhes de Intermitência, embora tenha fechado uma ou duas crônicas no intervalo entre revisões e ajustes do romance. Ontem, porém, tirei o dia para ficar única e exclusivamente com Mariana e minha família. Apesar de discutirmos alguns assuntos sobre o livro, no lugar errado, às duas da manhã, passamos o dia como se nada mais importasse para nossas vidas a não ser ficarmos juntos como um casal apaixonado.
Desde que voltei a morar com meus pais, Mariana e eu não ficamos por aqui, pois semanalmente sou eu que me desloco até sua casa nas sextas-feiras depois da aula no pré-vestibular e permaneço até o fim da noite de domingo. Como estamos numa semana de dois feriados, ela, para minha alegria, está em Angra desde sexta, mas volta ao Rio para escrever um relatório de Botânica, porque não conseguimos encontrar todos os livros da bibliografia, na quinta ou sexta-feira. Assim, ontem resolvemos aportar aqui na casa de meus pais para um jantar em que fiz o meu famoso bolo de carne, assistirmos ao excelente suspense Identidade, cuja interpretação de John Kusack é inesquecível, jogar um pouco de The Sims II e nos curtirmos muito, apesar de ser pouco o tempo. Trabalho, quando ela está aqui, fica para segundo plano. Em minha vida Mariana é o centro do meu universo, meu sonho, minha realidade, meu ar, meu... bem, não estou aqui para falar de como a amo, pois seria inútil tentar dizê-lo, pois me faltariam palavras.
Seja como for, perdi-me no feriado. Não sei qual foi o surto inconsciente que tive, mas queimei alguns dias do meu mês. Acho que a cabeça anda tão preocupada com as milhares de coisas que tenho a fazer que pensei, juro, que amanhã fosse dia 28, não 24 de abril. Assim, um desespero absurdo tomou conta de mim, pois teria que postar os textos no mais tardar dia 29 ou perderia os prazos de quatro concursos. Quanto aos poemas, tudo bem, seria fácil enviá-los, uma vez que meu acervo é vasto, apesar de nem todos me agradarem hoje como agradaram no passado, coisa de autocrítica exagerada, mas certamente teria oito trabalhos prontos para entregar sem que precisasse arrancar os cabelos. O grande problema eram as crônicas, pois minha composição nesse subgênero não é muito grande. Havia escrito duas recentemente, uma no início do mês e outra na segunda-feira de manhã, seguindo meu projeto. Mas com essa confusão que eu mesmo criei, duas delas faltariam para a postagem. Para piorar meu estado insano, perdi a manhã inteira na sala de espera do dentista de Mariana.
Quando me sentei ao computador hoje para tentar escrever pelo menos algumas idéias, não imaginei que fosse conseguir terminar os dois textos que me faltavam. Mas como funciono melhor sob pressão, o texto fluiu facilmente. Em duas horas, duas crônicas terminadas e prontas para serem envelopadas amanhã cedo. Ainda não acredito que as terminei em tão pouco tempo, fora do meu costumeiro local de trabalho e, principalmente, que tenham me agradado.
Amanhã volta a rotina ingrata que rege minha vida. Aula regular pela manhã, pré-vestibular à tarde, mas com um bônus nesta semana atípica, poderei me despedir de Mariana, ficando mais algumas horas na tranqüilidade dos seus braços, à noite; porque nos próximos dias terei uma infinidade de trabalhos exaustivos, incluindo o fim de semana, que graças às minhas dívidas, trabalharei nas provas da prefeitura.
O saldo do feriadão foi positivo. Fazia tempo que não me abstraía das pressões que as responsabilidades trazem. Gostaria que sempre fosse assim, mas a vida não nos permite esse luxo todos os dias. E se temos que viver um dia de cada vez, esses foram os melhores dias da minha vida recente.


2008, 23 de abril


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terça-feira, 22 de abril de 2008

Vida de escritor, a um passo da loucura

Estou ficando louco com a quantidade de coisas que pululam em meu pensamento. Estou a um passo de alcançar a insanidade total, portanto preciso diminuir a carga de preocupações antes que o pior me aconteça: não consiga distinguir a realidade das ilusões.
Meu drama começa com o trabalho regular. Não sei por que estúpido motivo deixei que as correções das atividades escolares se acumulassem sobre as mesas, isso mesmo, as mesas. Como ainda não estou muito bem estabelecido na casa de meus pais, minhas coisas estão espalhadas por todos os cantos, poluindo a aparência e estragando a decoração do ambiente. Para meu pesar, o feriado está a poucos dias de acabar e, logo na quinta-feira, terei mais provas para dar cabo até o fechamento do bimestre. Não consigo me sentar e corrigir nada, nem mesmo um turma. Começo a ficar preocupado com o rumo das folhas e da trabalheira que os diários me darão daqui a alguns dias. Mas sei que se me sentar por algumas horas e conseguir me livrar de tudo o que está me atormentando, consigo, se não terminar, pelo menos diminuir a imensa pilha que me tenta e dá calafrios.
Se a loucura findasse apenas na atividade letiva, não estaria tão nervoso. Meu problema com prazos, novamente me incomoda. Estipulei até o dia 20 de abril para enviar meus textos para uma série de concursos literários, mas já estamos no dia 22 e até agora só escrevi a crônica “Procura-se um leitor”. Felizmente ainda tenho oito dias, pois o prazo acaba no último dia do mês, portanto preciso escrever pelo menos quatro crônicas e oito poemas. O problema é que com o tempo curto demais é difícil saber se a qualidade dos textos será satisfatória. Agora que tenho que correr, não posso ficar me questionando, preciso por a mão no teclado e me abstrair de maus pensamentos na hora da composição relâmpago.
Para minha alegria, a redação de Intermitência, é isso mesmo o nome mudou, perdeu a desinência de número, terminou. Fiz a primeira revisão e encontrei uma série de erros, além de modificar um pouco o final da história, mas tudo dentro do previsto. Como a leitura já está viciada, Eugênia, minha grande amiga e também mãe de Mariana, se propôs fazer uma nova revisão no texto. Para meu desespero, ela já encontrou mais erros logo nas primeiras páginas. Mas isso faz parte do processo, por mais empenho que tenhamos cuidado, de tanto ler as mesmas linhas, algumas falhas passam despercebido. Para meu contentar, tenho excelentes amigos para me ajudar neste processo delicado.
Intermitência me tira o sono e rouba todo o meu tempo. Ontem Mariana e eu elaboramos um esboço da capa. Não foi nada fácil chegar a uma decisão sobre essa parte da obra. Foram dois longos dias discutindo como poderia ser. Entre uma idéia e outra, optamos pela inicial. Será mesmo um sofá branco. Com a prova que fizemos, finalmente encontrei o que queria. Mas antes de chegar à satisfação, foram horas estudando capas de outros autores, de diversos gêneros e editoras diferentes. Concluímos que muitos autores têm um péssimo gosto no que se refere à apresentação do seu trabalho. O ditado diz para que não se julgue um livro pela capa, mas, convenhamos, uma capa mal produzida espanta qualquer leitor. O ruim é que quando fizemos a nossa prova, utilizamos uma imagem retirada da internet, portanto não posso usá-la em meu romance. Como eu disse, era só uma experimentação, agora temos que correr atrás de um sofá branco que se enquadre no que queremos e tirar uma boa foto em alta resolução para a montagem definitiva e dentro da lei dos direitos autorais.
A boa notícia em meio a tanta loucura foi o e-mail que recebi da editora Virtual Libri, elogiando meus textos publicados nos blogs que mantenho. Não sei bem qual o real interesse dessa empresa, mas a respondi para maiores esclarecimentos. Espero que não seja mais um convite para publicar em sistemas de cooperativa de escritores, pois o retorno geralmente não é muito satisfatório. Assim aconteceu com a Andross, menos no Mosaico, mais no Caleidoscópio, as duas antologias poéticas que participei pela referida editora.
Como não consigo parar de escrever, retornei as atenções para uma antiga história de suspense intitulada “A Vila”, que comecei a rascunhar no final de 2007. Ainda estou no primeiro capítulo, mas acredito que se me dedicar um pouco a ele, rapidamente chegarei ao fim. Temo me perder no meio de tantos projetos inacabados, pois ainda há o “Paixões Perigosas”, escrito em meados de 2006 para editar.
Muito trabalho, pouco tempo e quase nenhum dinheiro, assim é a vida de escritor.

Alberto da Cruz
2008, 22 de abril
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segunda-feira, 14 de abril de 2008

A vida é dura

Domingo chega ao fim daqui a trinta minutos. Logo será segunda-feira. Em breve volto às minhas aulas regulares. Pouco tempo para cair na cama e dormir. Daqui a algumas horas Mariana volta ao Rio, à universidade e à saudade que nos desnorteia a alma. O término do fim de semana é um prelúdio para um tempo de angústias que, felizmente, não duram mais do que cinco dias.
Agora pouco, enquanto estava no banho, pensava no Vida de Escritor e em suas atualizações diárias, que na verdade são um semanais, mas que por um bom tempo se tornaram mensais. O corre-corre de uma vida atribulada fez com que as publicações se tornassem cada vez mais escassas, mais raras. Felizmente, parece que esse tempo chega ao fim. Mesmo com tantas coisas na cabeça cansada, consigo alguns minutos para escrever as velhas ladainhas deste espírito marcado de amarguras. Apesar de ultimamente discorrer sobre vários assuntos, mas quase nenhum relativo à prática literária, aos trancos e barrancos, faço o possível para sempre estar por aqui. E assim vamos nós, juntando os cacos de um texto partido.
Nas últimas semanas mergulhei de cabeça no meu pequeno romance. Todos os dias passei pelo texto nem que fosse por apenas uma frase. Batia meu cartão como um funcionário dedicado e depois de um longo período sem concluir algo relativamente trabalhoso, posso comemorar o seu fim. Texto terminado, começa agora o longo processo de finalização. Semana passada fiz a primeira revisão. Amanhã começo a segunda. Enquanto releio o trabalho, minha preocupação cai sobre os detalhes. Preciso escrever o texto da quarta capa, um pequeno texto que desperte a atenção do leitor, algo instigante que o faça desembolsar a bagatela de R$25,00 para ter volume para si; isso mesmo, Intermitências custará uma nota de vinte e outra de cinco reais apenas. Gostaria que o preço fosse ainda menor, mas, para meu desprazer, não depende de mim estipular os valores de venda. Voltamos a esse assunto depois, porque as minhas neuroses de agora são: escrever a sinopse para a orelha do livro, encontrar alguém que me escreva um prefácio ou simples nota de apresentação, decidir pela foto que aparecerá na orelha da quarta capa, encontrar um bom subtítulo e não me desesperar na montagem da capa.
São muitos detalhes para uma pessoa só, ainda mais para uma pessoa só que passa a maior parte do tempo mergulhado em diários de classe e livros didáticos. Mas não vou reclamar muito, porque é isso que escolhi fazer em minha vida e, mais do que tudo, o que amo fazer. Assim, não posso me entregar como realmente desejo ao livro, mas encontrarei uma maneira de conciliar as coisas. O problema que se forma agora é a minha mente que, finalmente, abandonou o imenso hiato criativo. Assistindo hoje ao excelente filme “O cheiro do ralo”, tive a idéia de uma nova narrativa. Tão logo formule a idéia central bem clara, farei dela o novo tematizador dos meus relatos por cá. Antes, porém, iniciei mais um projeto. Queria que se tornasse um romance também, mas acredito que não me estenderei nesta nova narrativa. É bem provável que ela se torne mais um conto do Pesadelos no Paraíso – para quem não conhece, meu livro de contos de horror e suspense interminável. Não me decidi ainda, portanto vou deixar que a trama conduza a história e determine o gênero da obra em questão. Sei que deveria dar um tempo com as composições e me dedicar, no momento, somente ao Intermitências, mas minha cabeça está a mil, além disso, também tem sido um bom método para me ocupar, a fim de não sentir o peso das mudanças que me ocorreram nas últimas semanas, como a volta para a casa dos meus pais e a saudade lacerante que sinto de Mariana, enquanto ela está na faculdade. A vida é dura.
Amanhã começo as conversas com a editora para a edição do livro, acertar os detalhes, ver o contrato e me planejar para a publicação. Embora só tenha o livro físico depois de maio, preciso correr para encontrar quem me escreva a nota de apresentação. Acílio, pai de Mariana, talvez apresente meu original a Antônio Torres, autor de Meu Querido Canibal; todos nós envolvidos no processo torcemos para que ele aceite a tarefa, afinal ter um grande escritor assinando em minhas páginas seria de imenso valor para o tão sonhado reconhecimento. Também espero pelos comentários de Hugo Oliveira, jornalista do Maré Alta, e Ricardo Oliveira, professor de língua portuguesa, para fechar definitivamente o trabalho no livro. Assim que estiver com os textos que faltam em minhas mãos, o processo de impressão se inicia.
Quem pensa que depois de tudo isso, o trabalho chega ao fim está enganado. As etapas já realizadas foram as mais fáceis, a loucura começa mesmo, depois que o livro estiver pronto, com a divulgação. Um escritor famoso tem o apoio da mídia, dos grandes investimentos editoriais, assim seu trabalho está exposto nacionalmente e figura nas estantes das grandes livrarias do país, em contrapartida um novo escritor não tem tantas formas de se destacar no mercado editorial. É preciso então começar de baixo e subir os degraus com calma e perseverança. Tracei, portanto, um plano simples para começar, a primeira fase das vendas abrange somente a distribuição regional, para depois expandir o campo territorial, sem contar com a ajuda da internet e suas diversas formas de exposição. Minha estimativa é que consiga despertar interesse nos leitores de Angra dos Reis e Paraty, para isso conto com a distribuição junto aos livros que a Distribuidora Cuba disponibiliza nas bancas e pousadas destas cidades. Acredito que consiga vender algumas boas cópias nesta empreitada, mas o objetivo não é em si apenas vender livros, sim ser visto por eventuais leitores de outros estados que por ventura estejam de passagem por aqui, afinal em cidades turísticas, o fluxo de pessoas de diferentes partes do país é intenso. Enquanto isso, tenho que investir em um lançamento, mesmo que humilde, para fazer um pouco de barulho; dar a cara a tapa e divulgar aos meus alunos que o livro está à venda; procurar levar ao conhecimento do maior número possível de pessoas a existência do Intermitências, nem que seja batendo de porta em porta para mostrar meu trabalho. A estrada é árdua, mas preciso segui-la. Quem sabe não consiga um espaço, mesmo que mínimo, na FLIP deste ano. Para que isso que aconteça, tenho que correr; correr como um louco para alcançar a satisfação pretendida.

2008, 13 de abril

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A realização bate à porta

Como terminei de escrever o romance, sinto agora um vazio pairando no ar. Não tenho mais o que escrever. Depois de passar o fim de fevereiro e todo o mês de março vivendo cada frase do Intermitências, agora me sinto como um pai que vê, sem que nada possa fazer, o filho querido arrumar as malas para partir. Assim é a vida de escritor, depois de passar dias intermináveis dedicando-se exclusivamente a uma história, quando ela termina, um estado misto de tristeza e alegria nos toma de jeito. Pelo menos até a publicação ele ainda será meu protegido. Cabe a mim dar-lhe meios para caminhar sozinho por este mundo literário, cheio de passagens perigosas, rodeado de monstros terríveis, ávidos por sangue. Dele não espero sucesso absoluto, mas almejo despertar a atenção positiva dos críticos e dos leitores, principalmente. Desejo subir alguns degraus na minha escalada no ramo literário, mas se forem poucos, não ficarei de todo triste, pois o tempo dedicado a sua composição foi, talvez, o melhor entre os já gastos no trabalho de qualquer idéia.
Escrever Intermitências foi uma experiência prazerosa. A cada página, a cada cena, senti-me como um vencedor. E melhor do que qualquer coisa, foi minha redenção artística e alívio as minhas insanidades constantes. Embora esteja muito contente com o término do projeto, sinto um pouco de tristeza saudosista por não tê-lo mais como companheiro para as noites insones. Mas isso é o de menos. Agora a correria dos meus dias me leva para outra fase: a publicação. Fiz diversas sondagens entre editoras e, ainda não me decidi plenamente, há uma possibilidade muito grande de editá-lo pela Corifeu, no sistema sob demanda, ou seja, independente. Só não me decidi ainda por causa da escassez financeira. Outra possibilidade, mas muito remota, é arriscar o meu original às editoras tradicionais, mas dificilmente agüentarei os malditos prazos de análise do livro.
Espero que eu chegue logo a uma conclusão para o meu dilema, mas acredito que a primeira opção, atualmente, seja mais viável do que qualquer outra.
É claro que o sistema escolhido não é perfeito e requer ainda mais esforço para alcançar os primeiros objetivos. Como não há um sistema de distribuição organizado pela editora, além das vendas pelo site da mesma, toda a parte de divulgação cabe a mim. Vantagens existem, e isso é fundamental, mas os empecilhos são um caso sério a se pensar. Inicialmente, eu mesmo farei a divulgação do trabalho, por isso, antes mesmo de ter o livro físico às mãos, já me planejo para levar ao lume o romance, mas tudo dependerá das vendagens da primeira remessa. Por temer o desconhecido e conhecer muito bem o fracasso, começarei com uma tiragem realmente muito baixa, dependendo das vendas, encomendarei mais livros. Acredito piamente que venderei rapidamente o quantitativo inicial apenas entre meus conhecidos, incluindo os colegas de trabalho. Certamente, mas não gosto de contar com variáveis duvidosas, meus alunos levarão uma boa fatia do gráfico de vendas. Ainda terei a ajuda da distribuidora Cuba, cujo dono é o pai de Mariana, com a colocação dos livros nos seus pontos de venda, que englobam Angra dos Reis e Paraty. De resto, fica ao meu encargo me fazer notar na região Sul do estado, para depois aumentar o território de divulgação. Terei que recorrer à mídia para chamar a atenção ao meu trabalho. Graças à ajuda do Hugo, jornalista e amigo de sempre, posso conseguir, mais uma vez, um espaço no jornal em que ele trabalha. Se conseguir, já será de grande valia. Sem esgotar as opções, restará ainda a mídia radiofônica e a televisiva, mas para isso, a primeira fase deverá ser bem executada, caso contrário, dificilmente terei espaço num veículo informativo de massa. Quem sabe um dia eu não apareça no Programa do Jô para um papo descontraído em que eu não fale nada que preste e responda às questões que fujam do tema, como a maioria dos seus entrevistados? Já dizia o samba: “sonhar não custa nada”! Independente das alternativas mencionadas, o certo é que a divulgação boca a boca será feita, e já começa antes mesmo do livro ficar pronto. Portanto já me apresso em dizer que em breve, e quando mais breve melhor, estará à venda o romance Intermitências. Tão logo as primeiras cópias cheguem às minhas calejadas mãos de tanto sofrer as teclas do microcomputador, avisarei a todos pelos meios aos quais me exponho freqüentemente por este imenso mar de informação digital.
Resta-nos agora esperar mais um pouco, para que tudo saía perfeito. Ainda farei mais uma revisão antes de enviar o original. Depois, os trâmites legais na catalogação da obra, o registro na Biblioteca Nacional, o número de ISBN, a confecção da capa, assim que me decidir pelo estilo, aguardarei ansiosamente pela chegada da primeira remessa, para pôr em prática as idéias aqui expostas.
Torçamos para que tudo dê certo daqui para frente, pois estou ávido para apresentar Almira e Roberto para o mundo.

2008, 08 de abril

domingo, 6 de abril de 2008

O FUTURO É AGORA

Abril chegou e com ele boas notícias. Parece que algo está errado, pois eu geralmente não tenho boas novas. Acontece que além das novidades amenas, há também notas tristes, mas hoje, me atenho ao que me faz sorrir. Às vezes precisamos de pequenos lampejos de alegria para sobreviver, caso contrário não nos restará muito na vida com tantas amarguras e pouco, quase nada, contentamento.
As boas começaram com o resultado do Concurso Literário Centenário de Mendonça Júnior, do qual fui agraciado com uma menção honrosa pela crônica Minhas Palavras, um texto que fiz já há alguns meses, refletindo a ingrata profissão de escritor. Não é preciso dizer o quanto eu fiquei feliz por receber o referido prêmio. O que me deixa um tanto chateado é ter o reconhecimento em outros estados e muito pouco em minha própria cidade. A maioria das pessoas que conheço nem imagina que passo meus dias escrevendo como um viciado, não em drogas, mas em palavras. Apesar de não me sair vitorioso pela banca avaliadora, o resultado me abriu as portas que estavam inicialmente trancadas e me fez voltar a ter prazer em escrever. Com o ego já enaltecido, dei uma entrevista ao jornal local Maré, numa conversa gostosa com o amigo jornalista Hugo Oliveira sobre o concurso e crônica em questão. Os resultados foram bem interessantes, pois consegui aparecer na mídia. E o simples fato de estar em um jornal, mesmo que seja uma publicação semanal de cidade interiorana, é motivo para um bom brinde, mas ainda não com champanhe francês. Brindemos ainda com o nacional.
É engraçado ser notícia, ouvir comentários sobre mim mesmo como se fosse outra pessoa. Uma experiência interessante para essa rotina solitária de escrever isolado do mundo, mergulhado num silêncio absurdo próprio. Compartilhar esse processo, explicar o modo como escrevo ou interpretar minhas próprias palavras é um ato atípico de minha parte. Essa não foi a primeira vez que ilustro uma página de jornal, mas desta vez a alegria realmente existiu, e de forma consciente o que é melhor. Espero agora que venham mais premiações e, quiçá, eu me torne figurinha carimbada em periódicos mensais, semanais e diários principalmente.
As novidades gratificantes não param ainda, porque consegui vencer o meu último tormento literário: terminei um romance. Depois de dois meses de trabalho diário, seguindo a máxima de um dia, um parágrafo, consegui dar cabo por inteiro do romance “Intermitências’. O que deveria ser normal, nestes tempos de seca criativa, conseguir finalizar um projeto é uma vitória a ser comemorada, e muito comemorada. Basta lembrar de minhas últimas tentativas que me deparo com inúmeros textos sem fim, parados às vezes antes mesmo de atingir o início do clímax. Porém com este não, pois me dediquei a ele de corpo e alma, desculpem-me o chavão. Livro terminado, vem agora a pior parte: revisar todo o material, a fim de encontrar os erros de Português que me escaparam na hora da escrita e também as incoerências da história. Tão logo o termine, vem a maratona para a publicação. Além do tempo ocioso e muito mais ansioso para saber se alguma editora sente interesse em publicá-lo
Não sei se é o certo a fazer, mas talvez não fique à espera de que algum editor disque o meu número e me faça o convite tanto esperado. Durante minhas pesquisas, voltei a me deparar com editoras sob demanda e fiquei curioso. Depois de algumas leituras nos sites dessas prestadoras de serviço, gostei do que li na Corifeu. Ainda não me decidi, mas é certo que eu entre em contato com o seu atendimento ao cliente para esclarecer alguns pontos e, quem sabe, bancar eu mesmo a publicação inicial do “Intermitências”, a fim de travar um primeiro contato com o público. Fiz as contas e o investimento não será tão alto para uma tiragem bem pequena. Não quero cometer a loucura de pensar grande demais e depois me arrepender com um encalhe maior que os meus sonhos. Pensei em começar com um número inexpressivo e, à medida que as vendas forem aumentando, pedirei mais exemplares, assim não terei que me preocupar com onde guardarei tantos volumes de um livro que não foi vendido. Tenho até o dia vinte deste mês para decidir o que fazer, se o envio para uma das editoras que já contatei em outras vezes ou se assumo sozinho os riscos de uma publicação independente. O grande problema é ter eu mesmo que fazer as vendas, promover o livro, despertar o interesse do leitor com apresentações, procurar me expor ainda mais na mídia para melhorar as vendas. É um trabalho que requer tempo, e tempo atualmente não é o que tenho de sobra. Isso me assusta um pouco. Mas preciso arriscar, chega de esperar por alguém que faça tudo por mim, porque eu sei andar com minhas próprias pernas.

2008, 03 de abril

segunda-feira, 31 de março de 2008

Com mais problemas é difícil ver o lado bom

Eu gostaria de começar este texto dizendo coisas boas. Eu gostaria de começar este texto anunciando somente momentos felizes e boas projeções para o futuro. Infelizmente, uso o tempo verbal correto, a diferença entre o que se deseja e o que se tem é enorme. Quisera eu atenuar os conflitos que me assolam e dizer ao mundo que sou um homem sereno. Porém a serenidade atualmente passa longe de mim, muito longe neste período obscuro em que cada vez mais me consumo. Queria acreditar em melhores dias, mas na atual conjuntura dos fatos, é difícil de acreditar que algo irá mudar.
Não digo essas coisas sem nenhum motivo, pelo contrário, motivos são o que não faltam para resumir a ópera da minha incauta vida de amarguras e decepções constantes. Não gosto de me parecer com um coitado, nem tenho pretensão de sê-lo. Acontece que a imensidade de contrapontos aumentou tanto, que cheguei ao ponto de perder a credulidade nos bons dias. Parece que tudo nessa semana foi impulsionado pela angústia e mágoa. Nunca imaginei que pudesse ter dias tão ásperos como esses. Tanto sofrimento sem sentido que, sem exagero no termo, pensei em morrer, a fim de calar de vez as vozes que me atormentam tanto o corpo como a alma cansada.
Meus problemas se iniciaram há pouco tempo, primeiro com a quebra inexplicável do carro, tão misteriosa que, já passado um mês de caminhada, ainda não foi descoberto o que ocasionou a quebra. Em seguida minha câmera digital resolve fazer queda livre e não resistiu à aterrissagem forçada a que se submeteu. Quando pensava que não teria mais gastos inusitados com consertos dos meus bens, foi a vez do telefone celular me deixar em branco, queimando totalmente a pequena tela de LCD. Dos males, esse foi o menor, pois consegui trocar o aparelho por um novo e com alguns recursos a mais, o problema disso é que mudei de operadora de serviços de telefonia móvel e, assim, perdi toda a minha agenda telefônica e alguns outros dados que estavam salvos no aparelho antigo. Paciência, telefones podem ser anotados novamente e, quanto aos dados, se eu conseguir conectar o telefone ao computador, salvo todos neste. O problema é que há um ano venho inutilmente tentando fazer a transferência dos arquivos sem nenhum sucesso.
Seguindo a máxima de que tudo de ruim tende a piorar, mais acontecimentos infelizes adentraram em minha vida sem ao menos pedir licença ou se apresentar. A maldita obra no banheiro parece não ter valido de nada, pois o vazamento no vizinho continua. Foram vinte dias de estresse com o pedreiro quebrando o chão, reclamando de tudo e me enchendo a paciência para não resolver absolutamente nada. Para agravar de vez a situação, não agüentei mais as reclamações grosseiras do senhor que mora abaixo de minha casa e discutimos de forma exagerada e quase violenta. Tenho certeza de que não perdi um pouco da razão apenas pelo problema atual, muito se deve ao passado de amargura que travamos como inimigos. Pelo que me lembro, desde a infância o convívio com o pai de meu pai foi praticamente impossível. Por isso meus pais saíram daquela casa antes que as interferências mesquinhas e perturbações de toda ordem minasse de uma vez com o casamento deles. Quando retornei a Angra e resolvi juntar minhas tralhas na casa da minha infância, fui avisado que teria aborrecimentos demais para minha parca paciência. Não sou um homem ignorante, muito pelo contrário, sou gentil e educado, abaixo a cabeça para não cair em brigas, engulo meu orgulho para não me indispor com ninguém, mas sou humano, por isso, às vezes, não consigo controlar o que me fere e bole por dentro, às vezes perco a calma e estouro com tamanha intensidade que realmente assusta. Assim o que parecia ser mais um monólogo exaltado do velho tornou-se uma troca de desaforos, em que se disse mais do que deveria. Eu errei em ter caído nas artimanhas do homem vil. Não deveria ter dado ouvidos as suas imbecilidades de homem louco, mas dei e, portanto, tenho que pagar pelo meu descontrole.
Preciso, agora, encontrar um novo lugar para morar, haja vista que continuar na antiga casa da família é inviável e inadmissível. Não só por esse episódio extremamente lamentável, mas devido a uma série de fatores já ocorridos entre nós, tomei a drástica decisão de cortá-los definitivamente do meu círculo social, fraterno e familiar. Que me desculpe meu pai, mas de agora em diante toda a sua família está morta em meu coração. Quando os encontrar por obra do acaso, faço questão de virar o rosto quando passarem por mim, atravessar a rua para não ser obrigado a topar com eles, não um, nem dois, mas todos eles. Tenho até mesmo vontade de fazer um enterro simbólico com caixão e tudo o mais, mas sei que meu pai, que nada tem com isso, ficaria muito triste em saber que eu comemoro o mal aos meus “ex-avós”.
Preciso agora dar rumo a minha vida combalida. Tenho de me decidir se volto ao aconchego da casa dos meus pais ou se procuro uma nova casa para, no momento, alugar. Ainda não me decidi, ainda não faço idéia de para que lugar eu vou. Mas não posso esperar muito, o tempo corre como um velocista olímpico. Saí de casa ontem à tarde. Despedi-me da casa que chamei de lar por 13 anos de infância e 6 anos de vida adulta. Despedidas sempre são tristes, por menor que sejam. A última passeada pelos cômodos em silêncio, mergulhados na escuridão melancólica das janelas fechadas provocou-me uma sensação fúnebre. Não chorei, mas foi por pouco. Em compensação minhas pernas tremeram tanto que cheguei a pensar que estava a ter uma crise de hipoglicemia, mas para meu alívio era só o nervosismo.
Hoje dormi na casa de Mariana. Depois de uma semana sem tê-la comigo, finalmente ela chegou para me fazer esquecer um pouco todos os problemas que têm me mutilado. Logo mais irei para a casa dos meus pais e decidirei com eles qual será o melhor caminho a seguir. Não posso ficar assim por muito tempo, é preciso arregaçar as mangas e lutar por alguma coisa que eu acredite. O problema é que não acredito em nada.

quarta-feira, 19 de março de 2008

De volta à vida de acontecimentos conturbados

Finalmente volto ao Vida de Escritor, depois de quase um mês sem publicar nada no blog. Se a idéia inicial deste instrumento era contar a dura vida de dois frustrados escritores em peripécias incríveis para compor um simples texto, que teimava em não ser escrito, agora, tenho o enorme prazer de dizer que não há mais postagens constantes pelo simples fato de eu estar atolado em palavras na composição de mais um romance. Para a minha alegria, parece-me que esse vai ao cabo antes do planejado. Já o nosso querido amigo Jean continua ausente desde que foi para a Califórnia brincar de The O.C., sem sofrer o seu papel nesta empreitada. Tudo bem, vamos dar a ele um desconto, afinal cursar uma faculdade na terra de Bush não é moleza nos tempos atuais. Assim, deixemo-lo — que construção sintática formosa — de lado, pelo menos por enquanto.
O ano de 2008 não começou como eu havia imaginado. Depois de enfrentar um mês de janeiro parco, sem muitas palavras e pouquíssimos textos realmente prontos, em fevereiro comecei a escrever um conto apenas para passar o tempo ocioso antes do turbilhão de trabalho se iniciar, roubando todo o meu vigor. Sem que eu imaginasse a brincadeira textual cresceu tanto que de conto já não tem mais nada. Tornou-se um romance mesmo, curto, é bem verdade, mas não deixa de sê-lo. Fazia tempo que eu não me sentia tão bem em escrever uma narrativa. Agora mesmo me pergunto por que diabos estou aqui, escrevendo este texto em vez de continuar as discussões de Almira e Roberto, os protagonistas da minha história. Tenho uma data prevista para enviar o material, mas antes de implorar por atenção nas grandes editoras e rastejar às pequenas, chorando como uma criança para que avaliem a qualidade do texto, enviá-lo-ei — hoje estou abusando da colocação pronominal — para concursos literários, a fim de roubar a cena e tentar ganhar um trocado para sanar minhas combalidas finanças, porque depois que rescindi o contrato — ou melhor, me alforriei — com a editora e dei um basta nas chibatadas de um editor ganancioso que não sabia fazer dinheiro, preciso encontrar outros meios de manter a conta bancária respirando, até porque o salário de servidor público não é lá grande coisa para se manter uma vida com dignidade. Aguardo impaciente pelo resultado do 13º Concurso Literário da FESP e, em breve, o do que escolherei para enviar o Intermitências Amorosas; é claro, se terminá-lo a tempo. O relógio corre nas suas intermináveis voltas e o meu contador interno anda muito devagar, em contrapartida.
Entre um parágrafo e outro, poetei novamente. Embora não acredite realmente que tenha feito bons versos, alguns poemas recentes me enterneceram de tal maneira que resolvi, mais obrigado pela Mariana do que por vontade própria, participar de concursos literários Brasil a fora. Depois do desencanto com esses malditos avaliadores, penso que já é hora de esquecer os traumas e dar minha outra face aos meus agressores. Espero que não volte a ser plagiado por pessoas medíocres e se, por obra do destino, eu for, espero que não seja membro da porcaria da banca que avaliará o pobre que rouba de outro pobre. Há quem diga que concursos são uma furada sem tamanho, mas ainda acredito que alguns deles tenham seu valor e respeitabilidade no meio. E por assim acreditar, fiquei feliz com o resultado que obtive neste primeiro trimestre do ano. Das quatro bancas sérias a que me submeti, duas me contemplaram com menções honrosas. Tudo bem que esperava por uma vitória ou, pelo menos, um terceiro lugar, mas ficar entre os dez primeiros entre ótimos escritores nacionais, já me basta por enquanto. Foi um bom incentivo para manter as investidas e, quem sabe, aguardar por resultados mais satisfatórios.
Nadando contra as ondas da plenitude, minha vida pessoal foge dos eixos. Novamente tive problemas com o carro. Eu, que acreditei na montadora francesa, quando troquei o inusitado japonês preto brilhante, agora peno com o peugeot encostado na oficina há um mês. Para meu desabor, o mecânico ainda não encontrou o problema que me fez empurrar o carro pelas ruas do centro, num desespero patético de ser multado por atrapalhar o trânsito na via. Parece que meus fantasmas automobilísticos jamais me abandonam, afinal o prejuízo e os sustos que me deram o malfadado civic são um pesadelo constante. O que mais me irrita nessa história é que amo dirigir e não posso fazê-lo. Sempre que tenho um problema, minha válvula de escape é guiar o carro pela estrada, correr — hoje bem menos do que antes — como se fosse um homem livre das pressões da vida. Infelizmente as circunstâncias me obrigam a caminhar pelas ruas num ritmo vagaroso e triste, cismando meus aborrecimentos.
Quanto ao trabalho, espero que não haja problemas de ordem financeira. Minha calculadora confidenciou-me que o ordenado será suficiente para me manter, digamos, bem neste ano, mas para que isso ocorra perfeitamente, tive que aumentar a carga horária semanal, buscando trabalho em mais uma escola. Seria absolutamente normal lecionar para mais turmas, porém trazer uma infinidade de redações para casa não me mantém contente, por isso parei de dar aulas de redação há dois anos atrás. Eu odeio passar meu tempo livre preso à mesa, corrigindo centenas de dissertações, dezenas de narrações e outras composições. Mas para quem precisa, não há escolhas, aceita-se o que vier.
Mas o pior de todos os males não é o carro, não é o trabalho, não é o texto. O pior que poderia ter me acontecido foi Mariana ter se mudado para o Rio nesta semana. Já era esperado que ela fosse cursar a faculdade na capital do estado, porém todos nós fomos pegos de surpresa com a data, uma vez que esperávamos pelo segundo semestre. Mais uma peça pregada pelo destino, numa seqüência de atos trágicos intermináveis. Quanto a esse fato, deixemos para outra oportunidade, pois ainda não me sinto preparado para escrever o que sinto sobre isso.
Voltemos ao texto. Almira e Roberto precisam descobrir o que será feito de suas vidas. É hora de eu voltar a brincar de ser deus, de ser destino.

2008, 18 de março

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Dias de Inferno



— Acontecimentos ruins nunca chegam sozinhos —

Esta tem sido uma semana difícil. Tão difícil que nem sei por onde começar o meu relato. Não sou uma pessoa muito supersticiosa, pelo menos não era, mas agora começo a acreditar que entrei numa fase negra. Devo ter passado em baixo de uma escada, topado com um gato preto, chutado uma macumba, eu devo ter feito algo para que os últimos dias fossem tão amargos comigo; uma sucessão de tristes episódios que me mancharam a alma havia pouco tenra, agora de luto grave e muito azarada. Estou perdendo a calma, a um passo do desatino, quase desistindo da luta amarga que é a vida.
A sina teve início na segunda. Trabalho novo, primeiro dia na escola nova, tudo transcorria bem até que descobri que o vazamento que tanto atormentava o vizinho do andar de baixo vinha do meu banheiro. Descoberto o problema que fez minha cabeça doer durante duas semanas de tanto ouvir as reclamações, não tive escolha e mandei o pedreiro quebrar tudo. Como resultado, tenho que correr a casa dos meus pais para tomar banho. Para piorar, eu me banho pelo menos três vezes ao dia, portanto está sendo um inferno manter-me asseado neste insuportável calor com meu problema de transpiração excessiva. Espero que até sexta-feira tudo se resolva, afinal esse foi o prazo estabelecido na contratação do serviço, mas pelo andar da carruagem, acredito que não será cumprido.
Por causa do desconforto no banheiro, ainda na segunda-feira, fui à casa de Mariana com o intuito de tomar um relaxante banho, mas voltei para casa com o rabo entre as pernas e ainda sujo. Os ânimos por lá estavam um pouco alterados e acabei presenciando uma discussão feia entre ela e a mãe. Embora o assunto fosse de mãe e filha, acabei inserido no centro das ofensas e tive minha parcela de culpa exposta para que eu pudesse julgar os nossos limites atualmente: quase nenhum. O cerco está apertando e nosso tempo praticamente escasso. Queria dizer que não fiquei chateado, mas não seria verdade. Profundamente magoado relutei muito em lá voltar, mas por forças superiores a minha vontade, não tive escolha. O que mais me dói nessa história é que em poucos dias Mariana irá estudar no Rio, logo só poderemos nos ver nos fins de semana e com o tempo estritamente limitado. Se a incerteza de como manteremos a nossa relação já é grande agora, não quero nem mesmo imaginar como será em nosso futuro próximo. Estou com medo, um imenso medo de que nosso romance comece a fazer água, uma vez que nos vemos diariamente e daqui para frente isso não será mais possível.
Como não bastasse a decepção que sentia, o pior ocorreu na terça-feira de madrugada. Telefonemas às quatro da manhã sempre dão medo. Os últimos que recebi eram trotes, mas mesmo assim, ficamos com receio de atendê-los. Geralmente atendo-o perguntando quem morreu para que me liguem a essa hora, mas ontem nem precisei perguntar. Quando minha mãe, chorosa, me ligou, sabia que algo extremamente ruim acontecera. Imaginei de imediato que havia sido a morte de meu avô, porque há poucas semanas ele fora internado e nos deixou intranqüilos com seu estado de saúde debilitado. Não estava cem por cento errado, para o meu pesar. Não, não era o meu avô de 93 anos, mas meu tio, seu segundo filho. Embora não nos víssemos há alguns, foi um choque saber que ele tivera um enfarte fulminante. No início pensei, ou melhor, quis acreditar que foi um sonho ruim, ao amanhecer tudo estaria normal como sempre fora, mas não. Eu não havia sonhado, era tudo real, infelizmente meu tio falecera num hospital frio de Niterói.
A dor que senti, e ainda sinto, foi lacerante. Tudo conspirava para intensificar o sofrimento. O estado de minha mãe, parecia ter sido atingida por um raio mortal; a sensação de perda; o fato de eu não poder ir ao enterro, porque não havia com quem deixar as crianças; tudo contribuiu para o meu desespero. Segurei minhas lágrimas o dia inteiro para não deixar meu irmão assustado, mas no fim da noite arrebentei num choro compulsivo. Sinto-me amargurado por não ter me aproximado mais dele, de conhecê-lo somente por histórias contadas com orgulho por meus tios e por limitar-me apenas às nossas breves conversas pelo telefone. Dor. Pena. Tristeza. Minha pobre mãe ainda este devastada; chora como um bebê abandonado numa noite fria. Ela está exausta, chora o dia inteiro e nada posso fazer para amenizar sua febre. Faltam-me palavras, faltam-me a frieza e a segurança para confortá-la em seu momento de agonia. Isso me corrói, me mata também.
Para encerrar a peça e selar minha queda, o Peugeot apresentou o seu segundo problema. Se o primeiro, com a troca da bateria ficou excelente, o de agora não aparenta ser tão simples o reparo. Não entendo muito de mecânica, mas me parece que o problema é no motor. Não estaria tão triste por isso, se não tivesse padecido tanto com o malfadado Civic, que em apenas um mês me levou cerca de dois mil reais. O barulho, cada estouro que eu ouvia, parecia um tiro seco vindo debaixo do capô. Ainda sinto minhas pernas tremerem e o ar fugir de mim. Não quero passar pelo período negro que me foi ficar sem carro novamente. Espero que o conserto seja simples e que não me leve o ordenado do mês inteiro, que já está mais do que comprometido.
Tantas coisas ruins acontecendo sem que eu nada possa fazer para evitá-las. Já não me animo mais facilmente, nem boas notícias me fazem rir ou me sentir menos mal com as intempéries atuais. Vejo o dia ficar cinza pela janela, uma imensa nuvem negra se aproximando e prestes a desaguar a pior das tempestades sobre a minha dolorida cabeça. Nem mesmo os títulos de menção honrosa no Concurso Literário Mendonça Junior e no Concurso Literário do Vale das Sombras acalentaram meu espírito. Talvez se viesse em outra semana eu teria ficado feliz, mas calhou de ser na época errada que as novidades chegaram; vieram junto com a chuva, que lá fora, começa a cair. Estou desesperado.

Alberto da Cruz
2008, 28 de fevereiro

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Não gosto de apagar as minhas velas



Meu aniversário está próximo, menos de dois dias para apagar as velas de um bolo imaginário. Como no ano passado, neste também não terá bolo. Acho que desde que me descobri diabético não teve mais bolo em meu aniversário. Também não faz falta, porque eu odeio bolos de festa, aquelas coisas cheias de glacê, confeitos e açúcar suficiente para matar um formigueiro de hiperglicemia. Foi-se o tempo das festas, portanto este ano também não terei uma festa. Há algum tempo fazíamos churrascos para comemorar o meu dia, mas de uns tempos para cá os churrascos regados à cerveja e misturas alcoólicas foram perdendo a graça até não mais existirem. Meu aniversário perdeu a graça faz anos. Afinal, o que há para comemorar? É só mais um dia num ano de dias intermináveis, a única diferença é que eu nasci numa manhã quente de verão de 1981, justamente neste dia.
É fácil perceber que não gosto do meu aniversário. Não sei se é a desilusão com o mundo ou comigo mesmo, mas não gosto desta data. Não tenho o que comemorar; só mesmo lamentar as coisas que não fiz e as marcas expostas que o tempo deixa, minhas feridas purulentas que não cicatrizam nunca. Eu gostaria de saber explicar o motivo de tanta tristeza quando deveria ficar feliz, mas não o sei. Simplesmente sou acometido de um estar depressivo nos dias que antecedem a minha data natalícia e que perdura até a semana posterior. Sempre foi assim e deve continuar por muito tempo ainda.
Quando vejo as pessoas felizes e eufóricas em seus aniversários, não entendo o porquê de tanta alegria. Não consigo compartilhar desse sentimento, realmente não os entendo. Que diferença faz para ser tão diferente a véspera para o grande dia? Não são todos iguais? Ambos não possuem 24 horas? Não começam na hora zero e terminam a meia-noite? Então por que tanto estardalhaço? Devo ser mesmo um homem amargo. Não gosto de Natal, por isso tanto me atormentam aquelas mensagens idiotas que dizem da boca para fora. Não gosto ainda mais do meu aniversário, não por esquecerem de mim, mas por pessoas que realmente me são caras não lembrarem de minha existência sequer uma vez no ano e, neste maldito dia, vêm me dar parabéns por estar mais um ano me arrastando qual morto na tumba neste mundo miserável.
Não, eu não gosto do meu aniversário e dos dias que o antecedem também. Tenho medo de tudo, das coisas que imaginei e sei que não se concretizarão, dos meus sonhos que morrem cedo demais, de tudo aquilo que quis viver e que jamais viverei. Estou desiludido demais para festejar o que quer que seja. Nada me anima, só desencanta. Viver passou a ser um martírio cada vez maior, um imenso fardo que já não consigo carregar. O mundo está pesando demais sobre meus ombros. Mal posso me sustentar. Minhas pernas estão bambas. Sinto que vou cair a qualquer momento e não posso fazer nada para evitar que isso aconteça. Estou fadado a um fim trágico, sem alegria e sem sorrisos. Temo o que me espera no fim do corredor, na última porta a ser aberta. Que monstro cruel me espera lá dentro para assombrar meus sonhos, meus pesadelos cruéis?
Reminiscências cruéis me assolam como fantasmas raivosos. Cometi muitos erros em minha vida e, talvez por isso, queira fugir deste universo recheado de hipocrisia o quanto antes. Sempre penso na morte em meu dia especial. Sempre penso em como será e quem sentirá a minha perda, se é que farei tanta falta para alguém ao ponto de minha ausência ser sentida. Se eu gostaria de ser diferente? Igual aos outros? Obviamente. Mas não o sou. Tenho a pena da melancolia manchando minhas páginas amargas, tenho uma tristeza depressiva inerente às minhas vontades, um não sei quê de soturnidade vazando pelos meus poros. Mas um dia tudo vai mudar, eu sei que vai. Só resta saber se ainda terei tempo de ver isso acontecer com o mínimo de sanidade possível.
Amanhã é meu aniversário e já estou farto de fazer pedidos que nunca se realizam e soprar velas imaginárias ao meu desgosto.

Alberto da Cruz
15-16/02/2008

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Esboços de um conflito e a arte do contentamento


Depois da interminável quantidade de trabalhos do mês passado, fiz questão de dar-me merecidas férias textuais. Assim que terminei o material para o 13º Concurso Literário da FESP não mais escrevi uma linha para nenhum fim, afinal compus como louco em novembro e dezembro para conseguir finalizar os escritos antes que meu prazo findasse, era de se esperar que eu chegasse à exaustão física e mental, mesmo ainda deixando alguns trabalhos em aberto, como o romance Minha História, que nasceu da mesma idéia do conto “A menina dos meus olhos”. Embora as duas histórias possuam o mesmo tema central, rumam por caminhos diversos. Obviamente o romance é mais denso do que o conto, afinal os gêneros literários existem para que as obras não sejam iguais. Gostaria de dar cabo logo ao romance, mas ando um tanto blasé com a literatura. Até mesmo este pequeno texto me é sofrível para escrever. Parece, e não sei o porquê, que perdi, momentaneamente, o tesão pelas palavras. Tenho vontade de escrever da mesma forma que um homem impotente tem vontade de deleitar-se com o sexo, ambos ficamos na vontade imaginando o ato de prazer. Quero escrever, mas não consigo. Perco a paciência ainda no primeiro parágrafo e largo o texto ainda menino como um mãe que abandona o rebento a sua própria sorte. A criança ainda pode crescer, mas minhas palavras sem o meu afeto não chegam nem a infância das letras.
Estou cansado, essa é a grande verdade. Cansado de lutar contra minhas limitações e por uma revolução íntima que nunca chega. Ando desacreditado com meus pensamentos e, principalmente, brigado com meus ideais. Não sei se o grande motivo para minha regressão artística foi a falta de bons resultados atualmente ou simplesmente o tédio somado a um langor absurdo que me tolhe não só a criatividade como também a própria vontade de manifestar meus desejos e expor sonhos no papel. A vida de escritor é dura, portanto sem perseverança é praticamente um fardo pesado demais para carregar. Por isso ainda não me decidi se espero pelos resultados até meados de março para continuar os projetos inacabados ou se ponho fim às minhas férias e mergulho definitivamente no mar de palavras e pensamentos bizarros que me povoam a mente tão cheia de conflitos.
Não estou muito bem pessoalmente. Vida atribulada e repleta de paixões. Talvez se conseguisse separar os meus tormentos, realizaria melhor minhas tarefas, mas não consigo abstrair um problema de outro. A vida amorosa está oscilando muito e isso tem sido prejudicial para o bom andamento de meus delírios.
Pronto. Perdi a paciência outra vez. Agora quando estiver mais tolerante regresso ao texto.
***
Insisto para terminar este mal-gerado absurdo dois dias após largá-lo ao meio como se estivesse pronto ao lixo. Não é por falta de assunto que ele rasteja como um animal ferido prestes a morrer. Assunto não me falta, o que desapareceu foi talvez a tranqüilidade costumeira que me tomava quando me ponho a escrever, quando me punha a escrever.
O ano não começou nada bem e eu devia ter me atinado aos detalhes que marcaram a passagem dos meses. Tudo bem que no momento em que 2008 se desenhou e eu vi seu esboço, acreditei que seria esplêndido o seu começo, mas não devemos acreditar em esboços sem conhecer de fato o artista e o seu trabalho final. Confiei e me decepcionei com a obra pronta nos primeiros dias do ano. Fora uma exposição de pesadelos.
Como eu disse já faz algum tempo, precisava enfrentar a dura realidade de minhas amarguras passadas na comemoração da festa da virada de 2006-2007. Piamente acreditei que só haveria uma maneira de espantar o fantasma da Praia do Sono de minhas noites insones: dessa vez também ir, cedendo às minhas vontades, para acompanhar Mariana em seus desejos. Fui, mas faço um adendo. Não é preciso mencionar a beleza do lugar e a tranqüilidade que 4 dias em meio a natureza causam em nós, criaturas urbanas, dependentes de tecnologia como uma droga vital a nossa existência vã. Acontece que constantemente me perguntava desolado se aquele lugar era mais importante do que eu e meu amor incondicional. Acreditar que fui trocado pelas noites de algazarra por aquela a quem meu coração aponta como, bem-dizer, segurança aos meus dias conturbados era um mal que me feria o íntimo, sem remédio para aliviar as fortes dores perpetuadas na alma — que hipérbole! Apesar de descontente, procurei abstrair-me dos erros e me divertir com ela passou a ser o mais importante. Afinal, havia um bom motivo para estar ali: Mariana, sempre Mariana. Era a oportunidade que eu tanto esperava para enfim dormimos juntos, pois em pouco mais de um ano de namoro, conta-se nos dedos as vezes em que demos um beijo de boa noite e acordamos juntos num sorriso pleno ao dizer bons dias ainda com os corpo colados como se fossem um só, sentindo o calor da pele despida aquecer nossos desejos. E claro que nos faltou o conforto de um quarto, mas em seus braços até o colchão inflável e a pequena barraca abafada era o paraíso.
Há quem pense que me curei do mal, mas não. Atenuadas as mágoas, mas não de tudo findadas. Às vésperas do Ano Novo, faltando menos de uma hora para os fogos iluminarem o céu, nós brigamaos novamente e, novamente por algo que poderia ser evitado. Punhamos em risco a alegria festiva. E confesso que naquele instante senti raiva dela; um sentimento tão avesso que me fez repeli-la como se me fosse algo nocivo. Até que os ânimos se acalmassem foi horrível olhá-la, senti-la, amá-la. Conseguimos, porém, esquecer, pelo menos momentaneamente, as nossas desavenças e partilhamos da comemoração. Se havia o que discutir, ficaria para o outro dia, menos tensos e mais racionais. Porém o que se iniciava ruim ganhou proporções ainda maiores.
Um dos nossos companheiros de viagem nos informou que fomos roubados. Conhecendo seu espírito brincalhão, demorei a acreditar que dessa vez ele dizia a verdade. Em passos apressados chegamos ao camping em que estávamos e a decepção abateu-se voraz sobre todos nós. Era verdade. Todas as nossas barracas, somente as nossas dentre dezenas, tinham sido violadas. Felizmente, nossas coisas não foram levadas, nem mesmo nossos poucos Reais foram encontrados, mas aos nossos amigos o destino foi diferente, uma sucessão de desgosto e desespero os tomou de espanto quando se constatou que muito deles foi levado: dinheiro, bens materias, fora a bagunça feita em todas as coisas. Era o fim da festa, pelo menos foi por algumas horas. Embora tentássemos salvar a comemoração e nos divertirmos com o que nos sobrou, foi impossível não voltar nossa noite a falta de sorte que tivémos. No dia seguinte, para espanto de todos os demais acampados, ríamos do ocorrido enquanto contabilizávamos o que nos sobrara para voltarmos para casa.
O ano começou mal. Digo isso não só pelo que nos aconteceu no Sono, mas também pelo clima tenso entre mim e Mariana na semana de regresso. Chegamos terça e quinta, por pouco, não se findam todos os esforços, lágrimas e sorrisos que dividimos. Aquela velha história de que um acontecmento ruim atrai outro que por sua vez atrai mais outro e assim sucessivamente. Brigamos como nunca antes. As profundas mágoas ainda latejavam em nossas cabeças e eu, que de amores por ela morro, resolvi que era melhor enterrar nossa história de vez por não aguentar mais os deslizes impensados de nosso relacionamento.
Nunca vi Mariana chorar como a vi naquela quinta. Jamais imaginei que o que ela sente por mim fosse tão forte a ponto de fazê-la soluçar, chorar e gritar como meio de fazer-me mudar o pensamento. Discutimos por horas e nesse interlúdio triste, propus o nosso fim, apesar de nos amarmos. Não era possível continuar sem que o respeito pelos pequenos detalhes existisse. Seria viver o próprio inferno ter a vida sem ela, mas eu não mais suportava as mágoas que me varriam o peito. Eu que já passara por outras desilusões na vida, já experimentara tantos amores, já vira ruir tantos sonhos, já recomecei tantas vezes esquecendo velhos amores, pensei que não seria diferente e esquecer também dela seria como foi com as outras que por minha vida passaram. Com Mariana sempre foi diferente, eu não poderia esquecê-la nem levar a vida como se ela não fizesse parte de mim. Recobrei a consciência a tempo, antes que o mal jamais pudesse ser desfeito. Puxei com força para meus braços e calei seu choro infantil em minha boca. Foi nosso beijo derradeiro, a hora em que percebemos que o amor que temos um pelo o outro supera toas as diferenças e faz o passado ingrato morrer. E eu a amei mais.
Parece-me que precisávamos enfrentar a desordem dos nossos pensamentos para nos certificarmos que queremos cultivar nossa história. Foi duro e quase vimos nossos frutos despencarem antes do tempo, mas felizmente a colheita foi salva depois da tempestade. Hoje vivemos os nossos dias de glória e ainda mais apaixonados do que antes. Nosso amor cresce a cada dia, solidifica-se a cada hora. E nosso futuro se desenha, não num esboço de um artista desconhecido, mas pelas mãos de um gênio da arte.

Alberto da Cruz
2008, 08 de janeiro