sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Simples Gostos na Vida


“Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto de bons modos
Não gosto”

Senhas, Adriana Calcanhoto

Eu gosto de acordar cedo e ver o mar pela janela do quarto. Eu gosto de beber café forte e muito quente, enquanto fumo um cigarro, logo que me levanto da cama, antes de fazer qualquer coisa.
Eu gosto de fazer sexo pela manhã, embora, à tarde, seja bom e, à noite, também. Gosto de experimentar, variar, inovar. Quase dispenso todos os tabus, menos homossexualismo, que não curto nem um pouco. Não tenho lugar, pode ser na cama, no sofá, no chão, sobre a mesa, debaixo da mesa, no banho, na cozinha, do lado de fora, dentro do carro... o que importa é a hora do prazer. Mas devo confessar que às vezes prefiro o depois ao durante, aquele momento gostoso em que os corpos extasiados se abraçam e, sentindo o calor do outro, adormecemos felizes num gesto enamorado. Sexo, para mim, é entrega total. Não curto um lance casual, tem de haver envolvimento afetivo sério, fazer com amor mesmo, pois sem, nada tem graça.
Gosto de música e das emoções que ela me propicia. Não tenho um estilo definido, ouço de tudo. Para mim, o que importa é o momento, por isso podem me pegar cantando de um samba-canção de Cartola a um grito visceral de Rock. Tudo depende do instante, mas tenho meus preferidos. Chico Buarque me faz pensar, amar e produzir, meu ídolo e exemplo tanto no cenário musical quanto no campo literário. A poesia de Humberto Gessinger me fascina como os poetas contemporâneos que admiro. Alcione me faz chorar, principalmente quando estou em crises amorosas. Ouvir Cazuza me dá um tremendo tesão, daqueles de deixar maluco mesmo; mas também me faz pensar na transitoriedade da vida e como o tempo é voraz. Se minha vida tivesse uma trilha sonora, ela seria de vários estilos, passeando dos clássicos compositores à musicalidade contemporânea.
Gosto de livros, minha paixão antiga. Cada volume adquirido é um orgasmo múltiplo. Vivo entre eles e de tanto estimá-los, tornei-me um bom leitor, mas poderia ser melhor. Nada me encanta mais do que uma boa leitura, seja de um romance, biografia ou poesia. A arte literária me toma os sentidos e me leva ao êxtase do supremo num gesto sublimado. Por vezes troquei diversos programas para me deleitar com um livro e, juro, jamais me arrependi de prostrar-me no sofá e viajar pela madrugada. Se ler é um orgasmo, escrever é a minha doce sina. Escrevo para me livrar tédio, para espantar a solidão, para sair da rotina, para desabafar minhas mágoas, ilusões e desespero. Ganho, bem menos do que gostaria, falando de minhas tristezas e de minhas insanidades, embora já faça um bom tempo que não vejo lucros sobre minhas divagações. Não paro com a escrita, mesmo descompromissada, é ela que me acalenta um pouco o espírito revolto.
Gosto de filmes, e passo horas diante da televisão, entretido com alguma trama fictícia. Não sou um cinéfilo assumido, mas tenho minhas películas prediletas. Meu gosto é variado. Adoro comédias do tipo besteirol. Amo filmes de terror, principalmente sobre vampiros, lobisomens e assombrações. Choro assistindo a um bom drama. Quero amar da forma como vi em algum romance. Sou louco por filmes de máfia e do período da Recessão Americana. Hoje em dia tenho prazer com as produções nacionais, diferentes das pornochanchadas antigas. Assisto a, mais ou menos, cinco filmes por semana, fora aqueles que eventualmente passam nos quatorze canais específicos que assino.
Gosto de carros. Sem restrições, qualquer tipo me atrai. Tenho predileção pelos antigos nacionais que a maioria dos antigomobilistas adoram, como: Maverick, Opala, Puma, GTB, Miúra e Galaxie Landau. Sou louco por esportivos importados, tive inclusive um Honda Civic que era o meu xodó, mas fui obrigado a vendê-lo. Gosto de me sentar ao volante e ouvir o barulho do motor ao virar a chave e levantar os giros. Dirigir é mais do que uma simples necessidade, é uma válvula de escape. Quando estou na estrada, faço questão de abaixar os vidros e deixar o vento bater em meu rosto. Gosto de ver a estrada pelo pára-brisa e saber que estou no controle. Amo velocidade, e às vezes exagero no acelerador, mas também curto uma volta bem devagar, observando o mundo passar a minha volta.
Gosto de plantas, de cultivá-las, de orná-las em pequenos vasos cheios de pedrinhas e musgos diversos. Quando estou com as mãos sujas de terra, delicadamente ajeitando as raízes, parece-me que esqueço as minhas próprias mazelas numa atividade catárticas. Tenho meus bonsai, a única forma de se ter árvores em uma casa sem espaço, e outras de diversos tipos. Perco horas debruçado sobre as pequenas plantas, podo, reparo, aramo, crio estilos, admiro, chego ao êxtase. Ainda encherei a casa de verde, mas tudo tem seu tempo certo.
Gosto de cozinhar, embora não possa comer quase nada do que levo ao fogo. Tenho prazer, pelo menos, em ver os amigos fartando-se com o que faço, e chego a experimentar alguns pratos apenas por vaidade, embora meu médico me repreenda por furar a dieta controlada de ingestão de açúcar, mal dos diabéticos. Aprendi a gostar de saladas e alimentos coloridos naturalmente, mas ainda enlouqueço com uma apetitosa massa.
Gosto de trabalhar, ainda que não receba o valor a que a classe educadora mereça. Realizo-me em sala de aula, quando me sinto responsável por, além de passar o conteúdo exigido pelas grades de ensino, ajudar a moldar um cidadão consciente. Meus alunos são meus amigos e os prezo da mesma forma a que os íntimos. Reclamo bastante, mas por nada largo meu ofício. Acredito na educação, mas não no sistema educacional atual. Espero uma reviravolta nos moldes em vigor, antes que as coisas saiam do controle.
Gosto da companhia dos amigos, por isso abro as portas de minha casa para todos eles, deixando-os tão à vontade como se estivessem em suas próprias. Compartilho do meu pão, da minha água, do meu uísque, do nacional é claro, o importado apenas a um seleto grupo dentro do círculo fraterno. Bons papos, conversas amenas, um programa íntimo em conjunto, tudo isso me satisfaz. Não preciso de agitação todas as noites para me satisfazer, na maioria das vezes sentar no sofá e assistir a um bom documentário, ou mesmo filme, bebendo e beliscando um aperitivo qualquer é muito mais prazeroso do que uma noite entre desconhecidos conhecidos.
Gosto ainda mais de ficar sozinho, embora precise de alguém muitas vezes. Faz parte de minha estranha figura trancafiar-me no escritório e refletir a vida. Já experimentei o convívio em sociedade de diferentes formas, mas preferi a solidão como amiga íntima. Sigo meus próprios horários e não mudo minha rotina por ninguém. Lavo a louça quando quero, arrumo a casa quando melhor me convém. Dito minhas próprias regras e não dou satisfação a ninguém por minhas escolhas. Sou independente, pago minhas contas, batalho pelo meu sustento, não preciso, pois me sujeitar aos caprichos de ninguém.
Gosto de adormecer nos braços da mulher amada, e ainda mais de acordar ao seu lado, mesmo que seja raríssimo, salvo em poucas oportunidades. Gosto de amá-la nesse ineditismo que esta relação representa a mim. Descobri que a felicidade existe graças ao brilho dos seus olhos, mesmo que eu bata no peito para defender meu direito de ser triste, uma vez que a tristeza é parte de mim. Momentos diáfanos ocorrem quando juntos o mundo pára, embora o tempo corra célere, sem respeitar as vontades do nosso pobre coração.
Gosto de pequenas coisas na vida. Eu valorizo detalhes que para a maioria são insignificantes. Tenho minhas loucuras e às vezes sou meio radical com minhas atitudes. Não sou perfeito como nenhum homem é, não sou especial, nem anormal; sou apenas diferente neste mundo de pessoas comuns.
Mas o que eu gosto mesmo é de fazer sexo pela manhã.

Alberto da Cruz
2007, 27 de setembro

Texto publicado em:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/albertodacruz

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Mudança de comportamento entre o passado presente e o hoje

“Se tanto amor dentro de mim eu tenho
E, no entanto, eu continuo inquieto
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais”

Clarice Lispector
O que seria de minha vida hoje se as ações do passado recente tivessem sido outras? Essa é uma dúvida que me permeia o pensamento, mas não porque eu gostaria que fosse diferente, apenas uma estranha curiosidade sem muita importância. Muita coisa mudou na última rotação da Terra em torno do sol. Eu mudei bastante em relação ao que havia me tornado nos anos difíceis, mas se parar para pensar, afirmo que não mudei, e sim voltei a ser quem fui um dia e por variados fatores externos deixei de ser.
Os últimos dias foram bem interessantes, embora nada tenham me apresentado sobre a tecitura do romance, isso já virou rotina. Minha vida pessoal tem me tomado toda a atenção, mas não reclamo, nem a culpo por tal. Na verdade estava mesmo precisando refletir meus momentos e tormentos e esquecer um pouco o rumo profissional, já que passei bons anos investindo em minha profissão e meus anseios literários, deixando, por conseqüência, minha estima e acontecimentos íntimos de lado.
Imerso nesse clima “retrô-saudosista”, lembrei-me há pouco de certas passagens tolas minhas, tão tolas que me chegam a causar vermelhidão na face. Houve um tempo em que eu escrevia tão compulsivamente que nem mesmo os guardanapos de bar escapavam da minha caneta. Não havia um dia em que eu não escrevinhasse num papel qualquer que pairasse em minhas, hoje trêmulas, mãos. Foram tantos escritos que a maioria foi perdida entre um copo e outro de cerveja. Eram momentos pueris guiados por um forte ideal criativo que aos poucos diminui, tudo graças aos contratempos de uma vida desregrada e à beira de um fim triste, mas anunciado. Onde estão meus textos de bar? Onde estão meus delírios embriagados? Onde estão meus momentos de inconsciência alegre? Desaparecidos numa amnésia provocada em uma memória falha, eis a verdade.
Eu, sinceramente, não sei o porquê do afastamento de algo que me é tão prazeroso. Faz tempo que não me dedico aos meus prazeres maduros; faz tempo que não me tranco no escritório e escrevo ou reviso sem me importar com as horas em que, isolado do mundo, tenho apenas o microcomputador como companhia. E por falar nisso, nem mesmo uma boa leitura tem me feito permanecer sentado no sofá como antigamente era comum. Minha mente não pára. Uma avalanche de pensamentos me põe em risco e a única coisa que posso fazer é não fazer nada. Assim, atividades que me fascinam ficam de lado. Romances, poesias, filmes, nada me acalma o espírito revolto. Isso me entristece deveras.
Digamos que a vida breve mudou da água para o vinho na maior parte das circunstâncias que me rodeiam, mas em alguns pontos, o vinho tornou-se aguado sem que eu o diluísse. Coisa estranha, não? Dentre as mudanças, descobri que a felicidade existe. Eu, um tristão assumido desde os primórdios de minha curta existência, experimentei o gosto da alegria, e vi desenhar-se em meu rosto uma série de sorrisos plenos que jamais pude imaginar que fosse capaz. Depois de sair do inferno astral que me meti inconscientemente, parece-me que cheguei ao limiar entre amor e dor; ilusões sôfregas e realidades ternas... e tenho tensão de seguir para o lado positivo, pasmem.
Já não há mais como esconder, também não há necessidade para tal, finalmente me apaixonei como nunca antes, uma mistura de sobriedade e segurança, dando-me bases e esperanças de construir algo, enquanto ar ainda tenho para me encher os pulmões tão maltratados. Não digo que a reviravolta tenha sido impulsionada por sentimentalidades, até porque não seria uma reforma íntima que leva ao crescimento. Obviamente a contribuição tenha sua importância, mas as derrubadas que a vida me deu foram determinantes para uma revisão do comportamento geral. Processo evolutivo em que aprendemos com erros, ganhamos vivência e chagamos à conclusão de que a maturidade chegou. Só não quero que o amor de hoje se transmute em dor e mágoa um dia, realmente não quero, mas se acontecer, de cabeça erguida, será preciso continuar os passos em busca do desconhecido, com as lembranças dos meus melhores dias gravados na alma enamorada... mas não quero nem pensar que acabe, deixemos o futuro para o futuro, mesmo que não haja o futuro, deixemo-lo para depois.
Atualmente venho recuperando os dias de juventude que deixei passar, andando tão preocupado em solidificar um futuro que não foi o esperado. Se os pontos eu tivesse entregado quando as nebulosidades encobriram minhas vistas, já teria desistido, como sempre, e, talvez, tivesse adiantado o relógio à minha hora derradeira. Não estaria aqui escrevendo minhas histórias, bem provável que a última narrativa estivesse pronta antes do tempo, definitivamente.
Um ato realizado de forma impensada desencadeia uma multidão de aborrecimentos inevitáveis, mas um acerto, que mais se parece com um erro no princípio, na verdade é a correção das utopias e quimeras. Digo que hoje não me cabem as ilusões de antes; hoje o tempo me empregou marcas cruéis, portanto sou obrigado por mim mesmo a viver uma espécie de carpe diem pensado. Não afirmo que deixei de ser triste, mas a felicidade em mim existe e cresce, brota, floresce lentamente. Quem sabe ela perdure nos meus dias finais... E que eles demorem um bom tempo ainda para chegar.


Alberto da Cruz
2007, 20 de setembro

Texto publicado em:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/albertodacruz

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tenho medo de morrer amanhã

"Se eu morresse amanhã viria ao menos
fechar meus olhos minha triste irmã”
Álvares de Azevedo, Lembrança de Morrer


Odeio começar um texto que não terminarei no mesmo instante em que me comprometi a escrevê-lo. Odeio ser dominado por um maldito relógio. Odeio ser escravo do tempo e ter minhas vontades reprimidas pelo senso de responsabilidade profissional. Por que não podemos fazer o que quisermos de nossas vidas e estipularmos nossos horários independentemente das obrigações? Obrigações não deveriam ser obrigatórias, pois tolhem a criatividade, assassinam a inspiração e deixam tudo com um gosto meio amargo.
Por que então escrevo, já que sei que não chegarei ao fim do último parágrafo? Talvez por sentir uma necessidade monstruosa de expor meus pensamentos e compartilhar com muitos, com poucos ou somente comigo meus lampejos e idéias; talvez por apenas querer extravasar as loucuras que fervilham em minha mente mais insana do que normal... talvez apenas para fazer com que me sinta menos inútil nesta valsa doentia que é a vida. Vamos todos dançar.
Andei alguns dias longe da atividade redentora do meu espírito cansado e corpo doente. A vida passa rápido e o “tempo não pára” para que possamos esperar a tão desejada “hora da estrela”, principalmente no meu caso. Cada dia passado é um a menos no meu contador. Alguém me espera e eu sei quem é. Já vi a sua “cara” e não a achei assim tão linda.
Tenho medo de morrer amanhã. Tenho medo de escrever meu último texto; tenho medo de vê-la pela última vez... e partir desta esfera sem me despedir como desejo; tenho medo de não ver o sol nascer, de dormir e não acordar. Eu não quero morrer amanhã, embora não seja possível escolher. “Morrer não dói”, mas viver é um sofrimento inevitável que temos de enfrentar enquanto respiramos. Acho que é por isso que luto contra o sono e as horas silenciosas da madrugada. Preciso registrar meus pensamentos enquanto ainda tenho lucidez... mesmo que parca. Embora eu queira mudar o mundo, se não para muitos, pelo menos para aquelas pessoas que me cercam, contento-me somente com fazer a diferença na vida de alguém, ter uma razão, nesta passagem calamitosa, na vida. Poder fazer com que as pessoas se lembrem de mim por algo de bom que eu tenha feito. À noite, deitado em minha cama, temo ser esquecido... ou lembrado pelos meus erros, não pelos meus sucessos. Isso faz da vida um desespero, essa vontade de construir algo que perdure e transcenda a minha tediosa realidade. Eu preciso construir algo bom antes que minha luz se apague. Por isso tenho medo de morrer amanhã.
E se morrer tão logo nasça o dia, não terei dito adeus, nenhuma palavra de despedida àqueles que tanto estimo, nem mesmo um suspiro de consolação ao meu amargo fim. Dá-me agora vontade de pegar o telefone e ligar para meus pais; dizer que os amo acima de tudo; pedir desculpas pelas minhas desobediências na infância, pelos meus erros na adolescência e pelos meus ais de agora. Queria deixar bem claro que a culpa de eu ser assim não é deles, não é minha, e sim do acaso, do destino ou da má sorte que me ruiu os dias. Queria dizer ao meu jovem irmão que lamento não ser o seu exemplo, não estar presente nos momentos importantes de sua vida, que sua existência me fez lutar contra a praga mortal que me dilacera inteiramente. Gostaria de carregá-lo no colo como fazíamos quando eu tinha forças para lançá-lo às alturas e agarrar seu corpinho, sorrindo como ele, como uma criança feliz. Queria poder ligar a Ela e dizer-lhe o que encontrei a felicidade em seus braços, como sua voz infantil me acalentou nos momentos de mais intensa crise, como seu sorriso me forçava a resistir às plagas da dor. Infelizmente o adianto das horas inviabiliza a necessidade pungente de discar os meus dois números telefônicos tão queridos, por isso a dor da alma transcende a dor do corpo.
Pode ser que eu não morra amanhã, mas não ouso dizer-lhes o que grita em mim. Não quero assustá-los com minha incerteza, não quero que vejam em mim a “luz negra” apagar-me os sonhos. Causar tristeza nos que me amam enquanto ainda respiro seria um golpe ainda mais desumano ao meu pouco futuro. Prefiro vê-los sorrindo, prefiro fazê-los acreditar que estou bem e ando a arquitetar uma vida plena de objetivos. Pena que, para mim, sejam apenas continuar um pouco mais entre eles.
Dói-me olhar para trás, enquanto passa o meu curta-metragem, e lembrar que por vezes tentei contra minha existência; que pensei em desistir de tudo, vazar a cabeça com um tiro, lançar-me de um edifício, tomar dezenas de antidepressivos e agora, que mal me sustento, rezo em silêncio por um pouco mais. Mas me entregar à dura realidade do meu prazo também não seria uma forma de suicídio? Ou seria um modo louco de desistir da luta inútil, já que todos têm o mesmo fim? A consciência humana é mesmo problemática. Vivo em dicotomia, numa antítese crucial: viver para morrer “versus” não morrer para viver. Mas como um exclui o outro, embora rumem ao mesmo fim, sou prisioneiro desse paradoxo complexo da existência.
Estou fraco. Choro como um último bálsamo ao inevitável. Minha forma de encontrar alívio aos meus pecados é isolar-me em mim, trancafiar-me no pouco que me resta de paz. E mesmo assim até o que me tranqüiliza assusta. Estou em pedaços que jamais serão juntados, estou a um passo do desconhecido, a um passo de chegar aonde a luz brilha intensamente e não há mais volta.
Penso em como serei lembrado, se é que o serei. Minhas composições muito provavelmente serão enterradas comigo, algumas esquecidas em gavetas ou perdidas entre tantas folhas. E todo o esforço e dedicação aos quais me empenhei tão arduamente não terão valido nada. Todas as noites, debruçado sobre uma mesa calejando os dedos com a caneta, terão sido inúteis como fora a minha vida. Logo eu que tive o sonho de um dia ser alguém, de ser reconhecido por uma utopia. Se eu tivesse tempo para amadurecer minha literatura medíocre, talvez eu fosse lembrado, sem honras, mas lembrado e, quem sabe, homenageado de alguma forma num evento menor. Mas não!
O amanhã está próximo, e eu não quero morrer sem dizer perdão e adeus. Realmente não quero... mas não depende de mim, infelizmente não.

Alberto da Cruz
2007, 11 de setembro

Já lustrei meus sapatos

A tarde é fria. Eu já não sei que graça tem a vida. Meu coração, de luto, palpita. Certas coisas trazem à luz um sentimento obscuro de partida; a minha partida. Esvaindo-se lentamente, a essência vital da juventude me abandona a cada dia. Não tenho mais prazeres, não me restaram dos sonhos a esperança. Tudo morre um dia, nada é eterno, tampouco tem pretensões de ser. È inevitável lutar contra o único fato derradeiro, quando não se há mais soldados nem guerreiros.
Eu deixo a vida, não hoje, mas ao poucos. Lutar? Por que haveria de cansar-me com uma batalha que antes mesmo de iniciar-se já está perdida? A morte me rodeia, me enlaça, abraça, me beija. Acaricia-me a testa, desce à minha nuca, segura-me nos ombros. Consolo último nos dias de sofrimento elevado. Não tenho medo, mas a ponta da melancolia me faz chorar. E essas lágrimas em silêncio e segredo que me escorrem pelo rosto amargurado aliviam a dor do desengano.
Se eu tivesse um revólver não pensaria duas vezes, poria em prática o gesto malfadado, exteriorizando meu sangue doente em troca de um pedaço de chumbo. Mas não posso adiantar o futuro. Falta-me coragem. Apesar disso, é inevitável dizer que a sorte me abandonou. A morte é uma donzela à espera da valsa. Já lustrei meus sapatos. Aguardo a orquestra.


2007, 07 de setembro

domingo, 2 de setembro de 2007

Salve a estupidez humana

Estou cada vez mais relapso com as postagens e ainda mais displicente com os textos. Culpa da vida atribulada que não me deixa espaço para nada mais do que as inúmeras atividades profissionais? Não, definitivamente não! O culpado sou eu mesmo e minha incondicional preguiça melancólica. Passei esta semana, digamos, na flauta; trabalhei pouco devido a uma série de fatores inerentes a mim, mas não reclamo, apesar de que na semana passada o labor foi muito mais brando, já que fui acometido por uma estranha virose que me derrubou por quatro enfastiados dias. Embora o tempo que tanto almejei tenha surgido, não consegui concentração para realizar nada do que me objetivei a fazer. Vi alguns filmes, li poucas páginas de Risíveis Amores e só. Fui incapaz de pôr em prática o meu segundo ofício e agora peno as plagas da insatisfação própria. Nova semana começando e, para piorar, é chegado o momento de planejar testes e provas para o fechamento do bimestre. E lá se vai meu tempo.
Novamente o Conto Conspiratório ficou de lado e já acumula teias de aranha. Parece brincadeira, não é falta de compromisso ou seriedade com a história; realmente esse projeto me enche os olhos, mas estou atravessando uma fase tão difícil que me é penoso abraçar essa empreitada e dar cabo da história. Uma novela mexicana, é assim que eu me refiro a ele. Para piorar, já faz algumas semanas que não converso com Jean e a distância que nos encontramos só tende a piorar as coisas. Preciso agora me empenhar ou perderei uma nova oportunidade. Fui convidado a participar de um bom concurso literário, cuja premiação é tão boa quanto o outro, e ainda não rabisquei nenhuma linha. Até poucas horas não sabia sequer sobre o que poderia escrever, mas graças a uma incômoda dor de dente, tive a idéia para tecer uma historinha de suspense para enviar à editora. Resta-me agora amadurecer a idéia, criar as personagens principais, definir tipo de narrador, tempo e espaço para enfim começar a labuta. Para a mesma editora, enviarei também dois poemas com o mesmo intuito, concurso. A dúvida é se devo quebrar a cabeça escolhendo-os dentre os que já foram compostos ou se escrevo dois inéditos e exclusivos para a participação neste concurso. Ruim por um lado, tenho ojeriza a concursos desde que me aborreci com as falcatruas dos últimos que participeis; bom por outro, pois só assim posso ter a medida certa do meu amadurecimento depois de ter renovado o contrato editorial e simplesmente ter me limitado a dois pequenos volumes de poesias, alguns contos e esparsas crônicas sem muito valor. Quero ver como me saio depois de tanto tempo sem me expor ao crivo da crítica especializada.
Não posso só dizer as coisas ruins destas últimas semanas. Mais idéias surgem e não dou cabo delas. Acredito que eu deva trabalhar com idéias, pois as tenho uma atrás da outra numa propulsão maior do que minhas pseudo-habilidades. Deveria anunciá-las em classificados de jornais e vendê-las a preço de custo: Vendem-se idéias de todos os tipos. Preço de ocasião, pois elas me surgem, se desenham e se vão sem dizer adeus, porque eu não sei aproveitá-las. Isso me irrita. A última me apareceu lacerante depois de um dia dificílimo em que pensei tenazmente em pôr fim à sofreguidão dos meus dias. Mal como de costume, rotina esdrúxula, ouvia Cazuza e tive vontade de assistir a O Tempo não pára, com Daniel de Oliveira dando um espetáculo de interpretação. Terminado o filme, voltei a ouvir o poeta miserável levado muito cedo para a eternidade. Acho que pela primeira vez fui além do óbvio na poesia de Cazuza. Descobri nele um lirismo marginal, embriagado e decadente. Resolvi que escreveria um ensaio sobre sua obra, depois, já com a preguiça, um artigo. Como estou sem paciência, decidi por apenas um “textinho” sem muito aprofundamento sobre este ícone da música dos anos 80, que assim que estiver esboçado vai encher a caixa de e-mail dos amigos. Começo com uma nota apenas e algumas letras, depois, dependendo da aceitação, envio um texto decente a altura da grandeza do poeta. Torçamos para que eu não desista no meio do caminho e pare com o proposto... como já me é de praxe.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Uma semana daquelas



Felizmente a semana acabou. Entramos agora nos últimos dias de agosto, o mês do desgosto. Chega a ser hilário, pois eu nunca acreditei muito em certas crendices como essa, mas as tempestades do oitavo mês do ano me comprovaram o quanto as previsões estavam corretas. Logo nos primeiros dias já imaginei que seria um período difícil, pelo lado financeiro principalmente, porque passei dos limites bancários no recesso com uma imensidade de gastos não previstos e ainda um verdadeiro prejuízo com o civic, o que de fato me levou a vendê-lo, apesar de, no fundo, não querer me desfazer do sonho automobilístico da juventude. Fi-lo por não querer mais ter as dores de cabeça constante, nem ser motivo de alegrias para o mecânico. O que gastei com o bendito em um ano poderia facilmente quitar as prestações que faltavam no banco. Mas não adianta ficar lastimando o desfecho da novela. Ele se foi e espero que ainda sobreviva por mais alguns anos, pois guardo ótimas recordações dele, apesar dos contratempos e certas decepções que o potente carrinho me fez ter... mas algumas lembranças ficaram impressas na memória e jamais se apagarão, disso tenho certeza. Além disso, os débitos constantes e a dívida com os cartões chegando a níveis exorbitantes fizeram com que eu segurasse um pouco os gastos e ter mais controle sobre meus impulsos capitalistas. Agosto tem sido um mês complicado, mas, próximo do fim, espero respirar aliviado nos próximos dias.
Com todos esses entraves, tornou-se praticamente impossível dedicar-me a qualquer outra atividade. A cabeça pesa diariamente uma tonelada e me faz prostrar sem conseguir ler, estudar, escrever e trabalhar bem. Minha saúde também afetou, além do corpo fatigado, meu pensamento. Acabei por me enfraquecer e cai de cama nesta infeliz semana. Quase não trabalhei, e quando o fiz, fiz mal, muito mal.
No lado afetivo, as coisas também não acorreram bem ao meu favor. Embora alguns momentos tenham sido pinturas perfeitas, ou excelentes poesias, brigas por pequenos e insignificantes detalhes acabaram por minar o que poderia ter sido, e não foi, um perfeito fim de semana. Não é novidade dizer que eu e ela brigamos novamente, basta que saíamos um dia para que nossa noite termine em uma discussão cansativa às quatro da manhã. Dessa vez, ao meu contentar, não estava com o carro, novo e muito zelado ainda, portanto exagerei nos copos que levei a boca na sexta-feira e terminei, depois de muitas palavras duras, com a cara enfiada no vaso do banheiro de Mariana, pondo para fora tudo o que ingeri no dia. Passando muito mal, não pude voltar para casa e terminei por dormir fora. Fazia tempo que não tinha uma boa noite de sono, lado positivo, pois acordei revigorado... Precisava disso, afinal a sexta foi uma sucessão de momentos cansativos: dentista pela manhã, lavar dois carros à tarde, voltar a trabalhar no último dia produtivo da semana, no turno da noite ao meu pesar... e para finalizar uma tentativa frustrada de diversão no Caiçara, ao som de violão e cerveja. Não havia como terminar bem.
Problemas resolvidos, tudo transcorria bem até toparmos com outro mal-estar: Paraty, Festa da Pinga, Zeca Baleiro, eu sem dinheiro, Mariana irritada. A soma de todos esses fatores nos levou a outra briga, mais uma para nossa coleção.
Há quem se espante com tantos desentendimentos, mas mais do que eles, há as reconciliações e os momentos plenos de harmonia entre nós, e esses são impagáveis, indizíveis, indescritíveis, incríveis. Portanto mesmo que ainda estivéssemos chateados um com o outro, acabamos por vir aqui para casa e, no marasmo que essa casa é, principalmente num sábado à noite, resolvemos assistir a Psicose II(faltam ainda as duas últimas continuações agora) e melhoramos um pouco o astral, embora houvesse ficado um clima tenso entre nós, causado por vontades e limitações diferentes. Hoje nos vimos somente há pouco, mas, aos meus olhos, tudo caminha para uma reconciliação plena, afinal passamos poucos, mas bons momentos juntos.
Outra nota ruim é que, como não consegui nenhum texto de “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues, não pude escrever a crônica pedida pela Nova Fronteira, em conseqüência não fiz o curso, tampouco participei do concurso literário, cuja premiação fizera meus olhos brilharem. Felizmente, uma nova oportunidade me surgiu e, dessa vez, vou esforçar-me ao máximo para cumprir o prazo estipulado para a entrega do material: dois contos e dois poemas. Acredito que chegarei à conclusão desse projeto em tempo hábil, mas tenho a impressão de que não conseguirei alcançar meus objetivos, embora, obviamente seja a minha vontade e salvação financeira.
Vejamos aonde o barco me levará. Espero que seja para um porto muito seguro, ou temerei o naufrágio de minha nau neste mar inescrupuloso editorial.

Alberto da Cruz
2007, 26 de agosto

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Algumas canções: meu crepúsculo

Não sei se é por que estou um tanto quanto triste, deveras chateado com o andar inapropriado da carruagem onírica das minhas ilusões que revisitei algumas canções que me arrebatam o peito descontente e me forçam lágrimas em muitas vezes compulsivas. A Tristeza é inerente às vontades, revolve o corpo e impregnam um mal estar constante. Hoje até mesmo o tempo colabora ao tom dos meus ais. Faz frio como há muito, as nuvens cinzentas estão baixas no céu e a chuva é iminente. O vento é fraco, mas gélido; arrepia os pêlos dando uma sensação térmica muito abaixo do que realmente é. Apesar de ser cedo, tenho a impressão de que o meu crepúsculo logo se aproxima e cobrirá tudo com um pálio sombrio e assustador. Tenho medo.
As músicas relacionam-se intimamente com nossos sentimentos, sejam eles bons ou ruins, provocando uma intensificação dos nossos momentos. Particularmente, ligo-me as de tom harmônicos e letras de profunda tristeza e desilusão da vida, do amor, dos relacionamentos, principalmente do fim dos relacionamentos e das amarguras impregnadas no cerne do homem sentimentalóide, eu mesmo. Algumas músicas entram em uma sintonia tão fina com nossas dores que temos a sensação de que foram feitas para nós, de que falam de nossos problemas, de que conhecem os motivos implícitos, por vezes evidentes, de nossas mágoas.
Incrivelmente certas músicas são atemporais, outras superam os limites do cantor, e ainda há aquelas que o conteúdo textual é, em primazia, uma perfeita composição literária digna de excelente poesia. Por tal motivo escrevo este pequeno texto, além, é claro, da sombra tênue que rouba meu sorriso. Fiz uma pequena seleção musical para alimentar, como dizia Cesário Verde, “o meu desejo absurdo de sofrer” e dentre as minhas escolhas, encontrei inspiração, na verdade uma mola motriz, para enfim quebrar a abstinência textual que me persegue cada vez mais forte. “Feelings”, de Morris Albert, iniciou a tormenta, em seguida ”O mundo é um moinho”, de Cartola, cantada pelo meu poeta contemporâneo predileto, Cazuza, além de outras que anexo neste lamento, praticamente me obrigaram a estancar os olhos orvalhados e produzir sobre minha amargura lacerante. Um saldo positivo dentre tantas negatividades.
Ao final desta overdose de músicas tristes e ora apaixonadas, se faz mister saber se erguerei a cabeça e me preparo para enfrentar as vicissitudes ou me conformo e vazo a cabeça definitivamente com um projétil plúmbeo.

Alberto da Cruz
2007, 22 de agosto

O Mundo é Um Moinho - Cartola
Não Vá - Sandra De SáSonhos - Peninha
Vida Minha - Peninha
Preciso Aprender a Ser Só - Marcos Valle/Paulo Sergio Valle
Fênix - Flávio Venturini / Jorge Vercilo
Carta - Toranja
Dá-me Ar - Toranja
Adeus Você - Marcelo Camelo
Além Do Que Se Vê - Marcelo Camelo
Quem me leva os meus fantasmas - Pedro Abrunhosa
Piano Bar - Humberto Gessoger
Gota D’Água - Chico Buarque
Falando Sério - Roberto Carlos
Os Outros - Leoni
Espumas ao Vento - Fagner
Estranha Loucura - Alcione
Lanterna dos Afogados - Herbert Vianna
Quase um segundo - Herbert Vianna
A cançao tocou na hora errada - Ana Carolina
Vestido Estampado - Ana Carolina
Mentiras - Adriana Calcanhoto
Esquadros - Adriana Calcanhoto
Como nossos pais - Belchior
Diga a ela - Thedy Correia
O Pastor - Pedro Ayres Magalhães / Rodrigo Leão / Gabriel Gomes / Francisco Ribeiro

domingo, 19 de agosto de 2007

Transitoriedade, tudo é adaptação

Acostumamo-nos a tudo na vida. Nada é eterno, apenas dura o tempo necessário para que aprendamos algo, seja com aspectos positivos, seja com aspectos negativos. Tudo é transitório, não podemos, pois, nos habituarmos tanto com as situações, relacionamentos ou bens materiais que possuímos, pois, sem eles, ainda temos vida, e devemos levá-la sempre da melhor maneira possível.
Abro aqui um parêntese. Os amigos, que me conhecem de longa data, devem pensar que alguma coisa me aconteceu ou, talvez, que eu esteja enfrentando um momento de alucinação ou pane-mental; afinal, eu, Alberto da Cruz, refletindo positivamente sobre transitoriedade da vida não é muito comum. O que posso dizer, e confirma minha tese, é que tudo é adaptação. Obviamente não deixei de lado minha peculiar soturnidade, nem tampouco abdiquei do meu jeito sorumbático (lindo adjetivo) de ser, mas diversos fatos me fizeram encarar a vida com uma óptica menos pessimista, dando chances a um otimismo bobo. Não se assustem, porque ainda sou o mesmo, apesar de diferente (?!).
Pensei agora há pouco nisso. São quatro da manhã, eu acabei de guardar o PUG na garagem (em breve falarei dele) e vinha “subindo a serra, cego pela serração”. Em curtos flashes, minha vida amena passou pela minha cabeça como fotos num álbum virtual. Fases da vida e as suas mudanças. Em pouco tempo o rumo mudou tão completamente que chega a assustar. Sem enumerar os fatos por ordem de importância, passemos por algumas reviravoltas.
Apegado a família, em 2000 deixei a segurança da casa de meus pais para me aventurar na fria Valença. Quando voltei, não esquentei lugar e em menos de um ano não era mais solteiro, tampouco meu antigo quarto me acolheu. Casei-me cedo e fui seguir meus passos, pensando em não sei o quê. O casamento não deu certo e me separei rapidamente, depois de diversas frustrações que não cabem aqui. Separado, não demorei muito para me apaixonar perdidamente de novo. Num curto espaço de tempo, Mariana entrou em minha vida (e espero que continue por tempo indeterminado) e fez tudo mudar novamente. Pela primeira vez experimentei as sensações boas de uma relação, apesar do nosso complicado início, e este mês fazemos um ano desde que experimentei seu hálito em minha boca. Desnecessário dizer que até me acostumar com seu jeito tão diferente do meu e de outros fatores cruciais que muito pesaram em nosso romance sofri as duras plagas da adaptação. Mas essa batalha foi vencida, e muito bem vencida. Se hoje não somos perfeitos, nem um casal modelo, pelo menos temos, do nosso jeito, uma nota harmônica bem bonita. Do costume da vida a dois para a vida solitária, talvez tenha sido o mais difícil ato deste teatro, mas, mais uma vez, com dificuldades, estou me habituando ao silêncio, ao tamanho da cama, ao almoço sozinho e, o principal, à paz que tanto ansiei nos momentos de crise.
Materialmente, automotivamente, o mesmo se deu, do corsa que tanto padeceu em mãos impróprias, mas que me cativava um sorriso, ao honda civic, o marmita, que elevou meu status e inflou meu ego, ao peugeot 306 que me encantou. Dirigir um carro novo é sempre complicado nos primeiros dias, assim foi com os dois últimos e não é diferente agora. Preciso me adaptar ao novo. Questão de tempo e prática.
Dizer que não fiquei triste quando passei para as mãos do vendedor a chave do japonês brilhoso seria uma mentira deslavada. Quando o dirigi pela última vez hoje, tive a sensação de que deixava um grande amor para trás. Mas a vida é assim, não é mesmo? Ao menos pude pisar fundo uma última vez e sentir o vento me balançar o cabelo.
Um prazer indescritível!!!

sábado, 18 de agosto de 2007

Uma nota triste

Já faz algum tempo, Jean e eu, em uma de nossas quintas-feiras de uísque e culinária, tivemos a idéia de criar uma personagem, ou atribuir a alguma já imaginada, um hábito que me é peculiar: trabalhar com bonsais, aquelas arvorezinhas orientais criadas na China e difundidas pelo Japão. A personagem seria um bonsaísta, utilizando a arte secular da miniaturização para harmonizar-se com seus planos mais do que suspeitos. Era uma forma de aproveitar minha paixão pelas árvores, utilizando-a no romance, a fim de dar à personagem em questão ares mais humanos, uma vez que ele seria um dos antagonistas da narrativa. Assim, ele devotaria suas virtudes benéficas no cultivo das plantas, criando perfeitas florestas artificiais de tamanho reduzido. Fiquei feliz com a idéia e esbocei algumas cenas em que Ele (a personagem ainda não tem nome e em todas as suas referências utilizamos o pronome como se fosse próprio, uma espécie de deus) arquitetava suas investidas, envolto em uma imensidão de galhos e folhas, as mãos sujas de terra e apetrechos de jardinagem também utilizados para ceifar a vida daqueles que atravessavam seu caminho.
Todo o pensamento para a concepção da referida personagem se deu por minha coleção de bonsais, minha alegria. Algo surpreendente que faz com que meu estresse diário se dissipe ao aramar um galho, decorar um vaso com pedrinhas, podar os excessos, fertilizar as folhas, plantar novas árvores. Amo-os como filhos e, por isso, a nota triste de hoje. O belíssimo fícus ganthel morreu... e a culpa foi minha. Nas férias, passei alguns dias fora e ele não suportou as horas sem cuidado. Por azar, os dias estavam muito quentes e a exposição ao sol foi muito intensa. Fiz o possível para salvar os brotos, mas eles não resistiram. Ainda me esforcei para manter o caule, mas em vão.
Resta agora torcer muito para que as raízes ainda tenham uma sobrevida. Pelo menos estão com um pouco de seiva e daqui a alguns anos é possível que venha a crescer de novo, desde que eu reze muito para que exista uma volta da morte para as pequenas plantas.
Pelo menos com essa triste experiência, poderei ser mais verossímil com minha personagem insana. Menos mal!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ON The Edge



On, vai ficar extremanete complicado escrever no blog agora por causa do meu maldito teclado. Agora ele nao tem mais as cedilhas os acentos apropriados , por isso tentarei manter um caminho que fique longe desses destinos tipograficos.



Mas vamos ao que interessa que 'e extamente viver e escrever.

Como voc^es ja sabem, estou na ensolarada California comecando algo muito louco na minha vida. E tudo aqui esta acontecendo da maneira mais intesa possivel. Cada detalhe por aqui e importante e tem ate me faltado energia para fazer as coisas, diante de tantos trabalhos a ja serem feitos. Mas tem sido a experiencia masi incrivel da minha vida.As pessoas incriveis que estao sendo incorporadas em minha vida, as experiencias, mesmo nos primeiro dias, ja marcantes, a intensidade voraz dos trabalhos dado pelos professores(que na verdade por enquanto e sometne m e ele se chama P hat...na verdade e Phat Vu, ele e vietinamita). A saudade tem sido enorme, mas tenho tentando nao pensar muito nisso para nao sobrepujar os acontecimentos daqui. Eu preciso de todo meu foco pra continuar trabalhando firmemente.

Nao vou falar muito mais porque eu realmente tenho que dormir, mas saibam que as coisas estao pretty much intense aqui em cima.

domingo, 5 de agosto de 2007

Decepções acontecem...

Decepções acontecem quando menos esperamos e por motivos inacreditáveis. Hoje, embora quisesse, não vou falar sobre o texto, este difícil projeto ou qualquer outra obrigação no campo das letras, até porque não fui capaz de me sentar em nenhum momento nesta semana para escrever o que quer que fosse. Briguei com as palavras como se elas fossem uma mulher cheia de melindres e gestos vaidosos; como se fossem uma mulher... e todas as suas manias irritantes. Nesta semana eu apenas vivi a vida e julguei-me extremamente feliz, pelo menos até ontem.
Comprovei a máxima de que só se escreve, somente nos dedicamos à composição de um texto, quando somos acometidos de um mal, algo que nos deixe descontente com o mundo a nossa volta e nos force o pensamento para manifestar nossas angústias diante as dificuldades da vida. Quando se está bem é impossível escrever, afinal há tanta coisa melhor a fazer do que gastar o tempo precioso de uma rotina quando se é feliz. Mas hoje estou a escrever...
A semana foi confusa demais e quebrou minhas expectativas logo no primeiro dia. Programado para voltar ao trabalho no dia 31 de julho, já havia me planejado para suportar a carga horária exaustiva que enfrento para ter uma vida mais digna. Assim, segunda-feira, ainda sob os efeitos do fim de semana, fui ao trabalho. Acordei às seis da manhã e sete horas já estava em sala de aula, empunhando meus livros, diários e vontade de lecionar, mas não havia sequer um aluno para assistir às minhas aulas. A história se repetiu durante toda a semana, pelo menos na escola estadual. Em contrapartida, no Jean Piaget tudo estava normal e pude cumprir meu papel, com um ademais: retornei somente com as disciplinas que me competem, deixando a cadeira de Produção de Texto para uma nova professora. Menos dinheiro ao fim do mês, mas mais tempo para mim e minhas necessidades psicológicas e físicas. Eu realmente estava ficando cansado de abraçar tudo ao mesmo tempo, o que é engraçado, pois há dois anos eu lecionava Língua Portuguesa, Literatura e Produção de Texto para mais que o dobro de turmas e não me fazia tanta diferença. Mas é necessário dizer que na época eu não tinha vida social. Fazia o caminho casa-trabalho-casa diariamente sem ter mais para onde ir. E não me venham dizer sobre os braços frios a quem eu retornava ao final do dia.
No campo das sentimentalidades houve um bom progresso até mesmo inesperado, uma vez que depois das constantes discussões sem grandes fundamentos, finalmente chegamos a um ponto harmônico e prazeroso. Parece que finalmente deixei de lado algumas das minhas debilidades emocionais e me abri mais facilmente às novas experiências, esquecendo alguns (eis o problema) dos meus segredados medos e traumas oriundos de sucessivos fracassos que me deixaram marcas profundas (odeio frases feitas, mas essa é a que melhor cabe) e me fizeram construir uma barreira de proteção onde não deveria haver nada. Talvez fosse reflexo de um início conturbado em que os conselhos que recebia por parte das pessoas que me rodeiam com mais familiaridade levaram-me a posicionar, não só um, mas ambos os pés atrás, a fim de me proteger de uma eventual queda prevista pela maioria. Com calma, no passar dos mês vindouros a esse fato, segui as palavras amigas e inconscientemente alicercei essa muralha entre mim e Mariana. Aos poucos fomos nos conhecendo melhor, apesar de ainda nutrir receio, deixei que o sentimento crescesse mesmo moderado. Entretanto todo o comedimento não foi suficiente para que o grau de afinidade chegasse à proporções extremadas, beirando o limite entre sanidade e loucura. Tanto mudou, tanto mudei depois de que ela me mostrou o quão a existência pode ser agradável, que inevitavelmente abracei com demasiada intensidade essa nova vida; e sem perceber avancei os pés, esquecendo os alertas. Mas a barreira continua, ainda existe, embora esteja num processo contínuo de desconstrução. Isso é bom, mas poderia ser melhor se os meus fantasmas deixassem de me assombrar quando situações semelhantes (mas não iguais) acontecem e me amedrontam como um filme clássico de horror (e poucos foram os que realmente me assustaram).
As melhoras referidas me arrebataram um sentimento positivo, porém ontem meus medos afloraram e o que ia bem, de certa forma, regrediu, causando um mal estar constrangedor. Não sei o que me acontece, mas minhas variações de humor me irritam. Por uma palavra mal empregada e uma idéia errada, pus na lona um dia perfeito, permanecendo mais de quatro horas sem dizer uma palavra. Às vezes eu me irrito com essas minhas palhaçadas oriundas de um estúpido orgulho vaidoso.
Ninguém é perfeito, e longe de mim ter a perfeição como meta, mas ser um pouco melhor não seria mal nenhum.
Nova semana começando. Ainda restam alguns filmes para ver e meios de formular uma desculpa para mim mesmo. Vejamos o que acontecerá nesses vindouros dias; principalmente por causa da legião de textos que preciso escrever e a imensidade de leituras que tenho urgência em fazer. Espero que seja algo positivo diante tantas tempestades.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Façam suas apostas, a roleta começou a girar

Sono!
As pálpebras pesam um quilo ou mais cada uma. Encobrem as órbitas vermelhas de cansaço, fazem-me ver o mundo escuro sob a cortina negra da minha fraca força de vontade. Preciso dormir. É necessário fechar os olhos e viajar por terras oníricas onde os castelos de areia são habitados. O corpo pende sem sustentação, deseja cair sobre a cama macia e entrar em letargia. A mente beira um torpor absurdo... mal me mantenho. Mas não entrego os pontos, ainda não. Jurei a mim mesmo escrever algumas linhas diariamente... logo, se não fui sensato o bastante para me dedicar ao ofício quanto respondia plenamente por mim, sou obrigado agora a lutar contra minhas limitações para dar vida a um parágrafo ao menos. Tenho sono, mas insisto em permanecer no mínimo 1 hora diante da máquina. Se eu quiser terminar minha parte no romance, sou obrigado a sacrificar alguns minutos de repouso em razão de algo maior. Tenho de vencer minhas limitações, ignorar minhas debilidades psíquicas, extrair o pouco de idéias que me restam nesta fria noite de julho.
Mais um mês se esvai na ampulheta da vida. Menos tempo nos resta sobre a terra... e mais uma vez enfrento meus fantasmas. Parece piada, mas escrever o romance se torna cada dia mais difícil e trabalhoso. Não porque fujo ao texto ou invento desculpas para não terminar o que me propus a fazer; acontece que, estranhamente, mais e mais compromissos aparecem. Já havia dito anteriormente que me comprometi, além do Conto Conspiratório, com a criação de um conto erótico para Luisa, com a compilação de uma antologia poética e também com a revisão dos contos de “Pesadelos no Paraíso”, sem falar da revisão de “Obsessão: a verdade sobre meu pai”, que depois de lê-lo pela última vez, tive vontade de reescrever várias passagens; e ainda dar cabo a correção de “Paixões Perigosas”, que dado o tempo de distanciamento do texto, é chegada a hora de revê-lo com olhos críticos. Não me bastasse essa imensidade de trabalhos editoriais, aceitei o convite da Nova Fronteira para escrever um conto inspirado nas “Tragédias Cariocas”, de Nelson Rodrigues. Parece que ao invés de diminuir o quantitativo de trabalho, aumento-o de forma sufocante. O grande nó que me sufoca consiste em ser obrigado a resumir ainda uma das obras de Nelson antes de escrever o meu próprio trabalho. Pensei em declinar do convite, mas três mil reais é muito tentador em épocas de “faltura” para inventar uma desculpa qualquer para não escrever a narrativa.
Outro problema é relativo ao prazo de entrega. Eu, que odeio prazos, sou obrigado a entregar o material à Nova Fronteira em menos de vinte dias, portanto será preciso me organizar muito bem, além, é claro, de priorizar alguns desses trabalhos inadiáveis. Resta saber qual tem menos importância no momento. Às vezes queremos abraçar o mundo com as mãos e nos dá uma tristeza arrebatadora quando descobrimos que o mundo é grande demais para conter nossos sonhos, ou pior, nossas mãos são deveras pequenas para segurar nossas ilusões.
Para piorar minha série de negativas, resolvi, depois de muita insistência por parte de Mariana, se não parar, diminuir os cigarros que me acompanham faz tanto tempo que não me imagino sem eles. Estipulamos o dia 1 de agosto para nossa troca: eu paro de fumar desde que ela se alimente melhor. Estou disposto a tentar, afinal há quinze anos levo à boca essa fumaça sem gosto, tenho este odor desagradável e perdi todo o fôlego para qualquer atividade física. Sei que a tarefa será das mais difíceis, mas preciso arriscar em prol de minha saúde. Quem sabe minha taxa de glicose se normalize agora e eu pare de me perfurar diariamente com aquelas insuportáveis seringas de insulina. O esforço será válido, basta saber se conseguirei escrever da mesma forma, já que é-me habitual baforar meus cigarros enquanto escrevo. Mas, parando para pensar, faz tanto tempo que não escrevo algo consistente e duradouro que é bem provável que a falta de nicotina não faça a mínima diferença. Vamos esperar para saber. O primeiro passo já foi dado ontem: diminuí a quantidade de “Luckys” e troquei meu peculiar filtro amarelo peles filtros brancos. A diferença é grande e a vontade de fumar mais do que o normal tem sido maior, mas a determinação não me deixa fraquejar, pelo menos não muito.
Vejamos o quão longe conseguirei ir. Bom é saber que ontem agüentei cinco longas horas sem nenhum trago. Hoje a meta é ir além, quem sabe seis ou sete horas cheirando bem, sem poluir o ar, sem incomodar ninguém.
Façam suas apostas, a roleta começou a girar.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Imprevistos acontecem

Imprevistos acontecem. Há dois dias havia dito que escreveria sem pausa e fecharia, no mínimo, três capítulos. A idéia era essa; e também acreditei que fosse conseguir, uma vez que estaria isolado em meu mundo particular; nesta sala de paredes marrons e móveis mogno, com meus poemas prediletos fixados nas paredes a minha volta como um mural poético; os pôsteres de Kathy Bates em Misery e uma reprodução belíssima do Overlook Hotel manchada de sangue; com fotos minhas e de Mariana sobre a mesa de trabalho; centenas de livro novos e velhos... ah, o cheiro dos livros, nada como o aroma das páginas envelhecidas. Se eu pudesse encheria o escritório com volumes antigos, pois tenho paixão pelas folhas recolhidas em sebos e saldos que esbarro pela vida em minhas caminhadas displicentes. Por falar nisso, acabei de manusear um exemplar de “A Capital”, de Eça de Queirós, publicado pelos Irmãos Lello, Lisboa, 1914. O valiosíssimo material me custou a bagatela de R$ 1,00. Comprei-o de um senhor que vendia discos de vinil e livros, segundo ele, velhos, em um carrinho de supermercado. Às vezes encontro em minhas andanças preciosidades como essa, por exemplo.
Sem fugir do assunto, previ a paz textual, mas não cumpri. Mariana viajou somente hoje, portanto os dias que me dedicaria ao lapidar das palavras foram substituídos por mais algumas horas dormente aos braços dela. Não estou reclamando, muito pelo contrário. Os instantes que me dedico a ela são impagáveis e insubstituíveis. Nada me é mais caro do que fazer a presença diária seja ao telefone, seja pessoalmente. Portanto, amigos, perdoem-me a sinceridade, mas entre paixões de vida, os braços acolhedores de Mariana ganham em disparada de qualquer que seja o concorrente, inclusive o texto.
Mas antes que pensem que joguei dois dias fora, adianto-me em dizer que consegui escrever um pouco, não muito com deveria, mas o suficiente para fechar um capítulo. Agora Judith espera acordar para descobrir o seu destino imutável (imutável?! Será mesmo?). Acredito que com o que escrevi o andamento de minha parte acelere o processo, basta para isso que me empenhe mais na empreitada... porém ainda me é penoso encarar o computador por mais tempo do que o gasto aqui contando minhas histórias, às vezes tediosa, outras interessantes.
Assistimos ontem a um filme interessante: O Amor Pode dar Certo, cujo tema era o relacionamento entre duas pessoas em estado terminal, vitimadas pelo Câncer. Filmes que abordam essa maldita doença mexem comigo sobremaneira. Não sei se porque passei por uma experiência com a morte, devido a alguns tumores em minha coluna vertebral há alguns anos, chorei como criança perdida numa selva cheia de lobos vorazes.
***
Não terminei o texto, pois meu tempo havia se esgotado. Antes que o terminasse, fui passar o fim de semana com os avós de Mariana no Rio. Assim, a postagem ficou um tanto quanto incompleta, mas amanhã, assim que voltar do trabalho (o recesso acabou para meu desgosto profundo), prometo escrever algo que preste e valha a pena ser lido.
Um forte abraço aos fiéis amigos e um olá carinhoso para os que vêm chegando.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Fim do Intervalo


Fim do intervalo. É hora de voltar ao trabalho “inconstante” da tessitura do Conto Conspiratório (esse nome tem que mudar), afinal, já lá se vai o recesso e o tempo pensado na construção do texto se foi assim como os dias ociosos: rapidíssimo.
Quando entreguei os últimos diários de classe, programei o meu tempo de forma a dar cabo de tudo aquilo que deixei de lado no primeiro semestre, mas, como já previra, sabia que tudo não daria muito certo. Sou péssimo em seguir horários e também quis aproveitar meu tempo livre com Mariana, amigos e família, já que o corre-corre diário sempre nos impede de ficar juntos. Os dias sem trabalho, passei com essas pessoas que me são caras. E fui feliz em cada momento acompanhado por essas almas boas que estivera afastado contra a minha vontade. Obviamente, Mariana levou-me a maior parte do tempo, e isso não teve preço, pois enfim pudemos nos dedicar com maior cuidado um ao outro, o que nos tempos de trabalho e estudo é inviável, apesar dos nossos esforços para mantermos o contato diário, seja pessoalmente por poucas horas, seja ao telefone. Ainda seguindo a linha dos encontros adiados, pude passar alguns dias com minha família, brincar com meu irmão, pedir colo a mamãe e até uma (ta bom, várias) cervejas com meu pai.
O homem precisa do contato com pessoas que ama, viver distante delas por qualquer motivo se constitui um sofrimento íntimo. Precisamos, pois, encontrar um meio entre a loucura da vida para dedicarmo-nos a esses momentos tenros e prazerosos, independente de qualquer revés que nos tome as ações e pensamentos. Eu o fiz.
Aproveitando as semanas de tranqüilidade, recarreguei as energias enfraquecidas, revitalizei os laços afrouxados; pude pôr a cabeça no travesseiro e dormir sossegado, ignorando o relógio; pude simplesmente ver e rever filmes sem a preocupação do horário; ler algumas páginas que ficaram de lado; organizar minhas bagunças assustadoras e ainda pensar no andamento da vida. Até aqui, o intervalo foi valoroso ao crescimento das minhas relações pessoais, por isso estou apto a dar continuidade ao labor impreciso da criação textual, uma vez que a mente teve a folga tanto desejada.
Há aqui um problema: os dias ociosos se aproximam do fim. Em menos de uma semana a rotina se inicia e os mesmos entraves de antes voltarão com a intensidade já conhecida de outrora. É preciso então organizar para esses dias que faltam um horário para me dedicar a composição dos capítulos programados. Acredito que não haverá grandes dificuldades em transpor para o papel as idéias que perambulam na cabeça exigindo que sejam escritas. Passarei três dias inteiros livre de qualquer impedimento, portanto o número de páginas aumentará consideravelmente, quiçá seja escrito o dobro de parágrafos até então feitos no meio da confusão dos meses anteriores.
Minha parte no romance está bem adiantada, as cenas que me dificultaram o andamento da narrativa já estão prontas, assim a continuidade das ações de Judith serão, pelo menos em teoria, fáceis de escrever. Faltava, odeio dizer isso, inspiração para formular a “sociedade secreta” que daria o tom para sua problemática, porém, felizmente, a consegui depois de assistir a alguns bons filmes e sofrer o pensamento para dar as cores certas para o que pensamos sem cair em clichês ou perder a originalidade. Embora “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick, tenha servido como parâmetro para a concepção do cenário e “O Último Portal”, estrelado por Johnny Depp, tenha auxiliado na criação das personagens secundárias, é mister fugir das semelhanças que certamente fariam se fossem seguidas à risca essas relações entre os filmes e o livro. Talvez seja esse o ponto mais arriscado, fazer algo já feito, sem esbarrar no plágio e ser o mais original possível. Aí é que o tempo se vai, pensando em demasia no que criar sem cair em armadilhas mais do que conhecidas.
Amanhã veremos as novidades. Hoje retomo a empreitada e espero poder contar-lhes os meus avanços. A meta é fechar um capítulo por dia e deixar bem adiantado o texto antes de Jean entrar no avião... Rezemos para que nosso amigo não viaje de TAM.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Saldos de um mês longe do texto

Angra dos Reis, 10 de julho de 2007

Certo, desde o dia 18 de junho não me aventuro a escrever nada para o blog, lá se vai quase um mês sem que pare o meu dia para detalhar em pormenores minha insanidade e tédio sem fim. Não que não houvesse nenhuma linha a lamentar, pelo contrário, variados fatos me ocorreram, mas não tive realmente tempo para sentar ao computador e escrevinhar minhas ações, frustrações, momentos tenros ou plenos de satisfações. Sim, é verdade, também me satisfaço em minha vida, mas tenho um desejo absurdo de discursar sobre o lado negativo, deixando somente a mim as boas novas de harmonia. Vá lá entender o que se passa na cabeça do homem!

Um dos motivos que me roubaram neste mês foi o trabalho. Fim de semestre é um horror pior do que qualquer história de King ou adaptação de um romance de terror decadente. Nunca antes, na verdade já sim, corrigi tantos trabalhos em um espaço curtíssimo de tempo. Pior é saber que em muito a culpa foi minha, por ter deixado a pilha crescer sem que ousasse diminuí-la de qualquer maneira. A cada semana mais e mais textos se amontoavam sobre minha mesa, armário e até mesmo o chão do escritório, de tal forma que se continuasse como estava, fatalmente eu estaria agora imerso em celulose e tinta de esferográficas. Imaginem a notícia do jornal: “Professor é encontrado morto em sua sala de trabalho, sufocado por inúmeros papéis”, ou ainda, “De exaustão, morre Alberto, depois de corrigir milhares de trabalhos escolares”.

Um pensamento absurdo me apetece agora. Seria incrível se as folhas avulsas ganhassem vida e corressem atrás de mim, exigindo que fossem lidas ou me matariam cruelmente por deixá-las esquecidas. A linha cronológica seria encantadora (às mentes insanas, claro) se pessoas que freqüentam minha casa, uma a uma, fossem desaparecendo sem vestígios, até que enfim chegasse a minha vez de prestar contas com o meu destino. Empunhando a caneta vermelha, enfrentaria a horda celulósica, atacando-as com vistos e notas baixas.

Meu Deus, a que ponto cheguei em minha loucura!!!

De volta à realidade, felizmente consegui pôr fim ao trabalho. Fui obrigado a me isolar por alguns dias e demover toda a minha atenção ao quantitativo acumulado. Fi-lo com desespero, lendo os diversos textos de meus alunos numa rapidez, em certo ponto displicente, que jamais gostaria de ter feito, pois sei que, e isso é o pior, que muitas coisas se perdem nesse processo.

Redações e provas corrigidas, iniciei um processo ainda mais entediante: fechar os diários de classe. Se eu fosse mais responsável, fazendo-os, como o próprio nome diz, diariamente, o trabalho seria mais ameno, mas não, o amigo aqui é preguiçoso e, além disso, não cede nem cinco minutos de suas aulas para atividades burocráticas. Dificilmente me sento à mesa no fim de uma aula para fazer chamadas, anotar conteúdos, lançar notas de trabalhos. Não, deixo tudo para a última hora, assim, aos 44 do segundo tempo, ou já nos acréscimos do árbitro, me lanço à empreitada, geralmente assinando as folhas finais pouco antes de meus diretores me cobrarem o registro das aulas.

Nestes períodos não consigo escrever, tampouco penso no que escrever, o que é irritante para mim. É impossível, uma vez que não posso nem mesmo raciocinar direito. E quem sofre com isso? Todas as pessoas que me rodeiam acabam sendo agredidas pelo meu estresse constante. Descarrego em todas as pessoas que me querem bem as minhas amarguras. Depois só me resta pedir, de cabeça baixa e olhos marejados, desculpas pela minha explosão de ignorância. Obviamente me sinto péssimo quando isso ocorre, mas não posso fazer muito, já que me controlar passa longe dos meus atos.

E assim foi meu mês de junho, ócio misturado ao estresse do trabalho, sem que tenha produzido algo novo. Mas nem tudo foi perdido nesse ínterim fatídico de minha vida, pelo menos, com o tempo em que fugi às minhas responsabilidades, relacionei alguns poemas, 47 para ser exato, para a composição de uma nova antologia. Confesso impressionado que de tudo o que antes fora escrito, esses chegaram a me enternecer e me dar um pouco de orgulho comedido. Acredito que tenha enfim escrito alguns versos de grande valia, se não ao mercado editorial, para mim somente. Não são grandiosos nem obras-prima da poética contemporânea, ao contrário, são bem simples, mas o que me prendem a eles é a carga emotiva pura, imaculada como uma criança que desconhece as vicissitudes da vida ou um amor sublime que não viveu nenhuma dor.

Saldos positivos de um mês desregrado. Tempestividades ocorreram, mas também se fez sol sobre minha cabeça e, por mais estranho que me pareça, eu gostei dos raios quentes e da luz iluminando meu caminho. Eu gostei do brilho intenso dos olhos dela e do seu sorriso a me ver. Eu gostei de sentir o vento em meu rosto quando acelerei meu carro pela estrada e ele não me deixou na mão. Eu gostei de passar noites inteiras acordado sentindo o calor de um mesmo abraço. Eu gostei de ter certeza de que um dia após outro as coisas mudam de figura e melhoram. Eu gostei de terminar algo que comecei e sentir que fiz algo decente. Eu gostei de voltar a escrever depois do período de abstinência e perceber que ainda tenho criatividade para compor as cenas que imagino em minha cabeça cheia de fantasmas; finalmente.

Alberto da Cruz

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Segurem a linha soldados!

Eu só posso dizer que meu exercito entrou numa guerra de trincheira sem tamanho. Meus soldados resolveram abrir seus "buracos de raposa" e ficarem por lá, até o miojo ficar pronto (que no caso deles devem ser uns 30 anos. Porque eu sempre considero que e a segunda guerra mundial. Nesse caso eu poderia considerar a primeira, que aumentaria em uns 20 anos. Mas é sério: vocês já viram descrições de batalhas da world war one? Se der mole a guerra da Secessão foi animada). Meus pensamentos ficam saltitantes porem não avançam 1 angstron sequer!(gostaram da referencia a ciências?anh?anh?). Eu tenho todas as idéias formentadas na cachola, mas na hora de escrevê-las eu acabo por parecer um comandante muito do pongó! Mas tudo bem; pelo menos o inimigo é imóvel. Mas não vou vencê-lo se ficar imovel junto dele. Ainda tenho um resto de dia para tentar.

***
Um adendo cultural e um adendo filosofico:

Terminei de Ler um livro interessante. Ficção cientifica técnica. É do mesmo escritor de Jurrasic Park e notariamente um bom escritor(menos por mim até então): Michael Crichton. O livro em sí se chama O Enigma Andromeda que trata de invasão alienigena mas de um jeito bastante cientifico. Então nem esperem homenzinhos verdes nem nada.
Apesar de ser uma leitura muito densa, o exercicio de lê-lo é muit prazeroso, apesar dos quilos de termos tecnicos expalhados por todo lado. Entretanto o final é uma porcaria. Mas não culpo o autor. Louvo essa tentantiva no livro por tornar o sci-fi bem mais acessivel - com paretenses bem colocados e o temas bem colocados. Mas faltou um pouco de "escritor" nessa história. Mas ainda sim vale a leitura.

Vi uma série de filmes e li uma série de artigos nesses ultimos dias que me fez novamente refleti um bocado de coisas:

Radicais, não importa o lado que estejam, são uns manés! Sério. Não que isso seja novidade em minha mente mas essa série de histórias que absorvi me fizeram repensar nisso.
Vi agora pouco um filme sobre eco-chatos querendo parar com construções na California. Tudo bem que eu não sou a pessoa mais indicada para falar de ecologistas, mas o radicalismo que era representado no filme era assombroso! Tanto que numa parte do filme, um personagem mais capitalista pergunta:
-Mas se não construirmos...onde vamos colocar as pessoas? .
A personagem Eco-chata responde: - "Essas pessoas não deveriam estar aqui. Já existem pessoas demais".
E ia fazer o que com as pessoas? Matá-las? Não que eu não acredite que existam muitas pessoas aqui. Concordo plenamente que existem pessoas demais na terra, porem as que já existem precisam de toda nossa ajuda. O mundo ainda é suficiente até para mais pessoas! Existe e existirá tecnologia para isso. O Problema existe mais para uma frase que Gandhi disse e só posso reproduzir infielmente : "Se a Inglaterra precisou de meio mundo para prosperar, quantos mundos precisariam para Índia prosperar?". O progresso é um conceito inconsistente. Não precisamos crescer sempre. Precisamos é de um equilibrio que permita que todos possamos viver nessa bola no meio do espaço sem sentido.

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O que acontece quando se Junta um Anarquista e uma entidade Metafísica? Basicamente um conto conspiratório, esse blog, e uma sorte de futuros projetos.
Estou falando disso porque nosso bravo amigo Juninho justamente nunca deixou de ser um Anarquista(oi,oi) e eu não sei exatamente se existo além de explicações dialéticas. Acho que essas conjecturas surgiram numa conversa por msn e me fez lembrar o quanto não nos distânciamos de nossas raizes. Podemos ser podados e tudo mais. Podemos até virar bonsais. Mas nossas raizes estão lá.
A Analogia em sí é super besta mas valeu a intenção. Porque nossas raizes definem muito do nosso potencial e sempre nos lembra que podemos crescer infinitamente mesmo. E por mais que nosso exterior seja um agora. Ele pode ser outro depois.
Então sempre nos lembraremos do anarquista e do metafísico.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Tanto faz não satisfaz o que preciso

Estou mal. Nada me apetece ou acalma o espírito e a consciência tão cansada de maus-tratos diários. Na verdade, estou farto de tudo, inclusive desta estúpida e malfadada vida amena, sem motivos e entediante. Nada me é tão horrível como acordar e deparar com o dia amanhecendo; ver toda a minha soturnidade se dissipando com a luz enfastiante do sol em minha janela e recaindo sobre meu rosto marcado de desilusões.
Não gosto dos sonhos, falsa ilusão de que as coisas estão bem quando não estão. Cansei de me esforçar para construir fabulosos castelos de areia, tão lindos e perfeitos que quase se pode afirmar que são verdadeiros. Cansei de ver as ondas destruírem tudo que me empenhei em fazer. Deveria, pois, esculpi-los longe do mar, distante das forças nervosas que me matam os sonhos, mas tolamente insisto nos mesmos erros de outrora. E agora, a maldita onda derrubou outro sonho.
Às vezes me pergunto sobre as coisas que faltam em minha vida sôfrega, mas nunca tenho uma resposta conclusiva. Parece-me que vivo alimentando decepções que poderia facilmente esquecer. Eu poderia caminhar sozinho sem me preocupar com o que me tenta a alma inquieta, mas sou tão inapto a seguir as trilhas seguindo minha louca vontade que me perco em divagações desnecessárias, ávido por compartilhar meus passos com outrem.
Afinal, por que essa vontade absurda de escrever, compartilhar, despir-me diante todos e vender por uma ninharia quem eu realmente sou? Por que continuo com essa idiotice de “literaturar”, de sentir, de amar, de me corroer, de me arrepender, de morrer lentamente quando cada palavra se perde no processo hediondo da composição, se gasta e enjoa?
Meu violão está mudo, talvez por andar desafinado, talvez pela minha incapacidade harmônica, talvez porque seja o certo a se fazer. Desde que voltei do Rio não escrevi uma linha. Um mórbido penar me agarrou as loucuras e tomou minhas pretensões. Nada fiz além do poema “Não foi feito para durar”, que brotou magistralmente numa fria manhã de sábado... e só porque eu estava ainda mais triste do que agora a composição veio à luz. Gostaria, mas, essa tristeza que me acompanha há tempos, não é possível de definir. É algo que nasce abruptamente em mim, rompe meu desejo e me toma completamente, inviabilizando a construção de qualquer ato trágico ou cômico na minha peça derradeira. Antes eu conseguia canalizar essa angústia e reverter-lhe em poesia; hoje, quando apetecido de tal desgraça, nada consigo... a não ser deixar penosas lágrimas escorrerem maculadas em minha face repleta de infelicidade atroz. Assim, o inimigo maior das minhas obrigações sou eu mesmo, eu e meu egocentrismo ridículo (salve o hedonismo latente!).
Cada vez que olho para o lado, o desespero que me consome aumenta demasiadamente. Sobre a mesa, uma pilha enorme de trabalho me espera e, como “ela”, eu a deixo de lado, juntamente com os prazeres saturados e a vida estancada num emaranhado amargo de desespero.
Agora ouço coisas melancólicas, e por vezes bregas. Havia pouco cantarolava “Teatro Mágico”, mas a laceração aumentou a tal ponto que me vi, em seguida, insuflando o peito e fazendo ecoar a melodia depressiva de Alcione. Já é mais do que conhecido que quando a “Marrom” canta aos meus ouvidos é porque estou a um passo de vazar as têmporas com um projétil plúmbeo. Pena eu não tê-lo, ao menos a chama se apagaria e a dor findaria de vez.
Uma mistura de frustração, raiva e desolação me empurra cada vez mais para um abismo imensurável, infinito. Sinto o corpo cair e a vontade se perder no ar. Queria poder gritar, urrar meu tormento e dizer tudo o que preciso, mas me controlo, apenas fechando a expressão para que eu mesmo saiba o quanto me arde e abrasa a mente, o coração e a loucura insana de querer o que não posso ter (maldito espelho!).
Escrever... nem isso me acalenta; nem isso me faz sorrir ou me sentir menos estúpido e culpado por desperdiçar, não só o meu tempo, como também o de outras pessoas. Espero, portanto, que essa angústia logo passe e eu possa voltar a ser quem sempre fui, pois há uma necessidade em mim de expor os sonhos destruídos antes que não sobre mais nada das falsas esperanças que crio inutilmente.
Não quero dizer que acabou, não ainda, mas os fonemas já se articulam em minha boca... por enquanto sem que emita sonoridade, mas com muita atenção se é possível ver os lábios desenhando a palavra final.
O cigarro queima, as cinzas caem...

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Chora! De volta à realidade



Como é difícil voltar à realidade depois de um maravilhoso e quase perfeito fim de semana. Havia tempos que não experimentava tantas emoções num curto espaço temporal como agora. Acredito que já conheçam a máxima que ninguém escreve quando se está bem; há tantas coisas melhores para fazer do que inventando histórias sobre nossos sonhos (às vezes são pesadelos). Assim, larguei mão da melancolia e fui viver a vida tal qual ela se desenha, nem que seja por poucos dias, mas se faz mister aproveitar o pouco que nos sobra.
Nesta feriado prolongado, dois dias foram mais do que especiais (não, não foi quinta), sexta-feira e sábado. Momentos diferentes e reações diversas fizeram a alegria do sofredor. Primeiro, em ordem cronológica, em comemoração à “Crônica de Fim de Ano”, aquela noitada especial no Caiçara, ao som do violão e mesa cheia... cheia de cerveja. Para aumentar ainda mais minha estranha euforia, ouvi Refrão de Bolero, sem sotaque gaúcho, mas emocionante. Perdi a conta dos copos que levei à boca, mas não o caminho de casa.
Dia seguinte, acordar cedo, preparar a mala, ajeitar coisas pendentes e seguir meu rumo: Rio de Janeiro, Lapa, Fundição Progresso, Los Hermanos. Saímos de Angra por volta de 13 h,chegando ao Rio pouco mais das 15 h. Depois de uma rápida passada no apartamento da Luisa, fomos comer, mas não antes de nos munirmos com garrafas de cerveja. A comicidade iniciou, pois era, no mínimo, estranho ver alguém comendo um misto frio (sempre), tomando café ao mesmo tempo em que bebia cerveja. Pelo menos nisso eu e Mariana combinamos perfeitamente; ela comeu seu queijo-quente bebericando Skol.
Estômago forrado, nos restava encarar a fila para o show. Agradáveis horas de espera. Aqui, juro, sem ironia. Foi bacana esperar na fila entre tantos outros fãs hermânicos. Conhecemos uma paulista que esperava também, simpaticíssima. Esse talvez tenha sido o ponto negativo da noite, pois ela estava completamente sozinha, ficaria conosco se não tivéssemos nos desencontrado durante as revistas dos seguranças da Fundição. Passamos um bom tempo tentando localizá-la, mas por nos faltarem meios e pelo número demasiado grande de pessoas, a tarefa foi inútil. Uma pena! Até agora lamentamos por a termos perdido de vista.
O show foi fantástico, triste pelo tom de despedida, mas alegre ao mesmo tempo. Acredito ter sido, se não o, um dos momentos mais emocionantes de minha curta vida. Engraçado, pois durante a maior parte do tempo, fui capaz de conter as lágrimas que teimavam em escorrer de meus olhos, mas quando os gritos de “Pierrot, chora” eclodiram fazendo com que a Fundição tremesse, debulhei-me em verdadeiras “Lágrimas sofridas”, imerso numa emoção nunca antes sentida. Amei.
Depois da apresentação, a noite ainda nos rendeu hilárias histórias, como uma volta alucinante em uma Kombi insana, uma bagunça às quatro da manhã no supermercado Pão de Açúcar e uma macarronada que comecei a fazer, mas dormi durante o preparo. Tudo foi perfeito, por isso dormi depois de tantos meses com um sorriso maroto em meu rosto, que teima ainda em me decorar a face.
Assim, não ousei escrever nenhuma linha nesses dias. Ainda influenciado por tão bela experiência, até mesmo este texto está sofrendo a ser escrito. Deixei correrem os dias para que pudesse ajeitar o pensamento, mas em vão. Hoje é dia dos namorados e só tive cabeça para pensar em Mariana, nada mais. Porém, amanhã a vida segue e devo retornar às atividades normais, escrevendo o que deve ser escrito: Conto Conspiratório, dois contos de terror, um conto erótico; além de revisar alguns outros textos, inclusive uma crônica já vendida.
“Qual foi o lucro obtido?”

segunda-feira, 11 de junho de 2007

De volta a Valsa

Deve ser notório que tem sido só o ilustre amigo Juninho quem tem postado religiosamente nesse dito projeto conjunto e isso é verdade. Porém isso já é mentira e é passado e propaganda inimiga. Voltei depois de tropeçar no terceiro compasso no baile do Strauss (vem que vem que vem Strauss!)(A valsa já deve ter sido o funk de alguma cultura). E melhor: renovado a começar uma "semana do horror hardcore supremo". Passarei essa semana inteira totalmente dedicado a escrever sem parar, a não ser para poucas atividades essenciais. De resto, será um esforço herculoide para ultrapassar os limites da imaginação cooporativa literária. Vou começar terminando as cenas do conto conspiratório. Estou com meu personagem num jeopardy(que é uma palavra que não tem tradução direto no português que significa "diante de uma situação perigosa e fundamental de ser resolvida") que vai dar todo o tom de paranoia pra coisa. Como havia falado antes...se não me engano. Mas enfim; cada palavra deve ser milimétricamente intuida pra gerar um horror - Mas um horror paranoico e denso, nada a ver com terror - que difulcultará a leitura de muitas pessoas a noite. Tá, não chega para tanto mas deve ficar em algum lugar por ai.

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Alguém ai pode imaginar um filme que possa reunir o Danny DeVitto, Angelina e Brad, Silvester Stallone, Peter Petrelli e um figurante qualquer como protagonistas? Isso foi resultado de sanduwiche de presunto, coca-cola, 3h45 da manhã jogadores de RPG no fim de partida. Resolvemos num dialogo solto e cheio de risos quem interpretaria quem num filme sobre nossa história. Os risos foram todos devido ao sr. DeVitto. Mas isso era de se esperar. E não tem anão no grupo. Seria um filme interessante: Meio Monty Python meio discoworld. Mas não uma pelicula que alguma empresa se interessasse em fazer. O que é uma grande pena.

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Durante a semana hardcore darei pequenas entradas no blog informando os avanços das tropas.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Conta Comigo e a decepção latente

Esperei anos para rever um filme que nunca mais passou em nenhum canal, pelo menos que eu tenha encontrado na grade de programação, ou encontrado em DVD aqui nesta terra estranha esquecida por Deus. Mal pude acreditar quando meus olhos leram, displicentes, “Conta Comigo”, adaptação do conto The Body, de Stephen King, presente, se não me falha a memória, no livro Quatro Estações.
Parei tudo que o que fazia para assistir a essa espetacular história de amizade, mas exultei. Não posso ver o filme hoje. Qualquer dia seria perfeito, mas hoje é impossível. Na verdade, essa é uma grande desculpa para minha covardia. Não quero vê-lo. Parece-me heresia saciar o desejo que me alimenta faz tanto tempo numa segunda-feira, há menos de duas horas para o trabalho. Como um coito interrompido, teria que parar o deleite para o banho, além de também chegar atrasado à escola. Não posso fazer isso, não com Conta Comigo e toda a história que nos envolve. Ele, “Eclipse Total”, “O Aprendiz” e “It, a obra prima do terror” são os meus mitos platônicos. Embora já tenha visto todos, quero ter a plena satisfação, um orgasmo perfeito, a pequena morte revendo-os calmamente, sem interferências de qualquer sorte; apenas eu e a tevê, mais nada, como se o mundo parasse ou deixasse de existir.
A televisão ainda está ligada. Ouço do escritório as vozes, a música, o clima, mas não volto à sala...
Retornei do trabalho, mas não dei nenhuma aula. Levei minhas turmas para assistir a um debate do SAPÊ e, sinto dizer, muito aquém do que eu esperava que fosse. Pelo menos torço para que tenha servido de alguma coisa para aquelas pobres mentes.
De volta a minha casa, resolvi o tema de minha tese para o mestrado em Literatura Brasileira. Sei que será uma tarefa complicada, mas prazerosa. Optei por um comparativo interessante entre Mersault, de “O Estrangeiro”, do maravilhoso Albert Camus, e “Estorvo” e “Budapeste”, do genial Francisco Buarque de Hollanda. Começo amanhã a releitura dessas três fantásticas obras para me lançar ao trabalho de pesquisa.
Mas nem tudo são flores. Depois de um final de semana perfeito, tive um desentendimento com Mariana ao telefone. Confesso que fiquei tão triste com nossas duras palavras, não é desculpa, que foi impossível pensar em escrever qualquer frase. Perdi completamente a linha de raciocínio e, indubitavelmente seria ridículo forçar o texto, pois o resultado, afirmo, seria o pior texto da minha vida. Por isso, tão logo desligamos o telefone, fui para a cama, com a cabeça mais pesada do que quilos de chumbo sobre o meu pescoço.
Hoje é outro dia, mas ainda guardo ressentimentos. Acredito que não tentarei escrever por saber que não será o que me propus ou tenho de fazer. Às vezes é melhor dar uma pausa em tudo, alienar-se de qualquer que seja, a fim de sanar as dores mentais.
Volto ao texto o quanto antes, pois agora o tempo corre célere e contra minha insignificância diante dos fatos. Havia vários textos para escrever antes, agora existem outros mais, incluindo um conto erótico prometido a Luisa.
Torçamos para que tudo se ajeite logo, pois não há um minuto a perder, embora eu esteja jogando fora horas preciosas por capricho e orgulho ferido.